Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com atos violentos envolvendo integrantes das Centrais Sindicais e a Polícia Militar, em manifestação ocorrida na Esplanada dos Ministérios.

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Indignação com atos violentos envolvendo integrantes das Centrais Sindicais e a Polícia Militar, em manifestação ocorrida na Esplanada dos Ministérios.
Aparteantes
Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2017 - Página 41
Assunto
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Indexação
  • REPUDIO, VIOLENCIA, MANIFESTAÇÃO, GRUPO, CENTRAL SINDICAL, POLICIA MILITAR, DISTRITO FEDERAL (DF), LOCAL, ESPLANADA (BA), MINISTERIO, BRASILIA (DF), DEPREDAÇÃO, BOMBA, GAS LACRIMOGENIO.

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Senadora Presidenta Fátima.

    Srs. Senadores, Srªs Senadoras, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, eu vou falar pouco, exatamente porque eu ainda estou com os olhos ardendo e com a garganta também ardendo do que eu ingeri lá na manifestação.

    Há uma semana, eu tento fazer um pronunciamento que eu preparei sobre acidentes de trânsito, sobre extermínio da nossa juventude em acidente de moto, mas acho que o momento não cabe essa atenção. E também passou o dia de combate à exploração sexual das nossas crianças e adolescentes. Vou deixar para falar sobre esses assuntos numa hora mais calma, em que as pessoas prestem a atenção, porque o momento é efervescente.

    Eu juro que pensei que eu não ia mais ver o que eu vi hoje. Eu vivi a turbulência dos anos 70 e achava que eu não ia mais ver isso. Eu estava em cima do caminhão, acabando de subir, junto com Paulo Teixeira, e, de repente, um rapaz na minha frente começa a vomitar, eu sinto minha garganta fechar também, com meus olhos ardendo. Eu só tive a oportunidade de descer, com Paulo Teixeira também. A minha sorte é que eu encontrei uma garrafinha de água abandonada com uns três dedinhos de água na escada do caminhão. Foi o que me salvou, porque eu consegui beber aquela água em gotinhas bem pequenas, pois eu estava asfixiada, com meus olhos ardendo. É um absurdo!

    Eu não acredito que a polícia não tenha a capacidade de prender as pessoas que estavam ali fazendo aquela confusão – que não chegavam a 50 – e com o apoio de toda a coordenação. A coordenação estava pedindo para a polícia tirar essas pessoas de lá, e eles não tiravam e partiram para cima da manifestação, generalizando, jogando aquela fumaça, aquele negócio, que não entendemos para quê. É para dispersar, para não ter a manifestação, para passar essas imagens, pois, certamente, as imagens que vão passar serão de 500 pessoas, de 2 mil pessoas, mas ali havia mais de 100 mil pessoas. Quem subiu naquele caminhão vê a vista até o fim. Para que esconder? Querem passar uma aparente tranquilidade, e este País não está vivendo tranquilidade nenhuma. Este País está efervescendo, este País está um caos.

    As pessoas querem enganar quem? Eu não sei, porque está se vendo. Não sei quantos assessores do Temer já pediram demissão ou foram demitidos. Hoje é o Presidente do IBGE, que deu umas respostas, pelas quais, se ele não está demitido, vai ser demitido. Alguém cobrou dele um dado aí, e ele disse aqui que o cenário econômico é muito ruim, que o ambiente econômico não melhorou. É o Presidente do IBGE que está dizendo isso. Está em uma página inteira do Valor Econômico hoje. O jornalista diz que ele está no caminho oposto ao Governo, e aí ele responde, dizendo que não melhorou: "Que se dane o governo. Eu não tô aqui nem para produzir dados bons nem dados ruins para ninguém. Os dados são os que são". Uma pessoa dessa deve estar demitida.

    E nós nos deparamos com isto: impedidos de circular. Nós ficamos mais de meia hora na frente daquela grade, sem poder passar para ir ao encontro da população. A população já não tem acesso à Casa do Povo, e nós não podíamos ir ao encontro do povo, porque éramos proibidos. Havia vários Deputados querendo entrar, querendo passar para o lado de lá, e não era permitido. O Senador Paim foi quem, corajosamente, resolveu abrir, enfrentar aquilo. Não dava para pular, era alto – pelo menos eu não tenho pernas para pular um negócio daquele. Ele conseguiu desatar uns nós, nós passamos e fomos recebidos daquela forma. Logo que conseguimos subir no caminhão, aconteceu tudo isso. Todo mundo desceu do caminhão tossindo, com os olhos vermelhos, pela ação da Polícia Militar.

    É claro que havia os chamados Black Blocs, mas, se a polícia quisesse, ela pegava aquelas pessoas, até pra sabermos quem é, de onde veio, porque a impressão que dá é que são os mesmos encomendados para estar na frente das manifestações para parecer bagunça, pois só o que vai mostrar o noticiário é aquilo lá.

    Passando para as reformas, também muito importantes, nós recebemos aqui ainda agora um documento, que foi entregue aqui na Mesa, de 17 Ministros do TST contra a reforma trabalhista. Nenhum é do PT. É bom que se diga. A Justiça Trabalhista é contra essa reforma. E as pessoas insistem em dizer que ela foi lida e que vai ser votada na próxima semana. Eu não entendo por que essa insistência, para dar satisfação a quem? O que tinha de acontecer aqui era resolver a questão da crise que este País está vivendo. Com este Governo que está aí, não existe solução. Ele sabe disso. Ele está moribundo. De alguma forma, ele vai cair! Então, o que podíamos fazer aqui era apressar... Ninguém quer atropelar a Constituição. "Ah, não! A Constituição diz que são eleições indiretas!" Nós vamos aprovar uma PEC transformando em diretas, porque aqui, quando se quer, se vota uma PEC em regime de urgência. Em menos de duas semanas, ela está votada! A PEC está tramitando. É só colocar o regime de urgência e votar essa PEC, para que se estabeleça eleição direta neste País, porque, neste País, eu não vejo ninguém capaz de dar tranquilidade ao Brasil por eleição indireta. Podem levantar o nome que levantarem! Desta Casa, então, é muito difícil! Quase metade do Congresso está denunciado, envolvido em alguma coisa. Então, não vai unificar ninguém um nome por eleição indireta. Não existe, no Brasil, ninguém para unificar este País neste momento. Então, a saída é a eleição direta. É só votar a PEC, apressando a votação! Já votamos aqui tanta coisa apressando.

    Eu acho engraçado é que um bocado de gente vem aqui pedir eleição na Venezuela. Eu já vi aqui Senador que vem aqui só para fazer uma comunicação inadiável falando da Venezuela. No Brasil, parece que não está acontecendo nada! É impressionante! Fico estarrecida de ver as coisas que aconteceram aqui, ontem, por exemplo, na CAE. É um absurdo dizer que o relatório está lido e que vai ser votado, um Senador dizer que vai atropelar... Quando alguém falou que ele estava atropelando, ele disse: "Vocês agora vão ver o que é atropelamento!" Então, vai piorar ainda mais. Ele ameaçou ontem!

    Senadora Vanessa, quer falar?

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Eu gostaria, Senadora Regina.

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – Concedo um aparte. Pois não.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Senadora Regina, eu gostaria de fazer um aparte ao belo pronunciamento que V. Exª faz hoje. Aliás, V. Exª tem a capacidade de fazer pronunciamentos extremamente simples, mas com um conteúdo extremamente significativo, Senadora Regina. Acho que é disso que precisamos. Precisamos dialogar com a população brasileira, e dialogar com a linguagem da população brasileira. E eu aqui me refiro ao que V. Exª levanta sobre as eleições diretas. Eu sei que há muita gente que ainda não levantou a bandeira das diretas não por ser contra eleições diretas, mas por olhar, num primeiro momento, a Constituição Federal. E a Constituição fala de eleição indireta. Entretanto, a legislação brasileira vem mudando nestes últimos tempos. Lá no meu Estado do Amazonas, vamos ter uma eleição direta no dia 6 de agosto. Por quê? Porque o Tribunal Superior Eleitoral cassou o Governador. Então, lá, nós teremos eleições diretas. É isso que V. Exª diz. Se falta algum reparo na legislação... E pode vir do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a decisão de fazer eleições diretas, como decidiram para o Estado do Amazonas. Então, seria importante que olhássemos também esse aspecto da legalidade. Não é uma proposta absurda, não é uma proposta ilegal. Se precisar de ajustes, inclusive na Constituição, é o que V. Exª diz, vamos nos juntar e vamos aprovar. Nós trabalhamos muito com o calendário especial. Calendário especial é quando há um acordo...

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... uma unanimidade, e nós revemos os prazos para votar o mais rapidamente possível. Então, parabenizo V. Exª, Senadora Regina, não só por esse pronunciamento, mas pela resistência que fez há pouco naquilo que eles transformaram em uma praça de guerra. Estão queimando ministérios. Não são trabalhadores que estão queimando ministérios, não fazem parte desse movimento. Eu quero dizer o seguinte: tem uma lei, Senadora Kátia...

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Vocês tocam fogo e vêm dizer que não é...

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Senadora Regina, tem uma lei de que a pessoa não pode andar mascarada. Por que a polícia não pegou o mascarado que estava ali? Eu estava falando, eu me dirigi a eles na minha fala e disse: "Tirem as máscaras! Aqui só tem gente do bem. Não precisa ninguém ficar..." A polícia estava ali. Por que não tirou? Por que não prendeu os mascarados? Porque, infelizmente, acho que o objetivo era este: espantar uma das maiores manifestações que Brasília já viu. Obrigada, Senadora Regina.

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – Obrigada, Senadora Vanessa.

    Senadora Fátima, só um minuto de tolerância para eu concluir.

    Quero dizer...

(Soa a campainha.)

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – ... que é isso. A gente não quer atropelar a Constituição. A gente pode mudar a Constituição, porque já mudamos não sei quantas vezes aqui, em regime de urgência. Então, pode mudar, sim. Também não é a história de se dizer: "Só querem para o Presidente". Se for preciso fazer eleições gerais, pelo menos de minha parte e de meus companheiros, tenho certeza de que todo mundo cede o seu resto de mandato. Vamos para as eleições gerais para todo mundo, se for o caso, para não dizerem que é casuísmo, só para o Presidente da República.

    Então, eu queria concluir, Senadora, exatamente dizendo isso: a polícia não prende porque não quer. A gente chega a desconfiar, porque pouca gente está ali, fazendo aquela confusão. E as próprias lideranças, as coordenações de todas as centrais estão pedindo para tirá-los, para prender. Ali tem pessoas, policiais, policial civil, agente penitenciário se manifestando, Polícia Federal. Ontem, o Presidente do sindicato da Polícia Federal conclamou aqui, na audiência pública, para todos irem para a manifestação, uma manifestação pacífica contra as reformas.

(Interrupção do som.)

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – Agradeço, Senadora Fátima, pela tolerância dos minutos. Eu sei que tem muita gente inscrita, mas aqui a gente já foi mais tolerante também nessa história de tempo. Normalmente eu não estouro o tempo.

    Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2017 - Página 41