Discurso durante a 63ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apoio ao ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, investigado na Operação Lava-Jato.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Apoio ao ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, investigado na Operação Lava-Jato.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2017 - Página 112
Assunto
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Indexação
  • APOIO, INOCENCIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REU, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), MOTIVO, AUSENCIA, PROVA, ELOGIO, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, CURITIBA (PR), ESTADO DO PARANA (PR), GESTÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE, COMENTARIO, PREFERENCIA, POPULAÇÃO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DEFESA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), VITIMA, PERSEGUIÇÃO, POLITICA.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Senador Requião, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, quem nos acompanha pela TV Senado, pela Rádio Senado e também pelas redes sociais, eu não poderia deixar de subir a esta tribuna hoje, Senador Requião, para falar sobre o depoimento do Presidente Lula, que ocorreu ontem, na nossa cidade, capital do Paraná, Curitiba, ao Juiz Sergio Moro.

    Na realidade, o Brasil praticamente parou para esperar o depoimento do Presidente Lula e para acompanhar as movimentações em Curitiba, tanto as manifestações como as ações que lá se desenvolveram por parte do sistema judiciário.

    Eu vi o depoimento do Presidente Lula. Quando encerrou, foi disponibilizado. E ainda bem que foi disponibilizado na íntegra, já que não tinha sido dada a permissão aos seus advogados de gravar o depoimento. E a gente pode ver, através do depoimento, a firmeza do Presidente Lula, a forma esclarecedora como ele responde a todas as perguntas do Juiz Sergio Moro e também dos procuradores que estavam lá, não deixando de falar a respeito de nenhum tema, falando de todos os temas, mas também a forma com que ele cobra, a contundência com que cobra as provas concretas contra ele, que embasaram as denúncias e, portanto, o processo que está sendo desenvolvido.

    Nenhuma prova, Senador Requião. Nenhuma prova. Não foi apresentado nada que ligasse o Presidente Lula ao tal do triplex do Guarujá. Não há registro de imóveis, não há contrato de compromisso de compra e venda, não há nada assinado, enfim, nada. Tudo que o Juiz Sergio Moro e os procuradores falaram ao Presidente Lula era relativo ao que alguém falou, alguém disse. Na delação fulano falou. E foi por aí afora.

    Então, a gente fica se perguntando: por que estão fazendo isso com o Presidente Lula? Prepararam esse depoimento quase com uma espetacularização. Estavam reclamando que a militância do PT, apoiadores do Presidente, pessoas que estavam se solidarizando com ele fossem a Curitiba, para fazer manifestação. Mas só nos cabia fazer manifestação de apoio e solidariedade a ele e de defesa da democracia, depois da politização desse processo e da espetacularização que fizeram. Aliás, uma espetacularização que, no dia de ontem, continuou. Nós tivemos ruas em Curitiba que foram fechadas para o trânsito. Entravam somente os carros que eram cadastrados, de moradores daquela região – a região nas imediações da Justiça Federal.

    Eu nunca vi um contingente policial tão grande nas ruas, fazendo a defesa da Justiça Federal. Mas eram muitos policiais, muitos policiais. Me pergunto: para que isso? Porventura achavam eles que o movimento social, que os militantes, aqueles que estavam apoiando o Lula iriam invadir a Justiça Federal, não iriam respeitar a Justiça Federal?

    Eles de fato não conhecem nada de movimento social, não conhecem nada de povo, vivem encastelados nos seus gabinetes. Estudam muito, mas não levam em consideração a realidade em que vivem. Aliás, só levam em consideração a realidade que eles vivem, e não a realidade do povo brasileiro.

    A manifestação que nós tivemos em Curitiba foi lindíssima e foi pacífica. A cidade recebeu, com muito carinho, os militantes que foram lá para prestar solidariedade ao Presidente Lula. Aliás, eu diria que foi um ato de desagravo, um ato de desagravo ao Presidente Lula, um ato de desagravo à nossa democracia, ao Estado democrático de direito. Curitiba recebeu a todos muito bem. E foi muito emocionante, Senador Requião – sei que V. Exª não pôde estar presente, tinha um compromisso, inclusive um depoimento também a prestar como testemunha em um processo. Mas foi um ato muito bonito de solidariedade.

    Foram mais de dez horas que as pessoas ficaram na praça, desde cedo até encerrar o depoimento do Presidente Lula, esperando esse encerramento e esperando o Presidente Lula, para recebê-lo na praça. Então, foram discursos, foram atividades culturais, tivemos, enfim, uma série de manifestações – dez horas continuadas de atividades. O pessoal ficou lá esperando o Presidente.

    E as pessoas que foram para Curitiba, Senador Requião, não foram pessoas articuladas pelo movimento, puxadas pelo PT, não. As pessoas foram lá por sua livre e espontânea vontade e custeando as suas passagens, custeando seu transporte, fizeram vaquinha para alugar ônibus. Foi muito bonito. O que foi feito pelos movimentos sociais foi o lugar onde as pessoas podiam ficar, o acampamento, com barracas de lona, coisa muito simples, e mesmo assim as delegações levavam suas comidas para cozinhar. Então, foi um ato muito bonito, muito bonito, e que surpreendeu o País. E de fato o País parou para acompanhar.

    O Lula é um homem muito forte, muito forte: você vê o Brasil parar para acompanhar o que estava acontecendo em Curitiba. E não foi porque nós convocamos, porque nós queríamos isso: foi por todo o processo montado desde o início, desde o início em que teve a espetacularização, em que teve a midiatização, em que teve a politização desse processo – desde o início.

    Aí é óbvio que, quando chega ao que seria o ápice, que seria o depoimento do Presidente Lula, eles não poderiam esperar outra coisa que não a militância do PT, dos movimentos sociais, dos partidos aliados estar lá para prestar solidariedade.

    Eu quero agradecer a todos os movimentos que estavam lá – como o movimento sindical, as centrais sindicais, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto –, aos sindicatos, ao APP Sindicato, enfim, a todos os que ajudaram a organizar esse ato. Aos partidos políticos que estavam lá conosco, como o PCdoB, o PCO, aos representantes de vários outros partidos que foram lá manifestar o seu apoio e a sua solidariedade.

    E foi muito interessante, porque o Presidente Lula estava emocionado. Ele dizia às pessoas na praça: "Eu jamais mentiria a vocês. Se for para mentir para vocês, para o povo brasileiro, prefiro não estar representando esse povo, prefiro não estar aqui." E ele falava com sinceridade.

    Ontem, Senador Requião, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, a verdade venceu o debate. Nenhuma prova foi apresentada contra o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nenhuma prova foi apresentada! Tudo que se tinha eram inquirições e perguntas em cima de depoimentos dados, mas não de provas apresentadas. O Presidente Lula, que entrou de cabeça erguida, saiu de cabeça erguida e saiu maior do que entrou.

    Aí me perguntaram hoje: qual é a consequência política e jurídica disso? A consequência política é o que já estamos vendo desde o início desse processo: tentam desconstruir o Lula, destruir a sua imagem, perseguem, cassam. O fardo sobre ele é muito mais pesado do que sobre qualquer outro nome, sobre qualquer outra pessoa que foi delatada ou mencionada na Operação Lava Jato. A população vê isso, as pessoas sentem isso.

    Apesar de tudo isso, o Presidente Lula é muito amado pelo povo brasileiro e aparece sempre nos primeiros lugares nas pesquisas de opinião sobre o voto para a Presidência da República. Eu diria que o Lula é uma espécie de patrimônio nacional. Todo mundo quer falar sobre ele, todo mundo quer dar opinião, todo mundo acompanha. Tudo aquilo que envolve o Presidente Lula chama a atenção da Nação. Portanto, ontem, não poderia ser diferente.

    Queria deixar aqui o meu agradecimento à cidade de Curitiba, que recebeu a todos tão bem, o agradecimento a todas as pessoas que se dirigiram a Curitiba, do interior do Paraná e de todas as Regiões do Brasil. Tínhamos caravanas de todos os Estados, que estavam presentes lá. Agradeço a todos aqueles que apoiaram, que ajudaram, que organizaram esse ato.

    Faço também um agradecimento especial ao Partido dos Trabalhadores, que, tal qual o Lula, tem sido vítima de uma perseguição muito grande nesses últimos anos. Aliás, a vida do PT nunca foi fácil, Senador Requião. Eu me lembro de que, quando o PT foi fundado, o pessoal começava a fazer as filiações, a estruturar os diretórios, as comissões provisórias, e falava de justiça social, falava da necessidade de distribuição de renda, falava da necessidade de um olhar do Estado para a população mais pobre. Diziam que éramos comunistas, e que comunistas queriam dividir a casa dos outros; que, se o PT ganhasse uma eleição, iria dividir a casa das pessoas, iria fechar as igrejas, iria perseguir aqueles que tinham terra. Enfim, barbarizavam.

    E foi por aí sucessivamente. Quando não tinha mais como esses argumentos fazerem efeito, continuaram com outras coisas, com outras barbaridades: que éramos baderneiros, que ocupávamos as ruas, que incentivávamos invasão, que nós atentávamos contra o Estado de direito e por aí afora.

    Quando assumimos o poder também. Não houve um único dia, um só santo dia em que o governo do Lula ou da Dilma, os governos do PT, não fossem objeto de crítica sistemática e dura, de cobrança, ora por fazer mais pelos mais pobres, ora por combater as desigualdades, mas sempre motivo de crítica.

    Agora, nessa última fase, tentando dizer que o Partido dos Trabalhadores era ou é o sindicato dos ladrões. Jogaram tão pesado nisso, falaram tanto disso, por tanto tempo, que as pessoas, a população brasileira chegou a achar, por um determinado período, que o PT era o precursor da corrupção não só no Brasil mas no mundo, no Planeta. Aí, quando saem as delações da Odebrecht, que envolvem várias outras pessoas, esse argumento cai por terra, mas, ainda assim, continua o PT e continua o Lula a serem os mais perseguidos. A gente não vê uma manifestação judicial, como a gente tem visto contra o Lula, em relação a outras pessoas envolvidas no processo da Lava Jato. Não vê, com denúncias, com acusações muito mais graves de dinheiro no exterior, de reconhecimento ilícito de posse em conta pessoal, mas com o Lula e com o PT acontece a perseguição.

    O PT tem 37 anos, Senador Requião. Eu milito nesse Partido há 28 anos e tenho muito orgulho de militar no PT. Como qualquer organização humana, cometemos erros. Qualquer organização humana comete erros. Mas V. Exª me disse uma vez: "Os erros na política não podem ser motivo de culpa nem de purgação; os erros na política têm que ser instrumentos de ação política renovadora e têm que ser também instrumentos de aprendizado". E é isto que nós temos de fazer com os nossos erros: erguer a cabeça e seguir em frente.

    Por incrível que pareça, é o PT, esse Partido tão criticado, que, quando se fazem pesquisas, tem o maior percentual da preferência nacional. Foi assim na pesquisa da UOL, com 15%, Datafolha e na pesquisa da Vox Populi, com 22%.

    Há um pouco de interesse nacional sobre o PT. Todo mundo dá palpite sobre o PT, acompanha o congresso, acompanha as discussões internas, critica essas discussões. Enfim, eu também diria que o PT é um pouco patrimônio nacional. Eu não vejo as pessoas falarem de outros partidos. Não vejo as pessoas subirem aqui para dar opinião sobre o PSDB, o que está acontecendo, discutindo; não vejo nem do PMDB, nem do PP, nem do PDT. Mas o PT acompanham. Acompanharam o nosso processo de eleição direta agora, acompanharam os nossos congressos, vão acompanhar o congresso nacional, porque o PT é um Partido democrático, foi criado na democracia, com uma forma democrática inclusive de se estruturar. Não vejo nenhum outro partido fazer debates tão acalorados sobre seus próprios erros como o PT.

    Aliás, o Presidente Lula diz: "Se uma pessoa de direita fosse lá, se o Democratas fosse lá, o PSDB, alguém fosse lá assistir a uma reunião do PT, ia dizer: 'Puxa, como vocês são bravos com vocês mesmos'". De tanto que nós somos claros nesses debates, nas críticas e autocríticas que fazemos.

    Pois é. Então é esse Partido, Senador Requião, que, apesar de tudo que tem enfrentado, das denúncias colocadas, ergue a cabeça e sai em defesa do povo brasileiro; ergue a cabeça e sai em defesa do povo brasileiro. Eu não vejo aqui o PSDB, não vejo aqui o Democratas – mesmo o PMDB, à exceção rara de V. Exª, que está sempre do lado certo da história, defendendo o povo trabalhador e os mais pobres. Não vejo os outros partidos aqui com tanto empenho, a não ser os companheiros do PCdoB, do PSB, alguns do PDT, defenderem o povo brasileiro, enfrentarem a reforma trabalhista, enfrentarem a reforma da previdência, falarem sobre o desmonte do Estado.

    Senador Requião, quando acontecem essas perseguições e essas denúncias, a gente não vai para debaixo da mesa, porque a gente não deve nada. A gente não tem vergonha de andar de cabeça erguida. A gente vem aqui e enfrenta o debate. O Presidente Lula vai lá e enfrenta o debate. Quero saber qual outro líder, qual outro político criticado como ele tem coragem de subir num palanque como ele subiu em Curitiba; tem coragem de andar por este País e falar para a população; tem coragem de dar entrevista e falar dos seus problemas e daquilo de que lhe estão acusando – pouquíssimos; quase nenhum.

    E qual outro partido, perseguido como está o PT, tem coragem de vir aqui se defender e defender o povo brasileiro, e ainda dizer que tem alternativas para resgatar a economia e para melhorar as condições de vida? Então, é sobre isso que nós estamos falando. É também sobre dignidade, é também sobre coragem, e é, sobretudo, sobre compromisso com o povo brasileiro. Nós nascemos neste País, crescemos. O PT foi fundado aqui. O Lula se tornou a maior liderança popular da nossa história; é brasileiro. Jamais, jamais vai deixar este País. E jamais vai jogar para o colo do povo e do trabalhador a conta de uma crise econômica, tampouco vai pegar a sua mala e ir embora do País procurar um lugar melhor para viver – jamais. Ele tem compromisso com a população, tem compromisso com o Brasil.

    Então, eu queria deixar aqui os meus parabéns a todos aqueles que participaram da festa cívica em Curitiba ontem, do ato de solidariedade ao Presidente Lula, e também deixar ao Presidente Lula um abraço muito grande pela dignidade, pela força, pela coragem, pelo que ele está enfrentando e por ele ser o homem que é – simples, que anda no meio do povo, que defende o povo e sabe que tem compromisso com esse povo. Parabéns, Presidente Lula. Cada vez tenho mais orgulho de andar ao seu lado e de estar junto contigo nessa caminhada pelo Brasil.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2017 - Página 112