Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre a Campanha da Fraternidade 2017 cujo tema é: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida.

Autor
Eduardo Braga (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AM)
Nome completo: Carlos Eduardo de Souza Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE:
  • Comentário sobre a Campanha da Fraternidade 2017 cujo tema é: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida.
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2017 - Página 120
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • COMENTARIO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, REALIZAÇÃO, IGREJA CATOLICA, ASSUNTO, BIOMA, DEFESA, VIDA, NECESSIDADE, ADOÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, MATA ATLANTICA, REGIÃO AMAZONICA, PAMPA, CERRADO, CAATINGA, REFERENCIA, ORDENANÇA, PAPA.

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18/04/2017


    O SR. EDUARDO BRAGA (PMDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, gostaria hoje de tecer algumas breves considerações sobre a Campanha da Fraternidade, que é promovida anualmente pela Igreja Católica em todo o Brasil.

    Esta é uma campanha que a visa a engajar a população na mudança social de baixo para cima; isto é, ela visa a uma mudança que parte do povo. Isso faz com que ela tenha tem um fundo histórico e democrático valioso, especialmente em tempos de divisão política, como os atuais.

    A campanha segue o calendário litúrgico: começa na Quarta-Feira de Cinzas e se estende não até a Páscoa, como é comum que se pense, e sim até o final do ano. Durante esse período, a Campanha da Fraternidade realiza-se por meio de ações pastorais, praticadas junto a entidades de base, locais; e se sustenta, principalmente, mediante a Coleta da Solidariedade, que é a partilha dos recursos arrecadados nacionalmente durante a missa do Domingo de Ramos, o domingo anterior ao da Páscoa. Sessenta por cento dos recursos arrecadados são revertidos a projetos sociais das próprias comunidades e outros 40% destinam-se a projetos nas mais diversas regiões do País1.

    Como disse, a principal entidade organizadora é a Igreja Católica. Mas há alguns anos a Campanha da Fraternidade assume, em algumas edições, um caráter ecumênico, o que significa que dela participam representantes de diversas igrejas cristãs. Porque a ideia é agregar, somar forças; deixar as diferenças de lado para avançar uma agenda comum. Uma preocupação muito relevante, no mundo de hoje em dia.

    Srªs Senadoras, Srs. Senadores, a Campanha da Fraternidade é uma ação muito proveitosa, com hino, com músicas, com orações especiais, e com toda uma gama de atividades.

    O tema da edição de 2017 é o seguinte:

    "Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida".

    Não há tema mais atual; e, dos temas atuais, não há tema que requeira tanta participação popular quanto o ambiental. Porque os efeitos da degradação ambiental, nós os sentimos todos; a poluição do ar, do solo, das águas; a destruição de habitats, a extinção de espécies; as mudanças climáticas; e o avanço nesses temas requer cooperação, fiscalização e mudança do comportamento de cada um.

    O lema da campanha deste ano, muito adequadamente extraiu-se da Bíblia Sagrada, do Livro do Gênesis, capítulo segundo, versículo décimo quinto:

    "Cultivar e guardar a criação”.

    Nesse sentido, o que se pretende é infundir, na consciência da população, o carinho pela vida em todas as suas formas.

    Eu falo "carinho", e a palavra é muito apropriada; porque, muito embora se vincule a proteção do meio ambiente a questões econômicas, com conceitos como o de "economia verde", ou a temas jurídicos, de Direito Ambiental, o enfoque da Campanha da Fraternidade é outro. É o de fazer da defesa dos ecossistemas uma questão ética, um valor supremo, que oriente a atitude de cada um de nós.

    É claro que o desenvolvimento sustentável e o Direito Ambiental são maneiras de coordenar isso junto à sociedade, de viabilizar o respeito ao ambiente como modo de viver coletivo.

    Mas o que a Campanha da Fraternidade pretende é falar diretamente ao coração do povo. São dois jeitos de falar que se complementam, para pôr em movimento as engrenagens da mudança e do progresso social.

    Sr. Presidente, eu mencionei anteriormente que a Campanha da Fraternidade abrange todo o Brasil. O tema deste ano, portanto, diz respeito aos seis biomas do nosso território: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. São todos biomas riquíssimos, cada um com suas particularidades, seus mistérios; todos eles, de alguma maneira, encontram-se ameaçados pelo modo de vida da sociedade contemporânea.

    Na região Norte, minha região de origem, estende-se, como todos sabemos, o bioma amazônico. Entre todos os biomas brasileiros, talvez este seja o que mais determina o dia a dia dos indivíduos. Na Amazônia, a região de maior biodiversidade do planeta, a flora é copiosa, a fauna é abundante; e os inúmeros rios - a região tem a maior bacia hidrográfica do mundo2, enfim, os inúmeros rios servem para transporte, lazer e alimentação das pessoas. Existe uma verdadeira civilização da floresta, em que índios e ribeirinhos vivem em intenso contato com a natureza.

    Por outro lado, a Amazônia abriga também uma economia moderna, que abastece a população local e se conecta aos mercados nacional e global. Temos polos industriais, portos exportadores, agropecuária, mineração, uma indústria extrativista de vulto. Temos um dinâmico mercado de produtos da floresta - castanhas, óleos, plantas específicas. Temos pontos turísticos que atraem gente do mundo inteiro.

    Conciliar essas duas tendências - local e global - tem sido muito difícil, porque ambas exercem pressões distintas sobre o meio ambiente. Claro, muito já se obteve, principalmente por meio de regulação governamental. Nesse contexto, eu cito o polo industrial de Manaus como um sucesso, porque com ele se conseguiu gerar emprego e renda em atividades que não derrubam a floresta. Entre os ribeirinhos, muitas comunidades se organizam, com auxílio das autoridades, para administrar a atividade da pesca, respeitando o ciclo reprodutivo de algumas espécies de peixes. Já se elaboraram, ainda, inúmeros projetos de turismo sustentável, dentro e fora da floresta; entre muitas outras iniciativas.

    Ainda assim, é óbvio que ainda temos muito chão a percorrer. A disputa pelos recursos ambientais, sobretudo terra, ainda é sangrenta. O desmatamento, que vinha se reduzindo nos anos 2010, deu uma forte guinada nos últimos anos, e se encontra em trajetória crescente. Parece que, com o agravamento da crise econômica, muitas pessoas têm recorrido a atividades informais, alheias à regulamentação, com graves consequências sobre o meio ambiente.

    É aí que entram atividades de conscientização, como a da Campanha da Fraternidade este ano. Elas educam por meio da ação direta. Não há pedagogia mais potente que essa.

    Para concluir, Sr. Presidente,

    A Campanha da Fraternidade deste ano é estratégica. Como disse o Papa Francisco, na recente encíclica Laudato Si, "sobre o cuidado da casa comum":

Muitas coisas devem reajustar o próprio rumo, mas antes de tudo é a humanidade que precisa mudar. Falta a consciência duma origem comum, duma reciproca pertença e dum futuro partilhado por todos. Esta consciência basilar permitiria o desenvolvimento de novas convicções, atitudes e estilos de vida. Surge, assim, um grande desafio cultural, espiritual e educativo que implicará longos processos de regeneração.

    Este é o desafio que a Campanha de 2017 resolveu abordar, e por isso tem todo o meu apoio e respeito.

    Se conquistarmos, para a causa ambiental, os corações e mentes da população;

    Se persuadirmos as pessoas de que a natureza não é um meio para atingir um fim, seja lá qual for esse fim, mas um fim em si mesma;

    Se entendermos o meio ambiente - a fauna, a flora, os rios, o ar e o solo - digno do mesmo carinho e respeito que temos por nós mesmos, nossas famílias, nossos amigos;

    Veremos que o progresso não dependerá apenas da boa vontade dos governos, ou da responsabilidade das empresas. Ele correrá a reboque da mais pujante força da História - a força do povo.

    Muito obrigado.


    1 http://campanhas.cnbb.org.br/objetivo-da-campanha-da-fraternidade-fazer-diferenca­na-vida-das-pessoas.html


    2 http://www.mma.gov.br/biomas/amaz%C3%B4nia



Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2017 - Página 120