Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Sr. Allan José Calaça por sua história de vida.

Autor
Wilder Morais (PP - Progressistas/GO)
Nome completo: Wilder Pedro de Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem ao Sr. Allan José Calaça por sua história de vida.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2017 - Página 54
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, HISTORIA, VIDA, AVIADOR, ESTADO DE GOIAS (GO), ELOGIO, INVENÇÃO, REPLICA, AERONAVE, CRIAÇÃO, SANTOS DUMONT (MG).

  SENADO FEDERAL SF -

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14/06/2017


DISCURSO ENCAMINHADO À PUBLICAÇÃO, NA FORMA DO DISPOSTO NO ART. 203 DO REGIMENTO INTERNO DO SENADO FEDERAL.

    O SR. WILDER MORAIS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, o Parlamento tem o dever de homenagear um grande brasileiro. É Alan José Calaça, um genial inventor.

    Ainda criança, o criativo Allan viu uma nota de 10 mil cruzeiros com Santos Dumont de um lado e o 14 Bis do outro. Em vez de se interessar pelo dinheiro, Allan se interessou pelos desenhos da cédula.

    A família Calaça é de Corumbaíba, no Sudeste de Goiás. A mente inquieta do pequeno Allan era maior que a cidade, o Estado, o País. E sua imaginação decolou.

    Allan pesquisou até descobrir que aquele cara do chapéu era um grande inventor. Criara, inclusive, aquele objeto estranho do outro lado da nota. E o objeto era a máquina voadora que dera show do outro lado do Atlântico.

    Seu pai gostava muito de ler e juntava livros para formar uma biblioteca pública. O inquieto, curioso e inteligente Allan apreciava as obras. Uma ensinava a construir avião em casa.

    A Embraer, que depois se tornou sua grande incentivadora, informa que o livro o fez recordar a nota com Santos Dumont e o 14 Bis. Mãos à obra. Allan reuniu a molecada, os irmãos incluídos, e saíram pelas ruas catando qualquer coisa que ajudasse a fabricar um avião. Tiraram a hélice de um trator abandonado. O motor foi o do cinema da cidade.

    O avião ficou pronto. Allan ligou a chave, a geringonça balançou, tremeu, até desmontar inteira. Ao contrário da invenção de Santos Dumont, a criação de Allan Calaça não voou. Quer dizer, não dessa vez. Ele tinha sete anos. Não iria desistir.

    Em seguida, fabricou uma asa-delta, antes de o Brasil saber que isso existia. O protótipo até flanou, mas as asas caíram e com elas o amigo que se arriscou a pilotá-la.

    Allan cresceu com os pés no chão, mas o espírito aventureiro brincando com as nuvens. Tornou-se piloto autodidata. Como na canção da banda 14 Bis, uma das preferidas de Allan, não apenas por ser xará do avião, quando ele deu por si, era impossível fugir do visgo que o prendeu ao lendário Santos Dumont.

    Filho do sapateiro José Calaça e da porteira-servente Onofra, Allan dividia a casa com quatro irmãos: Munir, Almir, Maria José e Simone Beatriz.

    Multiplicava as esperanças em duas escolas, o Grupo Couto de Magalhães e o Colégio Simon Bolívar. Não havia como diminuir o destino: Allan somou a coragem de Bolívar e o empreendedorismo de Couto de Magalhães.

    Para completar a sina, Seu José Calaça havia batizado o filho em homenagem a um amigo piloto que morreu fazendo o que mais gostava: comandando um avião. Allan Calaça vive fazendo o que mais gosta: pilotando sonhos.

    O sonho supremo era construir uma réplica perfeita do 14 Bis, mesmo sem Santos Dumont ter deixado projetos do avião.

    Allan resumiu a proposta no projeto "14 Bis - 100 anos depois". Conseguiu. Fez o 14 Bis igualzinho ao de Santos Dumont. As mesmas medidas. Os mesmos materiais. As mesmas vitórias. Foi como se saltasse um século, decolasse de Palmira, a terra natal de Santos Dumont, e aterrissasse na sua Corumbaíba. Subisse em Paris descoberto de nuvens, descesse nos livros coberto de glórias.

    Paris, que celebrou Santos Dumont, e o Campo de Bagatelle, do qual o 14 Bis partiu para o voo pioneiro no mundo, viram o gênio iluminado de Goiás voar sobre a cidade-luz.

    Por esse feito, Allan Calaça recebeu as maiores láureas da aviação. No Planeta Sonho cantado pela 14 Bis, o brilho calmo da luz de Allan é citado em livros didáticos. Reconhecido na Europa e até nos Estados Unidos: o país que nega a paternidade da aviação a Santos Dumont não nega as conquistas de Allan. Numa maior feira americana do setor, com 26 mil aviões, o 14 Bis de Allan foi o destaque absoluto.

    Em 2005, Ano do Brasil na França, o 14 Bis foi a grande estrela. No último fim de semana, Allan Calaça foi a atração em São Paulo, quando o 14 Bis pilotado por ele voou com a Esquadrilha da Fumaça.

    Allan construiu quatro réplicas fiéis. Duas estão em Museus do Ar em Portugal e na França. Outra percorre exposições nos cinco continentes. A que corta o vento em dias de sol fica em Caldas Novas. Na Capital Mundial das Águas Quentes, triunfa seu irmão Munir, gerente do grupo Rio Quente. São três fascínios de âmbito mundial naquele paradisíaco enclave goiano: Allan, as águas termais e o 14 Bis perfeito.

    Seu José Calaça, o sapateiro que adorava ler, morreu aos 71 anos. Dona Onofra, a porteira de escola que virou professora, ainda mora em Corumbaíba. Dali, da aprazível cidade do Sudeste goiano, o casal viu Allan ser tema de reportagens e documentários nacionais e estrangeiros. Criou asas e as dividiu com os filhos, Aline e Allan Júnior, brutalmente assassinado há dois anos em Goiânia. A Polícia encontrou os bandidos. A Justiça os soltou por excesso de tempo presos sem julgamento. Culpa das leis que não conseguimos fazer aqui no Congresso. Senado e Câmara ficaram 13 anos afrouxando as penas. Deu nisso. Está na hora de combatermos a impunidade. Como dizem os jovens, hashtag #demorou.

    Nada supera a dor de perder um filho. Mas Allan se mostra mais notável ainda é na superação. Foi tirador de leite, tapeceiro e cobrador de ônibus antes de se tornar empresário de sucesso. É voando que se sente mais perto do Seu José Calaça, mais próximo do filho que se foi tão cedo, mais junto de Deus.

    Como canta a banda 14 Bis na canção "Tudo céu", nada pode parar a força que conduz o gênio de Allan José Calaça.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2017 - Página 54