Discurso durante a 56ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear o Sr. Antônio Lomanto Júnior por 49 anos de vida pública.

Autor
Otto Alencar (PSD - Partido Social Democrático/BA)
Nome completo: Otto Roberto Mendonça de Alencar
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a homenagear o Sr. Antônio Lomanto Júnior por 49 anos de vida pública.
Publicação
Publicação no DSF de 05/05/2017 - Página 16
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LOMANTO JUNIOR, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

    O SR. OTTO ALENCAR (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Senador Fernando Coelho, agradeço a V. Exª a Presidência desta sessão neste momento.

    Quero saudar o Senador Garibaldi Alves, a Senadora Lídice da Mata, o Deputado Federal José Rocha, o Deputado Leur Lomanto, Deputado Leur Lomanto Júnior. Quero saudar também todos os familiares que aqui estão presentes. Seus filhos Antonio Lomanto, Lilian, Marco Antonio, Marco Tadeu, os seus netos que estão aqui, seus bisnetos. Enfim, todos os familiares.

    Os Deputados Federais que aqui vieram, como o Deputado Federal José Carlos Araújo; em nome dele saúdo todos os Deputados Federais que estão presentes. E também os Deputados Estaduais da Bahia que aqui vieram.

    E saudar um grande amigo meu, que também representa a família Lomanto, que é o meu amigo Fernando Jorge Carneiro, esposo de Virgínia, filha de Vavá Lomanto, um grande amigo com quem convivi e tenho ótimas lembranças de Vavá Lomanto. (Palmas.)

    Eu vi o vídeo que foi aqui passado pela família e também me emocionei. Eu convivi com o Dr. Lomanto, como era chamado, por muito tempo. E ele teve de minha família, em 62, o apoio lá em Ruy Barbosa, minha cidade natal. Eu tinha 15 anos e ele foi candidato a Governador.

    Eu me lembro que, naquela época, colocávamos as chapas no envelope para levar para a urna. E eu fazia essa confecção com meu pai, com meu avô. Meus familiares todos o apoiaram à época.

    Ele teve um apoio muito grande da igreja lá em Ruy Barbosa. O Padre Cizinho fez uma campanha maravilhosa, ressaltando as qualidades de cristão e de religioso. Ele era um católico fervoroso.

    Ele foi Governador muito jovem, com 37 anos. Antes disso talvez tenha sido – aliás, é o único baiano que exerceu, na Bahia, todos os cargos públicos. Começou como Vereador – aliás, a formação dele era de odontólogo –, depois Prefeito, Deputado estadual, voltou a ser Prefeito e, depois, Deputado Federal, Governador e Senador.

    Como Senador, ele se elegeu em 1978. Antônio Carlos foi indicado ainda de forma indireta, e ele disputou as eleições para o Senado e foi vitorioso. E nessa campanha eu pude votar em Dr. Lomanto, levado por Fernando Jorge num comício lá em Itapoã. Eu me lembro, como se fosse hoje, de que ele me levou a dar esse voto. Eu lembro exatamente como foi e também o seu discurso, a sua maneira de agir.

    Ele, como Governador, já se destacaram aqui todas as obras que foram por ele realizadas e que são marcas até hoje: a estrada que o meu amigo, Senador Fernando Bezerra, aqui ressaltou, que fez a Bahia se abraçar com Petrolina e com Pernambuco, como a Ponte do Pontal, lá em Ilhéus, e como outras tantas obras que foram realizadas com determinação, com coragem, num momento muito difícil da vida brasileira, até porque foi o momento em que se iniciou um novo regime político, com o golpe militar de 1964. E ele teve a capacidade de harmonizar a vida política baiana e também de conseguir exercer o seu mandato de Governador.

    Eu, depois, eleito Deputado Estadual, participei da campanha para o governo, em 1990. E fui indicado Secretário de Saúde pelo então Governador Antônio Carlos Magalhães, que foi Senador também aqui e foi Presidente do Senado Federal, outro grande baiano que ajudou muito a Bahia.

    Permitam-me os familiares acrescentar também, porque vejo aqui Michele Magalhães, fazer uma homenagem póstuma a um amigo meu, Luís Eduardo Magalhães,... (Palmas.)

    ... que foi um grande baiano também, Presidente da Câmara Federal.

    E, nesse período em que fui Secretário da Saúde, o Dr. Lomanto saiu candidato a Prefeito de Jequié. Eu nunca imaginaria que ele voltaria – depois de ser Governador, Senador – a ser Prefeito de Jequié. Ele esteve comigo na Secretaria da Saúde para conversar sobre os problemas de saúde, ainda na campanha. Ele estava preocupado com o Hospital Prado Valadares. Perguntou-me se haveria como, ele sendo Prefeito, nós recuperarmos, reequiparmos o hospital. Eu disse a ele que sim.

    Mas eu fiquei curioso e disse: "Dr. Lomanto", porque nós todos o chamávamos de Dr. Lomanto, "o senhor foi tanto, o senhor foi Governador, foi Senador e agora vai ser Prefeito de Jequié?". Eu nunca esqueci o que ele me disse: "Olha, Otto, eu já fui tudo isso, mas lhe digo de coração que eu prefiro ser o primeiro em Jequié do que ter sido o primeiro, na Bahia, Governador e o segundo no Senado. A minha terra é a minha vida". Então, eu gravei isto: "prefiro ser o primeiro na minha terra a ser o segundo em qualquer lugar", porque é uma coisa que mostra o sentimento de paixão por sua terra, pelo seu povo, por sua Jequié. Aqui está o Prefeito, Sérgio da Gameleira, os vereadores.

    Portanto, ele tinha esse sentimento de voltar à sua cidade, à sua terra natal, para servir ao seu povo. Ele, Prefeito, nós fizemos a recuperação do Hospital Prado Valadares. Trabalhei bastante nesse período como Secretário de Saúde. E, um certo dia, já deixando a Secretaria, Fernando, me convidam a uma churrascaria, onde me fariam uma homenagem.

    Eu pensava que era uma homenagem simples de alguns prefeitos. Seriam o quê? Dez, doze, vinte prefeitos, e ele estava à frente dessa homenagem.

    Quando eu cheguei à churrascaria, fiquei completamente assustado, porque havia mais de 200 prefeitos que ele conseguiu levar para a churrascaria, ex-prefeitos, várias pessoas. E, naquele momento, o Governador Antonio Carlos Magalhães não sabia a dimensão – tampouco eu sabia, e todos que conheceram Antonio Carlos sabem que um secretário jamais poderia querer ultrapassar a autoridade dele.

    Cheguei à churrascaria, e ele disse: "Vim lhe prestar uma homenagem pelo Secretário de Saúde que você foi e pelo o que você fez por Jequié". Digo: "Olha, Dr. Lomanto, tem um problema aí. O senhor vai ter de ser orador, vai falar e não falar em sucessão estadual. Eu não sou candidato a Governador de jeito nenhum!". (Risos.)

    Aí, ele disse: "Não. Pode ficar tranquilo que eu serei o orador", porque alguns prefeitos queriam fazer uma marcha a Ondina. Vocês imaginem a briga que eu iria comprar. (Risos.)

    Então, ele terminou sendo o orador, falou e agradeceu, mas não tocou em política, felizmente.

    Logo depois, eu tive um despacho com o então Governador Antonio Carlos Magalhães, que disse: "O senhor foi homenageado numa churrascaria, com vários prefeitos". Disse: "Fui, sim, senhor.". Ele disse: "Lomanto salvou a sua pele: não falou em sucessão.". Digo: "Exatamente!"

    Lomanto não falou de sucessão de governo, com uma tranquilidade, com aquela maneira dele de ser, sempre alegre, amigo. E foi Prefeito de Jequié. Aqui no Senado, deixou uma marca muito importante: foi Vice-Presidente aqui do Senado Federal, fez grandes amigos e deixou uma história de vida. Cada um de nós constrói a nossa própria história.

    Eu diria que o ex-Senador, ex-Governador, Lomanto Júnior construiu uma história que marcou a Bahia não só pela execução física das obras, pela capacidade gerencial e administrativa que ele teve. E isso, sem nenhuma dúvida, é reconhecido por todos os políticos baianos, mas a grande que ele deu, foi a lição de que, exercendo todos esses cargos públicos, construiu uma história digna e honrada que serve de exemplo a todos os baianos.

    Foi grande executor de obras. Foi construtor. Foi administrador. Realizou muito, mas nunca foi arrogante. Sempre foi dócil, mas sempre foi firme nas suas decisões. Enfrentou várias dificuldades. Enfrentou os fortes e os grandes com altivez, mas os humildes, sempre com caridade, que era uma coisa da sua formação, do seu coração, da sua índole mesmo, de ser um homem formado e com educação familiar muito forte – como são todos aqueles que têm os seus pais centrados, no interior da Bahia, e recebem educação familiar, que é fundamental para a vida.

    Tinha uma capacidade muito grande de oratória. Eu ouvi vários discursos do Dr. Lomanto, com aquela voz sempre firme, que falava com a sua convicção.

    E, portanto, eu creio que prestar uma homenagem a um grande baiano, que foi Antônio Lomanto Júnior, é um dever nosso, um dever de todos nós, como falou Lídice da Mata. Esta homenagem é endossada pela Lídice da Mata, pelo Senador Roberto Muniz, que não pôde estar aqui hoje, por todos os Deputados Federais, são vários Deputados Federais que estão aqui hoje com o ex-presidente do Senado Federal, com os Senadores que aqui vieram, com seus familiares.

    Portanto, eu apenas cumpro o dever de baiano de prestar esta homenagem, que é de minha iniciativa, prestar homenagem a Antonio Lomanto Júnior. Creio que é justa, como todos aqui falaram. Foi um homem que construiu uma vida de trabalho, de luta, ligado à sua família, ligado à crença religiosa de forma muito verdadeira, que foi um esposo maravilhoso, podia até dizer um exemplo puritano até na relação familiar, totalmente puritano. Eu nunca vi alguém dizer que Dr. Lomanto tinha dado um pulinho em alguma cerca pela história da Bahia. Jamais! (Risos.)

    Esse exemplo é um exemplo importante que deveria ser seguido por todos os baianos e todos os que estão me ouvindo aqui agora. Então, o Dr. Lomanto deixou essa história de vida bonita.

    E quem constrói uma história de vida dessa natureza, uma trajetória vitoriosa, que deixou tantos amigos e tantas saudades, eu posso dizer, com toda a convicção, com toda a firmeza de quem conheceu profundamente esse homem do sertão, esse grande baiano, esse bom baiano: Lomanto não morreu nem morrerá nunca, cessou de viver para continuar habitando o coração de todos os nossos baianos, todos os nossos amigos que aqui vieram e de outros tantos que vão ouvir e vão assistir a esta sessão, que não está sendo, agora, transmitida diretamente pela TV Senado, porque nós temos agora uma Comissão de Relações Exteriores, presidida pelo ex-Presidente Fernando Collor, mas todos os baianos vão ter oportunidade de saber que este homem que viveu na Bahia, que foi Governador, as novas gerações de políticos – que aqui estão muitos deputados estaduais e vereadores – haverão de tê-lo como exemplo, um exemplo de vida a ser seguido.

    Eu olho muito, eu gosto muito da história e de ler a história, e a história é o que mais ensina os políticos. Eu conheço bem a história do meu País, a história toda da República, do Império, desde garoto, ainda na época lá, Leur, no interior da Bahia, não tinha os livros, mas tinha um sabonete chamado eucalol, e esse sabonete trazia umas estampas dentro que traziam a história de Roma e da Grécia. A partir daí, eu me apaixonei pela história de Roma, por toda a vida dos césares, conheço aquilo mais talvez que os italianos.

    Recentemente eu li a biografia de um grande homem do mundo, um cidadão do mundo. Eu li, terminei no ano passado, no mês de junho, a biografia de Nelson Mandela. Foi o grande líder africano que, com a sua capacidade de unidade, pacificou o seu país. Nelson Mandela lutou na luta armada, foi preso 27 anos e deixou a prisão para perdoar os seus agressores, para pacificar a vida da África do Sul. Foi um pacificador: perdoou os brancos – que foram os seus opressores – e uniu a África do Sul com negros e brancos e, a partir disso, o seu país começou a crescer.

    Lomanto foi um grande pacificador, um grande executor da harmonia da vida pública da Bahia e, neste momento que o Brasil vive, o Brasil precisa de pacificadores.

    Eu acredito que seria uma coisa que, se eu pudesse fazer agora, faria, até porque eu saía com esse livro da biografia ou alguém que tivesse feito a biografia de Lomanto ou com a biografia mesmo do Nelson Mandela, eu não mudaria o Fernando Henrique Cardoso, porque ele fez o prefácio do livro, mas daria um conselho ao atual Presidente Michel Temer, ao ex-Presidente Lula, aos Líderes do PSDB e a todos que comandam o Brasil hoje, que vive um momento muito grave, e diria: "Sigam o legado e a história de Lomanto: pacifiquem o Brasil! Sigam o legado de Nelson Mandela: pacifiquem o Brasil!" Porque este é um momento em que alguém só vai resolver os problemas brasileiros através da moderação. Se a solução do Brasil não vier de moderados, como Lomanto, não virá de exaltados. Portanto, a presença de Lomanto agora, aqui no Senado, aqui no Brasil, serviria de exemplo para resolver as dificuldades sociais e econômicas do povo brasileiro e do Brasil.

    Eu me miro muito na vida de Lomanto Júnior, e, na minha vida inteira, sempre que puder, dentro de um acordo ou de uma conversação, de uma pacificação que seja em benefício do povo, como ele escreveu ali: "servir e não ser servido", eu o farei, sem hesitar em nenhum momento, porque Antônio Lomanto Júnior deixou esse exemplo. E eu repito, não morreu, cessou de viver.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/05/2017 - Página 16