Pela Liderança durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da participação em ato pela convocação de eleições diretas, no Farol da Barra, em Salvador-BA.

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Registro da participação em ato pela convocação de eleições diretas, no Farol da Barra, em Salvador-BA.
Publicação
Publicação no DSF de 14/06/2017 - Página 39
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, LOCAL, FAROL, BARRA, SALVADOR (BA), ESTADO DA BAHIA (BA), OBJETIVO, REIVINDICAÇÃO, CONVOCAÇÃO, ELEIÇÃO DIRETA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, INSTRUMENTO, SOLUÇÃO, CRISE, MOMENTO POLITICO, ANALISE, EMENDA, DANTE DE OLIVEIRA, APREENSÃO, INFLUENCIA, ABUSO, PODER ECONOMICO, ELEIÇÃO, MEMBROS, CONGRESSO NACIONAL.

    O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Srª Presidente, Srs. Senadores e Senadoras, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, quero fazer um registro aqui, com entusiasmo e com alegria.

    No domingo, participei do ato pelas diretas, no Farol da Barra, em Salvador.

    Havia uma multidão. Os números são díspares. Uns diziam que havia 50 mil, outros, 70 mil, 80 mil, 120 mil. A verdade é que o Farol da Barra estava tomado. Havia um mar de gente nesse ato pela democracia.

    Eu voltei com a convicção de que o povo brasileiro e o povo baiano, em especial... A partir daquele momento, fiquei absolutamente convencido de que o povo não vai abrir mão da democracia. O povo brasileiro quer mais democracia, porque a democracia fez um bem enorme a este País.

    O Brasil da democracia é infinitamente melhor do que antes. O Brasil da Constituição de 1988 é um País cujo Estado estendeu seus braços para o conjunto da sociedade brasileira. A rede de proteção social criada pela Constituição de 1988 chegou aos nossos dias e amparou todos os brasileiros – essa é a grande verdade. E essa rede de proteção, infelizmente, está sendo desmontada pelas contrarreformas do Governo Temer.

    Mas esse ato em Salvador me deixou entusiasmado, pela participação popular e também pela grande contribuição dos artistas baianos. Foi um desfile de talentos e um desfile de beleza. Começou às 14h e terminou às 20h, e o povo não arredou o pé – uma grande manifestação de democracia, como, há tempo, eu não via.

    Eu vejo isso como uma possibilidade de ampliarmos a democracia e sairmos dessa polarização sem sentido de grupos que se digladiam simplesmente pelo poder, e não para oferecer o melhor em políticas públicas para a sociedade.

    Nós temos que dobrar essa página da intolerância e eu venho repetindo que só temos um caminho para dobrar essa página da intolerância: é dando voz ao povo, é promovendo o povo como juiz dessa disputa insana, através de uma eleição direta, através de eleições diretas.

    Não é a primeira vez que isso acontece no nosso País e hoje a necessidade é enorme de devolver a decisão à sociedade, porque a representação política está extremamente desacreditada. Há um fosso entre o representante e o representado. A sociedade já não se vê representada, e é ela que escolhe.

    Mas sabem por que aconteceu, sabem por que a sociedade escolhe e logo em seguida desacredita na pessoa ou no agente político que ela mesma escolheu? Pela contaminação do poder econômico nas eleições. Aqui, diariamente... Ainda há pouco, um dos oradores que me antecedeu, o Senador Lasier, indicou um dos responsáveis pelo financiamento de 1,8 mil políticos em todo o Brasil, e se dizia que a JBS – a Friboi, não era nem a JBS, era a Friboi – tinha aqui, no Congresso Nacional, na Câmara Federal, 170 Deputados, mas é muito mais do que isso.

    Setenta por cento da representação no Congresso Nacional foram financiados por apenas dez grandes empresas. Setenta por cento dos representantes aqui foram financiados por dez grandes empresas. Portanto, 70% da representação Parlamentar responde a essas grandes empresas. É por isso que a gente vê coisas absurdas acontecendo aqui, no Senado Federal.

    Semana passada, na Comissão de Assuntos Econômicos, todos criticaram a reforma trabalhista, porque a reforma trabalhista precariza as relações de trabalho e vai provocar mais desemprego e uma queda na renda do trabalhador. Isso está óbvio e todos criticaram, inclusive o Relator da proposta, mas, na hora de votar, 14 votos a favor. Aprovado. Aí se explica a influência do poder econômico na representação política.

    Nós precisamos sair desse impasse. O Congresso não tem condições de nos indicar uma saída, um caminho. O Presidente da República virou o suspeito número um da República, está sendo investigado, e possivelmente denunciado por esses dias. Como alguém já disse aqui, vai ser a primeira vez que alguém vai ser denunciado por crime comum no exercício do mandato. É isso que pode acontecer e que deverá acontecer nos próximos dias com o Presidente Michel Temer.

    O ato da Bahia é fundamental em vários aspectos: primeiro, pela grande manifestação popular; segundo, pela paz, pela tranquilidade. Não tivemos um momento sequer de estranhamento entre aquela multidão que ali estava e a polícia, que estava passeando – literalmente passeando – em meio aos manifestantes, completamente diferente da última manifestação em Brasília, em que infiltrados encapuzados provocaram, e a Polícia agiu indiscriminadamente, atingindo todos os participantes.

    Em Salvador, na Bahia, não houve absolutamente nenhuma manifestação de violência, pelo menos de que eu tenha conhecimento, muito menos no ato das mulheres em São Paulo e no ato em Porto Alegre. Não tenho notícia de que tenha havido qualquer manifestação mais agressiva. Isso significa que o povo brasileiro é um povo ordeiro, quer a paz, quer a democracia. E nós temos que tirar a cera do ouvido; este Congresso precisa tirar a cera do ouvido e ouvir a voz rouca das ruas.

    Aqui falo como falei lá no ato do Farol da Barra, em Salvador. Fiz um apelo à multidão que ali estava e faço um apelo a todos aqueles que estão nos ouvindo, que estão no trânsito, que estão em suas casas assistindo à TV Senado, ouvindo a Rádio Senado, para que todos se mobilizem para organizar os comitês pelas diretas. Não há dúvida, pois este Congresso, com 70% dos seus representantes eleitos com financiamentos de dez grandes empresas, não tem condição de acender a luz no final do túnel da crise política, que já vai para o terceiro ano. Portanto, é necessário que nos mobilizemos, que os comitês pelas diretas sejam organizados nas universidades brasileiras.

    Aliás, ontem, na UnB (Universidade de Brasília), foi criado o primeiro comitê pelas diretas. É necessário que os estudantes do Acre, do Rio Grande do Sul, do Rio Grande do Norte, de Goiás, de todo o Brasil, criem os seus comitês por sala de aula, criem os seus comitês por faculdade, por universidades. É necessário que criemos os comitês pelas diretas nos nossos locais de trabalho, como nós aqui no Senado, no Congresso Nacional, na quarta-feira passada, criamos a Frente Parlamentar Suprapartidária pelas Diretas. E nós estamos trabalhando para que isso aconteça nas assembleias legislativas, na Câmara Distrital do DF, nas câmaras municipais. Que se espalhem pelo Brasil os comitês pelas diretas, nos locais de trabalho, nos locais de estudo, nos bairros, nas ruas.

    É necessária uma ampla mobilização, porque nós não podemos prescindir, não podemos prescindir da democracia. A democracia é fundamental, e nós já vimos que ela é fundamental na vida de todos os brasileiros. Só que hoje a democracia brasileira está tutelada; há um encolhimento da democracia, porque o poder econômico elegeu uma bancada que hoje é determinante aqui, no Congresso da República. Claro que isso é inaceitável.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – E nós temos que dar um passo adiante; nós temos que sair, na verdade, desse impasse. E a saída, a porta de saída são as eleições diretas.

    Nós já vivemos situações muito semelhantes, momentos de impasse na sociedade brasileira. Lembro aqui de 1984, na campanha pelas Diretas Já, pela aprovação da Emenda Dante de Oliveira.

    Essa mobilização começou timidamente; havia certo receio, certo temor de participar dos atos públicos; mas, aos poucos, esse movimento foi ganhando força e ganhando as ruas e se transformou numa ampla mobilização da sociedade brasileira. E, mesmo sem conseguirmos aprovar a Emenda Dante de Oliveira, em abril de 1984, nós derrubamos a ditadura. A ditadura acabou em função da ampla mobilização da sociedade. Perdemos no Congresso Nacional, na votação da Emenda Dante de Oliveira, mas ganhamos na política.

    E o mais importante, Srª Presidente, Srs. Senadores, é que não ganhamos só naquele momento. Em 1986, na eleição para a Constituinte de 1986, a sociedade brasileira se fez representar no Parlamento, e essa representação elaborou a melhor Constituição que o País já teve, que dura até os nossos dias e que, neste momento, está sendo desmontada pelo Congresso Nacional, por iniciativa de um Governo sob suspeita, um Governo que pode ter seus dias contados.

    A conquista da sociedade brasileira, a conquista política foi garantida nas ruas, no movimento das Diretas Já. E isto é importante nós observarmos: mesmo que as dificuldades sejam grandes, que tenha havido obstáculos para aprovarmos a Emenda do Senador Reguffe, que prevê eleições diretas em caso de vacância da Presidência da República – que já deu um passo importante, foi aprovada por unanimidade na CCJ –, mesmo que tenhamos todas essas dificuldades, esse movimento acena para o futuro. Esse movimento acena para as eleições de 2018.

    É necessária a renovação da representação política no Parlamento. É necessário um choque de democracia, e só quem pode dar esse choque de democracia é o povo mobilizado nas ruas, organizado nos seus locais de trabalho, nas universidades, nas escolas, nos Parlamentos, enfim, em todo o País.

    Vamos mobilizar este País...

(Interrupção do som.)

    O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – ... para exigir eleições diretas. Não temos... (Fora do microfone.) ... outra alternativa. É a única que nos resta.

    A crise está aí, vai para o terceiro ano. Nós temos hoje 14 milhões de desempregados, milhares de empresas falidas. E, no entanto, o Congresso discute eleições indiretas, discute o afastamento de um Presidente, mas com o arranjo das Lideranças políticas, da elite política. Não, nós queremos definitivamente um compromisso com a sociedade brasileira. É necessária uma grande conciliação neste País, e o instrumento dessa conciliação se chama eleições diretas.

    Nós temos que conciliar com o povo brasileiro. É ele que está desempregado, é ele que precisa de soluções urgentes. Portanto, vamos conciliar o País, vamos acabar com a intolerância. Essa conciliação, Srª Presidente, só tem um caminho: precisamos conciliar com o povo brasileiro, com o povo que está indo para as ruas – e vai continuar indo – uma eleição direta.

    E este Congresso tem que responder; não pode fazer cara de paisagem para o sofrimento popular; não pode fazer cara de paisagem para a angústia do povo e para suas manifestações que estão acontecendo em todo o Brasil.

    Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/06/2017 - Página 39