Pela Liderança durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a greve geral ocorrida em 28 de abril.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Comentários sobre a greve geral ocorrida em 28 de abril.
Aparteantes
Fátima Bezerra, Lindbergh Farias, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 03/05/2017 - Página 27
Assunto
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Indexação
  • COMENTARIO, REALIZAÇÃO, GREVE, AMBITO NACIONAL, PARALISAÇÃO, TRABALHADOR, MOTIVO, DESAPROVAÇÃO, REFORMULAÇÃO, LEGISLAÇÃO PREVIDENCIARIA, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, CRITICA, MATERIA, REFERENCIA, PREJUIZO, POPULAÇÃO, DEFESA, CONVOCAÇÃO, ELEIÇÃO DIRETA, ELOGIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, REPUDIO, ATO, VIOLENCIA, GOIANIA (GO), ESTADO DE GOIAS (GO), AUTOR, POLICIAL, VITIMA, ESTUDANTE, REGISTRO, PRISÃO, ATIVISTA, MOVIMENTO SOCIAL, SEM-TERRA, SÃO PAULO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EXISTENCIA, INOCENCIA, PEDIDO, DESTINATARIO, GOVERNO ESTADUAL, POLICIA, ENTE FEDERADO, OBJETO, CONCESSÃO, LIBERDADE, PRESO.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Como Líder. Sem revisão da oradora.) – Muito obrigada, Senador Jorge Viana, Srªs Senadoras, Srs. Senadores.

    Sr. Presidente, eu, da mesma forma, quero iniciar este meu pronunciamento falando da greve geral, aliás, a maior greve geral organizada e realizada no Brasil nessas últimas décadas. Nas avaliações que se fazem, Sr. Presidente, o número de trabalhadores que paralisaram, no Brasil inteiro, varia de 30 a 40 milhões – ou seja, 30 a 40 milhões!

    Eu nem precisaria dizer isso após esse belo pronunciamento feito pelo Senador Paim, em que ele ilustra o seu pronunciamento com uma série de imagens, e uma imagem, às vezes, fala mais do que muitas palavras.

    O Presidente eleito indiretamente em nosso País, logo após o movimento, foi às redes sociais dizendo que foi um movimento não vitorioso, que foi uma minoria de trabalhadores que paralisaram e que, apenas e tão somente por conta da paralisação do serviço de transporte público em algumas cidades, é que o movimento se tornou um pouquinho mais visível. Isso não é verdade! O Senador Paim acabou de mostrar: as pessoas, quando quererem trabalhar, dão um jeito e vão trabalhar. Aliás, o Prefeito de São Paulo, aquela figura apolítica, inclusive, ofereceu serviço gratuito, 99 – dos Táxis 99 – e Uber, para quem quisesse trabalhar.

    Mas o que a gente viu, no Brasil inteiro, de norte a sul, de leste a oeste, foi um movimento coerente, um movimento equilibrado, um movimento maduro. Foi um recado que a população, trabalhadoras e trabalhadores, deu para os Parlamentares brasileiros: "Não aprovem essas reformas! Não somos nós que temos culpa da crise do País!". Ou seja, a greve – esses movimentos – foi, repito, um dos movimentos mais conscientes a que nós já assistimos no País.

    Foi um movimento forte, decidido e que teve uma repressão, infelizmente, uma repressão desmedida. E aqui também já foi dito, Senador Lindbergh, uma repressão desmedida em alguns lugares do Brasil. Não foi o nosso caso em Manaus. Fizemos, em Manaus, uma manifestação significativa. De manhã, foram várias manifestações: à frente das universidades, das escolas, das garagens de ônibus, manifestações que envolviam os trabalhadores daquelas categorias. E, à tarde, todos nos juntamos e fomos fazer uma caminhada na principal avenida, que é a Avenida Eduardo Ribeiro. A estimativa é de que lá estiveram em torno de 30 mil trabalhadoras e trabalhadores.

    Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu em Goiânia; não foi o que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro. Eu, logo cedo, vi a postagem da Deputada Jandira colocando, no exato momento em que estava iniciando a sua fala, que jogaram bomba no palco. E quem jogou bomba no palco? A polícia! A polícia atirou bomba contra a população, contra os manifestantes. E, mais do que isso, o jovem Mateus, de quem aqui muito se falou. Eu fiz questão também de trazer aqui para o plenário algumas fotos que estão sendo repetidas inúmeras vezes pelos meios de comunicação do Brasil. Sem ter cometido nada de ilegal, de arbitrário, nenhuma ação de violência, olha o que fizeram contra esse menino, esse jovem Mateus, de trinta e poucos anos de idade! Ele ia passando – aliás, ele ia correndo – para se proteger, como muitos que vinham correndo de bombas que eram atiradas pela própria polícia. Quebraram o cassetete, quebraram o cassetete na cabeça dele!

    Eu acabei de ler uma mensagem – se pudesse alguém pegar o meu telefone ali da bancada –,...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Uma mensagem que foi publicada pela sua mãe, pela mãe de Mateus. Uma mensagem que é de emocionar, Senadora Fátima Bezerra, porque a mãe de um jovem que sofreu essa arbitrariedade, neste momento, o que ela quer saber é da recuperação do seu filho, ela quer saber se seu filho vai se recuperar ou não. E postou uma informação nas mídias sociais, diante de tantas solicitações de pedidos de informação sobre o real estado de saúde de seu filho. E ela disse o seguinte, abre aspas:

Aos amigos e familiares, o estado de saúde de Mateus está estável. Como o trauma foi grande, o corpo está sentindo agora os efeitos do trauma. Está sedado, porque o cérebro não pode trabalhar muito rápido para não sobrecarregar o corpo. E a hemodiálise está sendo feita, mas a reação vem do paciente e vai ser gradativa. Passará por uma nova cirurgia na parte frontal com o buco maxilar, para colocar uma prótese, pois o osso foi destruído, e colocar um pino embaixo na face, para juntar o osso. Passará pelo ortopedista para cirurgia de correção de clavícula. Estou confiante.

    Veja, até a clavícula – numa pancada recebida na testa – sofreu traumatismo.

    E diz a mãe de Mateus: "Estou confiante. Mateus é forte e vai reagir gradativamente para que as suas funções vitais voltem ao normal". Essa é a mensagem de uma mãe.

    É de uma repressão descabida. Além do problema do Mateus, que foi dito aqui, de tudo faremos para amanhã levarmos a nossa solidariedade, por proposta da Presidente da Comissão de Direitos Humanos, Senadora Regina, e da Senadora Fátima...

    A Srª Fátima Bezerra (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – E a Comissão de Educação também, Senadora Vanessa, junto com a Comissão de Direitos Humanos.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – E a Comissão de Educação. Perfeito!

    Além disso, são três trabalhadores, não estudantes, mas trabalhadores: um motorista, um frentista, um pedreiro, que se encontram presos em São Paulo desde o dia 28 até agora. Luciano Firmino, pedreiro; Juracir Santos, frentista; Ricardo Santos, motorista. Foram presos sob a acusação de que estavam atentando contra a ordem pública, militantes do MTST que foram presos também sem cometer nenhum crime, Senador Lindbergh. E o pior – a notícia que recebemos hoje...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – São os presos políticos da greve geral.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Os presos políticos da greve geral. E eles hoje foram transferidos da delegacia – porque estavam no 63º Distrito Policial de São Paulo –, e, no dia de hoje, foram transferidos para uma prisão em outro bairro muito distante da cidade de São Paulo.

    Então, é preciso que registremos mais essa arbitrariedade. E dizer para o Governo de São Paulo, para a Polícia de São Paulo: soltem imediatamente esses pais de família, que são trabalhadores, que têm emprego e precisam trabalhar para sustentar suas famílias. Não cometeram nenhum crime, nenhum ato de corrupção, de nenhum assalto eles participaram. Qual crime eles cometeram? Participar do movimento de greve no último dia 28. É essa a acusação que eles sofrem.

    Então, nós temos que prezar pela democracia. Se há um mínimo, um resquício de democracia neste País, que soltem imediatamente esses presos. Como disse o Senador Lindbergh, são os presos políticos. A suspeita que paira sobre eles é a de que estariam colocando fogo em um pneu. E estão presos até hoje, pais de família, trabalhadores, gente honesta, que não têm ficha corrida, não têm nada. Mas é com isso que eles estão preocupados.

    Enquanto isso segue, Sr. Presidente, penso que de fato é preciso que analisemos melhor o que está acontecendo neste País. Quando a gente aqui fala que as reformas da previdência e trabalhista não passarão no Senado Federal, não é só porque nós temos na mira posições corretas e coerentes, como a do Senador Renan Calheiros, Líder do PMDB nesta Casa e que tem sido coerente durante toda a sua vida.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Não é agora, não. Não é agora, como tenta dizer o Governo também, diminuindo a posição do Senador Renan.

    O Senador Renan foi contra, desde a primeira hora, o projeto de lei da terceirização; como agora está sendo contrário a essa reforma trabalhista absurda, porque é uma reforma que retira direito.

    Senador Cristovam, colocar que o negociado prevalece ao legislado e dizer que isso é moderno? Num País que ainda oprime tanto os trabalhadores; num País que ainda exige tanto dos trabalhadores?

    E o exemplo está aqui, o projeto que já foi dito, parece-me, do Deputado Nilton Leitão...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Nilson Leitão.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Nilson Leitão, que prevê trocar trabalho por moradia, trocar trabalho por comida. Trabalho por moradia, trabalho por comida. Prevê a possibilidade de trabalhar 12 horas ininterruptas por dia, acumular uma jornada enorme de trabalho durante 18 dias seguidos...

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Senadora Vanessa.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... sem folga, dizendo que o trabalho no campo é trabalho especial.

    Olha, eu não quero voltar à época da ditadura, mas eu quero voltar à época em que trabalhadores nordestinos iam para a Amazônia trabalhar na extração da borracha. E lá era assim, era um sistema de quase escravidão, eles trabalhavam em troca de comida e moradia.

    Os seringueiros da Amazônia...

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... pela moradia e pela alimentação, ainda deviam ao seringalista, ao dono do seringal.

    Então, é a esse tempo que querem devolver, e querem fazer com que o Brasil retroceda.

    Senador Requião.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – A preocupação é maior, Senadora, porque, além de pagarem com comida e objetos – casa, moradia –, nós temos ainda aquele cidadão da Fiesp lá em São Paulo, o Steinbruch, que, numa entrevista com o Fernando Rodrigues, ex-jornalista da Folha, disse que o tempo para o almoço poderia ser reduzido a 15 minutos, porque ele já viu, nos Estados Unidos, trabalhadores que almoçam segurando um sanduíche com uma mão e operando a máquina com a outra. Esse pessoal está saindo da seriedade e entrando no reino da chalaça.

(Interrupção do som.)

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Eles querem reduzir o País à situação dos trabalhadores de cem anos atrás. Não tem mais cabimento. E o termo para isso tudo, Senadora – me perdoa o destempero – é canalhice.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Eu não acho, Senador – eu concluo neste exato tempo que V. Exª me concede –,...

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Por favor, Senadora.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... eu não acho que o termo seja inapropriado. É um termo forte, mas é um termo que cabe, sem dúvida nenhuma. Isso é uma canalhice o que estão fazendo com a população brasileira.

    Eu quero dizer, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, que voltarei à tribuna para falar das saídas, porque não estamos aqui apenas para criticar. É preciso apontar saídas. E creio que o lançamento de um projeto importante, assinado por Bresser Pereira e por outros intelectuais e estudiosos do País, o Projeto Brasil Nação, aponta um caminho importante. Eu acho que, em primeiro lugar, nós precisamos nos reconciliar com a democracia. Eleições diretas já!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/05/2017 - Página 27