Discurso durante a 64ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Crítica à politica social implementada pelo governo federal na gestão presidente Michel Temer.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações acerca do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
POLITICA SOCIAL:
  • Crítica à politica social implementada pelo governo federal na gestão presidente Michel Temer.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2017 - Página 20
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > POLITICA SOCIAL
Indexação
  • COMENTARIO, FATO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, ASSUNTO, POLITICA SOCIAL, AUTORIA, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quem nos acompanha pela TV Senado, pela Rádio Senado, pelas redes sociais. Quem está aqui nos visitando hoje no plenário do Senado, sejam muito bem-vindos.

    Eu subo a esta tribuna hoje não com alegria, mas subo com a mesma tristeza com que subi um ano atrás, Senador Requião, dia 16 de maio de 2016, quando esta Casa, o Senado da República, votou – 12 de maio, desculpa, de 2016 –, votou o afastamento da Presidenta Dilma Rousseff e iniciava aqui o processo de impeachment, de julgamento da Presidenta por crime de responsabilidade.

    Faz um ano que a Presidenta foi afastada. Àquela época, nós falávamos de algumas questões e dizíamos que o afastamento da Presidenta não era pelos crimes que estavam apontando, os crimes de responsabilidade, os decretos que ela tinha feito em relação ao orçamento público nem o atraso no pagamento, ao Banco do Brasil, do Plano Safra; mas era um afastamento político, era um golpe, porque rasgava a Constituição. A Presidenta não tinha cometido nenhum crime.

    E para lembrar um pouco o que nós falávamos aqui, eu quero tomar a liberdade de reler trechos do meu pronunciamento naquele dia, que eu acho que espelha muito o que nós temos falado durante este um ano e o que nós estamos vivendo no Brasil hoje.

    Quando eu subi à tribuna naquele dia, eu disse o seguinte, comecei meu discurso dizendo o seguinte: Trinta anos nos separam do fim da ditadura militar. No início da nossa jovem democracia, jovem, sim, mas uma democracia que nos proporcionou conquistas importantes, a começar pela Constituição cidadã, que estabeleceu direitos e definiu deveres, a começar pela conquista do voto direto, com a campanha das Diretas Já, a eleição do primeiro operário, do primeiro trabalhador como Presidente da República, que foi o Lula, e a eleição da primeira mulher para presidir o Brasil.

    E continuava. Dizia: Agora nós podemos estar à beira de um abismo. Se utilizarmos de maneira errada os instrumentos constitucionais que temos, com certeza vamos levar a uma desestabilização. Tirar uma Presidenta eleita pelo voto popular através do impeachment, sem crime de responsabilidade, pode parecer democrático, mas não é. Pode parecer atender à maioria, mas não trará a solução pela qual ela tanto anseia.

    Impeachment é um instituto excepcional previsto na Constituição. É como o estado de defesa, o estado de sítio. Ele suspende direitos, interfere na decisão popular e tem que ser usado apenas em situações excepcionalíssimas. O uso não é para fazer disputa política, não é para questionar programas de governo, não é para discutir o chamado "conjunto da obra," como diziam muitos dos nossos colegas aqui nesta Casa. Essa discussão e esse debate do conjunto da obra se faz no processo eleitoral. Aliás, o Brasil tem eleições a cada dois anos, eleições consensuadas democraticamente. Não temos por que, para resolver problemas políticos neste País, lançar mão de um instituto tão excepcional como o impeachment.

    O impeachment exige crime de responsabilidade, ato ilícito praticado pela Presidente da República. O impeachment exige que tipifiquemos o crime. Não há nenhum crime praticado pela Presidenta – dizíamos nós naquele momento. Se houvesse, não seria esta Casa, o Senado da República, que julgaria, porque crimes comuns são julgados no Supremo Tribunal Federal. Para caracterizar o crime e tentar afastar a Presidenta Dilma.

    Dizia eu: querem afastar a Presidenta Dilma por seis, ou melhor, quatro decretos de créditos suplementares ao orçamento de 2015 – decretos esses que foram feitos por todos os Presidentes que antecederam a Presidenta Dilma. E continuei: querem afastar uma Presidenta da República por atrasar seis meses no pagamento de subvenção de juros ao Plano Safra, no Banco do Brasil. Essa ajuda que o Governo dá aos agricultores é regulamentada por lei desde 1992. Não há nenhuma assinatura da Presidenta no processo, um ato, um despacho nesse atraso, mas estão usando isso para justificar o crime. E nós lembrávamos: é desproporcional fazer o impeachment.

    Os pressupostos jurídicos que estão sendo usados hoje – dizia eu – para julgar a Presidenta Dilma não valerão para mais ninguém. Essa régua com que medem a Presidenta, com que medem os governos do PT, não medirá mais nenhum outro governante, não medirá e não está medindo nenhum outro partido. Esse instrumento foi concebido agora para cancelar o resultado das eleições de 2014, o que, aliás, se tenta desde 2015. Por isso, dizemos que é uma farsa política, que é uma fraude jurídica, que é um golpe.

     Para dar mais força ao que estão falando e para dar mais força a esse processo, agregaram a ele – na época, os julgadores da Presidenta Dilma – a crítica do conjunto da obra e disseram que foram essas intervenções orçamentárias que causaram a crise econômica por que estamos passando. Ora, Sr. Presidente, essa é uma grande deslealdade política! A crise econômica que estamos vivendo – falava de 2016 – tem essencialmente a sua raiz na crise econômica mundial. Ou será que os senhores não viram por que passaram a Grécia, a Espanha, a Itália, a França, os Estados Unidos, a China, parceiros comerciais do Brasil? Os países da Europa chegaram a ter índices três vezes maiores do que os do Brasil em termos de desemprego. A nossa inflação e os nossos juros vieram em decorrência exatamente dessa política internacional perversa.

    Mas aqui – lembrávamos nós – conseguimos proteger a nossa população, proteger a população mais pobre do País. Nós tivemos aqui para enfrentar a crise o Bolsa Família, o salário mínimo decente, a Previdência, que agregou mais de 30 milhões de pessoas nos últimos 13 anos, programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Mais Médicos, creches, que deram e estão dando sustentação à nossa população para enfrentar essa crise grave pela qual estamos passando. É uma crise maior do que a da década de 80 e do que da década de 90, mas, com esses programas e com uma intervenção voltada aos direitos e interesses populares, nós conseguimos fazer o enfrentamento.

    Mas lembrávamos naquela data, dia 12 de maio de 2016: infelizmente, há uma elite neste País que não tem um projeto comprometido com o desenvolvimento nacional. Como diz V. Exª, Senador Lindbergh, nem de elite nós podemos chamar, porque elite é o que há de melhor num determinado grupo. Na realidade, a nossa classe dominante não tem uma elite que se preocupe com o País. É uma classe dominante que, desde o descobrimento do Brasil, tem como cultura se apropriar dos seus bens.

    Está certo o Prof. Bresser Pereira ao explicar a nossa diferença, em termos de desenvolvimento, com os Estados Unidos. Fala ele: "Lá, nós tivemos uma ocupação de território com projeto de desenvolvimento de nação. Aqui, nós tivemos uma exploração de território e das riquezas nacionais para levar para fora do Brasil". E essa mentalidade, essa concepção até hoje domina a classe dominante brasileira. É uma classe dominante que não tem generosidade suficiente para um projeto, para contemplar o povo; criminaliza a pobreza. Foi por isso que eu disse, na manhã de hoje – lembrando: depois de Getúlio e depois de Jango, esse é o projeto popular iniciado por Lula e continuado por Dilma que tem que ser derrotado.

    E não tenho dúvidas nenhuma de que esse impeachment não é por crime de responsabilidade, é um impeachment proposto pela direita e pela elite para que seu projeto prevaleça sem submetê-lo ao voto popular, porque, se o submetesse ao voto popular, não teria condições de ser aprovado, já que para essa elite não há programa que contemple a maioria do povo. É uma classe dominante preconceituosa: "Pobre não pode andar de avião, pobre e negro não podem ter cota na universidade, pobre não pode fazer curso superior, pobre não pode comprar carro, não pode ter acesso aos bens de consumo". É isso que tanto incomoda nessa classe dominante e nos ricos brasileiros. Incomoda ter que pagar os direitos trabalhistas para as empregadas da casa. Incomoda também o protagonismo das mulheres, porque a política ainda é um espaço majoritariamente masculino, com seus códigos, tapinhas nas costas, com seus encontros comensais, com as suas articulações feitas fora dos espaços constitucionais, dos espaços institucionais.

    Foi por isso que tiraram a Presidenta Dilma, que sofreu uma enorme desconstrução na sua imagem pessoal e política.

    E estão tentando vender agora – dizia eu, em 2016 – para o povo brasileiro que o afastamento, que o impeachment da Presidenta é a solução de todos os problemas. Não, não é – alertávamos. Não é a solução de nenhum problema. Pior do que isso: é o agravamento dos problemas. Não há esperança popular no governo do Vice-Presidente Temer. Não há o que esperar a não ser perdas de direito e retrocesso. O que estão querendo vender para o Brasil é uma mentira de que, tirando a Presidenta Dilma, todos os problemas estarão resolvidos. Isso não é verdade, e nós temos que deixar claro isso aqui. Por isso, nós temos repetido que esse impeachment, por não ter base constitucional e por ser exatamente um instrumento para que a elite e a direita coloquem o seu projeto de governo no poder, sem passar pelo voto direto, é um golpe, não está previsto na Constituição. Portanto, nós não temos que esperar nada desse futuro.

    E terminei a minha fala naquele dia, dia 12 de maio de 2016 – o dia em que afastaram a Presidenta Dilma –, citando Darcy Ribeiro: sou uma mulher de causas, sou uma mulher de lutas. Detestaria, não suportaria estar no lugar de quem me vencerá hoje. E eu fui vencida, muitos de nós aqui fomos vencidos em 2016. Afastaram a Presidenta Dilma exatamente no dia 12 de maio, para começar o processo de julgamento de impeachment.

    Hoje eu tenho mais certeza ainda de que eu estava do lado certo, porque aquilo que dizíamos naquela data, Senador Requião – e V. Exª também fez um brilhante pronunciamento –, é o que está acontecendo hoje no nosso Brasil.

    Tenho aqui um documento de um site de um grupo chamado Alerta Social, que publicou, para divulgar hoje, "Um golpe por dia, 365 direitos perdidos", desde que Michel Temer assumiu a Presidência da República". Primeiro, evidentemente, que nada melhorou. Não diziam que era tirar a Dilma e a fada da confiança ia tocar a economia, e que a economia por si só ia se recuperar, nós íamos ter empregos, melhorar, tudo ia ser melhor para o Brasil? Aconteceu isso? Aconteceu? Não, não aconteceu.

    Nós estamos com 14 milhões de desempregados no Brasil. Não tivemos investimentos mais no nosso País. A economia não se recuperou. E ainda temos as maiores taxas de juros reais do mundo, que estão aqui no Brasil, apesar de a inflação ter decrescido. E a inflação decresceu não porque teve uma ação política de governo, decresceu porque a economia está no chão. Mas não foi só isso que destruíram, não foi só a economia, não foram só os 14 milhões de desempregos gerados; foi também a democracia. Ao rasgar o título do eleitor, tirando uma mulher que tinha 54 milhões de votos, e botar um Vice-Presidente que não tinha legitimidade das urnas, nós demos um sinal para a sociedade de que a democracia não é importante para a sociedade brasileira.

    Portanto, todas as ações contrárias à democracia começaram a ser vistas. Primeiro, formaram um Governo só de homens, homens brancos e ricos, sem mulheres e sem negros. Depois de muitos protestos na sociedade, nós tivemos uma mulher e tivemos um negro, uma mulher negra, no Governo de Michel Temer. Depois, nós tivemos os desmontes dos direitos sociais, dos direitos voltados para as pessoas que mais precisam, como, por exemplo, o incentivo à perseguição aos homossexuais, o incentivo à perseguição aos negros e negras neste País, o incentivo à perseguição às minorias, à misoginia, incentivo à perseguição às mulheres, aos trabalhadores sem terra. Enfim, a todos os movimentos sociais que se construíram ao longo desses últimos 30 anos que nos separam da Constituição cidadã. Por quê? Porque foi essa a ação do Governo, foi isso que o Governo permitiu que a sociedade lesse das suas ações, do processo e da forma como tocava o governo.

    Infelizmente, nós estamos tendo um desmonte da democracia. Nós estamos vendo a violência policial maior, estamos vendo a violência e a intolerância nas ruas maiores. É como V. Exª disse ontem aqui, Senador Requião, os demônios estão soltos. Este Governo abriu as portas do inferno e deixou pairar sobre a população brasileira todos os demônios que fazem mal a ela. E nós estamos pagando um preço por isso.

    Desmontaram programas sociais. Eu venho de um Estado agrícola – V. Exª também é do Paraná – onde a agricultura familiar tem uma importância imensa para a economia do Estado, o pequeno agricultor. Nós nunca tivemos antes do governo do Presidente Lula nenhuma programação, nenhum programa que atendesse ao agricultor familiar, seja de financiamento, seja de implantação de políticas públicas. Pois bem, depois de 13 anos com políticas de sucesso para a agricultura familiar, começamos o desmonte.

    V. Exª quer me pedir um aparte para saudar os meninos?

    O SR. PRESIDENTE (Lindbergh Farias. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eu queria só saudar os alunos da Escola Parque do Rio de Janeiro. Inclusive, coincidentemente, Senadora Gleisi Hoffmann, é a escola das minhas duas filhas.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Muito bem, vamos aplaudi-los. (Pausa.)

    O SR. PRESIDENTE (Lindbergh Farias. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eu falava que coincidentemente é a escola em que as minhas duas filhas estudam no Rio de Janeiro.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Muito bem.

    Muito bem, sejam muito bem-vindos.

(Manifestação da galeria.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Claro, vamos conversar. Na hora em que vocês descerem aqui, a gente conversa.

    Continuando, então, Senador Lindbergh, Senador Requião, a agricultura familiar está sendo desmontada.

    Eu tive oportunidade de ir agora a São Paulo visitar a 2ª Feira da Reforma Agrária, que é uma feira que é feita no Parque da Água Branca, lá em São Paulo, exatamente para aproximar o campo da cidade. E é uma tristeza ver os agricultores, os camponeses falarem que não têm mais acesso a programas para vender a sua produção, porque nós tínhamos criado o PAA, que é o Programa de Aquisição de Alimentos, por meio do qual os governos estaduais, municipais compravam alimentos do agricultor para hospitais, para repartições públicas; e também o Programa Nacional da Alimentação Escolar, por meio do qual as prefeituras, com recurso federal, compravam dos pequenos agricultores a sua produção para servir para as crianças na hora da merenda. Então, eram produtos frescos, muitos mais saudáveis. Pois isso, acabou. Nós não temos mais esse recurso.

    Agora, de novo, nossas escolas estão voltando a comprar merenda escolar processada, não mais a merenda natural. E o que está acontecendo com o pequeno agricultor? Está deixando de ter renda, não tem para quem vender. Então, é uma tristeza esse desmonte. Por que fazer isso? Em nome de quê? Da grande agricultura?

    Estão acabando também com os recursos para que os agricultores familiares façam empréstimo junto ao Banco do Brasil, para ter investimento para sua área, para sua terra, para poder fazer o plantio. Nós estamos com o Pronaf reduzidíssimo, e o aumento de juros dessa área do Pronaf também é grande.

    Eu dei foco aqui à agricultura, para falar um pouco do meu Estado, o Estado do Paraná, que sabe o que significou esse programa, mas, se formos pegar aqui a educação, veremos o desmonte que estamos tendo das nossas universidades.

    Quanto à habitação, o Minha Casa, Minha Vida foi um dos melhores programas que nós tivemos para enfrentar o desemprego neste País e para enfrentar a falta de casa, de moradia para a população mais pobre. Pois bem, agora o que estão fazendo com o FGTS? Estão levando o recurso do FGTS para financiar moradias acima de R$700 mil, porque, aí, a Caixa Econômica não vai ter risco de ter inadimplência. Aliás, a inadimplência para essa parte mais baixa da população sempre foi muito pequena. Então, nós estamos invertendo a lógica do que é o papel do Estado. A Caixa Econômica agora, uma empresa pública, vai financiar habitação para os ricos.

    A assistência social também está sendo desmontada. Vale lembrar aqui a PEC 55, que agora é a Emenda Constitucional 95, que aprovamos nesta Casa. E nós alertávamos: "Vocês estão congelando investimentos por 20 anos, num país que não tem infraestrutura, cujo desenvolvimento econômico é precário". Como é que nós vamos congelar investimentos por 20 anos? E ainda retiramos dinheiro da educação e da saúde e comprimimos a assistência social. Que tipo de país nós queremos? Num país em que há carência de todos os lados, o Estado brasileiro vai-se negar a investir naquilo que é fundamental? Pois bem, tiraram.

    Quanto à nossa política indigenista, estão agora querendo acabar com a Funai. Os índios vieram aqui, os indígenas vieram aqui fazer um protesto, fazer um encontro e foram recebidos a balas de borracha e a bombas de gás. Que país nós estamos montando, nós estamos formando?

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Ou destruindo? É a melhor forma de perguntar.

    Enfim, os direitos trabalhistas. Estamos fazendo a reforma da CLT. Primeiro, a Câmara já aprovou e a Base do Governo aprovou a terceirização. Agora, ao Senado veio o projeto da Câmara que muda totalmente a CLT. E ontem nós tivemos uma audiência pública aqui que foi uma tristeza, uma tristeza. Doutores sentados à mesa, com grande estabilidade, bem de vida, que não têm seus empregos, seus salários afetados por nenhuma crise, dizendo que se deve retirar a estabilidade do trabalhador, que pode haver trabalho intermitente, que as férias podem ser divididas em três vezes, que pode haver demissão coletiva, dificultando o acesso ao Judiciário pelo trabalhador. É uma vergonha o que estamos vendo neste País.

    Saúde. Estamos acabando com as farmácias populares, um dos melhores programas que nós tivemos em que a população de baixa renda podia comprar remédio por preço baratíssimo, alguns remédios entregues de graça. Isso vai deixar de acontecer. Em nome do quê? Por quê? Que mal fez o povo pobre deste País para pagar com isso? E a Previdência, então? A reforma que mandaram para este Congresso Nacional é uma das coisas mais perversas feitas, nos últimos tempos, contra o povo trabalhador. Estão desmontando o único cinturão de proteção social que nós temos efetivo, que mudou a vida do povo depois da Constituição de 1998, em que construímos uma política de seguridade, saúde, previdência e assistência.

    Nós estamos jogando no lixo, mas nós dizíamos isso aqui. Nós dizíamos: "Vão tirar a Dilma para retirar os direitos, vão tirar a Dilma para implantar neste País um programa que jamais passaria nas urnas." Ou vocês acham que o Michel Temer, defendendo essa reforma da previdência que está aí, a reforma trabalhista que está aí, o desmonte da saúde, acabando com as farmácias populares, desestruturando as universidades, com esse programa de Governo, ganharia voto do povo brasileiro? É claro que não ganharia! Por isso, fizeram o golpe, para implantar essa vergonha nacional. Por isso, eu digo, Senador Lindbergh, que cada vez estou mais convencida de que estávamos do lado correto, denunciando o que estava acontecendo no País.

    E não é só isso. Não é só com essas políticas pontuais que nós temos – sociais – e que foram fundamentais para economia brasileira, mas é também em relação à nossa soberania, a soberania nacional. Toda política altiva e ativa construída pelo Presidente Lula está sendo desmontada. Nós estamos entregando as nossas riquezas nacionais, começando pela Petrobras. Há um dado que a federação dos trabalhadores da Petrobras trouxe para nós que me impactou, porque, com essa Operação Lava Jato, que ajudou a desmontar a Petrobras – e também o preço do petróleo, que caiu muito em 2015 –, diz que as perdas estimadas pela Lava Jato na Petrobras foi de R$6,6 bilhões, só que, desde que esse Governo assumiu, nos diz a FUP (Federação Única dos Petroleiros) que as perdas auferidas com as mudanças que eles estão fazendo na Petrobras com a venda de ativos já chegam a R$110 bilhões. Estão desmontando a Petrobras e diziam que fomos nós que desmontamos a Petrobras. É uma vergonha.

    O patrimônio líquido da Petrobras, em 2002, era de R$15,5 bilhões. Em 2014, esse patrimônio líquido era de R$117 bilhões, sete vezes mais, ou seja, nós, em 12 anos, aumentamos o patrimônio líquido da Petrobras em sete vezes. Ainda que falemos que em 2015 caiu para R$66 bilhões, é muito acima do que era em 2002, que era de R$15 bi, e caiu pelo preço de petróleo e pela condução da Operação Lava Jato, que não pune as pessoas, e pune as empresas.

    A produção de petróleo, em 2000, era de 1,27 milhão de barris de petróleo/dia; em 2015, de 2,52 milhões de barris/dia. Nós dobramos. Quer dizer, a Petrobras levou desde a década de 40 até 2002 para produzir 1,27 milhão de barris por dia. Nós, em 15 anos, com o Presidente Lula e com a Presidente Dilma, subimos essa produção para 2,52 milhões. Duplicamos! Pois é isso que está sendo destruído. Em nome do quê? Da eficiência da empresa? Mentira. Em nome da recuperação dos ativos? Mentira. Para entregar esse patrimônio às grandes empresas externas. Estão fazendo licitação do pré-sal agora. Tiraram a partilha. Agora, a Petrobras já não é mais dona do petróleo, pode exercer a sua preferência se quiser. Tiraram essa obrigatoriedade que estava em lei. Estão fazendo licitações sem colocar a preferência da Petrobras e impedindo que empresas nacionais participem da licitação! Em nome do quê? Para que a Shell, a Exxon ganhem essas licitações? Por quê? Porque as empresas brasileiras são corruptas? De novo, estão punindo as empresas e não as pessoas que as dirigiam? Ou será que as empresas externas e internacionais não são? A Exxon é uma beleza? A Shell é uma beleza? Não têm problema de corrupção? Mentira! É só pegar os dados da Transparência Internacional. Todas estão envolvidas com problemas de corrupção em seus países e em países em que elas operam. É a entrega do nosso patrimônio – pura e simplesmente isso – por gente que já governou este País, já o entregou, já o desmontou e agora volta a entregar a nossa soberania nacional.

    O que estão fazendo com a Base de Alcântara? Revendo o acordo para entregá-la aos Estados Unidos! O que estão fazendo com a Amazônia? Estão fazendo treinamento, operação militar conjuntamente com os americanos na nossa Amazônia, em nome do quê? Da defesa da Amazônia? É óbvio que não é. É o quê? Para conhecer melhor o nosso território?

    Estão desmontando o Mercosul. Não há mais a política Sul-Sul. Estão enfraquecendo os BRICS, e estamos de novo nos colocando diante dos Estados Unidos em uma posição de subserviência. Foi para isso que fizeram o golpe, para isso que, há um ano, afastaram a Presidenta Dilma da Presidência da República.

    Nós falávamos isso, mas grande parte, a maioria aqui dizia que não era. E eu acho que a maioria aqui foi iludida. Não posso acreditar, Senador Requião, que a maioria dos Senadores aqui votou no impeachment achando que isso não ia acontecer. Penso que eles achavam que viria a fada da confiança, bateria a sua varinha, e nós melhoraríamos a economia. Muitos diziam isso com convicção. Agora, esses mesmos que diziam isso com convicção não vêm ao plenário. Acho que eles andam envergonhados por verem o País nessa situação.

    Então, nós estamos aqui há um ano com este Governo do Michel Temer destruindo o Brasil. O Brasil não pode esperar este Governo terminar em 2018. Por isso, nós precisamos urgentemente antecipar as eleições gerais e diretas neste País. Temos que ter dignidade, talvez como Casa Alta da República, como Câmara Alta possamos também convencer a Câmara dos Deputados a votar uma emenda constitucional para que antecipemos as eleições e tragamos para outubro de 2017 eleições gerais no País, inclusive para Senadores, Deputados Federais e Governadores, para que possamos salvar o Brasil dessa gente que está aí.

    Concedo um aparte ao Senador Lindbergh.

    O SR. PRESIDENTE (Lindbergh Farias. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Senadora Gleisi, eu quero cumprimentar o pronunciamento de V. Exª, que foi uma das mais ativas lutadoras naquele processo contra o golpe. É duro relembrar aqueles dias, que vivemos de forma muito intensa aqui.

    Agora, é impressionante ver, um ano depois, o tamanho da desmoralização desse golpe. Estão desmoralizados.

    É um golpe que fracassou. Eles diziam que iam tirar a Dilma e a economia melhoraria, porque os empresários retomariam a confiança em investir. Vejam como está a economia brasileira: 14 milhões de desempregados e, no meio de tudo isso, uma política de austeridade econômica, que só se aprofunda. Faziam o discurso da ética, do PT organização criminosa. Cadê eles? Onde estão?

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Sumiram.

    O SR. PRESIDENTE (Lindbergh Farias. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Um governo desmoralizado como este: Temer, Padilha, Geddel, Eduardo Cunha mandando da cadeia, o PSDB desmoralizado.

    Eu queria escutar o PSDB no dia de hoje. Cadê os Senadores do PSDB para fazer o balanço disso aí? Devem estar arrependidos, porque sabem que colocaram o Brasil numa grande furada. É impressionante a irresponsabilidade das elites brasileiras também.

    Então, quero cumprimentá-la. Eu vou falar daqui a pouco.

    Engraçado, hoje acaba havendo um filme aqui. Eu acho sinceramente que este plenário do Senado devia estar cheio, porque cada Senador ali teve responsabilidade. E eu não tenho dúvida de dizer: quem votou naquele golpe vai entrar para a história como partícipe de um golpe contra a democracia brasileira. Eu tenho certeza de que estivemos do lado certo. Eu já começo a ver muitos arrependidos por aí, reconhecendo o que fizeram e as consequências para o Brasil e para sua economia.

    Mas eu faço este aparte, porque faço questão de ficar registrado nos anais da história. Este é um dia importante. Nós vamos hoje viajar a Porto Alegre. V. Exª também vai. Vários Parlamentares irão. Vamos encontrar a Presidenta Dilma, dar um abraço apertado nela, nessa mulher guerreira. Vamos fazer um ato político lá em Porto Alegre, porque não queremos deixar passar esse um ano em branco, queremos chamar atenção disso.

    E o que queremos dizer neste plenário do Senado Federal é que aquilo foi um golpe. A Constituição brasileira foi rasgada. E eu tenho certeza, Senadora Gleisi, de que, algum dia na história, isso vai ser reconhecido por este Senado Federal também e nós vamos apagar das páginas da história aquele processo fraudulento de afastamento de uma Presidenta sem crime de responsabilidade.

    Parabéns a V. Exª pelo pronunciamento!

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Obrigada, Senador Lindbergh. Espero que nós apaguemos, sim.

    Também quero cumprimentar V. Exª, que esteve à frente da resistência contra o impeachment da Presidenta Dilma, assim como a Senadora Vanessa Grazziotin, o Senador Requião e tantos outros Senadores que lutaram contra o afastamento dela.

    Realmente é uma tristeza vermos esta Casa vazia, porque aqueles que defenderam a sua retirada, aqueles que defenderam o seu afastamento para fazer o julgamento e depois a retiraram do poder deviam estar aqui para fazer um balanço do resultado que nós tivemos nesse um ano, para, inclusive, verificar que aquilo que nós falávamos desta tribuna, na comissão era verdadeiro, que o que nós alertávamos é exatamente o que está acontecendo hoje no Brasil. Infelizmente, temos que fazer esse balanço e dizer que nós estamos com uma grande tristeza. Aqui, gente.

    O SR. PRESIDENTE (Lindbergh Farias. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eu quero chamar a atenção aqui também do Presidente. Eu quero que as câmeras filmem aqui também.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Quero agradecer, Senador Lindbergh, que preside esta sessão, e dizer que é uma pena. É com muita tristeza, a mesma tristeza com que eu subi no dia 12 de maio aqui para falar naquele dia fatídico, em que este plenário estava cheio dos algozes da Presidência, que subo hoje à tribuna. É uma tristeza do povo brasileiro, da nossa democracia pela desconstrução por que o País está passando.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/05/2017 - Página 20