Discurso durante a 79ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apresentação do livro de autoria de Sua Exma. e de mais 40 especialistas intitulado “O Dragão Debaixo da Cama - Impactos das reformas previdenciária e trabalhista”.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRABALHO:
  • Apresentação do livro de autoria de Sua Exma. e de mais 40 especialistas intitulado “O Dragão Debaixo da Cama - Impactos das reformas previdenciária e trabalhista”.
Aparteantes
Acir Gurgacz.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2017 - Página 6
Assunto
Outros > TRABALHO
Indexação
  • APRESENTAÇÃO, LIVRO, AUTORIA, ORADOR, PARCERIA, GRUPO, ESPECIALISTA, ASSUNTO, REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO (CLT), TERCEIRIZAÇÃO, BALANÇO, HISTORIA, MOVIMENTO SOCIAL, ENFASE, IMPORTANCIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Bom dia, Srª Presidenta, Senadora Ana Amélia, que preside os trabalhos desta manhã de sexta-feira. Senador Acir Gurgacz, que está se deslocando já para o plenário também – sua assessoria já comentava comigo.

    Mas, Srª Presidenta, hoje pretendo falar na tribuna sobre esse livro que lancei na segunda-feira, com o título O dragão debaixo da cama. E, a partir do lançamento, milhares de pessoas de todo o País começaram a pedir o livro. Eu tenho dito que, dentro do possível, claro, nós vamos remeter para todos os Municípios.

    Por que se interessaram tanto? Porque, na verdade, a chamada do livro é esta, ele se refere aos impactos das reformas previdenciária e trabalhista sobre a vida dos brasileiros. E aqui dentro, entre tantas coisas que falo, eu digo que escrevemos poemas com gosto de poesia e pintamos horizontes com alma das gerações, mas sempre em um viés do social. O primeiro livro que eu escrevi aqui no Parlamento foi Política em Poesia.

    Esse é um livro real. Houve a colaboração, para que esse livro chegasse a este momento, de cerca de 40 especialistas que se dedicaram a escrever sobre o livro. Então, como a população, de fato, quer algo concreto para analisar a reforma da previdência e trabalhista, nós imprimimos na nossa cota, aqui no Senado, esse livro sobre os impactos da reforma da previdência e trabalhista no dia a dia dos trabalhadores.

    E pretendo aqui, Srª Presidenta e Senador Acir Gurgacz, fazer um resumo, na verdade – porque não vou poder ler todo o livro –, informando já aqui, como eu dizia, que, na última segunda-feira, dia 29 de maio, lançamos, na Comissão de Direitos Humanos daqui, do Senado, o livro O dragão debaixo da cama – impacto das reformas [previdenciária e trabalhista] na vida dos brasileiros. A obra é assinada por este Senador e por mais 40 convidados.

    Na abertura do livro, como eu digo com brevíssimas palavras, eu resgato artigos, ideias, pensamentos de lideranças sociais, sindicais, intelectuais, populares, jornalistas, juízes, professores e especialistas nessa área da Previdência Social e dos direitos dos trabalhadores.

    Aqui está o pensamento de homens e mulheres com gritos insaciáveis por justiça e oportunidades iguais para todos. É uma obra coletiva, não somente do Senador Paulo Paim. Repito, e assim falei na abertura: é uma obra coletiva que faz uma reflexão e a análise do momento atual e que vem a somar-se à resistência de outras iniciativas, como foi a do dia 8 de março, Dia das Mulheres, a do dia 15 de março, um grande movimento nacional, a do dia 31, a do dia 28, na chamada e lembrada paralisação geral, e a do dia 24 agora.

    Lembramos mais que essa discussão do livro não está fechada em seu próprio universo. Longe disso: é uma motivadora de mais possibilidades, de mais debates, de mais discussões, de mais mobilizações, apontando estratégias e táticas, ações efetivas, povo na rua, o bom debate no Parlamento, para avançarmos numa pergunta que não quer calar – tudo isto está no livro –: que País é este? E assim definirmos o Brasil dos nossos sonhos, o Brasil que desejamos. Que tenhamos, com esses debates todos, a construção de um projeto de Nação.

    Confesso que muitos me perguntam: mas eleições diretas ou indiretas, quem é o nome? Eu respondo que não estou à procura de nomes; eu estou à procura de propostas. E propostas, eu tenho certeza, de forma coletiva, nós haveremos de construir.

    Srª Presidente, o Governo Federal, ao capitanear as reformas previdenciária e trabalhista, usa e abusa de argumentação técnica, mas ignora que, atrás de números e gráficos, existem vidas. Quando eu olho para a CLT, eu olho para o social. Quando eu olho para a nossa Previdência, eu olho para quê? Para a Previdência Social e o nosso sistema de seguridade social. Mas alguém poderia perguntar... Eu digo "nós avançamos porque a CLT dará vagas". Até hoje, 85% dela foi modificada, foi atualizada, foi ampliada. Nós temos a nossa Previdência, que é o melhor instrumento de distribuição de renda de todo o País. Nosso sistema de seguridade social é onde está a assistência, a saúde e a Previdência.

    Mas, enfim, esse livro fala de toda a nossa gente. São os corações vibrantes dos sulistas, dos praianos, dos pantaneiros, dos irmãos das florestas e do torrão seco que pede água para produzir o pão que construiu e constrói em suas mãos calejadas, para o avanço do nosso País.

    Sair do contexto de não valorização do povo brasileiro e de esquecimento profundo do suor dos bisavós, dos avós, dos pais, dos jovens, dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, que construíram tudo isso, daqueles que acordam antes do apito das fábricas e adormecem depois que os filhos fecham os olhos, é desprezar e tratar como mera mercadoria a nossa gente.

    Buscamos a humanização da política. Assim, agimos no Parlamento. Esta é a nossa lei principal: descobrir o outro, evoluirmos espiritualmente, aproximando ideias, desejos e angústias de todo o nosso povo; dividindo esperanças, expectativas e deixando cristalino, como o sol refletido na água, o caminho que queremos; olhando sempre que a tendência dos rios é terminar no mar. E nós queremos que todas as ideias que forem construídas, que forem apontadas, sirvam para isso que eu chamo um projeto de Nação. Temos que pensar em amor, temos que pensar num debate em que a intolerância e a ignorância sejam colocadas de lado.

    Qualquer projeto de Nação tem que ter como princípio o respeito à dignidade e à sabedoria da nossa gente. Assim nós cremos, assim nós agimos. Escrevemos poemas, sim, como eu disse, com gosto de poesia e pintamos horizontes com a alma de gerações.

    Este livro não é uma obra – peço a todos que tiverem acesso a ele – para ficar empoeirada nas estantes e nas gavetas. É um livro de passar adiante, de mão em mão. Peço o compromisso de todos vocês, para que, após a sua leitura, ele seja repassado aos familiares, aos amigos, vizinhos e colegas, e que eles também tenham o mesmo compromisso: humanizar, humanizar, humanizar.

    A luta contra as reformas previdenciária e trabalhista é gigantesca. Podem crer.

    O dragão não mora mais ao lado. Agora, ele está ali, debaixo das nossas camas. Portanto, precisamos redobrar a nossa vigília. Cada um de nós tem um pouco de responsabilidade, lembrando sempre que "o fácil fizemos ontem, o difícil realizamos hoje, e o impossível alcançaremos amanhã".

    O dragão debaixo da cama – Impactos das reformas previdenciária e trabalhista vem justamente para registrar este momento atual do Brasil. Na introdução, eu coloco que os ataques aos direitos sociais, previdenciários e trabalhistas do povo brasileiro não são de agora. Vêm de longa data.

    As forças retrógradas, conservadoras, antinacionais e antidemocráticas que atuam nos poderes constituídos são enormes. As elites e os poderosos insistem, de todas as formas e maneiras, em aniquilar a nossa pedra sagrada, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e os nossos pilares civilizatórios, como dizia Ulysses Guimarães, da nossa Constituição cidadã de 1988. Eles dizem que é muito detalhista, que tem muitos direitos sociais e, por isso, temos que, devagar, ir alterando toda ela. Só que esse devagar de repente virou, do dia para a noite, mexerem com profundidade nos direitos do nosso povo e da nossa gente.

    Em 1998, foi apresentado o projeto de terceirização, que está contemplado infelizmente nesta reforma e, inclusive, é um projeto semelhante já sancionado pelo Presidente da República. Em 2001, surgiu o 5.483 que flexibiliza a CLT. À época, eu estava ainda no quarto mandato de Deputado Federal, mas, em novembro, ao discursar na tribuna, destaquei algumas folhas da Constituição para simbolicamente dizer que lá eles já estavam arrancando a alma e o coração dos direitos dos trabalhadores.

    Quando eu fiz esse gesto lá, quando Deputado, deu um entrevero muito grande e, se não fossem homens... Vocês lembram de um deles aqui, como o meu amigo Jarbas, Deputado na época, um grande orador que foi à tribuna e disse: "Pelo gesto que Paim fez, deslocando uma folha da Constituição, e agora sei que ameaçam que vão processá-lo, podem saber que eu serei o primeiro a estar na tribuna a defendê-lo." Ninguém ousou, a partir dessa fala do grande Deputado, orador e jurista, meu amigo Jarbas, falo pessoalmente o nome dele porque o conheço há muitos anos, não houve aquele avanço.

    Lembro-me de que naquele momento fui provocado, na tribuna, por palavras racistas e discriminatórias. Encaminhei, pela via aérea, uma Constituição em direção àquele que assim me agredia, mas felizmente tudo se resolveu. E foi naquele momento que eu resolvi ser candidato a Senador. Conto tudo isso no livro. E aqui nós derrubamos o projeto que infelizmente feria de morte a nossa CLT e a alma da nossa Constituição.

    Lembro-me de que, na época, Nilson Mourão, então Deputado do PT do Acre, ponderou que não poderíamos enfrentar o debate enquadrado numa ordem hipócrita e injusta, afirmando que a nossa luta é reconhecida pelas causas populares que sempre defendemos, que defendem os pobres, os explorados, os esquecidos, os aposentados e os trabalhadores.

    Em 2003, como Senador da República, conseguimos então, como eu dizia, arquivar o projeto aqui no Senado. Depois vieram novas tentativas de ferir a dignidade do trabalhador por meio de apresentação de projetos da redução da jornada de trabalho com redução de salários, do Simples, de uma forma tal que o Simples seria somente retirar direito dos trabalhadores, e inventaram até um novo Código do Trabalho que também retirava direito dos trabalhadores.

    Hoje, conforme o Diap, existem mais de 80 projetos tramitando no Senado e na Câmara que ameaçam conquistas históricas. Entre eles, podemos destacar o que prevê o negociado acima do legislado. E aí, vejam bem, a lei só não vale mais para o trabalhador, só vai valer para aqueles que têm o poder da força de impor a sua posição em detrimento do que está na própria lei. E eu tenho dito, se a lei não vale para o trabalhador, então não tem que valer para ninguém. Lei é para todos. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) é um direito do trabalhador. Negociaremos acima da lei, mas não rasgar a lei para tirar direitos.

    Tivemos, em todo esse período, tentativas de reforma da previdência. A mais forte e contundente atinge a vida presente e os anos vindouros de brasileiros, por iniciativa do atual Governo, que fere a todos.

    Aqui me lembro de um artigo que escrevi, há um tempo. O cenário se passa no século XIX, quando era a lei do mais forte, uma história sobre homens mercenários, deslealdades e mundos falsos, com o título Os Abutres Têm Fome. Sempre que irrompe uma crise econômica, os governos se utilizam da mesma forma simples, mas desprovida de diálogo, ortodoxa, para não dizer grosseira: fazer a corda arrebentar sempre do lado dos mais fracos.

    Olhe hoje, por exemplo, veja o absurdo a que chegamos: o que dizem os governantes? Se se acabar com a previdência pública, está tudo resolvido no País; se se acabar com a CLT e o direito dos trabalhadores, está tudo resolvido no País. É grotesco. É uma proposta, inclusive, de uma certa ignorância de quem não entende que a seguridade social, em que está a previdência, é uma marca de responsabilidade social, é um instrumento para atender aos mais pobres, aos mais fracos e que a CLT são direitos conquistados, ninguém nos deu de graça. E querem numa canetada acabar com esses direitos.

    É tão ruim o projeto que vem da Câmara – e, no livro, eu comento –, que o próprio relator já listou seis pontos que entende que, em hipótese alguma, poderiam estar nesse projeto e que, se ele não puder, mediante acordo, ver a sua rejeição neste plenário, que pelo menos quem estiver na Presidência da República rejeite.

    Vale registrar que até mesmo os Estados Unidos da América, em plena crise econômica, na década de 1930, implantou uma série de medidas, entre elas, a criação de um enorme programa de ajuda social para os desempregados, o aumento de imposto para os mais ricos, que são 5% somente. Ou seja, o andar de cima foi chamado a contribuir e não tirou do andar de baixo.

    É importantíssimo destacar, Srª Presidenta, Senador Acir Gurgacz, que, nesse abre cancha, a representatividade da classe trabalhadora e dos movimentos sociais e populares no Congresso Nacional perdeu força nos últimos anos, perdeu 50% dos Parlamentares que defendiam efetivamente os trabalhadores. Atualmente, no Senado e na Câmara, grande parte é comandada por grandes empresários. Isso não quer dizer que não haja aqui empresários que tenham responsabilidade social, mas me preocupa quando há esse desequilíbrio. Nós fomos ver a votação da reforma trabalhista na Câmara: dos votos dados, 75% eram empresários – 75%.

    E falo isso com muita tranquilidade, Senador Acir Gurgacz. Conheço, por exemplo, a sua atuação, como conheço outros aqui no plenário. Sempre digo que ser ou não ser empresário não é a questão: ser empresário e ter responsabilidade social. Esses sempre terão o meu carinho, o meu respeito, e tenho dialogado com eles, como dialoguei agora, inclusive com os devedores da previdência na CPI da Previdência, e foi um debate num alto nível. Muito deles me...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... explicaram: "Senador, a nossa dívida aqui, em nenhum momento, foi apropriação indébita." Esta é uma das grandes preocupações minhas: que se retire o dinheiro do trabalhador e não o repasse. A dívida de alguns que estavam lá, da área da educação, eles nos mostravam, foi no momento em que eles perderam o direito de ser considerados uma entidade que efetivamente trabalhava pelo social, que fazia o trabalho beneficente, que atendia milhares de pessoas com bolsa de estudos. A partir desse momento, começou um processo se eles tinham ou não o direito a continuar com a contribuição da parte do empregador. E foi interessante ouvir de todos essa visão.

    Não tenho dúvida alguma...

    O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RO) – Permite-me um aparte, Senador?

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Pois não, Senador Acir.

    Eu peço uma tolerância da Presidenta, para que nós possamos, nessa linha de construção coletiva, apontar caminhos para o nosso País em todos os sentidos.

    O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RO) – Estou aqui, atento às suas colocações, Senador Paim, e, de fato, quando a crise bate à porta, ela causa um desequilíbrio nas famílias, por conta do desemprego, e nas empresas, por conta da falta do consumo. Então, a crise desestabiliza a economia e, quando desestabiliza a economia, pega a todos, empresários pequenos, médios, grandes, e quem sofre é o trabalhador, que é o principal prejudicado infelizmente, porque perde o seu emprego. Então, temos que cuidar de todos, porque não há emprego sem empregador.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Concordo plenamente.

    O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RO) – E não há empregador sem o servidor, o funcionário. Então, é um conjunto de ações que precisa ser levado em conta. Temos que cuidar da economia como um todo, com o objetivo principal de cuidar da maioria da população brasileira, mas, para cuidar da maioria, nós precisamos cuidar de quem gera emprego. Depois eu vou falar um pouco também sobre a questão dos juros. Os juros continuam altos, os juros reais não baixaram, e isso é um dos problemas sérios que nós temos neste momento e causa a falta do consumo. Não está havendo investimento nas empresas, as pessoas também não compram, porque estão com medo de fazer dívidas, e é fato, não é o momento para nenhum tipo de endividamento. Enquanto não houver uma sinalização clara do setor da economia brasileira com relação à queda dos juros, à estabilidade da economia, não haverá consumo e não havendo consumo, nós não vamos ver a retomada do crescimento. Ou seja, a retomada do crescimento é o retorno do emprego para a população brasileira. Eu entendo que a sua colocação é sempre muito ponderada, e exatamente esse é o caminho que nós temos que trilhar. Resumindo tudo isso, vem a corrupção, Senador Paim.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Muito bem lembrado.

    O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RO) – Olha como tem feito falta ao País esse dinheiro que foi desviado. Quando se fala... Eu ouvia... E quem não ouviu as delações dos integrantes da JBS?

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Da JBS.

    O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RO) – Parece que é uma coisa natural, normal. Aquilo aconteceu e passou, nós vamos embora e está tudo bem. Eles alegam que todo o dinheiro que foi doado é propina. É propina, porque recebeu algum benefício. E cadê o dinheiro do benefício?

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Ninguém dá propina de graça, não é?

    O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RO) – É. E cadê o dinheiro do benefício? Isso tem que retornar ao País. Uma empresa ou um grupo econômico que sai de um investimento de R$1 bilhão para R$179 bilhões... Está aí a diferença do benefício que houve. Então, nós precisamos trazer de volta esses benefícios indevidos que foram dados a essa empresa, frutos de corrupção. Algumas pessoas estão dizendo hoje que o crime está compensando. Olha o que aconteceu com o Grupo JBS. Nós não queremos que isso aconteça jamais. Esse sentimento do povo brasileiro é que desencadeia, como consequência, essa insegurança no Brasil inteiro, pois as pessoas estão roubando. "Se roubam lá em cima, eu posso roubar aqui embaixo também." Isso é uma cadeia, é cíclico. Nós temos que achar uma maneira para que tudo isso se estanque e nós possamos ver as pessoas retomando o emprego novamente. Meus cumprimentos a V. Exª.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Muito bem, Senador Acir. Eu concordo plenamente com V. Exª.

    No meu livro, eu falo da corrupção também e digo que doa a quem doer – de outra vez eu falava isso com a Senadora Ana Amélia –, independentemente do partido. São 28 partidos denunciados, e doa a quem doer. Quem entrou na linha da corrupção, e V. Exª lembra que é propina, que vá responder por isso, que responda pelo que fez. Eu tenho sempre o cuidado de não ficar rotulando esse ou aquele partido, porque, às vezes, quem cospe para cima – desculpe pela expressão – isso acaba caindo nas pessoas de todos os partidos. Não estou falando de forma individual. Sei da sua postura, sei da postura da Senadora Ana Amélia e sei da minha. Mas as denúncias que chegam atingem 28 partidos. E eu cito isso aqui. Quem vacilou, seja o partido que for, que vá responder por isso.

    Eu tenho gostado muito do seu candidato a Presidente, Ciro Gomes, e digo de público isso. Ele tem batido muito firme nessa questão dos juros, como V.Exª, que é coerente, também lembrou aqui agora.

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Ele é um cara, um camarada – cara porque é o cara –, capacitado, preparado. Alguns dizem que ele vai além. Mas, às vezes, a indignação faz com que a gente mesmo fale um pouco mais. Mas ele tem tido uma postura muito clara e muito firme em relação, no meu entendimento, ao combate à corrupção, à impunidade, e aponta caminhos.

    Sabe que a primeira vez que eu o ouvi dizer – sou obrigado a dar esse depoimento, porque eu procuro sempre falar a verdade, e isso pode ser uma dedução que vai sair da CPI – que a contribuição para a Previdência devia sair da folha e ir para o faturamento... Ouvi isso do Ciro a primeira vez numa palestra. Guardei aquilo e comecei a trabalhar a respeito. O Governo, quanto optou para sair da folha e ir para o faturamento, cometeu um erro de cálculo de projeção atuarial. Mas se você conseguir construir um número e botar sobre o faturamento e não mais sobre a folha...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Por que qual é o problema do faturamento e da folha? Quem emprega mais paga muito. E um banco, por exemplo, que emprega quase que meia dúzia e lucra bilhões, não paga nada, pois vai pagar sobre a folha, vai pagar para aqueles funcionários que ele tem. Então, esta é uma construção que nós podemos ir fazendo juntos, claro, num grande entendimento: deixar de cobrar 20% sobre a folha e partir para o faturamento. Daí, de fato, quem fatura mais paga mais para a Previdência; quem fatura menos paga menos e pode ser um percentual adequado.

    E mostro – e aqui eu vou na linha de conclusão – que nós estamos na mesma linha, Senador Acir, que é do PDT; PDT que eu homenageava ontem na CPI, falei de João Goulart, falei de Brizola, falei de Getúlio Vargas, todos lembram essa luta que começou lá, com Getúlio, enfim, com o trabalhismo.

    Eu digo aqui o que eu dizer, e V. Exª entrou bem no momento:

Somando-se a isso, temos um aumento do número de saqueadores... 

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) –

... da dignidade da nossa nação: corruptos e corruptores. [Eu aprofundo no livro, aqui eu estou sintetizando]

Não tenho dúvida alguma que só vamos sair deste atoleiro através da junção de todas as nossas forças [aí vai na linha que V. Exª lembrava, de empregados e empregadores que tenham o compromisso, de fato, com o País, com a nossa Pátria e com o social], deixando de lado as diferenças e apostando firmemente na nossa capacidade de articulação e mobilização, através do bom debate [e do bom combate nas diferenças, que são normais entre nós], utilizando as armas do pensamento, do diálogo, do equilíbrio e da proposição [proposta: projeto de nação].

Na madrugada de 1º de maio de 2001, Dia do Trabalhador, estávamos [me lembro] em uma vigília na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, juntamente com a Federação dos Aposentados...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) –

[ali lutávamos pela valorização do salário mínimo] [...].

Lá pelas tantas, alguém me passou um bilhete com um texto do historiador e geógrafo grego Heródoto (420 A.C):

"De todos os espartanos e théspios que combateram com bravura, a maior prova de coragem foi dada pelo espartano Dienekes. Dizem que antes da batalha um nativo da Trácia lhe disse que os arqueiros persas eram tão numerosos que, quando disparavam seus arcos, as massas de flechas bloqueava o sol. Dienekes, no entanto, diante da força do exército persa, simplesmente comentou: 'Ótimo. [...] [Faremos o bom combate], então, à sombra' [das flechas].

    Eu guardei isso; para mim é importante essa frase final. Quer dizer, a gente tem que fazer sempre o bom combate...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... respeitando a opinião de cada um, mas que prevaleça aqueles que efetivamente defendem causas, e não coisas. Aqueles que defendem coisas têm que ser derrotados, porque quem defende coisa está sempre pensando somente no seu interesse particular, e não no de seu povo.

    Concluindo, Senador, antes de finalizar a minha fala de hoje, quero agradecer de coração a todos e a todas que aceitaram o meu convite para participar do livro "O dragão debaixo da cama – Impacto das reformas previdenciária e trabalhista na vida dos brasileiros".

    Está aqui à disposição de todos, e vamos também botar na internet, para que todos possam ter acesso.

    Agradeço a todos essa oportunidade e termino só dizendo na última folha, Srª Presidenta:

Vivemos e esperançamos

Antes de presidir uma reunião para evitar uma guerra...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) –

... na antiga Iugoslávia, o presidente da República Checa, [...], disse a um grupo de jornalistas: "Sou esperançoso. Pois sem esperança não haverá progresso. A esperança é tão importante quanto a vida em si".

É com esse firme sentido de esperança e de vida que todos nós enfrentamos a cada dia o fogo de muitos e muitos dragões.

Temos agora um embate dos mais difíceis [...]

    Eu sei, eu sei; eu sei que será difícil. Eu tenho quase que dormido aqui dentro; de segunda a sexta, como é hoje. Estamos aqui preocupados com as reformas da previdência e trabalhista. Sei que será um debate duro na próxima terça-feira na Comissão de Economia. Vou ler o meu voto em separado.

    Sei que teremos um debate duro na questão da reforma da Previdência, mas podem todos saber – estou com 67 anos, quase 70, e digo isso com satisfação; não tenho problema algum com a idade – farei o combate como se fosse um menino de 18 anos, porque entendo que a causa é justa. Farei o combate no campo das ideias, no campo das causas. Cada um argumente da melhor forma.

    Acho que é possível sairmos desse atoleiro, sem trazer prejuízos. E a CPI mostra isto: é uma farsa o déficit da Previdência para os aposentados e para os trabalhadores, apontando aí por que sou contra a reforma da previdência e a reforma trabalhista.

    Digo, Srª Presidenta, que nunca os direitos sociais e as conquistas do nosso povo foram alvo de tantas ações ofensivas. Nunca! Estou aqui há 32 anos. Poderia lembrar, inclusive, por exemplo, no enfrentamento que fizemos à ditadura. Nem na época da ditadura, atacaram tanto a Previdência e a CLT.

    E assim não fez também – poderia começar com o Sarney; poderia passar pelo Collor; Fernando Henrique; Itamar; Lula; Dilma – ninguém! Ninguém atacou tanto a nossa previdência e o direito dos trabalhadores. E o pior é que eu sei que mais outras virão. A luta está começando, mas estaremos talvez, como disse aqui, na sombra das flechas, fazendo o bom combate.

    O sol nascente que buscamos é de uma Nação verdadeira, não uma para poucos, como alguns querem, mas uma Nação, onde as quimeras, os cantares e as pegadas sutis e leves das nossas crianças e jovens sejam o primeiro artigo da nossa Constituição.

    Assim eu creio.

    Senadora Ana Amélia, fiz um resumo aqui do meu livro. Por isso, é claro, é um misto de um pouco de poesia e da visão que tenho naturalmente da situação em que nos encontramos.

    Agora, se V. Exª quiser usar da tribuna, presido para V. Exª e também para o Senador Acir Gurgacz.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2017 - Página 6