Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato de incidentes ocorridos em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos para discutir a reforma trabalhista

Críticas ao governo do presiente Michel Temer.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRABALHO:
  • Relato de incidentes ocorridos em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos para discutir a reforma trabalhista
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao governo do presiente Michel Temer.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2017 - Página 25
Assuntos
Outros > TRABALHO
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • REGISTRO, PROBLEMA, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, ASSUNTO, REFORMA, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Muito obrigada, Sr. Presidente.

    Acabamos de ouvir também a palavra da Senadora Lídice, que falou pela ordem, fazendo um relato semelhante ao que fiz também anteriormente. O que está acontecendo – e aqui chega o Senador Paulo Paim, vindo também de lá da manifestação, junto com a Deputada Maria do Rosário – lá fora é uma verdadeira praça de guerra.

    Senador Paim, eu não tive condições de ficar mais lá. Eu estava em cima do caminhão e, quando desci do caminhão, eu nunca corri tanto quanto corri.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu vi que V. Exª estava lá.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Pois é. Nunca corri tanto quanto corri na minha vida, porque, do nada, do nada... E ali eu vi... Nós podemos dar o testemunho porque nós estávamos lá. Ninguém viu e mandou mensagem pelo celular. Nós estávamos lá.

    Então, o que fica evidente, Senador Paim e Deputada Maria do Rosário, e o que eu deixei claro aqui? A polícia tem inteligência. Por que a polícia não tirou as pessoas infiltradas que estavam lá, andando com paus na mão, com máscaras? Para quê? Nós dizíamos aos microfones: "Tirem as máscaras. Aqui há gente do bem, mãe e pai de família".

    Então, nós vamos solicitar, eu repito, Senador Paim, ao Presidente desta Casa, que requeira informações e, se for o caso, que abra uma investigação. Nós vamos ter um fato material, nós vamos ter gravações, nós vamos ter fotografias, nós vamos ter muito material. É preciso, claramente... Porque não é a primeira vez, Presidente. V. Exª não sabe a dificuldade com que muitos e muitos chegaram aqui, vindos do Rio Grande do Sul, vindos do Amazonas, do Pará, para isso? Para sofrer o que sofreram aqui?

    Eu concedo aparte ao Senador Paim.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senadora Vanessa, estou aqui acompanhado da querida Deputada Maria do Rosário, com um misto de indignação, de tristeza.

    Agora, saíamos de lá, um senhor com a barriga aberta na nossa frente.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Meu Deus!

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Barriga aberta, fruto da violência, da repressão a um ato pacífico, tranquilo. Não havia um problema. Quando nós chegamos lá, havia uma barreira e queriam proibir Senadores e Deputados de entrarem para conversar com a população. Eu disse: "Não, não vão proibir, não." E entrei. Deputados e Senadores entraram junto comigo. Chegamos ao palanque e, quando chegou na hora de os Parlamentares falarem, bomba de gás, bomba de pimenta, cavalaria avançando, infantaria com o maior aparato sobre o povo. O povo correndo, desesperado... Milhares e milhares de pessoas. Eu nunca vi isso, não é nem nos 32 anos que estou aqui, mas em toda a minha vida. Eu vi V. Exª quase desmaiando lá.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – E corri depois, Senador!

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Sim, tamanha a quantidade de gás que chegava de todos os lados. Vi essa querida Deputada, que estava dialogando, entrevistando a população e conversando com ela, transmitindo ao vivo. Atropelando... Tivemos que descer na marra do caminhão, porque a bomba de gás circulava por cima do caminhão, as pessoas desmaiando. Nunca vi, Senadora! Esse Governo ilegítimo... Como foi dito pelo Tancredo Neves uma vez: é um governo canalha, sim! Nunca tinha usado essa expressão. Um governo canalha e covarde, para fazer o que estão fazendo, espancando o nosso povo ali, em frente a esta Casa! Espancando, batendo! Gente sangrando, mulher desmaiando, pessoas com a cabeça sangrando, aqui, em frente ao Congresso, a Casa da democracia! A Senadora Regina estava lá. Mas o que é isso?! Não havia uma única violência, não havia! Não havia nada! Só as pessoas dizendo: "Não queremos a reforma da previdência!" "Enterrem a reforma da previdência!" "Enterrem a reforma trabalhista!" "Temer, vá para casa!" É o que eles diziam. Mas é democrático. Em qualquer país do mundo, as pessoas, quando sentem que é um governo ilegítimo, irresponsável e que ataca o seu povo, é natural... Temos 12 pedidos de impeachment – 16, já me disseram –, um deles da OAB. Este Congresso não pode ficar mais parado. Este Congresso tem que se reunir, urgentemente. Rodrigo Maia, responda aos Deputados, responda aos Senadores! Implante, encaminhe, acione a Comissão de Ética! E vamos discutir esse impeachment, como já fizemos com outros Presidentes. Aconteceu com a Presidenta Dilma? Fomos contra, mas aconteceu. Aconteceu com o ex-Presidente Collor? Aconteceu. Agora, achar que batendo no povo vai resolver isso? Não vai, Presidente. Senadora Vanessa, quero aqui, com muito carinho, abraçar essas duas lutadoras e abraço também você. As três estavam lá no meio do povo correndo. Correndo! Tinha que correr mesmo, vai fazer o quê? Abraço V. Exª, porque, quando subimos no caminhão, percebi – eu estava com uma barra de gelo na mão e com esse casaco assim, fiquei quase um tempo assim, porque não podia respirar – que a senhora estava com o rosto molhado, encharcado...

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Leite de magnésia, que deram para nos socorrer.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Leite de magnésia. A assessoria segurando V. Exª e V. Exª lá resistindo. Sr. Presidente, este é um desabafo de alguém que está muito indignado. Não é alguém que está bravo, está indignado. É indignação! É isso que corre nas veias hoje de todo o povo brasileiro. Seja quem for, contra ou a favor do impeachment, é uma indignação! Eu estava lá e vi. Era um ato pacífico, Senadora Vanessa. Obrigada pelo aparte a V. Exª e...

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Eu agradeço.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... pela oportunidade de fazer esse desabafo.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Eu agradeço, Senador Paim, o aparte de V. Exª e sei que V. Exª, na sequência, ocupará a tribuna para falar mais sobre esse episódio.

    Quando abrir a Ordem do Dia hoje, nós precisamos conversar com o Senador Eunício sobre o fato, porque ontem foram muitas questões de ordem para discutir uma outra questão. A questão que se discutiu ontem aqui, em forma de questão de ordem, foi o ocorrido na Comissão de Assuntos Econômicos, porque eles deram como lido, como lido – e não existe a figura de dar como lido – este relatório, Senador Paim. É por isso que essas pessoas vieram do Brasil inteiro para cá.

    O Senador Ferraço deu como lido este relatório. Uma vergonha, Presidente! Um relatório que, no item 3, primeiro, analisa o quadro, o desemprego e tal, diz o que é cada coisa – e de forma muito deturpada a maioria delas. O item 3 diz o seguinte:

Recomendações. [Recomendações.] [...] Deste modo concertamos junto ao Poder Executivo [Quem concertamos? Tem que saber quem participou desta concertação?] que alguns itens da proposta em tela devem ser vetados, podendo ser aprimorados por meio de edição de medida provisória que contemple ao mesmo tempo o intuito do projeto aprovado na Câmara [...] e o dever de proteção [...] [dos trabalhadores].

    Ora, nós levantamos isso, Presidente João Alberto, no Colégio de Líderes, e lá nos disseram: "Não tem medida provisória nenhuma", porque dissemos que isso seria um desrespeito, um abuso não contra Senador ou Senadora "a" ou "b", mas contra a Casa, contra a Casa.

    E aí, Senador, eu quero que V. Exªs – Senadora Fátima, que chega – escutem uma coisa: nós tivemos ontem uma votação de 13 a 11. Uma votação que foi quase um empate, porque a oposição não tem essa correlação de forças aqui na Casa, Senador João Alberto. Mas, insensível, o Presidente, o novo Presidente Nacional do PSDB – que substituiu o Senador Aécio Neves, que está afastado pela Justiça de suas funções de Senador –, como Presidente da CAE, não aceitou o diálogo e sequer respondeu uma questão de ordem.

    Eu vou fazer aqui também, quando abrir a Ordem do Dia – Deputada Maria do Rosário, que V. Exª escute como é que este Temer tem agido –, a questão de ordem. Aliás, vamos fazer questões de ordem, porque isso aqui não pode ser considerado como lido, mas de jeito nenhum! É um desprezo à democracia, um desprezo ao Parlamento um relatório que sugere medida provisória, que sugere veto. O que é isso?

    Nós somos Senadores eleitos, ou são conselheiros de Michel Temer? Eles são conselheiros – eles que fizeram essa concertação –, eu sou Senadora, eleita pelo meu Estado, e quero aqui exercer o meu direito de voto.

    Pois bem, Senadores. Um dos 11 votos contrários a que fosse feita essa barbaridade, no dia de ontem, foi o do Senador Eduardo Braga, do meu Estado, que é do PMDB – aliás, foi como a Senadora Kátia também votou. Hoje, sabem com qual informação eu amanheci? Michel Temer demite...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... a Superintendente da Zona Franca de Manaus, da Suframa, que é do seu Partido, o PP, Cameli. Michel Temer a demitiu – e olhem que não sou partidária dela, mas a conheço, foi minha colega, Deputada Federal, uma pessoa extremamente capaz, trabalhamos juntas na medida provisória que aprovamos ontem – e não quis saber se a administração da Suframa, Senadora Regina, vai bem ou mal; ele quer saber de retaliar. É esse o Presidente que defendem? É esse o Presidente que estão defendendo? Ele demitiu, retaliando! A Suframa não é dele; a Suframa é do Amazonas, é da Amazônia ocidental. Como é que ele demite assim alguém? Retaliando quem? Ele está preocupado com o bom desempenho? Não, não está preocupado. Ele acha que aquilo é dele, que é o quintal da casa dele. Pois não é. Não é!

    Eu me admiro muito, Senadora Fátima, pois muitos dos Senadores e muitas das Senadoras aqui sugerindo – e um legalista como este Relator – o veto.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Abriu mão! Coitado do povo do Espírito Santo, pois não tem um Senador, perdeu um Senador! O povo do Espírito Santo, agora, tem aqui no Senado a representá-lo um conselheiro do Michel Temer! É conselheiro, porque ele está aqui "eu estou sugerindo ao Executivo" ou "recomendando". Recomendamos quando não podemos votar; recomendamos que o Ministério Público faça isso ou aquilo numa CPI, numa investigação, mas ao Poder Executivo não recomendamos que faça lei A ou B. Nós aprovamos. Nós votamos. Nós aprovamos ou rejeitamos, mas ele não. Eu tenho pena do povo do Espírito Santo: deixou de ter um Senador, que é Ricardo Ferraço, e passou a ser aqui, no Senado, um conselheiro deste Presidente, que não deve mais estar onde está.

    É por isso que o povo está na rua, sofrendo, apanhando, como apanhamos agora há pouco, mas dizendo: "Fora Temer" e "Diretas já!"

    Obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2017 - Página 25