Pela Liderança durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Tomando por referência as eleições francesas realizadas recentemente, defende a implementação de reformas no Estado brasileiro que permitam ao jovem de hoje melhor qualidade de vida e inserção no mercado de trabalho.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
SISTEMA POLITICO:
  • Tomando por referência as eleições francesas realizadas recentemente, defende a implementação de reformas no Estado brasileiro que permitam ao jovem de hoje melhor qualidade de vida e inserção no mercado de trabalho.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2017 - Página 41
Assunto
Outros > SISTEMA POLITICO
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, GRUPO, REFORMA, ESTRUTURA, ESTADO, FOCO, FUTURO, JUVENTUDE, ALTERAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, DIREITOS E GARANTIAS TRABALHISTAS, POLITICA FISCAL, AMPLIAÇÃO, EMPREGO, EDUCAÇÃO, SAUDE, SEGURANÇA PUBLICA, REDUÇÃO, VIOLENCIA, DESEMPREGO, REFORMULAÇÃO, POLITICA PARTIDARIA, SISTEMA ELEITORAL, CAMPANHA ELEITORAL, REFERENCIA, ELEIÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Srª Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ontem eu tive a oportunidade de falar aqui, com aparte da Senadora Ana Amélia, do Senador Alvaro e do Senador Medeiros, sobre as eleições na França.

    Aquela eleição demonstrou duas coisas: primeira, que os partidos já não representam os caminhos para encontrar os novos dirigentes e as novas propostas; segunda, que é possível, sim, haver uma proposta fora de partidos, mas olhando para frente. É diferente, por exemplo, do que aconteceu nos Estados Unidos, em que o eleito, apesar de pertencer, na hora da eleição, a um partido, foi candidato por fora do partido e olha para trás.

    Alguém comentou que havia uma diferença muito grande entre o Brasil e a França. É o fato de que, lá, um dos temas centrais o Brasil não tem, que é o problema da migração em massa de deserdados ou vítimas de guerra, querendo entrar na Europa.

    E eu disse, nessas conversas, que o Brasil, sim, deve ter na próxima eleição, como tema central do debate, o problema da migração. Não da migração geográfica, de pessoas que venham de fora para o Brasil, mas da migração interna – também não geográfica, de pessoas indo de um lugar para outro. É uma migração pouco percebida que é a migração dos jovens que querem ir ao futuro, e o futuro interrompido, impedido, barrado.

    Aqui, nós temos mediterrâneos invisíveis que não só separam pobres e ricos em dois territórios diferentes, mas hoje separam os jovens do futuro a que eles têm direito do ponto de vista temporal, mas não estão tendo direito do ponto de vista social, do ponto de vista econômico.

    Nós temos barreiras que impedem os jovens a um futuro satisfatório. Nós estamos deixando para eles um País sob violência generalizada. Nossos jovens chegarão ao futuro sem direito a caminharem pelas ruas; nossos jovens são refugiados no presente querendo ir ao futuro, impedidos pela realidade que nós estamos deixando.

    Não é só violência. Nós estamos impedindo os jovens de entrarem no futuro com partidos confiáveis, com propostas nacionais. Nós não estamos dando aos jovens um sentimento de coesão nacional, nem de rumo para o futuro. Eles são refugiados no presente, querendo entrar no futuro.

    Nós estamos deixando para os jovens, sobretudo se não fizermos as necessárias reformas, uma legislação previdenciária que, sem reforma, vai negar a eles, os jovens, a aposentadoria quando chegar o tempo deles, porque ela estará quebrada, falida.

    Nós estamos deixando, se não fizermos uma boa, correta reforma trabalhista, para eles uma legislação que já tem 75 anos, uma legislação do tempo em que não havia máquina de escrever elétrica, não havia elevador automático, não se falava em robótica, nem mesmo em automação.

    Nós estamos deixando para eles uma educação que não vai prepará-los para o mundo onde o trabalho será baseado no conhecimento que vem da educação.

    Estamos deixando para os jovens – esses refugiados que estão aqui tão perplexos quanto aqueles que tentam ir da África para a Europa, apenas sem o sofrimento físico igual, mas com a mesma perspectiva – um futuro em que o meio ambiente estará degradado, em que vai faltar água limpa pelo menos, em que a natureza já não poderá ser aproveitada.

    Estamos deixando um País endividado, brutalmente endividado, sequestrado pelos bancos por erros de decisões tomadas no passado em que, no lugar de um desenvolvimento que poderia até ser mais lento, quisemos apressar de tal maneira que exigiu tal grau de investimento que foi preciso endividar-se tanto Governo, empresas e pessoas – indivíduos, nos endividamos tanto – que esse é o País do futuro que vamos deixar para os jovens endividados. E, ao estarem endividados, com uma taxa de juro elevada; e, ao estarem endividados, sem capacidade de investimentos para gerar emprego.

    Nós corremos o risco de deixar para os jovens refugiados no presente um futuro sem emprego, sem emprego pelos dois lados que impedem: o lado da falta de investimento e o lado da falta de educação. Não há mais como criar emprego sem educação para aqueles que querem ser os trabalhadores; e não há como criar emprego sem o investimento daqueles que querem produzir.

    Por isso, aquela eleição lá longe, na França, pode nos servir tanto de exemplo, de exemplo na forma política como devemos fazer uma campanha, uma campanha que passou por cima dos partidos tradicionais, que rompeu com aqueles partidos que a população já não queria nem mais ouvir. Ao mesmo tempo, fez isso o candidato vitorioso, olhando para frente e não olhando para trás, olhando para continuar a integração da globalização com a Europa e não, como a Inglaterra e os Estados Unidos, olhando para a possibilidade de um retrocesso isolacionista dentro do próprio país.

    Não é este o futuro que devemos deixar para os jovens: um País isolado. A criação de emprego através do isolamento não se sustenta, não dura, não permanece, porque a concorrência internacional hoje, Senadora Ana Amélia, é impossível de ser freada com as velhas e antigas barreiras alfandegárias dos anos 50, 60 e até mesmo 70.

    Nós estamos deixando um País que não vai atender aos jovens com os recursos, com as vantagens com que nós, da nossa geração, mais velhos e menos velhos, contamos.

    Por isso é preciso entender, na disputa eleitoral, Senador Medeiros, do próximo ano, que não será uma questão de luta de classes que vai orientar, será uma questão de luta de gerações e também a malfadada luta de interesses de categoria.

    Há gente que reclama, porque não há mais luta de classe. Não, eu reclamo é porque agora a luta de classes foi substituída por uma luta de interesses corporativos, egoístas. O sentimento e a consciência de classe traziam um projeto nacional, olhando por uma classe ou por outra classe, mas havia um sentimento nacional dos empresários e dos trabalhadores. Agora, no lugar da luta de classes, a disputa de interesses corporativos não traz projeto nacional; traz a repartição do pouco que aí temos, cada um dos grupos querendo puxar mais para si. Aí vem a necessidade de endividar-se para atender a todos, que foi o que os últimos governos fizeram. Para não dizer que os recursos não davam, para não escolher lados ou para não conciliar criando uma coesão nacional, como fazem os estadistas, os governos daquele momento preferiram prometer tudo para cada categoria e para cada grupo.

    Saíram da luta de classes e entraram na disputa dos interesses corporativos. E a nação afunda nisso. Não há nação quando ela se divide em corporações, porque perde a coesão.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – E, ao perder a coesão no presente, perde o rumo no longo prazo; e, ao perder o rumo do longo prazo, nega o futuro à sua juventude.

    O debate do próximo ano, a meu ver, deve ter muitos itens, mas um deles fundamental é se queremos um governo só para nós desta geração ou se queremos um governo também para as gerações futuras.

    Vai ser um debate não apenas de como atender aos interesses corporativos de cada grupo, mas, sobretudo, os interesses da juventude, que quer emigrar do presente para o futuro e não consegue por esse mediterrâneo invisível que separa os jovens do futuro: às vezes, por omissões nossas, da nossa geração; às vezes, por erros; muitas vezes, por covardia, para não enfrentar os desafios difíceis no momento; e, sobretudo – eu concluo, Presidente...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – ... por falta de estadismo, que é aquela capacidade, Senador, de você pedir sacrifícios ao povo, mas convencendo-o de que o sacrifício vale a pena em nome do País.

    Há políticos que não querem pedir sacrifício ao povo: populistas. Há uns que impõem sacrifícios, mas não são capazes de convencer o povo a aceitar esse sacrifício como uma condição para melhorar o conjunto do País.

    Nós precisamos de alguns estadistas, que consigam combinar os interesses de nossa geração com os interesses da juventude que vem aí; construir o Brasil, e não apenas atender ao interesse de um ou outro grupo, de uma ou outra corporação que se assenhorou, privatizando o Brasil com um pedacinho para cada uma delas.

    É isso, Srª Presidente, que queria colocar mais uma vez...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – ... continuando essa pequena análise do que aconteceu lá longe, na França, e que pode nos servir de exemplo, inclusive no assunto da migração, mas não da África para o Brasil: a migração dos jovens de hoje para o futuro ao qual eles têm direito e que nós estamos negando, porque não estamos deixando o País melhor para eles.

    Muito obrigada, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2017 - Página 41