Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, no âmbito da Opertação Lava Jato, em Curitiba-PR.

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Considerações acerca do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, no âmbito da Opertação Lava Jato, em Curitiba-PR.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2017 - Página 51
Assunto
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Indexação
  • EXPECTATIVA, DEPOIMENTO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE, AMBITO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, OBJETIVO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), LOCAL, CURITIBA (PR), ESTADO DO PARANA (PR).

    O SR. MAGNO MALTA (Bloco Moderador/PR - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srª Presidente, Srs. Senadores, também aproveito para saudar o nosso querido Presidente, Eunício, que nos deu um susto, na semana próxima passada, mas que já está aqui, retomando os trabalhos, firme e, eu espero em Deus, com a saúde preservada, para continuar os seus dias, juntamente com a sua família, desempenhando o papel que lhe foi confiado aqui nesta Casa. Senador Eunício, seja bem-vindo.

    Agradeço a Senadora Simone, até porque o projeto importante a ser votado hoje – há duas autoridades, não deixa de ser importante – leva a marca, a chancela e a assinatura da Senadora Simone, uma marca importantíssima na vida nacional. A história haverá de lhe fazer justiça e o presente também, é uma escrita forte para a história.

    Eu cumprimento V. Exª, até antes de começarmos o debate – e não teremos embate, porque ele caminha para a unanimidade –, dizendo que V. Exª certamente... Não era desse lado que seu pai se assentava, ele se assentava ali, do outro lado, mas o Tebet, se vivo estivesse, estaria muito orgulhoso da atuação de V. Exª não só por esse projeto de hoje. Esse projeto de hoje é um resgate, é uma dívida antiga com os seres humanos, com mulheres e até crianças de todos os sexos que são mutiladas de forma irresponsável e depois, com o crime de estupro, que prescreve, não haveria o menor sentido.

    V. Exª serviu e ajudou o País de uma forma tão forte e tão incisiva no impeachment, ajudando a abrir as algemas daqueles que, durante 13 anos, algemaram uma nação e a assaltaram. V. Exª, sem dúvida, escreve ali o seu nome, de uma forma mais forte ainda e significativa, neste momento da história brasileira, quando vamos votar esse projeto de V. Exª.

    Srª Presidente, eu quero fazer um registro das asneiras que eu ouvi, da semana passada para cá, e também das bobagens que eu ouvi desta tribuna hoje. Na semana passada, a jararaca acuada, mas fingindo... Aliás, diz um delator que o apelido dele é Nine. Não sei nem se o Ronaldinho agora vai trocar o nome da empresa dele, porque o nome da empresa do Ronaldo Fenômeno é 9ine.

    Do alto do seu discurso, ele repete, com o mesmo timbre. A sensação é de que eu já tinha ouvido aquela frase de alguém. Ele disse: "Se não me prenderem logo e eu chegar lá, eu mando prendê-los todos." Ele vai mandar prender os jornalistas, vai mandar prender as pessoas que não têm o direito de fazer coro, de fazer reverberar a lambança que ele, os seus asseclas, os seus filhos, o patrimônio acumulado com o suor e o sangue do povo brasileiro... Ninguém pode fazer reverberar, porque agora ele disse que manda prender. Depois eu me lembrei de que já ouvi o Hugo Chávez falando daquele jeito. Eu estou vendo o Maduro falar daquele jeito. Eu já vi os Kirchner, da Argentina, falarem daquele jeito. É a própria frase de Fidel. É a própria frase das cabeças do Foro de São Paulo: "Vou mandar prender!"

    Qual é a câmera que está me filmando? Filme minha mão aqui. Olhe, Lula, como eu estou cheio de rugas. Eu estou ficando velho, cheio de preocupação com você, com medo de que seja preso. Olhe como eu estou cheio de rugas. Olhe minhas rugas, Senador Cássio, com medo de Lula, porque ele vai mandar prender.

    Aonde é que nós chegamos? Essa é uma tentativa... E diz ele: "Se me convocarem, eu vou, sem problemas. Não precisava fazer coercitiva comigo, sem problemas. Estou convocado. Estarei lá. Quero olhar nos olhos dele." Daí a pouco quer virar um cidadão diferenciado, quando os advogados entram na Justiça pedindo o direito de que ele seja filmado, de que ele leve para dentro uma equipe e faça lá um set de filmagem para que eles possam usar depois num filme histórico ou num programa eleitoral. Eles defendem tanto o direito dos outros! E os anônimos que fizeram depoimentos, que pegaram penas duras? E os anônimos que foram presos inocentes e que ninguém pediu para que eles fossem filmados de forma diferente? Logo em seguida, tão preparado emocional e intelectualmente com a sua verdade, entra na Justiça pedindo para adiar o depoimento. E aí cria um clima, no País, de octógono. É Lula contra Moro, Moro contra Lula.

    Brasil que me vê e me ouve, o Dr. Moro é um servidor público. O Dr. Moro é um juiz, um servidor público cumprindo o seu papel. O que ele está fazendo é cumprindo um rito. Não foi ele que investigou. O Dr. Moro não é delegado federal. Ele não é agente federal. O Dr. Moro não é do Ministério Público Federal. E o Dr. Moro nunca foi amigo de Lula. O Dr. Moro nunca foi nomeado por Lula em qualquer diretoria da Petrobras. O Dr. Moro nunca discutiu propina com eles. Moro não foi preso. Moro não fez delação premiada. Moro nunca atacou Lula, muito pelo contrário, de forma serena... Como é que é? Agora entram dois times em campo? E o juiz é o adversário do time porque o outro não veio? Moro agora, o juiz virou adversário do time? Adversário de Lula é o Duque, é o Zelada. Adversário de Lula é o ex-Senador Delcídio. Adversário do Lula é Vaccari, é Palocci. Adversário do Lula é o rei Emílio Odebrecht e o príncipe regente, Marcelo Odebrecht. Adversário do Lula é o dono da OAS, é o engenheiro que reformou a desgraça do apartamento. Esses é que são os adversários dele. Não o Dr. Moro. O Brasil não vai cair nesse conto, nessa pantomima, nesse teatro malfeito de dizer que ele está indo lá para se digladiar com o Moro.

    Não tem problema. Os seus seguidores podem ir, se querem ser solidários a ele, para ficar rezando do outro lado. E é até bom. Fiquem rezando para não fazer baderna, para não botar fogo em patrimônio público, para não queimar ônibus, para não atacar as pessoas, fazer gesto obsceno, falar palavrão. Não tem problema!

    Agora não há necessidade de a sociedade brasileira que não comunga, que não bate palma, que não acha graça de um homem cujos filhos ficaram milionários em quatro anos, de um homem delatado de toda ordem, que tinha uma conta de 40 milhões com a Odebrecht... Inimigo dele é João Santana, Mister M, o ilusionista e sua esposa. Não o Moro. O Moro vai ouvi-lo como ouve qualquer cidadão, vai fazer perguntas como faz a qualquer cidadão.

    Então, não vamos entrar nessa conversa de que vai haver digladiação, de que o Moro vai ofender o Lula, vai atacar o Lula, e o Lula vai responder. Vocês haverão de ver que vai haver serenidade e, se houver desequilíbrio, será por parte dos advogados de Lula, que já demonstraram esse desequilíbrio algumas vezes lá. E tenho certeza que ele se comportará como servidor público, como se tem comportado. Então, não existe essa de ganhar ou perder.

    Um jornalista do meu Estado, que vai publicar e repercutir amanhã, mandou uma pergunta para mim através da assessoria: "O que o senhor acha dessa batalha? Quem ganha: Lula ou Moro?" Que batalha? Quem ganha: Lula ou Moro? Quem ganha o quê? Moro não está se digladiando com Lula. Moro não está lutando com Lula. Moro só é um servidor público. Eles é que estão dando um clima de luta, exatamente para mexer com o ego e manter viva a sua militância, porque, fora daquela militância ou das milícias que os acompanham...

(Interrupção do som.)

    O SR. MAGNO MALTA (Bloco Moderador/PR - ES) – ...que são mantidas e alimentadas com a contribuição sindical, com que nós vamos acabar aqui nesta Casa, porque aquilo de fato é alimento de milícia.

    Se for para satisfazer a torcida, tudo bem. Mas a sociedade brasileira que um dia deu voto, a sociedade brasileira que um dia se juntou, inclusive eu, que cruzei este País defendendo, acreditando naquele sonho que era um pesadelo que me venderam, eu e tantos outros! Nós já não estamos mais no conto do vigário. Nós já não vamos mais aplaudir. Essas coisas já não nos emocionam. Então, se for para alimentar a militância e mantê-la viva, amém! Fiquem no canto de vocês sem baderna, porque não há luta. Não é mais uma edição do The Ultimate Fighter, de MMA ou de Anglo Fighter, chamem como vocês quiserem. É só um juiz cumprindo a lei, cumprindo o seu papel. Convocou uma pessoa, um cidadão, que foi denunciado; convocou um cidadão, que está sendo investigado, e o final de uma investigação chega ao juiz. Agora, dizer que o delator está mentindo, que ele contou uma história combinada para poder receber benefício. Alerto para aqueles como eu, leigos no direito, mas que minimamente já ouviram coisa boa e decoraram, que falsa comunicação de crime é crime. Então, o delator é advertido, ao fazer a sua delação, que, se estiver mentindo, a sua pena será aumentada, porque falsa comunicação de crime, diz a lei, é crime.

    Por isso, não teremos digladiação em Curitiba; teremos paz, espero. Já vi a foto daquele monte de ônibus lá. Tudo bem, é a torcida, mas que fique de longe, rezando, sem queimar ônibus, sem quebrar patrimônio público, sem atacar ninguém, porque não existe rixa, existe um servidor público honrado, que vai ouvir um ex...

(Interrupção do som.)

    O SR. MAGNO MALTA (Bloco Moderador/PR - ES) – ...vai ouvir um ex-Presidente da República, que não está acima da lei, que não é Deus, embora tem hora em que pensa que é. Ele já disse que nem Jesus Cristo, que não tem homem nesta Terra, ninguém que seja mais honesto do que ele – de repente, por um devaneio em algum momento. Mas é um ex-Presidente, um ser humano, um cidadão brasileiro que está sendo investigado e que vai ser ouvido por um juiz, cumprindo o seu papel, como tem feito até este momento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2017 - Página 51