Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, no âmbito da Opertação Lava Jato, em Curitiba-PR.

Descrição das dificuldades encontradas no processo de duplicação das rodovias BR-163 e BR 364, em Mato Grosso.

Autor
José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Considerações acerca do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, no âmbito da Opertação Lava Jato, em Curitiba-PR.
GOVERNO ESTADUAL:
  • Descrição das dificuldades encontradas no processo de duplicação das rodovias BR-163 e BR 364, em Mato Grosso.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2017 - Página 44
Assuntos
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Outros > GOVERNO ESTADUAL
Indexação
  • EXPECTATIVA, DEPOIMENTO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE, AMBITO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, OBJETIVO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), LOCAL, CURITIBA (PR), ESTADO DO PARANA (PR).
  • DESCRIÇÃO, DIFICULDADE, AMPLIAÇÃO, RODOVIA, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), CONSTRUÇÃO, PEDAGIO, DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DOS TRANSPORTES (DNIT), LIBERAÇÃO, EMPRESTIMO, RECURSOS FINANCEIROS, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES).

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos acompanham, agora, há pouco, até queria fazer um aparte ao Senador Cristovam, mas, como ele falava pela Liderança, não há como pelo Regimento.

    Mas creio que este é o debate que precisamos travar aqui, Senadora Ana Amélia, que ora preside esta sessão: justamente buscarmos saídas e pensarmos este País de uma forma diferente, porque o que se nota neste momento é que parte do País está... Parte, não. É cada um naquela filosofia de farinha pouca, meu pirão primeiro.

    O Senador Cristovam está corretíssimo ao fazer esse debate. Desde ontem, ele vem trazendo aqui reflexões importantes tanto para a Nação quanto para nós parlamentares.

    Srª Presidente, dito isso, eu também assisti ao discurso de V. Exª hoje, falando sobre esse depoimento que vai ocorrer amanhã, em Curitiba. Eu queria dizer a todos os brasileiros aqui: é só mais um depoimento. Inúmeros brasileiros amanhã vão prestar depoimentos sobre diversos processos. Portanto, não se trata de um fla-flu. E nós precisamos refletir sobre isso para que Curitiba não se torne uma praça de guerra. Eu até entendo a estratégia do Partido dos Trabalhadores de querer politizar esse depoimento, porque, no momento em que trouxerem o Juiz Moro para a seara política, aí ele se torna presa fácil.

    Eu espero que tanto o Ministério Público quanto o Judiciário não caiam nessa armadilha. É uma armadilha perigosa, inclusive para o Brasil, porque nós não podemos tratar o Judiciário e processo na Justiça como se fossem um momento de fla-flu, porque essa falácia de que o Lula está sendo desconstruído não se firma na verdade, não tem lastro na verdade. Por que, Senador Moka? Porque o Lula se construiu sozinho com o seu discurso e se desconstruiu através das condutas que ele condenava no discurso.

    Aliás, a derrocada do Partido dos Trabalhadores se dá mais pela incoerência do que propriamente pelas pessoas terem se desencantado, porque construíram um discurso que era o mais draconiano possível com todos os outros agentes políticos. Era uma política de apontar dedos, que, de repente, foi pilhada com as mesmas práticas. Agora, não cabe aqui sapatearmos sobre o túmulo alheio. Esse é um caso judicial, de polícia, que, com certeza, vai se resolver por lá.

    Agora, na parte política, o que fica patente é que realmente aqui e no restante do mundo o populismo não é uma coisa que dá certo, primeiro, porque nós temos visto que o populismo sempre tem uma guinada – eu diria –, uma queda para o totalitarismo. É aquela coisa do "tudo pelo Estado". E aí se precisa de uma personalidade forte, de um reizinho, de alguém para tomar conta do Estado, para tutelar a todos e se tornar dono de todo mundo.

    Não é preciso ir muito longe. Aqui em Manaus e em Roraima já estamos sendo afetados por um populista, vizinho nosso aqui, que é o caso do Maduro, que resolveu virar um totalitário; resolveu virar uma figura que se adonou da Venezuela e está conturbando o ambiente. Creio que ele está com os dias contados. Mas aqui nós tivemos melhor sorte, pois não deu certo o mesmo projeto. A Argentina também teve melhor sorte e também o Paraguai, que a gente sempre criticava, Senador Moka. O seu querido Paraguai – e digo isso porque o Senador Moka nasceu na fronteira com o Paraguai e tem um carinho muito especial por ele, Senadora Ana Amélia – foi o primeiro a descobrir que tinha caído numa esparrela e tirou essa filosofia da sua política, quando cassaram o Lugo.

    Nós também tivemos melhor sorte porque eles se enrolaram nos cabelos das pernas e acabamos saindo também dessa esparrela. Agora tentamos caminhar para uma saída, uma transição, que não é fácil, porque os mesmos que quebraram estão colocando dificuldades para que o País saia.

    O populismo, Senador Moka, passa por essa reflexão que o Senador Cristovam falou aqui, agora há pouco: é o agradar a todos. Isso me faz lembrar de quando perguntaram, certa feita, ao Presidente Kennedy qual era o segredo de tanto sucesso. Ele falou: "Eu não sei. Eu não sei qual é o segredo do sucesso, mas, com certeza, o do fracasso é querer agradar a todos." É impossível! É impossível, porque os recursos são poucos, os interesses são muitos, e sempre vai haver conflitos. O Executivo é, acima de tudo, um mediador também das necessidades; aliás, muito mais da falta do que da fartura, vamos dizer assim.

    Cito, por exemplo, o que o populismo pode fazer no caso de Mato Grosso. Mato Grosso é um Estado gigantesco. Há cidades em Mato Grosso que ficam distantes da capital Cuiabá cerca de 1,3 mil, 1,4 mil quilômetros – o Senador Cidinho, que está aqui, não me deixa mentir. É um Estado que produz muito e que precisa escoar seus produtos. Embora o índice de produtividade seja grande, os produtos chegam a Mato Grosso com o dobro do preço do de seus concorrentes. Cito, por exemplo, os Estados Unidos, que têm um sistema de infraestrutura integrado, mas que concorrem entre si: hidroviário, ferroviário e rodoviário.

    Pois bem, no nosso Estado há praticamente uma só rodovia, a BR-163 e a BR-364, que se sobrepõem. Na época do governo do PT, a Presidente Dilma resolveu fazer uma concessão, e os mato-grossenses comemoraram, Senador Roberto Rocha; comemoraram porque haveria a concessão da rodovia, que seria duplicada. Tudo bem que ia se pagar pedágio. Isso também aconteceu no mesmo projeto com Mato Grosso do Sul, Senador Waldemir Moka. Acontece que o edital dizia que, a partir do momento em que a concessionária fizesse 10% de duplicação, ela poderia abrir as praças de pedágio e que outra parte seria feita pelo DNIT. Bem, o DNIT não conseguiu fazer; a União não conseguiu fazer a parte dela, e a concessionária começou a cobrar pedágio. A situação é que, hoje, em Mato Grosso, há a praça de pedágio, mas não há a rodovia duplicada.

    Para piorar, veja bem, o BNDES, que, no início, no momento da concessão, tinha entrado no negócio também para fazer o empréstimo a fim de que a estrada fosse totalmente duplicada, recolheu os flaps e agora não quer mais fazer o empréstimo para que a rodovia saia no Mato Grosso.

    Eu fiz essa fala, Senador Moka, simplesmente para dizer uma coisa: eu tenho lado. No momento em que eu tomo uma direção, eu entro de cabeça. No momento em que nós apoiamos este Governo de transição, eu resolvi defendê-lo, para ver se nós temos uma saída. Mas eu quero dizer hoje, aqui, ao Presidente Temer, ao Ministro Imbassahy e ao Líder Romero Jucá que não contem comigo, se a D. Maria Silvia continuar com a mesma política que está aí, de entesourar o BNDES...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – ... e deixar Mato Grosso, porque eu tenho um lado. Eu tenho um lado aqui, mas o meu lado maior é Mato Grosso.

    Rememoro o que Getúlio Vargas disse e que o Senador Walter Pinheiro sempre dizia aqui: "Adoro o Rio de Janeiro, capital do meu País; amo Porto Alegre, capital do meu Estado; mas primeiro meu São Borja." Se não houver um cronograma para o Estado de Mato Grosso, ainda nesta semana, não contem comigo aqui. Não vou ficar batendo contra o Governo, mas não contem comigo aqui para fazer essa defesa, porque eu estou aqui acima de tudo para representar Mato Grosso.

    E fico muito insatisfeito, Senador Moka, quando eu ouço, simplesmente, dizerem: "A rodovia não vai sair, porque as garantias não estão bem claras." Quando foi que o BNDES se preocupou com garantia ao emprestar para Mariel? Quando foi fazer porto em Mariel? Quando foi que o BNDES se preocupou, ao enviar dinheiro para a Venezuela? Quando foi que o BNDES se preocupou, ao mandar dinheiro para a África?

(Interrupção do som.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – ... e 27% da safra nacional está lá no Mato Grosso. "Não, não pode. E sabe por quê? Porque acho que o pedágio... Pode ser que com a queda, com a crise, pode ser que não vai ser bem lucrativo, e pode ser que a empresa não consiga pagar o empréstimo." Isso é problema do BNDES. Isso é problema do Governo. Não é problema do Estado de Mato Grosso. A gente estica a corda até onde pode, mas não dá mais. Não dá mais!

    Eu gastei dois anos aqui, tentando, todos os dias. Mas agora chega. Têm dinheiro – 150 e poucos bilhões –, vai um bilhão e pouco para terminar aquela obra lá.

    Duzentas e oitenta pessoas morriam todo mês naquela rodovia. Só com o pedacinho que duplicou já caiu para a metade. Então, eu quero dizer, com todo o respeito ao Presidente Temer, ao Ministro Imbassahy, que eu estou aqui à disposição...

(Interrupção do som.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Fora do microfone.) – ... mas eu quero que se resolva o problema do Estado de Mato Grosso.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2017 - Página 44