Discurso durante a 90ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a manifestação pró-eleições diretas ocorrida em Belo Horizonte, na última sexta-feira.

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Considerações sobre a manifestação pró-eleições diretas ocorrida em Belo Horizonte, na última sexta-feira.
Aparteantes
Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 20/06/2017 - Página 39
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • COMENTARIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, LOCALIDADE, MUNICIPIO, BELO HORIZONTE (MG), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), DEFESA, ELEIÇÃO DIRETA, SOLUÇÃO, CRISE, POLITICA, REGISTRO, HOMENAGEM, DEPUTADO ESTADUAL, VINCULAÇÃO, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), MORTE, MOTIVO, HOMICIDIO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, LUTA, DEMOCRACIA.

    O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srs. Senadores, em especial o Senador Lindbergh, agradeço por me ceder e me dar a preferência, em função de que eu estou com uma agenda muito voltada para reuniões com grupos que trabalham por eleições diretas.

    Eu queria fazer o registro, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores, sobre a grande manifestação de Belo Horizonte, ocorrida na sexta-feira, que reuniu milhares de pessoas. Não tem como contar quantas pessoas foram, naquele momento, para um vocal único: fora Temer e diretas já.

    É impressionante. A Praça da Estação, que é uma praça enorme, estava tomada, principalmente de jovens, mas também de muitos populares, e ali já não havia bandeiras hegemônicas. As bandeiras eram poucas e de todas as cores, em um sinal de que o movimento pelas diretas já começa a ganhar adesão popular.

    Estavam os jovens que participavam do 55º Congresso da UNE, em que eu tive a oportunidade de participar de uma mesa redonda, e em prestei uma homenagem a um herói do povo brasileiro, o Deputado Paulo Fonteles, que foi assassinado de uma forma covarde, em 1987. Fez 30 anos, dia 11 de junho, de seu assassinato. Ele foi um dos recriadores da UNE na legalidade. Eu tive a oportunidade de ler uma carta que ele escreveu para a mãe, em 1985, quando a UNE voltou a ser legal, pela assinatura do então Presidente José Sarney. Ele escreve essa carta relembrando a história de luta, relembrando os mortos que tombaram nesse processo, os presos, os torturados, e conversando com sua mãe. E ele mesmo termina assassinado, pouco tempo depois. Paulo Fonteles realmente é um quadro da luta política brasileira, dos mais importantes, e merece todo o nosso reconhecimento.

    A luta pelas diretas começa a ganhar corpo e, principalmente, a simpatia popular. É impressionante como as pessoas são favoráveis a uma decisão de que elas participem. Elas não querem mais esses acordos, as conciliações de cúpula. O que elas querem é uma conciliação com a sociedade, com o povo, para resolver a crise política.

    E aqui nós tivemos manifestações de alguns quadros da política brasileira, que são muito importantes, até porque a luta pelas diretas é uma luta ampla, e nós queremos unificar todos os brasileiros e brasileiras que queiram ampliar a democracia. A luta pelas diretas é para ampliar a democracia, para respeitar a decisão e o voto popular, que foram tão desrespeitados nesses últimos tempos em que a representação política entrou em crise e perdeu a legitimidade para conduzir saídas para o nosso País. Portanto, é o choque de democracia de que nós precisamos, e esse choque de democracia pode ser dado através de eleições diretas.

    Estava presente... Ciro Gomes subiu no palanque. Uma outra figura importante na política brasileira, que também já se manifestou favoravelmente, foi Fernando Henrique Cardoso. E assim nós estamos avançando nesse desejo, que é comum a milhões de brasileiros e que tem que ser bem interpretado pelo Parlamento. O Parlamento tem que tirar a cera do ouvido, ouvir a voz rouca das ruas e decidir finalmente por respeitar a vontade do povo brasileiro e reconhecer que não tem condições para resolver a crise política.

    Portanto,...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Eu queria...

    O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – ... as eleições diretas são a única alternativa para resolver a crise política no nosso País.

    Era isso, Sr. Presidente. Muito obrigado! Obrigado, Senador Lindbergh.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) – Senador Capiberibe, rapidamente, só para cumprimentar V. Exª e dizer que eu fui presidente da UNE. Geralmente vou a todos os congressos da UNE. Não pude ir a esse, mas fiquei assistindo a distância ao belíssimo ato, em Belo Horizonte, pelas eleições diretas. Eu quero chamar atenção para o vosso papel aqui no Brasil, não só no Parlamento, articulando essa frente suprapartidária. Sinceramente, Senador Capiberibe, essa é uma hora em que a gente tem que pensar primeiro no povo brasileiro. O País não aguenta até 2018, o final de 2018. As pessoas não aguentam, o desemprego não para de crescer. Esse Governo não tem mais autoridade política alguma. Essa semana foi a entrevista lá do Joesley à revista Época. Mas há delações do Rodrigo Rocha Loures, do Funaro, dizem que até do Eduardo Cunha. Para onde a gente vai? E não é o Congresso Nacional, que vai eleger um Presidente de forma indireta, que vai resolver o problema.

    Não teria legitimidade, não teria força para tirar o País da crise. Então, o apelo que eu faço aqui é que, neste momento, a gente pense menos nos partidos, pense no Brasil e na necessidade de construção de uma saída política. Nesse sentido, apesar da confusão e do papel... Eu acho sinceramente, pela sua história, que o papel do PSDB em ficar nesse Governo, em estar participando desse Governo, em ter patrocinado o golpe lá atrás é um papel terrível para a história de qualquer partido que se diz democrático. Agora, saiu uma nota do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Eu espero que isso repercuta na Bancada, não só a bandeira do "fora, Temer", mas a bandeira das diretas. A nota do Fernando Henrique Cardoso é muito clara: diz ele que só com uma eleição direta você teria legitimidade de um Presidente da República para tirar o País da crise. Eu acho que isso é importante. Eu espero que essa posição do Fernando Henrique Cardoso repercuta aqui dentro. Eu acho importante construir um grande movimento amplo porque eu, sinceramente, Senador Capiberibe, acho que ninguém vai segurar as diretas. Sabe por quê? Porque essa crise não para. Essa crise vai ter os próximos capítulos. Eu acho que esse movimento está crescendo. Nós já tivemos grandes atos no Rio de Janeiro, em São Paulo, depois Porto Alegre e Salvador, agora em Belo Horizonte. Eu sei que o nosso Governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, também vai organizar um outro na minha Paraíba, em João Pessoa. Mas eu acho que ninguém vai conseguir segurar esse movimento, porque nós vamos chegar a um grau de aprofundamento da crise tão grande, que vai se impor essa realidade, de que só um Presidente eleito vai ter força de tirar o País dessa crise. Muito obrigado.

    O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – É verdade. Disso não tenho a menor dúvida. A bandeira das diretas é uma bandeira ampla, amplíssima, porque é uma bandeira da democracia. E é com a democracia que nós temos compromisso aqui nesta Casa. Nós fomos eleitos pelo voto do povo.

    No caso do impedimento do Presidente Temer, nesse final de semana houve algo chocante: você ver o Presidente acusando um empresário de ser um notável bandido e o empresário acusando o Presidente de ser o chefe da quadrilha. Aonde nós chegamos? Isso não pode continuar. E não é uma eleição indireta, no caso de impedimento do Presidente, que vai resolver a crise. Cadê a credibilidade deste Parlamento, onde 70% dos eleitos, dos Parlamentares desta Legislatura foram financiados por apenas dez grupos empresariais? Portanto, não têm legitimidade para resolver a crise.

    Uma eleição indireta vai fazer com que a crise continue. É preciso que caia a ficha definitivamente do Parlamento, que não tem outra alternativa. Quando figuras como Fernando Henrique, figuras importantes da história do País, reconhecem que não há outra alternativa que eleições diretas, nós temos que dar ouvido. E mais: dar ouvido à voz do povo, porque é o povo que está sofrendo as dificuldades do presente. São 14 milhões de desempregados, milhares de empresas falidas, e aqui o Parlamento dizendo que vai fazer uma eleição indireta para substituir um Presidente, que, pela primeira vez na história do Brasil, está sendo acusado de crime comum no exercício do mandato. Isso é extremamente grave. Nós temos que dar ouvidos, sim, e mais do que dar ouvido, dar respostas.

    Eu queria, por último, destacar o papel dos artistas mineiros. Olhe, eles compareceram em massa, eles ocuparam o palanque e cantaram com alegria, cantaram com entusiasmo, com emoção, clamando por diretas, por mais democracia. Eu tive a felicidade de conhecer uma cantora, compositora que nasceu lá, no Amapá, Fernanda Takai. Tive a oportunidade de conhecê-la e fiquei muito satisfeito, porque é uma pessoa muito doce, e também eu sou muito fã dela, assim como muita gente na minha família gosta muito da voz suave dela e das suas composições. Mas os artistas mineiros deram um show à parte, de participação, de ativismo político e, sobretudo, defenderam a bandeira das diretas.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/2017 - Página 39