Discurso durante a 34ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Críticas ao programa Ponte para o Futuro do governo de Michel Temer, Presidente da República.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao programa Ponte para o Futuro do governo de Michel Temer, Presidente da República.
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2017 - Página 11
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, PROGRAMA DE GOVERNO, PONTE, FUTURO, AUTORIA, GOVERNO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, HENRIQUE MEIRELLES, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), PROGRAMA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DEMOCRATAS (DEM), NECESSIDADE, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, SOLUÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Presidente Cássio Cunha Lima, Antonio Gramsci, filósofo italiano, recomendava que fôssemos pessimistas na análise dos fatos, mas otimistas na ação. Vou me guiar pelo conselho e, assim, darei a este pronunciamento que pretendo fazer o título de "Como retomar a esperança no meio do caos".

    Estamos enfrentando um desafio do destino; é o maior desafio que a República já experimentou em todas as épocas e em todas as áreas. As instituições republicanas derreteram-se. Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal, todos, por ação ou por omissão, perderam a credibilidade. Os políticos, por serem os mais expostos, são objeto direto do maior descrédito público – muitos de forma justificada, e muitos injustamente, diga-se.

    O que dizer do Executivo, núcleo dos maiores escândalos financeiros e de corrupção já registrados na história brasileira recente? O que dizer do Judiciário, agora em guerra com o Ministério Público, trocando entre eles os maiores insultos? O que dizer da Polícia Federal, responsável por uma das operações de investigação mais incompetentes e mais prejudiciais à economia brasileira, a chamada Operação Carne Fraca, que expôs um dos setores vitais da produção e de geração de emprego à execração pública do mundo?

    Olho para o futuro e fico perplexo, Senador Capiberibe. Se todas as instituições republicanas liquefizeram-se, por onde será possível reconstituí-las, reconstruí-las? O País não pode permanecer eternamente em coma, com sua economia também dissolvida.

    Contudo, tomando em conta a própria natureza do sistema institucional que estamos desafiados a reconstituir, ouso dizer que a saída da crise, por mais desafiadora que seja, é essencialmente fácil. Ela é conhecida no mundo há mais de 80 anos. Muitos dos senhores e das senhoras que me ouvem na TV Senado, na Rádio Senado e no nosso plenário também a conhecem. Vamos examiná-la com alguma profundidade.

    A tragédia que vivemos deve-se à absoluta inépcia e à má-fé na condução do processo econômico. Tivemos a desgraça do impeachment, que nos distraiu de outras questões institucionais e que levou ao poder um grupo sem qualquer compromisso com o interesse público.

    Esse grupo se apresentou como do PMDB, mas não reflete as posições políticas e o viés ideológico do velho MDB histórico e de guerra. Na verdade, esse grupo se apoia em um documento espúrio, Senador Capiberibe, chamado Ponte para o Futuro, que, quando apresentado em uma reunião nacional do Partido, em Brasília, foi repudiado por diretórios peemedebistas dos 17 Estados presentes e não foi sequer levado à votação; foi sonegado ao escrutínio da opinião dos companheiros presentes de 17 Estados, numa reunião da Fundação Ulysses Guimarães.

    Ponte para o Futuro é um projeto do PSDB e do DEM, apropriado por alguns dirigentes do PMDB sem representatividade política ou histórica. Mesmo sem a aprovação do Partido, atropelando todas as instâncias, desonrando Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Pedroso Horta, Marcos Freire, os principais pontos dessa desvairada coletânea do entreguismo, escravagismo, neocolonialismo e neoliberalismo transformaram-se em programa de Governo.

    Na verdade, o documento seminal do PMDB, seu grito de guerra político no ocaso da ditadura, com a participação de seu pai, Senador Cássio, reflexo do compromisso do Partido com o povo, chama-se Esperança e Mudança. Ali se propõe a recuperação da prática do planejamento econômico governamental, e a ideia do Estado como provedor essencial do bem-estar social.

    O projeto social do PMDB foi uma construção generosa que se refletiu na Constituição de 1988, sacramentada no conceito de seguridade social. É essa construção que o Governo Temer, em sua ponte sem destino, tenta destruir de uma canetada, invocando a cumplicidade do Congresso Nacional, para destruir a Previdência Social.

    Todavia, estou convencido, pelo que conheço de meus pares, sobretudo do Senado, que esse embuste não será aprovado. Já tratei disso, especificamente, em pronunciamento anterior. Não vou repeti-lo. Apenas insistirei na afirmação categórica de que a proposta da reforma da previdência é um embuste, uma traição à Constituição de 1988 e a destruição do sonho quase realizado do Esperança e Mudança.

    Convoco meus pares do meu velho MDB de guerra e todos aqueles que têm lutado por um Estado Social no Brasil a repelirem esse infame projeto. Chamo em primeiro lugar os peemedebistas, porque temos um dever histórico em relação ao Esperança e Mudança. Mesmo os que chegaram mais tarde ao Partido têm a obrigação moral de defender as teses tradicionais que caracterizaram o PMDB por um longo tempo, em um longo caminho de lutas.

    Mas a sensibilidade social não pode ser privilégio de alguns partidos e grupos. O compromisso com a destruição do sistema previdenciário brasileiro, por razões ideológicas, é apenas do PSDB e do DEM. Todos os demais devem ter a consciência livre para escolher o caminho certo da justiça social, inclusive os partidos vinculados a confissões religiosas.

    Peemedebistas, reafirmo: a terceirização, a reforma da previdência, entre outras iniciativas facinorosas contra o povo, são projetos do PSDB e do DEM, não do velho MDB de guerra. Vamos dar nomes aos bois, às raposas e às hienas: foi o agora Ministro Moreira Franco, o ideólogo máximo da república temer-meirelliana, quem contrabandeou essa excrecência para dentro do PMDB. Dando um mergulho passadista em sua militância, e valendo de sua posição de presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco encomendou a um notório economista de mercado, notoriamente vinculado à dobradinha PSDB-DEM, a malfadada Ponte para o Futuro. Por favor, peemedebistas, esse programa não é nosso! O Governo Moreira Franco não é nosso!

    Srªs e Srs. Senadores, brasileiros que nos acompanham, reconheço que não apenas no PMDB, mas em todos os partidos há muitos Parlamentares envolvidos em irregularidades. Entretanto, não quero fazer julgamentos, isto é para fascistas, para a direita irracional e peçonhenta, todos têm direito à presunção de inocência e ao devido processo legal. Quem lhes fala, por sinal, não está envolvido em um único inquérito ou processo de Lava Jato ou de outras operações policiais.

    Também não poupei críticas, às vezes, violentas, aos que comprovadamente prevaricaram. Entretanto, se temos que reconstituir as instituições, como disse, isso tem que partir de um esteio seguro. E esse esteio, queiram ou não, só pode ser o Congresso Nacional renovado. Sim, do contrário estaríamos em um mundo de ilusões.

    Em uma democracia, quem faz as leis é o Congresso Nacional, o Executivo as aplica e o Judiciário julga segundo essas leis. Como será possível reconstituir as instituições a não ser a partir da reconstrução do sistema legal, mediante leis necessariamente votadas pelo Congresso Nacional? É claro que a estatura moral de um Presidente da República conta como um fator importante na reconstituição das instituições, mas ele pouco pode fazer sem uma firme articulação não fisiológica com o Congresso.

    Em síntese, o desafio com que nos defrontamos implica uma reconstrução ética nas relações entre o Legislativo e o Executivo. Por certo que, na preparação das eleições do próximo ano,...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) – ... teremos que adotar medidas decisivas para aprimorar e reconduzir os riscos de manipulação do sistema político pelo poder econômico e pela mídia comercial. Devemos isso à sociedade brasileira, a esta geração e aos nossos filhos, como aos filhos de nossos filhos.

    Como disse, temos um desafio do destino, devemos responder a ele com coragem e sabedoria. Afirmei, no início, que é fundamental enfrentar a crise econômica, inclusive como pré-condição para enfrentar a crise política.

    Disse e repito que é uma opção fácil, basta fazer o que Franklin Roosevelt, nos Estados Unidos, e Hjalmar Schacht, na Alemanha, fizeram nos anos 30, do século passado. Para reverter uma depressão gigantesca,...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) – ... similar à que enfrentamos no Brasil hoje, os dois líderes ampliaram consideravelmente o gasto público deficitário, criando demanda, investimento, emprego e mais demanda, com o que recuperaram uma situação fiscal inicialmente deteriorada.

    Fizeram, pois, Senador Cássio Cunha Lima, o oposto do que está sendo feito no Brasil, tendo em vista a obsessão ideológica...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) – ... de Henrique Meirelles e Michel Temer.

    A saída, ela está logo aí! O que, então, estamos esperando? Srªs e Srs. Senadores, ou reagimos ou seremos varridos pela maré montante da crise.

    É com pessimismo que olho pela janela da realidade brasileira, mas é com otimismo que vejo a possibilidade de sairmos do caos.

    Obrigado pela tolerância, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2017 - Página 11