Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do jornalista Jorge Bastos Moreno.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do jornalista Jorge Bastos Moreno.
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2017 - Página 20
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, JORNALISTA, O GLOBO, ENCAMINHAMENTO, VOTO DE PESAR, APRESENTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, INFLUENCIA, POLITICA, PAIS, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, INSERÇÃO, ATA, HOMENAGEM.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senadora Presidente desta sessão, Vanessa Grazziotin, queria cumprimentar todos que nos acompanham pela Rádio e TV Senado.

    Eu venho à tribuna, nesta quinta-feira, desculpa, nesta quarta-feira, quando temos sessão pela manhã – o que não é normal – tendo em vista o feriado, e eu não posso subir à tribuna sem trazer um voto de pesar, que faço agora, neste momento – e apresento à Mesa Diretora do Senado –, pela morte do jornalista Jorge Bastos Moreno, que era uma das figuras mais brilhantes do jornalismo brasileiro.

    Tive o privilégio de conhecê-lo há mais de 20 anos, quando ainda era Prefeito de Rio Branco. E, depois, quando estava para disputar o governo, fui apresentado a ele, que me acolheu muito bem aqui, em Brasília. De certa forma, junto com outras jornalistas, como Tereza Cruvinel, Cristiana Lôbo, Eliane Cantanhêde, e com outros com que tinha um círculo de amizade aqui, ele me apresentou um pouco para o jornalismo nacional.

    Hoje cedo, usando também as redes sociais, prestei minha solidariedade e meu voto de pesar e faço isso aqui, da tribuna do Senado Federal. Estou apresentando um voto de pesar, solidarizando-me com todo o jornalismo brasileiro, que hoje, de fato, está de luto.

    Moreno era instigante, era um jornalista de bastidores e da política como poucos na história. Ganhou prêmios, como o Prêmio Esso.

    Ainda há pouco, ouvindo a CBN, rádio onde ele trabalhava também com um programa às sextas-feiras, eu ouvi a voz do Moreno – eles estavam fazendo uma homenagem a ele. E ele contava alguns episódios que eu trago à tribuna do Senado. Falava que ele era um jornalista que trabalhava para o PMDB – ele sempre teve uma relação muito próxima com Ulysses Guimarães e sua mulher; isso era parte da história dele. Ele se orgulhava muito de ter sido uma das pessoas mais próximas de Ulysses Guimarães, especialmente na última fase da vida de Ulysses Guimarães.

    Ele contava que tinha largado a assessoria do PMDB com o intuito de tentar cobrir aquela transição da ditadura, que o Brasil começava a discutir, como está passando agora em Os Dias Eram Assim, da Rede Globo. Ele contava, Presidente, por que saiu; ele falou: "Olha, vou deixar a assessoria do PMDB e vou fazer uma matéria com os possíveis presidenciáveis." E foi, por acaso, fazer uma primeira entrevista com o General Figueiredo para ver o que ele achava dos futuros presidenciáveis. Disse que o Figueiredo falou assim para ele: "Mas que presidenciáveis? Eu sou o próximo Presidente da República; eu serei o Presidente da República." E aí a série que ele queria fazer de entrevistas foi por terra, e, imediatamente, ele tinha a informação que todos queriam: que o regime militar já tinha, no General Figueiredo, o seu escolhido para ser o próximo Presidente.

    Ele também contou outros fatos.

    O próprio Merval contou uma passagem de quando Moreno ganhou o Prêmio Esso, que é um prêmio muito prestigiado de jornalismo. Eu ouvia hoje também o Merval contando isto em uma das passagens na CBN: ele, sem ser economista, sem entender nada de economia, conseguiu fazer uma entrevista com Pedro Malan e, numa conversa, descobriu que ia haver uma desvalorização tremenda do real e a queda do Presidente do Banco Central Gustavo Franco. E, olha, sem ser da área econômica, mas por conta de estar sempre muito presente nos bastidores da República, ele conseguiu fazer uma matéria sobre a economia brasileira e, sem ser economista, deu um furo em todos os articulistas da Economia e ganhou um prêmio por conta dessa reportagem.

    Ele, desde 10 de março, comandava o programa Moreno no Rádio, na CBN, às sextas-feiras. Era também âncora do Preto no Branco, do Canal Brasil, e escreveu livros. E eu registro aqui um sobre a ascensão e queda da Presidente Dilma, Ascensão e Queda de Dilma Rousseff; foi autor também de A História de Mora – A Saga de Ulysses Guimarães, lançado em 2013.

    E, quando o Moreno morava aqui, em Brasília – depois ficamos mais distantes, pois ele foi para o Rio de Janeiro, mas, mesmo no Rio de Janeiro, eu me encontrei algumas vezes com ele –, sua casa era um ponto de encontro dos mais diferentes pensamentos do jornalismo brasileiro, porque ele conseguia reunir jornalistas de vários veículos de comunicação e também das mais diferentes vertentes da política brasileira. Isso era algo fundamental, que lamentavelmente perdemos hoje.

    Ontem, o grande debate que nós tivemos aqui – e eu fui um dos que prestei solidariedade – foi sobre tratamento com a jornalista Miriam Leitão num voo, com controvérsias, com posições de um lado e de outro, mas com um fato concreto: a intolerância, esse ambiente de ódio e de desrespeito, que lamentavelmente toma conta do Brasil.

    O Moreno conseguia fazer, anos atrás, aqui, em Brasília, o oposto. Ali, os mais radicais de esquerda e os mais radicais de direita se encontravam, conversavam, divergiam, mas também sorriam. Eu sinto falta disso.

    Eu penso que talvez o jeito de o Jorge Bastos Moreno fazer jornalismo, mais do que isso, conviver... Porque o jornalismo cabe ao jornalista – escrever, fazer sua matéria, no seu juízo –; é muito importante para a democracia a liberdade de imprensa, o jornalismo feito para atender os interesses da sociedade, de quem lê, mas essencialmente da notícia. Isso nós não temos mais, de certa forma; mas uma coisa essencial para que se tenha esse bom jornalismo é a boa convivência, é o respeito como ser humano e isso nós perdemos, Presidente, Senadora Vanessa.

    A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Senador Jorge, V. Exª me permite um aparte, Senador Jorge?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Sem dúvida.

    A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Primeiro, eu vejo a forma carinhosa como V. Exª ocupa a tribuna para falar de Jorge Bastos Moreno, o Moreno conhecido de todos nós. E é um momento tão difícil, tão triste, porque ele se vai ainda tão jovem, 63 anos de idade, mas ele era uma pessoa, como diz V. Exª, tão alegre, que amava tanto a vida, Senador Jorge Viana, que, mesmo nessa situação, nós estamos aqui falando sobre Moreno com muita saudade e levantando apenas os seus méritos.

    Eu conheci Jorge Moreno. V. Exª acabou de dizer como o conheceu; e eu o conheci através da Deputada Manuela d'Ávila, uma grande amiga dele. E não foi uma, nem duas, mas inúmeras vezes participei dos jantares na casa dele.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – E olha que ele pegava no pé da Manuela como a musa...

    A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Exatamente.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Ele tinha um jeito todo carinhoso de tratar as mulheres...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ... sejam jornalistas ou políticas. Chamava-as de "as meninas". Até a Deputada Perpétua hoje fez um Twitter nesse sentido. A Manuela, então, ele a tratava com todo o carinho. Mas estava sempre ali, na sua coluna, no sábado, cobrando de cada um de nós. Então, havia horas em que todo mundo queria fugir um pouco daquele humor ferino do Moreno, porque, às vezes, também, ele fazia com que tivéssemos algumas saias justas. Mas isso era feito de uma maneira não agressiva, feito de uma maneira...

    A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – E os jantares que ele fazia reuniam... Eu lembro, pois o Lula era o Presidente, que ele juntava todos, a situação, a oposição. E lá, de uma forma leve, tranquila, madura, conversávamos sobre política, sobre a situação do País. Como V. Exª diz, o jornalista escreve, mas escreve baseado em informações. E ele sempre foi uma pessoa muito correta na busca e na forma das informações, além de ser um ser humano fenomenal.

    Então, eu sou muito grata por ter tido a oportunidade, como V. Exª, de conviver com Jorge Moreno. Estive com ele no Rio algumas vezes e muitas aqui, em Brasília, quando aqui ele vivia por mais tempo. Então, faço das suas palavras, se V. Exª me permite também, as minhas palavras de saudade a Jorge Moreno.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Queria agradecer a V. Exª pelas palavras e dizer que eu trago esse voto de pesar por conta de uma trajetória, de uma história de vida de quase 40 anos de jornalismo.

    Ele nasceu em Cuiabá. Adorava falar também da sua Cuiabá, do seu Mato Grosso. Eu tive o privilégio de participar de um evento e de me encontrar com ele, jantar com ele em Cuiabá. E foi muito diferente. Também me encontrei com ele algumas vezes no Rio de Janeiro, porque ele estava morando há mais de dez anos lá. Tinha uma coluna em O Globo. Trabalhava em O Globo há mais de 35 anos.

    Então, aqui eu quero prestar a minha solidariedade a todos que trabalham no jornal O Globo, a todos que trabalham na CBN, a todos que fazem jornalismo no Brasil, porque, de fato, com a morte do Jorge Bastos Moreno, aos 63 anos, o jornalismo brasileiro está de luto.

    Eu lamento, porque perdemos um grande jornalista, que fez história, fez memória desses 40 anos de vida no nosso País, mas também porque eu perdi uma pessoa muito especial e querida para mim, que me abriu as portas de Brasília, do seu jeito, da sua maneira, para que eu pudesse também conhecer seus colegas e ter o privilégio de sua amizade.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) – Senador Jorge Viana, V. Exª me concede um aparte?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Eu ouço V. Exª, Senador Valadares, com muita satisfação.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) – Eu quero me associar às palavras de V. Exª, aos pêsames de todo o Brasil com a morte, que considero prematura, do jornalista Jorge Bastos Moreno...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Aos 63 anos! Estava novo ainda.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) – ... aos 63 anos, deixando um grande vazio na imprensa brasileira. Tratava-se de um jornalista bem informado, arguto, inteligente, crítico contumaz, mas sempre com uma ponta de ironia, que atraia milhares e milhares de eleitores à coluna, que ele escrevia no jornal O Globo, e também ao programa que ele tinha no rádio semanalmente. É uma pena que um jornalista como esse, que escrevia com tanta criatividade, que trazia o senso de humor mesmo nos momentos mais difíceis que o Brasil atravessava, desapareça do nosso meio, deixando essa falta entre os colunistas, entre aqueles que, como nós, políticos, o admiravam. Portanto, V. Exª pratica um ato de justiça ao ocupar a tribuna do Senado Federal para fazer a homenagem a um jornalista engrandecido pelo papel que exerceu na imprensa brasileira, um grande papel.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Muito obrigado.

    Eu queria só concluir dizendo que trago à tribuna um voto de pesar pela morte do jornalista Jorge Bastos Moreno, neste 14 de junho de 2017, aos 63 anos, que era colunista do jornal O Globo e apresentador da rádio CBN.

    Em homenagem à trajetória de vida, em homenagem à vida profissional dedicada ao jornalismo, requeiro, nos termos do art. 218 do Regimento Interno do Senado Federal, que seja consignado nos Anais da Casa voto de pesar e, nos termos do art. 221, inciso I, do Regimento Interno do Senado, sejam apresentadas condolências à família, a seus colegas e aos locais de trabalho dele. Jorge Bastos Moreno, por tudo que foi e fez pelo jornalismo brasileiro, merece as mais elevadas homenagens desta Casa Legislativa.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2017 - Página 20