Pela ordem durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da necessidade de uma reunião entre as lideranças da Casa para discutir soluções para a crise política e institucional por que passa o país, tendo em vista o incidente ocorrido durante a realização de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela ordem
Resumo por assunto
SENADO:
  • Defesa da necessidade de uma reunião entre as lideranças da Casa para discutir soluções para a crise política e institucional por que passa o país, tendo em vista o incidente ocorrido durante a realização de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2017 - Página 31
Assunto
Outros > SENADO
Indexação
  • ANALISE, TENTATIVA, AGRESSÃO, SENADOR, AUDIENCIA PUBLICA, ORADOR, PRESIDENTE, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, MOTIVO, DISCORDANCIA, DEBATE, REFORMA, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, SOLICITAÇÃO, REUNIÃO, GRUPO, LIDERANÇA, SENADO, OBJETIVO, PROPOSTA, SOLUÇÃO, CRISE, SITUAÇÃO POLITICA.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) – Srs. Senadores, Srªs Senadoras, para mim, a maior vergonha é retirar os direitos do povo da forma como estamos retirando e colocar o País na crise mais grave que nós já vivenciamos nos últimos tempos. Como diz Raduan Nassar, nós vivemos tempos sombrios, muito sombrios, Sr. Presidente.

    E esses tempos sombrios começaram no final de 2014, e nós alertamos o Brasil, porque aquilo que se estava fazendo logo após a eleição da Presidenta Dilma e o que continuou acontecendo durante o processo de impeachment só poderia levar à desestabilização e ao caos político que este País está vivendo hoje. Não tem como acabar bem algo que começou mal. E a intolerância e o ódio de que tantos Senadores aqui falaram neste plenário não foram incentivados por nós, não foram incentivados pelos Senadores da oposição, do PT, por quem apoiava a Dilma e o Lula, mas foi incentivado exatamente por aqueles que nos acusam hoje: pelo PSDB. Não foi um, dois, três, quatro, cinco, seis discursos que eu ouvi, deste plenário, de Líder do PSDB, inclusive do Senador Aécio Neves, que não está conosco agora, incitando a violência, dizendo que o Brasil, para melhorar, tinha que extirpar a organização criminosa que era o PT, que nós não teríamos estabilidade se o PT não fosse varrido do mapa. Incentivavam o ódio, incentivavam a briga nas ruas, com a militância. Puseram ódio no coração do povo brasileiro. Agora são esses senhores que vêm aqui, de forma cândida e mansa, falar aqui como se fossem vítimas que sofreram um processo de agressão.

    Quando nós chegamos à Comissão de Assuntos Econômicos, hoje pela manhã – cheguei lá –, o Senador Tasso ainda não estava lá. Quando ele chegou, fui falar com ele e eu disse assim: "Senador, não abra a reunião, porque é uma reunião única para a audiência pública e para a leitura do relatório. Não abra a reunião porque V. Exª não tem quórum para abrir esta reunião, e já passou meia hora do horário de convocação." Era convocada às 8h30, e às 9h ainda não estava aberta. Ele não quis me dar ouvidos e abriu a reunião. Não está certo isso.

    Nós vamos resistir para não ler o relatório, até porque o Senador que está fazendo o relatório, apresentando o relatório, havia dito no seu Facebook que não apresentaria o relatório porque estávamos vivendo tempos anormais, de crise, com o que aconteceu com o Presidente da República e também com um Senador desta Casa. Aí depois mudam de ideia, e vão para cima, na força, para fazer a leitura de um relatório. Um relatório que retira direitos das pessoas?

    Nós não estamos falando de um projeto qualquer aqui; nós estamos falando de um projeto que afeta o Brasil, que afeta milhões de brasileiros, pessoas que trabalham. Os senhores sabem que mais de 70% dos trabalhadores deste País ganham até dois salários mínimos? E os senhores sabem para quem é dirigida essa reforma trabalhista? É para esses que ganham até dois salários mínimos. Não é para nós que estamos aqui. Não é para a cúpula do serviço público. Não é para os empresários, que ganham muito dinheiro.

    Esta Casa está sistematicamente desrespeitando a Constituição e o povo brasileiro. Quais foram as matérias que nós votamos aqui recentemente que foram a favor do povo? Eu gostaria que os Senadores elencassem. Agora, eu posso elencar as que foram contra o povo: a maioria. Inclusive matérias que beneficiam o andar de cima da sociedade, porque é muito usual a gente votar aqui remissão de dívida, votar aqui para que tributos não sejam cobrados. Agora esse Governo deixou de cobrar uma dívida de 25 bilhões do banco Itaú. Estão agora os ruralistas negociando para não pagar o Funrural dos trabalhadores. É isso que esta Casa dá ao povo brasileiro. E vocês querem que a gente vá manso nisso?

    Nós tivemos o impeachment aqui. Os senhores arrancaram uma Presidenta legitimamente eleita com 54 milhões de votos. Rasgaram a Constituição. Os senhores fizeram isso, rasgaram a Constituição. E agora vêm falar em Regimento Interno? Vêm falar em Constituição para resolver a crise? Como vêm falar nisso? Não têm condições, não. Quem começou essa instabilidade foram vocês que votaram pelo impeachment da Dilma. Foram vocês que não aceitaram o resultado das urnas em 2014. Foi o Senador que está afastado aqui, que entrou com uma série de recursos – inclusive no Tribunal Superior Eleitoral –, que fez um monte de discursos de ódio neste plenário.

    Nós vamos lutar pelo direito dos trabalhadores nesta Casa, senhores. Vocês não vão tirar direito do trabalhador na mão grande, não. Vocês já tiraram uma eleição e vão querer fazer essa reforma trabalhista de quinta categoria? E vão querer fazer uma reforma previdenciária de quinta categoria?

    Vamos ter ousadia aqui para começar, então, arrumando a nossa Casa, esta Casa aqui, e votar alguns projetos que nós já colocamos na pauta, da redução dos nossos salários, da redução da verba de gabinete, de entrega dos nossos imóveis funcionais. Disso aí ninguém fala, isso fica bonito, porque aí não, aí é direito nosso, é constitucional. E vamos desmontar o direito do povo brasileiro.

    Os senhores querem que a gente fique manso e vêm para cá fazendo um discurso de vítima, falando molinho, que foram desrespeitados. Nós pedimos para adiar a leitura do relatório. Começaram uma reunião ilegal. Não podia, não havia quórum. Avisamos isso. O povo brasileiro não merece essas reformas. Ninguém foi eleito com essa plataforma aqui deste Governo ilegítimo que não tem popularidade, que está caindo de podre.

    Vocês querem mostrar o quê? Normalidade para o mercado? Que mercado? O mercado é mais importante que o povo brasileiro? É isso? Nós temos que continuar pagando renda desse mercado sacrossanto e o povo brasileiro que se ferre? É isso que nós estamos fazendo? Então, não venham com vitimização aqui, não venham falar mansinho aqui e dizer que são vítimas, não.

    Nós propusemos, na reunião da CAE, para suspender a reunião e fazer uma reunião de Líderes, para discutir a crise em que este País está enfiado e o Congresso Nacional está enfiado junto. Vamos fazer uma reunião. Vamos ter a coragem, por exemplo, se nós queremos consertar a crise, de antecipar as eleições de 2018. Por que nós não temos essa coragem e essa grandeza? Por que lida com o nosso direito, com o nosso mandato? Aí ninguém quer antecipar fim de mandato? Agora, antecipar fim de direito de trabalhador nós podemos. Agora, antecipar fim de direito previdenciário nós podemos, mas o nosso mandato, não.

    Vamos ter coragem. Se nós temos espírito público aqui, o que nós temos que fazer é nos reunir e antecipar as eleições de 2018. Todo mundo para o voto e para a urna. Só o voto salva este País. Não vai haver acordo de cúpula, acordo de Congresso, acordo que se faça nos bastidores para que este País saia da crise. A crise está dada, está posta. Não é porque houve essa briga aqui no Senado... E não venham me dizer que é a primeira vez. Eu já vi briga absurda neste plenário, já vi gente rasgar a Constituição, sapatear aqui, e não era do PT, não, era do Democratas, inclusive, o que eu vi. Então, vamos parar com esse papinho. Vocês estão retirando direito do povo brasileiro e vêm se fazer de vítima aqui? Toma tento na vida, gente. O que é isso? Nós vamos lutar pelos trabalhadores e vamos lutar pelo povo deste País. Nós não podemos permitir que este Congresso, na mão grande, retire esses direitos.

    Eu espero sinceramente, Presidente Eunício, que V. Exª, como Presidente desta Casa, convoque uma reunião de Líderes, urgente, para a gente discutir esta crise, a crise em que o Brasil está metido, a crise em que o Congresso Nacional está metido. E que a gente possa ter a decência de oferecer ao povo brasileiro uma resposta clara que não seja a retirada dos seus direitos para satisfazer o mercado financeiro. Não é isso, não foi para isso que nós fomos eleitos. Vamos ter dignidade...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ...se queremos consertar. Então, vamos consertar começando por nós mesmos.

    Acho que a melhor coisa que nós temos para dar ao País é antecipar a eleição. Não há melhor remédio na democracia, Senador Eunício, que o voto do povo. E quem não tem medo do povo se submeta ao voto. Vamos antecipar as eleições de 2018.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2017 - Página 31