Discurso durante a 63ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca do primeiro ano após o impeachment de Dilma Rousseff, ex-Presidente da República, e críticas à gestão do Partido dos Trabalhadores (PT) no Governo Federal.

Autor
José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações acerca do primeiro ano após o impeachment de Dilma Rousseff, ex-Presidente da República, e críticas à gestão do Partido dos Trabalhadores (PT) no Governo Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2017 - Página 100
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, ANO, POSTERIORIDADE, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, DISCURSO, OPOSIÇÃO, PLANO DE GOVERNO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos acompanham pela Rádio Senado e TV Senado e também todos que nos acompanham aqui nas galerias, vejo que são alunos que estão visitando o Senado, futuros trabalhadores. Quero até avisá-los de que não se assustem, não. Aqui conhecemos o Senador Requião como Gregório de Matos Guerra. E vocês, que são estudantes, provavelmente conhecem bem quem era Gregório de Matos Guerra.

    Sr. Presidente, nós estamos num momento do País que não é um dos momentos mais fáceis e nós precisamos, acima de tudo, ir pelo meio, ir pelo caminho do meio, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Amanhã está fazendo um ano que o governo da Presidente Dilma, o governo do PT, caiu. Caiu não, foi limpado, porque não era uma estrutura. Na verdade, era uma mancha na história brasileira e foi limpado, com benzina, por este Senado, para parafrasear o nosso querido poeta Ronaldo Cunha Lima.

    É óbvio que não teriam que estar comemorando os Senadores do Partido dos Trabalhadores. Eu entendo a agonia, o nervosismo, os ataques e entendo que não seria outra atitude a tomar que não fosse o esperneio. Por quê? O processo se deu de acordo com a lei brasileira, o processo decorreu sob a máxima lisura, Senador Pedro Chaves, com direito a amplíssima defesa. Aliás, o Collor foi tirado em 48 horas, a Presidente Dilma teve meses de discussão aqui. E sobre um dos mais terríveis crimes ela respondeu, um dos mais terríveis crimes que se pode cometer com uma Nação, que é você maquiar, mentir para a população. Ela mentiu de toda a sorte.

    Eu me lembro da empresa Enron, uma das maiores empresas norte-americanas. Ela tinha uma máxima que dizia: pergunte por quê. E qual era essa pergunta? Era por que ela dava tanto lucro, pagava tantos dividendos para as pessoas que investiam na Enron. E um dia resolveram perguntar por quê. E descobriram que ela maquiava os balanços. E, naquele momento, ela sumiu do mapa da economia mundial, era uma das maiores empresas.

    O Brasil foi entregue ao Partido dos Trabalhadores, foi entregue ao governo Lula pela Nação justamente em um boom de crescimento da economia mundial. E, naquele momento, era um momento de austeridade, Senador Pedro Chaves, era o momento de preparar o alicerce para um crescimento sustentável. E o que nós vimos foi um voo de galinha, não foi um voo de águia. Gastou-se tudo que podia e mais um pouco. Abriu-se tudo que foi programa e dá-lhe dinheiro, dá-lhe dinheiro. Só se dizia sim.

    Vou comparar com a casa da gente. Eu, por exemplo, gostaria de levar meus filhos à Disney todo ano. Não posso. Mas se eu quiser dizer "sim" por um tempo, eu posso. Basta dar um cheque sem fundos, que vai voltar depois, ou dar um cheque pré-datado. Foi isso que a Presidente Dilma fez com a população brasileira.

    Cito um exemplo e vou fazer isso baseado em fatos. De repente vão falar: "É simplesmente porque você era oposição à Presidente Dilma." Não é verdade. Veja bem, minha cidade tem 212 mil habitantes e um dos maiores terminais ferroviários de carga que manda para os portos de Santos e de Paranaguá. A rodovia já não tinha capacidade para manter aquele tráfego pesado, precisava ser duplicada. A Presidente Dilma foi à cidade e, com pompa e circunstância, disse: "Essa rodovia, nós vamos conceder. Ela será duplicada." Pois bem, concederam a rodovia, Senador Pedro Chaves. A população festejou, ficou em estado de graça, porque ali estava chegando o progresso. Nós íamos ter rodovia duplicada e tudo o mais. Foi assim também lá em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, com o porto petroquímico dali.

    Eu fui a Rio Grande, e a cidade estava em estado de graça, porque estava recebendo investimentos e tudo o mais. Mas, de repente, esses investimentos começaram a não sair. Veio a frustração. Chegou a hora de cobrar o cheque. Não saiu o porto petroquímico em Rio Grande, não saiu o polo naval, não saiu Abreu e Lima, não saiu nada. E as empresas começaram a demitir.

    Quando a Presidente foi cassada, já passava dos 12 milhões de desempregados. Esse foi o legado dos desmandos e de se querer, de forma artificial, manter um governo com um crescimento estrondoso. Não havia como crescer se não tinha sustentabilidade. Não tinha alicerce econômico. Se estava tudo certo, por que virou aquela derrocada toda? Por que o Brasil virou isso?

    Os defensores do governo da Presidente Dilma vêm aqui e fazem um discurso como se fosse uma cegueira, uma amnésia, um Alzheimer de memória recente. É assim: não aconteceu nada de errado no governo da Presidente, estava tudo certo. Vieram os malvados e tiraram a Presidente honesta, inocenta.

    Ora, borbulha! A Presidente corre o risco de ser presa a qualquer hora.

    Nós estamos aí com o ex-Presidente numa dificuldade. Ontem, num dos processos mais fáceis a que respondia, ele só falou: "Aham, uhum, não sei, não vi, não estava lá." E, quando estava, ele jogou a culpa para a esposa, que já morreu.

    Entendo a dificuldade e até a virulência com que critica este Governo, mas eu não votei neste Governo. Eles falam: "Governo ilegítimo, Governo usurpador". Quando apertaram o 13, lá em 2014, na urna, aparecia a foto da candidata a Presidente, Dilma, e, logo embaixo, Michel Temer. Eu não votei em Michel Temer, Senador Pedro Chaves. Eles o colocaram e diziam que Michel Temer era a melhor coisa que havia o mundo. Por quê? Porque estava trazendo os votos do PMDB, porque trazia investidores para a campanha. Esse foi o acordo que fizeram.

    Bem, de repente, Michel Temer começou a não prestar, e nós, que trabalhamos nesse processo de impeachment, ficamos com o Governo de Michel Temer, porque a Constituição diz que na vacância do cargo de Presidente assume o vice. Correm aqui na retórica e dizem: "Esse governo ilegítimo." Bom, ilegítimo para quem perdeu o governo que tinha, mas a Constituição nos diz isso.

    Aliás, respeito à Constituição não é muito o forte dessa gente que rasgou o art. 52 para tentar deixar os direitos políticos da ex-Presidente. É até bom que tenha ficado com os direitos, porque só assim poderá testar isso nas urnas, na próxima eleição.

    Agradeço a presença dos alunos do 1º ano da Escola Comunitária de Campinas, São Paulo.

    Sejam bem-vindos ao Senado Federal!

    Continuando, Sr. Presidente, temos agora pela frente um País arrebentado, com milhões de pessoas desempregadas, e eles gritam aqui: "Vão acabar com os direitos dos trabalhadores. Estão arrebentando com o trabalhador brasileiro."

    Eu vou falar o que arrebenta com o trabalhador brasileiro: é a falta de emprego.

    Ouvi depoimentos de pais. Ontem eu ouvi um depoimento de um, que estava desempregado. O filho, de manhã cedo, perguntou: "Pai, o senhor não vai para o trabalho?" Ele enrolou e falou que ia chegar atrasado. Nos outros dias, ele levantava mais cedo para não dizer que estava desempregado, Senador Requião. Levantava e ia para o trabalho fictício, porque não tinha... É terrível a pessoa não ter para onde ir.

    Volto às mazelas do País e ao que levou aquele governo da Presidente Dilma a fazer pelo País inteiro. Nós hoje temos esqueletos de obras para todos os lados. A capital do meu Estado, Cuiabá, tem um esqueleto de um VLT, uma verdadeira cicatriz que está lá inacabada, obras de saúde por tudo que é lugar e, como eu disse, a rodovia que os mato-grossenses e os rondonopolitanos esperavam ficar pronta, a BR-163, está lá até agora. As pessoas pagam pedágio sem ter a rodovia duplicada.

    Fico tentando entender como pode ser uma cegueira tão grande. Só pode ser de má-fé quando vêm dizer que era o melhor governo do mundo. E mais, ninguém disse que com a saída da Presidente Dilma seria um eldorado e que o País voltaria a crescer. O que a gente dizia era que, se ela continuasse, aí, sim, nós não conseguiríamos nos levantar nunca.

    Não sou daqueles de apontar o dedo, Senador Pedro Chaves, porque penso que ética é básico, mas o certo é que condenavam tanto Mamon – como diz o Senador Requião, que gosta de citar Mamon –, e quando subiram ao governo ficaram de joelhos o tempo inteiro para Mamon.

    Eu estava vendo essa manifestação em que levaram essas pessoas, inclusive bolivianos para Curitiba, e fiquei vendo como se comportava o governo com os seus parceiros na época em que chegaram aqui.

    Não foram aqueles trabalhadores. Não foram aqueles sem-terra. Eles não tiveram lugar à mesa durante todo o governo, não tiveram. Fizeram todo tipo de negócio, todo tipo de acordo, inclusive acordos políticos. Cito, por exemplo, a Senadora Serys, do Mato Grosso, que tinha candidatura nata. Num acordo feito na cúpula, tiraram a candidatura nata da Senadora Serys, que era petista orgânica de longa data, e a entregaram para outro bam-bam-bam. Sabem por quê? Porque ele representava a elite, sujeito chique, intelectual. Quando subiram ao poder, não foi trabalhador, não. Por que a Serys foi preterida? Era a cara do trabalhador. Serys era daquelas da base. Deram sabe para quem? Para Carlos Abicalil, intelectual. Era o novo PT. Era o PT Nutella. Quando caiu, quando acabou o governo, deixaram de ser Nutella. Agora estão trazendo os trabalhadores, tentando recuperar as bases e ganharam realmente de presente do Governo do Presidente Michel Temer – deviam agradecer muito – a reforma da previdência e a reforma trabalhista. E aí pronto! Podíamos discutir só essas duas, mas danaram a mentir.

    Não dá para se fazer debate quando tem mentira no meio, Senador. Como é que você vai discutir com uma coisa que é mentira? É difícil! E as pessoas estão comprando.

    Recebi um áudio de WhatsApp ainda agora, falando que ia acabar com o décimo terceiro. Estão soltando áudios e vídeos para viralizar na Internet, dizendo que vai acabar com décimo terceiro e que agora, com o Programa Criança Feliz, vai acabar também com o Bolsa Família.

    Aliás, poucos dias antes de a Presidente cair, como já anteviam, diziam que o Bolsa Família ia acabar e que os programas sociais iam ser extintos. Na verdade, no último ano do Governo da Presidente Dilma, os programas sociais já tinham minguado 87% de suas verbas. Essa é a grande realidade.

    Se a gente não fizer o contraponto... Peço a atenção do povo brasileiro. Se nós não fizermos o contraponto aqui, se não ficarmos atentos, eles voltam e tornam a arrebentar com a Petrobras e tornam a arrebentar com tudo, porque são bons de oposição, são muito bons de oposição e em fazer roteiros para que o povo fique cego. São verdadeiros encantadores.

    Quem pôde assistir ao depoimento, ontem, de Lula viu que ele é um verdadeiro encantador de serpentes. E tentam torcer. Começaram a dizer que era um debate entre Lula e Moro.

    Não, gente. Não havia debate entre Lula e Moro. Não havia vencedor ali. Era apenas um interrogatório. Quem vai julgar é o Moro. O enfrentamento de Lula é com as provas e as denúncias do Ministério Público. Quem vai julgar é o juiz que está conduzindo o processo.

    Tentaram desconstruir esse juiz de toda forma, assim como foi feito hoje com os especialistas que vieram. Aliás, em nome do Senado, eu quero pedir desculpas aos especialistas que ficaram aqui desde cedo com fome e foram desconstruídos. Eu gostaria que o debate fosse feito combatendo os argumentos.

    Eu, por exemplo, me penitenciei agora, na frente do Senador Lindbergh. Quero pedir desculpas, porque, há poucos dias, num debate aqui, eu o chamei de baderneiro.

    Retiro e peço que, se for possível, saia da Taquigrafia do Senado, porque nós temos que combater argumentos, não o dono dos argumentos. Nós temos que fazer o enfrentamento dos argumentos, porque destruir... Aí, sim, eu concordo com a Senadora Gleisi Hoffmann. Ela gosta de falar a palavra fascista, mas eu digo que se começarmos a tentar destruir o dono dos argumentos, Senador Pedro Chaves, o nosso comportamento vai ser de fascista. Nós temos que fazer um debate no campo dos argumentos, na destruição dos argumentos.

    É por isso que eu venho sempre aqui e as pessoas falam: "Você tem alguma coisa contra o PT?" Não, tenho contra o que o PT tem proposto e a solução de País que tem demonstrado para o povo brasileiro.

    Aliás, torci muito, e creio que a maioria dos brasileiros torceu para que o projeto desse certo. Não deu, fazer o quê? Infelizmente não tem ninguém desconstruindo o ex-Presidente Lula. Ele caiu por si só. São os seus parceiros que dizem e se arrebentam.

    “A imprensa está tentando destruir”. Está nada! Quando o povo quer e quando o candidato se propõe não tem imprensa que faça... Ou vem me dizer que a imprensa queria que o Lula fosse eleito naquela época? Não. E o povo colocou o Lula e colocou de novo, colocou a Presidente Dilma e colocou de novo, mas chega um momento em que a estrutura que não tem um alicerce bom cai. E foi isso que aconteceu.

    Amanhã será um dia realmente de comemoração, um dia histórico para o povo brasileiro, porque esta Casa, o Senado, fez o que a população brasileira queria. Eles falavam: ”Olha, a população foi para a rua pedir o impeachment porque a mídia...”. Que nada, a população saiu espontaneamente se vestindo... E mais, sem quebrar vidraça, sem fazer baderna. Ordeiramente a população brasileira foi para a rua.

    Amanhã, não tenho dúvida de que aqui haverá um rosário de lamentações, de vitimismo, mas eu quero que o povo brasileiro possa ver que tudo o que aconteceu foi simplesmente por obra e caso da divisão interna do Partido dos Trabalhadores, porque o acordo, minha gente – muita gente não sabe –, era que Lula voltasse logo depois de Dilma. E a Dilma resolveu dar o golpe. Quem levou o golpe foi o Lula. Lula era para ter sido Presidente, aí ela resolveu dar o golpe e ficar no cargo. O Lula não teve a mesma sorte de Marconi Perillo, que colocou um vice que cumpriu o acordo. Colocou um vice não, colocou alguém para ficar quatro anos para ele voltar depois e o cara cumpriu o acordo. O Lula levou um tombo da ex-Presidente Dilma. Talvez naquela lei do eterno retorno é que tenha acontecido tudo isso com ela. Mas o ruim é que com ela foi todo o povo brasileiro. Nossa economia derreteu e hoje está lá. As pessoas de Mato Grosso...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – ... na Rodovia 163, sem sua rodovia, com a Odebrecht lascada, que não vai fazer, não tem dinheiro para fazer, o BNDES não empresta e nós, mato-grossenses, com a brocha na mão.

    Para encerrar, eu quero dizer que nós precisamos fazer as reformas. Não importa se vier uma reforma perfeita. Pode descer Moisés novamente do céu, com as tábuas, com a reforma escrita em pedra, perfeita, que não vai satisfazer, porque não tem nada a ver com a reforma esse debate que o PT tem feito.

    Aliás, o PT e os partidos puxadinhos têm a ver com o "Fora Temer", têm a ver com uma coisa mais umbilical, não têm a ver com o Brasil. Têm a ver com a discussão partidária. E nós temos que ficar atentos para não cair na conversa de novo, porque são verdadeiros encantadores de serpentes.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2017 - Página 100