Fala da Presidência durante a 39ª Sessão Especial, no Senado Federal

Abertura da sessão especial destinada a comemorar o lançamento da Campanha da Fraternidade de 2017.

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Abertura da sessão especial destinada a comemorar o lançamento da Campanha da Fraternidade de 2017.
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2017 - Página 9
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • ABERTURA, SESSÃO ESPECIAL, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, LANÇAMENTO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE.

    A SRª PRESIDENTE (Regina Sousa. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – Declaro aberta a sessão.

    Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

    A presente sessão especial destina-se a celebrar o lançamento da Campanha da Fraternidade de 2017, nos termos do Requerimento nº 31, de 2017, de minha autoria e outros Senadores.

    Convido para compor a Mesa: o representante do Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Revmo Sr. D. Marcony Vinícius Ferreira; o Secretário Executivo das Campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Rev. Sr. Pe. Luis Fernando da Silva; o pesquisador e autor do livro Biomas do Brasil: da exploração à convivência, Sr. Prof. Ivo Poletto.

    Cumprimento o Núncio Apostólico do Brasil, Embaixador D. Giovanni d'Aniello, que está presente aqui conosco; e os padres que vieram prestigiar esta sessão.

    Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional, que será cantado pelo Coral do Senado. E, sem seguida, ouviremos a apresentação do coral com a Oração de São Francisco.

(Procede-se à execução do Hino Nacional.)

(Procede-se à execução da música Oração de São Francisco.) (Palmas.)

    A SRª PRESIDENTE (Regina Sousa. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – Eu quero cumprimentar o D. Marcony, representando o Cardeal D. Sérgio da Rocha, Presidente da CNBB. Eu quero cumprimentar o Secretário Executivo das Campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Padre Luis Fernando da Silva. Eu quero cumprimentar o Prof. Ivo Poletto, que é o pesquisador que vai nos brindar aqui com uma aula, com certeza, sobre os biomas brasileiros. Eu cumprimento os Senadores e as Senadoras, os telespectadores da TV Senado, os ouvintes da rádio Senado, pois esta sessão vai ser certamente repetida.

    Inicialmente, quero dizer que sinto uma alegria e uma honra muito grande de estar aqui hoje na condição de Senadora da República e poder proporcionar este momento de reflexão e homenagem a uma iniciativa tão importante como é a Campanha da Fraternidade.

    A Campanha da Fraternidade começou ainda na década de 60, por iniciativa de bispos da minha querida Região Nordeste, inspirados pela Bíblia. De lá para cá, a Campanha alastrou-se como boa nova para todo o Brasil. Profeticamente, a CNBB escolhe um novo tema a cada ano. Sempre é um assunto importante, inadiável, uma realidade que precisa ser conhecida e debatida à luz dos ensinamentos cristãos, para ser transformada. Destaco aqui alguns dos temas.

    Em 1966, o tema foi "Somos responsáveis uns pelos outros", refletindo sobre os problemas do individualismo, mostrando que a vida é melhor se for vivida em comunidade.

    Em 1973, num momento crucial da luta do povo brasileiro contra a ditadura militar, quando as pessoas eram presas e mortas, a CNBB, profética, lançou a campanha com o tema "Fraternidade e libertação", mostrando que, enquanto o egoísmo e a injustiça escravizam, prendem e matam, o amor e a generosidade libertam.

    Em 1978, quando os movimentos sindicais explodiam estruturas arcaicas e grandes greves eram articuladas, a Igreja também não se omitiu, e as comunidades de base refletiram e clamaram por mais "Fraternidade no mundo do trabalho", exigindo "Trabalho e justiça para todos"!

    O tema do meio ambiente apareceu em 1979, quando o lema da Campanha da Fraternidade foi "Preserve o que é de todos", mostrando de forma pioneira que a Terra é a nossa casa comum e precisa de cuidados.

    Em 1980, num tempo em que milhões de pessoas ainda precisavam se retirar da seca no Nordeste – infelizmente, persiste esse flagelo –, coincidindo com a primeira visita de um Papa ao Brasil, a Igreja denunciou a situação dos migrantes, mostrando que não era normal aquela situação de verdadeiros "exilados" dentro do País, e, assim como o Cristo fez aos discípulos de Emaús, a CNBB também perguntou ao povo brasileiro: "Para onde vais?"

    De lá para cá, houve temas como saúde, educação, violência, valorização da vida, fome, reforma agrária, infância, racismo, dignidade da mulher, moradia, valorização da família, desemprego, drogas, idosos, água, paz, pessoas com deficiência, vida no Planeta, juventude, tráfico humano e muitos outros.

    Neste ano, a questão da sobrevivência no Planeta é revisitada com o tema "Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida" e o lema "Cultivar e guardar a criação", como está escrito no cap. 2 do Livro de Gênesis.

     Sr. Presidente, com a discussão intensa desse tema durante os 40 dias da Quaresma, a Igreja Católica chama seus fiéis e a sociedade como um todo a entenderem e a tratarem com respeito a natureza que nos envolve. A Igreja pede nossa atenção para os diferentes biomas brasileiros e nos lembra que eles têm a ver com a vida que somos chamados a defender, pois nossas vidas estão inseridas neles, e, destruindo os biomas, juntos seremos extintos.

    No Brasil, temos seis biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Pantanal, o Pampa, o Cerrado e a Caatinga – eu venho de uma mistura de Cerrado e Caatinga e acompanho bem. Cada um dos biomas brasileiros abriga diferentes tipos de vegetação e de fauna. Nesses ambientes, vivem pessoas, povos, resistem culturas resultantes da imensa miscigenação brasileira e, principalmente, as nascentes que nos garantem a água e a sobrevivência.

    A Campanha da Fraternidade convida a uma reflexão sobre os desafios da realidade desses biomas e dos povos que neles vivem; chama a atenção para as boas iniciativas preservacionistas já existentes; e aponta propostas sobre o que podemos e devemos fazer em respeito à natureza. Para a perpetuação da vida nos biomas, é necessário o estabelecimento de políticas públicas ambientais, a identificação de oportunidades para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade com os povos e comunidades tradicionais.

    Durante esses dias de Quaresma, preparando­me para a Páscoa, refleti muito sobre o tema da Campanha da Fraternidade, e a minha conclusão é a de que a palavra que precisa calar no fundo dos nossos corações é a palavra "cuidado". Precisamos cuidar da Mãe Terra com o mesmo amor filial que dedicamos às nossas mães biológicas. Assim como nossas mães nos doaram o leite do peito que nos alimentou, os biomas da Terra nos doam a água que nasce do seu seio. Precisamos cuidar de tudo o que se refere à água, desde as nascentes até o consumo consciente dela. Precisamos cuidar dos ribeirões, rios, lagoas, aquíferos e mares. Precisamos cuidar também das florestas e de todo tipo de cobertura vegetal de cada bioma, pois, como bem afirma o Prof. Ivo Poletto, aqui presente: "Estamos sendo convocados a corrigirmos os erros que secularmente cometemos na relação com a Terra por não conhecermos bem os biomas, os jardins criados por Deus".

    Aproveito que estamos ao vivo para todo o Brasil por meio da TV e da Rádio Senado – na verdade, ainda não, mas estaremos, e será repetido, gente – e convido as pessoas que nos acompanham a ajudarem a cuidar da cobertura florestal dos nossos biomas, pois são as florestas que garantem a umidade suficiente para que haja chuvas em todas as regiões. Atitudes individuais ou coletivas, como não jogar lixo nos rios e lagoas e economizar água nas atividades cotidianas, podem fazer uma grande diferença. Do ponto de vista dos empreendimentos, é possível adotar boas práticas preservacionistas na agricultura e indústria, respeitando as áreas de reserva, valorizando as comunidades tradicionais, economizando muita água e preservando muitos outros recursos.

    Como já afirmou o Papa Francisco, um dos eixos fundamentais da reflexão ecológica é a relação íntima que deve existir entre os empreendimentos, os pobres e a fragilidade do Planeta. Francisco já disse que a natureza e os povos pobres não podem ser usados para que alguns ricos alcancem o lucro fácil.

    Do ponto de vista individual, é sempre possível tomar banhos mais rápidos, fechar a torneira ao escovar os dentes, reutilizar a água em algumas situações, conversar sobre ecologia com amigos e parentes, colaborando com o meio ambiente.

    Eu quero aqui citar um exemplo. O meu assessor Juarez, nas horas vagas, trabalha com hortas caseiras comunitárias e escolares e me contou recentemente que, com a crise da água em Brasília, na escola onde há uma horta em que ele trabalha, não se podia usar água tratada para irrigar. A partir daí, houve uma grande descoberta. Foram observar o bebedouro das crianças e perceberam que, enquanto eles bebem, colocando a boca naquela torneirinha, a água vai correndo. E qual não foi a surpresa, ao resolveram canalizar essa água que ia para o esgoto, verem que, num dia, foram mil litros de água para irrigar as hortas. Isso é fantástico! São descobertas que a gente vai aprendendo com a necessidade, mas a gente devia fazer sem precisar acontecer o que está acontecendo de racionamento em Brasília.

    Quero homenagear a Igreja no Brasil por manter estreita sintonia com o pensamento social, econômico e ambiental de Francisco. Em sua primeira encíclica ecológica, a Laudato Si, o Papa fala da interligação de todas as criaturas e do desafio da nossa convivência respeitosa com os biomas.

    Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, ele afirmou:

Nós, os seres humanos, não somos meramente beneficiários, mas guardiões das outras criaturas. Pela nossa realidade corpórea, Deus uniu-nos tão estreitamente ao mundo que nos rodeia, que a desertificação do solo é como uma doença para cada um, e podemos lamentar a extinção de uma espécie como se fosse uma mutilação [em nosso corpo].

    Palavras do Papa.

    Ao encerrar este pronunciamento, mais uma vez, convido todos que nos veem e nos escutam e o nosso povo a fazermos uma reflexão sobre os biomas e a nossa vida dentro deles. Somos convocados a uma verdadeira conversão pessoal e social para cultivar e cuidar da Terra, pois é essa a condição para a vida do Planeta.

    Muito obrigada.

    Era o que eu tinha a dizer. (Palmas.)

    Quero anunciar a presença do Senador Cristovam, que está conosco e vai, certamente, fazer uso da palavra.

    Já anunciei o Núncio Apostólico, D. Giovanni, que nos alegra com a sua presença; o Embaixador da República do Sudão no Brasil, Sr. Ahmed Yousif Mohamed; o Conselheiro para Assuntos Globais da Embaixada da França no Brasil, Sr. Yannick Samson; e mais alguns padres que também vieram nos prestigiar.

    Eu passo a palavra ao Senador Cristovam, porque Senador tem a prioridade pelo Regimento – e também certamente o Senador deve ter um compromisso.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2017 - Página 9