Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Registro da visita dos Ministros da Integração Nacional e da Assistência Sociala a Santa Catarina, a fim de observar os estragos causados pela fortes chuvas que atingiram o Estado nas últimas semanas.

Registro de audiência com o Presidente da República por ocasião do Fórum Parlamentar Catarinense, quando pôde demonstrar sua preocupação com os destinos da pesca no Brasil, especialmente a pesca catarinense.

Autor
Dário Berger (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Dário Elias Berger
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE:
  • Registro da visita dos Ministros da Integração Nacional e da Assistência Sociala a Santa Catarina, a fim de observar os estragos causados pela fortes chuvas que atingiram o Estado nas últimas semanas.
PESCA E AQUICULTURA:
  • Registro de audiência com o Presidente da República por ocasião do Fórum Parlamentar Catarinense, quando pôde demonstrar sua preocupação com os destinos da pesca no Brasil, especialmente a pesca catarinense.
Publicação
Publicação no DSF de 14/06/2017 - Página 87
Assuntos
Outros > CALAMIDADE
Outros > PESCA E AQUICULTURA
Indexação
  • REGISTRO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, MINISTERIO DA ASSISTENCIA SOCIAL, VISITA, LOCAL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), OBJETIVO, ANALISE, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, MOTIVO, EXCESSO, CHUVA, RESULTADO, INUNDAÇÃO.
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, AUDIENCIA, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, DEBATE, ASSUNTO, POLITICA, SETOR PESQUEIRO, ENFASE, LOCAL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), DEFESA, NECESSIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, POLITICA NACIONAL, PESCA, DESBUROCRATIZAÇÃO, REVISÃO, TERRENO DE MARINHA.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Presidente José Pimentel, eu gostaria de fazer alguns registros, que serão bem rápidos, e espero que sejam breves...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Fora do microfone.) – V. Exª me desculpe.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) – Nada! O que é isso, Senador Jorge Viana? É sempre um prazer ouvir V. Exª.

    Eu preciso fazer um registro de que, ontem pela manhã, Sr. Presidente, nós recebemos, em Florianópolis, por volta de 8h da manhã, o Ministro da Integração Nacional e também o Ministro de Assistência Social, que são Helder Barbalho e Osmar Terra. Eles foram visitar Santa Catarina, ou melhor, visitar, não, foram, oficialmente, verificar e observar os estragos da grande tempestade que ocorreu em Santa Catarina nos últimos dez ou doze dias ou talvez duas semanas. Poucas vezes, na história de Santa Catarina, choveu tanto quanto choveu nas últimas duas semanas não só em Santa Catarina, mas também no Rio Grande do Sul. E, dali, nós nos dirigimos a Lages; e, de Lages, sobrevoamos as áreas atingidas, as mais atingidas.

    Eu, juntamente com o Deputado Federal Mauro Mariani, com a Deputada Carmen Zanotto, com o Ministro, com o Prefeito de Lages e mais uma série de prefeitos atingidos, evidentemente, estamos a solicitar do Governo uma pronta e real atitude no sentido de proporcionar às famílias atingidas e às cidades que foram também atingidas pelas fortes chuvas o apoio necessário para que essas cidades possam voltar à sua normalidade.

    Segundo dados do Governo do Estado, os prejuízos ultrapassaram R$40 milhões. Durante esse período, 103 cidades de Santa Catarina foram atingidas. E as cidades mais atingidas estão localizadas na Serra Catarinense, notadamente a cidade de Lages, como também a região do Vale do Itajaí, onde a cidade mais atingida foi a cidade de Rio do Sul. E as ocorrências não foram poucas: foram 103 Municípios atingidos, cerca de 31.853 pessoas afetadas direta ou indiretamente, sendo que 9.190 residências foram diretamente atingidas. Lamentavelmente isso ocorreu.

    Junto com isso, Sr. Presidente – esse era um registro que eu queria fazer –, nós também tivemos, na tardinha de ontem, uma audiência com o Presidente da República, onde o Fórum Parlamentar Catarinense foi demonstrar a sua grande e enorme preocupação com os destinos da pesca no Brasil, especialmente a pesca catarinense. A pesca em Santa Catarina, Sr. Presidente, desenvolve papel estratégico no desenvolvimento econômico e, evidentemente, no desenvolvimento social, porque Santa Catarina é o maior produtor de pescado do Brasil. Mas não é só o maior, é o maior dos maiores, porque cerca de 50% de tudo o que é capturado no Brasil é capturado por Santa Catarina. E veja bem, Sr. Presidente, que só a pesca, a captura da sardinha, Santa Catarina é responsável por cerca de 60% dessa captura. Então, significa dizer que esse setor exerce uma função de fundamental importância para os destinos desses pescadores e dessa atividade pesqueira, que é centenária e milenar.

    Quando cheguei aqui há três anos – menos de três anos –, esse cenário era um cenário dramático já, que enfrentava muitas dificuldades. Em função de que – V. Exª conhece bem – era Ministério, depois virou Secretaria, aí ficou subordinado ao Ministério da Agricultura e, agora, está sendo destinada a sua subordinação ao Ministério da Indústria e Comércio. E, o que é pior, em vez de as coisas melhorarem, por incrível que pareça, só pioraram. E isso, como eu falei, afeta substancialmente o meu Estado. E, por isso, eu quero fazer este pronunciamento. E, sobretudo, hoje, o Fórum Parlamentar Catarinense teve uma audiência com o Sr. Presidente da República, que, diga-se de passagem, muito educado, nos recebeu muito bem e nos deu uma esperança de que vai tratar deste assunto com a devida responsabilidade que o caso requer. E determinou aos seus Ministros que, em 30 dias, nos dará uma posição real de como ele vai exercer as suas atividades daqui para frente.

    De fato, eu sugeri ao Presidente da República que nós precisamos implantar no Brasil uma política nacional da pesca, nós precisamos regulamentar essas questões, nós precisamos preservar espécies, nós precisamos estabelecer critério de capturas. Não critério de captura, Senador Pimentel, pelo número de embarcações licenciadas, porque hoje, em Santa Catarina, nós devemos ter umas 600 embarcações – que sempre se utilizaram dessas embarcações para a prática da pesca. E recebemos, desta vez, apenas 18 licenças.

    O senhor imagina o conflito existencial em que nós nos encontramos em Santa Catarina com essa atividade. O que lamentavelmente se deu em função de todos esses detalhes que eu acabei de mencionar.

    Propus também que... O Brasil não funciona, o País é grande demais, tem dimensões continentais, é burocrático, é lento, as suas peculiaridades regionais são diferentes, e, por isso, há necessidade de descentralização de muitas atividades que o Estado pode fazer melhor e o Município pode fazer mais rápido e mais eficiente.

    E também o que mais me preocupa nisso tudo, Senador Pimentel, não é exatamente se a Secretaria Nacional da Pesca vai ficar no Ministério da Indústria, Comércio ou no Ministério da Agricultura. O que me preocupa é o desempenho dessa Secretaria Nacional, porque o desempenho é sofrível, está desestruturada, os servidores desmotivados, uma situação lamentável que não avança e que, efetivamente, passa ano e, cada ano que passa, a situação fica pior.

    Por isso, penso que a criação de um órgão, se for um órgão independente, evidente que ele tem de ser subordinado a alguma pessoa, mas que possa ser subordinado, preliminarmente, ao próprio Presidente da República ou a um Ministério, que seja Indústria, Comércio. Eu não tenho nenhum problema em defender que seja subordinado a x ou a y. Eu entendo que a atividade pesqueira é uma atividade agrícola. Por ser agrícola, automaticamente deveria estar subordinada à Secretaria da Agricultura, até porque o pescado é como carne: precisa de inspeção, precisa de toda uma logística, de fiscalização, de certificação, etc. e tal. E a Indústria, Comércio evidentemente não tem esse aparelhamento. E, não tendo esse aparelhamento, evidentemente que a situação vai ficar uma situação complicada de atuação entre um Ministério e outro, que terão dupla atividade nesse sentido.

    Portanto, esse é um registro que eu gostaria de fazer para que efetivamente as coisas não aconteçam, no ano que vem, da forma como aconteceram este ano, porque piorou muito. Tanto é que queria fazer um registro aqui, Sr. Presidente: a criatividade do brasileiro é extremamente interessante, e o catarinense faz parte dessa criatividade. Eles criaram lá o "tainhômetro" – nós estamos ainda na pesca da tainha –, que reúne dados, em tempo real, sobre a da tainha em Santa Catarina. Pescadores artesanais, industriais, enviam fotos e informações sobre a captura, da pesca e da safra de 2017. O objetivo, que deveria ser do Governo, está sendo agora do "tainhômetro": que é o de monitorar a produção e manter, sobretudo, a sustentabilidade. Porque ninguém mais do que o pescador tem interesse na sua sustentabilidade, para que, efetivamente, no ano que vem, ele possa novamente exercer a sua atividade.

    Em plena temporada de pesca da tainha em Santa Catarina, associações e sindicatos começaram a alimentar um banco de dados com informações sobre as capturas, local e data do que é pescado e etc. no Estado. É o tainhômetro, e que tem por objetivo, como eu falei, monitorar a produção e colaborar para políticas que mantém a sustentabilidade dessa atividade declarada patrimônio imaterial do Estado de Santa Catarina.

    Portanto, é um registro que eu gostaria de fazer, porque é sui generis, é interessante, e assim vai.

    Bem, além disso, nós tratamos sobre terreno de marinha. E terreno de marinha, V. Exª sabe, que é um entulho autoritário da época do Império e que o patrimônio da União está com um processo de demarcação de terras de marinha que prevê a linha preamar, por incrível que possa parecer, a linha preamar de 1831.

    Ora, a geografia, principalmente das cidades litorâneas, alterou-se completa e profundamente, e essa linha preamar não condiz mais com a realidade do momento, que estabelece 33m da maré média para o continente. E, com esse novo cadastramento que o Governo Federal pretende fazer, aconteceu um fato muito interessante: o número de terrenos que seria de terrenos de marinha, que de marinha não têm mais nada, porque é uma nomenclatura da época do Império, que se utilizavam os terrenos de marinha para defender a soberania nacional e, se fosse preciso avançar com seus canhões e com os seus arsenais para defender a soberania nacional, então eles teriam essa disposição. E, por isso, decretou-se que essas áreas litorâneas eram consideradas terrenos de marinha.

    De lá para cá essa realidade se alterou completamente. E se alterou tanto que os maiores problemas hoje dos terrenos considerados terrenos de marinha estão nos centros urbanos, mas nos centros urbanos em que cidades como Florianópolis, por exemplo, que sofreu um acréscimo de marinha, um aterro hidráulico, que faz parte e compõe hoje a geografia da cidade, esses terrenos são todos da União. Muito bem: são todos da União, mas não são da União, porque quem regulamenta a ocupação desses terrenos são os Municípios. E, muitas vezes, a União cedeu esses terrenos para os Estados, que, porventura, perderam o prazo. E agora, a União, com o sentido máximo de cobrar e de fazer caixa, acaba por criar toda essa logística que está afligindo milhões de brasileiros e também centenas de milhares de catarinenses.

    A revolta e a indignação são muito grandes, tanto que eles não estão conseguindo fazer a demarcação, porque decisões judiciais eliminam essa demarcação, exatamente porque não há um critério atualizado para que efetivamente se faça o recadastramento. E o que é pior: resolveram, e foi aprovado aqui, se não me engano nesta Casa e no Congresso Nacional, um projeto de lei, uma medida provisória, no sentido de autorizar a União a atualizar a planta de valores dos terrenos de marinha tal qual encontra-se no registro das prefeituras municipais. Aí mesmo que criou uma polêmica muito grande e que as coisas estão todas engavetadas: não anda, não vai, não remarca, etc. e tal.

    Qual é o nosso pedido, qual é a nossa solicitação? É que se faça um estudo preliminar, que se estabeleça uma nova linha preamar no Brasil, obedecendo à orla atual e não à de 1831. Para que, efetivamente, a gente, a partir daí, possa fazer a cobrança, se for o caso, de quem se utiliza dos terrenos de marinha.

    Eu não sou contra, e ninguém é contra, cobrar pelos terrenos de marinha, porque são os terrenos mais valorizados que existem, porque são terrenos muito próximos do mar e que têm uma vista extraordinária. Por isso, eu acho que é merecido que se pague, mas não é merecido que se pague por aquilo que não é terreno de marinha – que foi no passado e que hoje não é mais – e que fiquem tributando efetivamente as famílias, principalmente as famílias de baixa renda.

    De maneira que esse é um assunto também que mereceu do Presidente da República e dos seus assessores a formação de uma comissão para que, dentro de 30 dias, também, faça uma sugestão para que o Presidente possa analisar qual é o caminho que ele vai tomar com relação aos terrenos de marinha.

    Então, para concluir, Sr. Presidente, na verdade, nós não precisamos só da reforma trabalhista, da reforma da Previdência, nós precisamos reformar o Brasil como um todo. Porque, qualquer assunto que o senhor possa levantar para mim, eu vou encontrar uma série de quesitos que exigem de nós uma reformulação de propósitos, de princípios, de rotinas, estabelecendo um plano de metas, de maneira que a gente possa caminhar com a rapidez necessária, porque o Brasil tem pressa. E esses problemas se acumulam, são crônicos, não saem da pauta e, infelizmente, ao invés de resolvermos, nós só empurramos com a barriga e continuamos com o problema na nossa frente.

    Razão pela qual, Sr. Presidente, eu queria fazer esses registros, tanto das enchentes quanto dos terrenos de marinha, quanto outros que o meu Estado está aqui a exigir de mim uma participação efetiva no Senado Federal. E, por isso, eu agradeço a atenção de V. Exª.

    Muito obrigado pelo tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/06/2017 - Página 87