Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta para o risco de radicalização no debate político e defesa da necessidade de diálogo no Senado para encontrar soluções para a crise política e institucional que o país atravessa.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SISTEMA POLITICO:
  • Alerta para o risco de radicalização no debate político e defesa da necessidade de diálogo no Senado para encontrar soluções para a crise política e institucional que o país atravessa.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2017 - Página 76
Assunto
Outros > SISTEMA POLITICO
Indexação
  • APREENSÃO, MOMENTO POLITICO, DESRESPEITO, CRITERIOS, DEBATE, PERIGO, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA, DEFESA, NECESSIDADE, DIALOGO, SOLUÇÃO, CRISE, SITUAÇÃO POLITICA, REJEIÇÃO, DECRETO FEDERAL, CONVOCAÇÃO, FORÇAS ARMADAS.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srs. Senadores, Srªs Senadoras, eu sei que em momentos de radicalização, de insensatez, não é sensato querer ser sensato. Mas não consigo entrar neste debate que vem tomando conta do Senado – com a cabeça e às vezes com os pés subindo nas mesas para impor vontades –, eu não consigo deixar de falar, correndo o risco de ser insensato por querer falar sensatez.

    Há uma radicalização que vai nos levar a um suicídio coletivo. Nós estamos caminhando para mais do que uma decadência, em que já estamos depois da crise. Nós estamos caminhando para uma desagregação do tecido social brasileiro, o desrespeito geral às autoridades. Começa aqui dentro, entre nós. Estamos nos desrespeitando. Depois, alguns desrespeitos a outras autoridades, depois o desrespeito aos direitos de alguns.

    Isto que aconteceu aqui, nesta tarde, é apenas mais um exemplo do caos, da violência tomando conta – está acontecendo também no Rio hoje à tarde, Senador Capiberibe –, está em todas as partes, e nós ainda não paramos para pensar e dizer: "Calma, gente, vamos encontrar um caminho", que pode ser, sim, a renúncia do Presidente Temer. Mas, de repente, pode não ser – é o que eu defendo –, mas pode não ser.

    Vamos abrir mão das nossas posições como se fossem verdades absolutas. Vamos encontrar um caminho que pode ser um meio tempo de cada um. Eu sei que tentar ser sensato é insensatez no mundo quando a radicalização toma conta. Imagine um Deputado, na Síria, falar em sensatez no meio daquelas bombas. É um estúpido, é um louco. Mas há alguns que não conseguem falar diferentemente, mesmo que o descolamento da realidade insensata seja prova da sua insensatez.

    E aí eu creio que o Presidente Temer está cometendo uma insensatez em colocar tropas do Exército nas ruas. Não dá para tolerar o que está acontecendo aí. Vamos apurar os responsáveis. Quem – eu não digo qual cara –, quem está por trás das máscaras? E os que queimaram sem máscaras? O que a gente faz com eles? Agora, colocar tropas do Exército, Senador Eunício, é uma temeridade. É uma temeridade, primeiro, porque o decreto diz "oito dias". E no nono dia, o que vai acontecer? Todo mundo vai ficar em casa, já que o Exército saiu? Aí, outro decretozinho por mais uma semana.

    Segundo, se vocês olharem, o Comandante do Planalto vai cuidar da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. E a PM vai brigar com esses? Ou ele vai comandar a PM? Como há pouco eu perguntei ao Governador Rodrigo Rollemberg se essa era a alternativa combinada, que, aliás, poderia ser uma saída. Coloque alguém indicado pelas Forças Armadas para comandar a PM, mas não deixemos que nossos soldados tenham que tomar um dia a ação de matar um jovem brasileiro, mesmo que mascarado, mesmo que bandido. Soldado mata inimigos estrangeiros, não brasileiros.

    Eu acho que valeria a pena pedir um bom senso. Tentei falar com o Ministro Jungmann, e não consegui, para dizer que esse não é o caminho. Agora, desarmar esse pessoal...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – ... vai ser aqui dentro, no diálogo, e eu não estou vendo essa possibilidade de diálogo desarmador, porque aqui o que está havendo é o contrário do diálogo, armando.

    A sensação que eu tenho quando eu vejo hoje certos discursos é que há um desejo de que surja um cadáver do Temer, cometido pelo Temer, pelas balas do Exército, para isso tocar mais fogo ainda no processo político brasileiro.

    Vamos dizer: "Gente, calma. Vamos dar uma parada, vamos refletir, vamos dialogar. Nós somos adversários, não somos inimigos. Nós queremos mudar o Governo, se queremos, mas não queremos acabar com o Brasil".

    Mas nós estamos de tal maneira agindo que, na tentativa de mudar o Governo, que eu defendo que mude o Presidente, mas, nessa tentativa, não estou disposto a sacrificar o País. O pior governo...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – ... é pior do que o meu País, e quero que o meu País continue. Aqui não está se colocando o Brasil na frente, aqui não está se colocando médio prazo na frente, aqui estamos discutindo imediatamente como realizamos projetos menores de grupos, independentemente do País.

    Eu sugiro, Senador, que façamos um apelo ao Presidente, chamemos o governador para que ele cumpra o papel de zelador da ordem, identifiquemos os bandidos e identifiquemos quem está mandando esses bandidos fazerem isso, porque eles não estão fazendo sozinhos. E vamos dialogar, buscando uma saída mais permanente. Em outros momentos, o Brasil passou por isso e antecessores nossos tiveram a competência de se encontrar. Será que nós somos menos competentes do que os Senadores de antes? Eu ainda acredito que vale a pena tentar.

    Por isso, por achar que ainda vale a pena tentar, por isso eu...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – ... É por achar que vale a pena tentar, Senador Eunício, que eu vim aqui fazer este discurso. Se eu achar que não vale mais a pena, aí eu pego meu chapéu e vou para outra trincheira diferente dessa. Eu ainda acredito que essa é a trincheira para retomarmos coesão nacional e darmos um rumo ao País. E isso só com um grande diálogo, não sei se serão com as minhas posições ou com as posições de outros, que sejam melhores do que as minhas ou que tenham mais força política. Mas eu quero participar disso dialogando, e não nesse confronto insano que, às vezes, são com as cabeças radicalizadas e já estamos muito perto de serem com os punhos e com as pernas, como vimos ontem.

    Obrigado, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2017 - Página 76