Pela ordem durante a 33ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Anúncio do julgamento de Jeferson Diego Gonçalves, pelo assassinato da estudante uruguaia Martina Piazza Conde, que ocorrerá no próximo dia 30 de março, em Foz do Iguaçu-PR

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela ordem
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Anúncio do julgamento de Jeferson Diego Gonçalves, pelo assassinato da estudante uruguaia Martina Piazza Conde, que ocorrerá no próximo dia 30 de março, em Foz do Iguaçu-PR
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2017 - Página 89
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Indexação
  • ANUNCIO, REALIZAÇÃO, JULGAMENTO, AUTOR, HOMICIDIO, VITIMA, MULHER, ESTUDANTE, ANTROPOLOGIA, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI, MOTIVO, RELIGIÃO.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) – Queria pedir desculpas, inclusive, à Senadora Rose de Freitas. Eu preciso fazer um registro no plenário em razão de um acontecimento amanhã, no meu Estado, o Paraná. É rápido, mas é muito importante, tenho de dar conhecimento.

    Neste momento de grave crise enfrentada pela sociedade brasileira, que, lamentavelmente, passa pelo crescimento da intolerância, do ódio às diferenças e da opressão das minorias, venho ao plenário deste Senado chamar a atenção da Casa e do País para o capítulo final de uma terrível tragédia ocorrida há pouco mais de três anos na cidade de Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, meu Estado.

    Refiro-me ao inaceitável assassinato de Martina Piazza Conde, uma jovem estudante uruguaia do curso de Antropologia da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, a Unila. Ela, de apenas 26 anos, foi morta por estrangulamento, provocado com um fio de mouse, no que teria sido um sacrifício espiritual, segundo as palavras do seu assassino confesso, Jeferson Diego Gonçalves.

    O crime, Sr. Presidente, teve repercussão nacional e internacional e chegou a ser acompanhado pela Interpol. Todos os que nos ouvem e assistem pelo sistema de comunicação do Senado Federal, depois de três anos do ocorrido, nessa próxima quinta-feira, quero informar, dia 30 de março, enfim, teremos a oportunidade de fazer justiça à jovem Martina Piazza Conde, levar algum alento à sua família e, espero eu, proteger as mulheres do Paraná e do Brasil do convívio com uma pessoa que representa tamanho perigo as nossas vidas.

    Relembrando o caso, no dia 7 de março de 2014, na véspera do Dia Internacional da Mulher, Marti, como era conhecida pelos amigos e professores da Unila, foi encontrada morta após quatro dias de seu desaparecimento. A vítima tinha sinais de enforcamento, o que acabou sendo confirmado pelos laudos do IML.

    Duas semanas depois de localizado o corpo, o assassino, cujas imagens haviam sido registradas pela câmera de segurança do edifício, chegando com Martina e saindo sozinho cerca de uma hora e meia depois, calmamente, com as chaves do apartamento, foi encontrado em fuga em direção à cidade de Paranaguá.

    O suspeito confirmou o assassinato e alegou motivação religiosa para o seu ato. Matou uma jovem mulher para ofertar a um orixá. Aparentando tranquilidade, segundo o delegado responsável pela Delegacia de Homicídios de Foz, o criminoso chegou a dizer que se arrependia do crime por ter estragado a própria vida, não por ter matado a estudante.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Martina deixou muitos amigos na cidade de Foz do Iguaçu e, sobretudo, na Unila. A estudante tinha uma convivência ativa nas atividades culturais e acadêmicas, participava da Casa do Teatro, do grupo de maracatu Alvorada Nova e de vários outros projetos culturais.

    O assassinato de Martina configura um caso típico de feminicídio, Sr. Presidente, produto do ódio que mulheres como ela, livres e independentes, despertam nas mentes covardes dos que vivem em uma sociedade machista e patriarcal.

    Por isso, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, esta será uma semana decisiva para a Justiça em Foz do Iguaçu – diria para a Justiça no Paraná, para a Justiça brasileira. Haverá, no dia 29, hoje, um ato na Câmara dos Vereadores da cidade. E, amanhã, data do julgamento, está prevista uma grande mobilização que contará, inclusive, com a presença da mãe da vítima, cobrando justiça para Martina.

    Espero que ao final desse julgamento possa a sociedade paranaense brasileira estar segura de que crimes tão bárbaros como o que aconteceu contra Martina, um estrangulamento que deixa evidente a vontade de matar do acusado, não passarão mais impunes.

    Queria fazer um convite a todos que estão nos ouvindo, que são do Paraná, principalmente, ativistas em direitos humanos, também ativistas no enfrentamento à violência contra a mulher, que possam estar amanhã no julgamento em Foz do Iguaçu. Vai ser importantíssimo. E é importantíssimo também que esse assassino – um feminicídio –, que confessou o crime, possa ter punição.

    Agradeço, Senador Paim, e agradeço também à Senadora Rose de Freitas por ocupar esse horário.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2017 - Página 89