Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações acerca do crescimento de tendências não neoliberais na Europa.

Crítica à politica econômica de austeridade adotada pelo governo Michel Temer e falta de crédito para a retomada da produção.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Considerações acerca do crescimento de tendências não neoliberais na Europa.
ECONOMIA:
  • Crítica à politica econômica de austeridade adotada pelo governo Michel Temer e falta de crédito para a retomada da produção.
Publicação
Publicação no DSF de 02/06/2017 - Página 37
Assuntos
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • COMENTARIO, MODELO, SISTEMA, ECONOMIA, PAIS ESTRANGEIRO, INGLATERRA, ATIVIDADE POLITICA, AUTORIA, PARTIDO POLITICO.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REFERENCIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, MOTIVO, FALTA, RECURSOS, CREDIARIO, EMPRESTIMO, OBJETIVO, CRESCIMENTO, ECONOMIA NACIONAL.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Domingo, Senador Paulo Paim, teremos eleições na Grã-Bretanha, as primeiras eleições depois do divórcio com a União Europeia, depois do Brexit.

    Até algumas semanas atrás, dava-se como barata a vitória dos conservadores, da Primeira-Ministra Theresa May, por larga vantagem de votos, mas, nos últimos dias, as pesquisas identificam uma rápida subida nas intenções de voto para o partido trabalhista do líder Jeremy Corbyn. Dizem que os trabalhistas talvez não vençam, contudo, terão uma representação no Parlamento bem maior do que as mais otimistas projeções anteriores.

    Por quê, Senador Dário? Por que a mudança, a ponto de os conservadores reorientarem o discurso, para evitar a sangria de votos? Simples. Os trabalhistas, como disse um jornal conservador, agitaram a bandeira vermelha, isto é, assumiram o compromisso de reestatizar as ferrovias e as empresas de energia; aumentar fortemente os orçamentos da saúde e educação; cancelar a cobrança de taxas para as universidades, já que, sob o Partido Conservador, o ensino superior passou a ser pago; e, heresia das heresias, prometeram ainda aumentar impostos para quem ganha o correspondente a mais de R$25 mil ao mês. A taxação sobre os mais ricos, segundo a proposta trabalhista na Inglaterra, vai ter números escandinavos, ou seja, Senador Alvaro Dias, até 50% da renda. Com isso, Jeremy Corbyn diz que pode aumentar os gastos públicos – não contê-los, mas aumentá-los – em valores correspondentes a R$200 bilhões!

    Ao lançar esse programa vermelho, Corbyn declarou: "Nosso país só irá trabalhar para a maioria e não para a minoria, se os muitos e não os poucos tiverem oportunidades. O nosso plano de governo é para que todo mundo tenha uma chance justa de se dar bem na vida, porque o nosso país só terá sucesso quando todos tiverem sucesso''.

    Fico imaginando aqui, Senador Paim, o horror dos 492 comentaristas de economia da GloboNews e da CBN e de todos os economistas de mercado, aboletados no Banco Central, no Ministério da Fazenda, na Fiesp, na CNI e na mídia monopolista ao lerem o programa de governo de Jeremy Corbyn.

    Vejam só a ousadia do rapaz! Ele quer aumentar os investimentos públicos. Ele quer estatizar empresas de transporte e de energia, cujas privatizações foram prejudiciais aos consumidores. Ele quer mais dinheiro para educação e saúde. Ele quer a volta do ensino gratuito nas universidades. Ele quer aumentar impostos sobre a renda dos mais ricos. Ele quer aumentar os gastos públicos anuais em R$200 bilhões ou o equivalente a isso. Que perdulário, escandalizar-se-iam o Temer e o Meirelles!

    Na semana passada, copresidi a reunião da Assembleia Parlamentar Europa América Latina (Eurolat), em Florença, na Itália, e vi reproduzido esse mesmo horror dos conservadores diante das propostas de políticas econômicas que fugissem da idiotia neoliberal, cuja máxima, lá e aqui, é a mesma: o mundo, além de ser para poucos, já tem dono, dizem eles. Sorry, periferia.

    A maluquice, a esquizofrenia neoliberal é de tal ordem que, em contraposição ao meu pronunciamento na reunião da Eurolat, dizendo que América Latina e Europa deveriam abandonar as cruéis e fracassadas políticas de austeridade, viu-se o Presidente do Parlamento Europeu – não do Parlamento Europeu Latino-Americano, mas o Presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani – reivindicando suserania sobre o nosso continente.

    Assim como Mélenchon, na França, mês atrás, Pablo Iglesias, na Espanha, ano passado, não acredito pessoalmente que Jeremy Corbyn seja eleito. De todo modo, Senador Paim, é um alento ver, no centro promotor da desgraça neoliberal, o avanço de uma proposta antiausteridade, proposta que recupera o papel insubstituível do Estado, quer alavancando os investimentos, quer incrementando as políticas públicas de educação, saúde e transportes. Como é ainda um alento ver o Partido Trabalhista inglês de volta à tradição social-democrata, depois do desastre Tony Blair e Gordon Brown.

    Mas parece que esses ares não refrescam a cabeça dura e insensível de nossos liberais, cujo dogmatismo torna-se cada dia mais assustador.

    Vejam: ainda na segunda-feira, dia 29, leio na coluna de minha amiga Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, que diretores do Banco Central brasileiro manifestam temor de que medidas anunciadas pelo novo Presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, pudessem subverter as políticas de austeridade fiscal adotadas pelo Governo Temer.

    Destrinchando a notícia, Senador Paulo Paim: logo que empossado, Rabello de Castro disse, em entrevista ao Estadão, que a sua principal missão seria a de ''reanimar o setor produtivo brasileiro", voltando a financiar as empresas nacionais, já que sua antecessora, Maria Silvia, cimentara as torneiras do banco.

    Foi um verdadeiro deus nos acuda.

    "Como liberar o crédito, se o Governo está fazendo de tudo para equilibrar as contas?", gritaram os diretores do Banco Central; descabelou­se Meirelles – como se isso fosse possível para o nosso careca Ministro da Fazenda; apavoraram-se os economistas de mercado e os 492 analistas econômicos da GloboNews e da CBN.

    Enfim, a nossa Pátria amada duplamente azarada.

    De um lado, o fundamentalismo judiciário, que, ou é provocado pelo rigorismo sem causa, pelo fanatismo que queima na pira santa não apenas os pecadores, mas também todos os seus bens, já que contaminados pelo pecado, ou o faz de caso pensado, a serviço do Departamento de Estado norte-americano, como já suspeitei na tal delação premiada do Joesley Batista, da JBS. Se isso fosse verdade, não seriam promotores ou juízes, e, sim, clássicos quinta-colunas. É uma coisa a ser examinada no decurso da História, com o passar do tempo.

    Já disse no passado o Collor, antes de ser cassado: "O tempo é o senhor da razão".

    De outra parte, os fanáticos do capitalismo financeiro, que chegam à demência de impedir qualquer política de crédito à produção, para não afetar políticas de austeridade. Pois é: estamos bem arranjados!

    E o Líder do Governo nesta Casa quer ainda que a Bancada do PMDB se solidarize com o Presidente Temer. O Presidente Temer, no meu entender, tem direito à ampla defesa e ao devido processo legal, mas, de minha parte, solidariedade? Solidariedade à entrega do País, à destruição dos direitos sociais, Senador Paim, caros Senadores e Senadoras presentes no plenário? Estou fora! Incluam-me fora disso.

    Obrigado pelo tempo, Presidente. E acho que, como combinamos, reassumo a Presidência, a fim de que V. Exª possa se manifestar no plenário.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/06/2017 - Página 37