Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento de José Raimundo Bona Medeiros, ex-Governador do Piauí (PI).

Autor
Ciro Nogueira (PP - Progressistas/PI)
Nome completo: Ciro Nogueira Lima Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento de José Raimundo Bona Medeiros, ex-Governador do Piauí (PI).
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2017 - Página 103
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, EX GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), APRESENTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

    O SR. CIRO NOGUEIRA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, meu querido amigo, nobre Senador Paulo Paim; eu queria saudar também a presença do nosso Vice-Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado André Fufuca, do nosso Deputado Newton Cardoso Jr. – meu abraço –, do Deputado Hugo Motta e do meu querido amigo Antonio Rocha.

    Sr. Presidente, eu venho a esta tribuna hoje para prestar devida e justa homenagem a um grande homem público do meu Estado, o ex­Governador José Raimundo Bona Medeiros, que faleceu no dia 6 de abril deste ano.

    José Raimundo faz parte de uma geração de homens públicos forjados nos embates de ideias, uma geração na qual estavam inseridas pessoas muito queridas minhas, como meu pai, Ciro Nogueira, e meu tio Manoel Nogueira Filho. Durante algum tempo, eles estiveram até em lados opostos, mas nunca deixaram de ter um diálogo permanente, tratando-se com respeito e admiração.

    Eu conhecia Bona Medeiros desde quando eu era pequeno – aliás, melhor seria eu dizer que Zé Raimundo Bona Medeiros me conhecia desde que eu era pequeno. Quando nasci, em 1968, esse grande homem público piauiense já era Deputado Estadual, eleito pela primeira vez em 1962, pela União Democrática Nacional (UDN). Ele foi sucessivamente eleito em 1964, 1968, 1970, 1974 e 1978 para a Assembleia Legislativa do Piauí. Na condição de Deputado Estadual, em 1975, tornou-se Presidente da Assembleia Legislativa. Foi o primeiro Deputado escolhido pelos colegas para comandar a Casa, após um período em que a Presidência cabia ao vice­governador do Estado.

    Bona Medeiros foi um bom Deputado Estadual, atuante na defesa de suas ideias e dos interesses coletivos de suas bases eleitorais. No entanto, foi também um bom gestor público, mostrando sua eficiência ao administrar, por duas vezes, a capital de nosso Estado, Teresina, e também o Estado do Piauí, na condição de Governador, em 1986 e 1987.

    A primeira vez que foi Prefeito, de 1969 a 1970, sucedeu a Joffre do Rego Castelo Branco, dando seguimento ao projeto em andamento do primeiro plano diretor de desenvolvimento da nossa capital piauiense. Novamente Prefeito de Teresina, por indicação do então Governador Lucídio Portella, em 1979, Bona Medeiros fez um trabalho exemplar na organização das finanças de nossa capital. Sob sua gestão, a cidade de Teresina ganhou uma atualização da planta de valores do IPTU, o que permitiu à Prefeitura realizar obras importantes, expandir escolas, pavimentar as ruas e abrir novas vias de escoamento de tráfego, como a Avenida Marechal Castelo Branco, uma das principais avenidas de nossa capital.

    Em 1982, Bona Medeiros deixou a Prefeitura de Teresina, retornando à Assembleia Legislativa. Seu trabalho no comando da cidade foi tão relevante que se tomou um dos pré-candidatos a Governador do nosso Estado. No entanto, vencido na disputa interna de seu Partido, o PDS, compôs a chapa majoritária com nosso querido Governador Hugo Napoleão. Apoiados por Lucídio Portella, que foi Governador do Piauí e Senador, Hugo Napoleão e Bona se tornaram Governador e Vice-Governador do Piauí em 1982.

    Quatro anos mais tarde, em 1986, com a saída de Hugo Napoleão para se candidatar ao Senado, Bona assumiu o governo. Na época, eu estava com 18 anos incompletos e lembro muito bem, Sr. Presidente, estando com meu pai na chapa majoritária do campo político do qual Bona Medeiros era um dos mais relevantes membros. Aquele pleito terminou com a vitória do candidato opositor ao Governador, Alberto Silva, eleito numa aliança com Lucídio Portella, de Vice.

    Até hoje, há quem busque entender o que houve na eleição de 1986, em que o campo partidário de Bona Medeiros, então filiado ao PFL, perdeu a disputa pelo governo do Piauí por menos de 0,5% dos votos. Prefiro não me envolver nessa discussão, Sr. Presidente, e focar na postura cidadã de Bona Medeiros: nunca, em momento algum, ele teve dúvida de que mais importante que o partido é o interesse público. Eis uma marca de sua personalidade: José Raimundo Bona Medeiros era um homem público que, antes de tudo, era voltado para o bem-estar do nosso querido Piauí, um homem importante na vida política do nosso querido Estado

    Aliás, convém lembrarmos que, como homem de partido, em sua trajetória política de quatro décadas, Bona Medeiros pertenceu a somente quatro agremiações partidárias e a elas chegou pelo sabor de circunstâncias e conjunturas. Em 1960, trocou a UDN pela Arena porque o então regime militar de governo decretou o fim das legendas e a criação de somente um partido que gerou outro de oposição. Com o fim desse regime, em 1982, ele migrou para o PDS, partido que sucedeu a Arena. Em 1985, com o rompimento do PDS com o governo, criando a Frente Liberal e, posteriormente, o PFL, Bona Medeiros filiou-se a esse Partido, hoje tornado Democratas, aqui nesta Casa representado por uma bancada forte e atuante de quatro Parlamentares.

    Depois de deixar o governo, em 1986, Bona Medeiros voltou a ser o homem simples que sempre foi. Retomou a sua rotina espartana de andar pelas ruas de Teresina, uma prática que tinha desde os tempos em que foi Prefeito da capital, e se manteve na política de modo discreto, como característica, até se eleger Deputado Estadual novamente, em 1990, sendo reeleito quatro anos mais tarde.

    Bona Medeiros pareceu retirar-se da vida pública em 1998, quando seu filho Gustavo Medeiros se elegeu Deputado Estadual. Gustavo, aliás, segue os passos do seu pai como político centrado e voltado para os interesses públicos, fiel aos princípios partidários.

    Como já foi dito, Bona Medeiros era um homem de partido e, nesse sentido, sabia que em certos momentos era preciso ir ao sacrifício. Foi, sem dúvida, o que fez em 2000, quando, já afastado da política, retornou à carreira em uma campanha eleitoral para prefeito de sua terra natal, a cidade de União. Perdeu o pleito, mas não o respeito de seus aliados e adversários. Como na música de Milton Nascimento, Bona Medeiros nada tinha "a temer, senão o correr da luta".

    Após a eleição de 2000, o ex-Governador retirou-se da arena principal de disputa, esteve nos bastidores e viu seu filho Gustavo Medeiros, eleito Prefeito em 2004, eleger-se novamente em 2012.

    Sua trajetória de homem público fechou-se com sua morte, em 6 de abril deste ano. O Piauí perdeu um de seus melhores e mais produtivos cidadãos cuja vida discreta e carreira política cheia de êxito merecem o nosso pleno respeito, Sr. Presidente, e aplausos eternos.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2017 - Página 103