Discurso durante a 90ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento de Paulo Bellinni, presidente emérito da da empresa Marcopolo, de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.

Críticas à atuação da brigada militar na reintegração de posse realizada em prédio ocupado em Porto Alegre.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Voto de pesar pelo falecimento de Paulo Bellinni, presidente emérito da da empresa Marcopolo, de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Críticas à atuação da brigada militar na reintegração de posse realizada em prédio ocupado em Porto Alegre.
Publicação
Publicação no DSF de 20/06/2017 - Página 65
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, PRESIDENTE, EMPRESA, FABRICANTE, CARROÇARIA, ONIBUS, LOCALIDADE, MUNICIPIO, CAXIAS DO SUL (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), RELEVANCIA, AMBITO INTERNACIONAL, APRESENTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA, ENCAMINHAMENTO, VOTO DE PESAR, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, BRIGADA, MILITAR, MOTIVO, UTILIZAÇÃO, VIOLENCIA ARBITRARIA, REINTEGRAÇÃO DE POSSE, CIRCUNSTANCIAS, OCUPAÇÃO, PREDIO, ASSENTAMENTO POPULACIONAL, LOCALIDADE, PORTO ALEGRE (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ARBITRARIEDADE, PRISÃO, DEPUTADO ESTADUAL, APRESENTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, MOVIMENTO SOCIAL.

  SENADO FEDERAL SF -

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19/06/2017


    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, registro o falecimento do Sr. Paulo Bellini, Presidente Emérito da Marcopolo de Caxias do Sul, uma das maiores empresas do nosso país. O empresário faleceu na manhã quinta-feira. 

    Paulo Bellini nasceu em Caxias do Sul no dia 20 de janeiro de 1927.

    Vindo de uma família de oito irmãos, teve uma infância tranquila, pois seu pai também foi um dos diretores da empresa Eberle. Talvez tenha nascido ali, no exemplo de seu pai, o espírito empreendedor de Paulo. 

    Já maior de idade deixou a cidade natal e foi estudar em Porto Alegre, onde se formou contador.

    Iniciou suas atividades em 1949 como sócio-gerente, na fundação de uma fábrica de carrocerias junto com os irmãos Nicola - a Nicola & Cia que mais tarde seria rebatizada com a marca atual, Marcopolo, nome de um dos modelos que a empresa apresentou no salão do automóvel de 1968.

    Passou a ocupar, em 1954, o cargo de Diretor Gerente e em 1971 foi eleito Diretor Presidente, em 1977 passou a acumular este cargo com o de presidente do conselho de administração.

    Paulo deixou o cargo para Mauro Gilberto Bellini, seu filho, tornando-se então, presidente emérito.

    Em 1992 recebeu o título de Administrador do Ano, prêmio concedido pela Associação dos Administradores da Região Nordeste do Rio Grande do Sul.

    Presidiu diversas entidades de Caxias do Sul, como o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, o Centro da Indústria Fabril, a Associação Comercial e Industrial e o Conselho Superior da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços. 

    Em 2004 recebeu a Medalha do Conhecimento do Governo Federal. Foi vencedor do prêmio Top Ser Humano 2009.

    Em 2012 lançou um livro contando suas memórias, intitulado "Marcopolo: Sua viagem começa aqui".

    Em 21 de agosto de 2013 aos 81 anos morreu sua esposa Maria Célia Bellini. Paulo Bellini deixa três filhos: Mauro, James e Paulo (Paulinho), e duas netas: Tais e Gabrielle.

    Quero registrar o texto do Jornal Pioneiro publicado em 17 de janeiro de 2017 para comemorar os 90 anos deste empresário.

    Paulo Bellini, o empresário sem fronteiras...

    Paulo Bellini conduz uma história repleta de fatos e circunstâncias que gira em torno da evolução do ônibus brasileiro.

    Visionário, Bellini vem transformando e lapidando o ônibus desde 1949, quando o veículo era rústico.

    Atualmente, os passageiros viajam usufruindo de ar condicionado, toalete, TV, internet, poltronas sofisticadas, suspensão a ar, frigobar à bordo, direção hidráulica e câmbio automático.

    Na existência laboriosa, Bellini ingressou na fábrica Nicola não como mecânico e muito menos como um engenheiro especializado.

    Sua responsabilidade contábil teve a capacidade de administrar uma promissora organização e sensibilidade em perceber que haveria espaço para a evolução do ônibus brasileiro fabricado em Caxias do Sul, bem como orientar a organização na sua função social de gerar empregos e excelentes oportunidades.

    Os desafios foram imensos nos primórdios. A matéria-prima centrada entre Rio de Janeiro e São Paulo não esmoreceu o ânimo. As referências de projetos específicos não existiam.

    Tudo era manual, artesanal. No entanto, Bellini atendeu o aprimoramento no transporte coletivo sintonizado com as exigências e recursos da realidade.

    Na década de 1960, o produto caxiense firmava seus primeiros pilares no mercado nacional e no exterior.

    O Uruguai foi o primeiro país a adquirir um modelo, em 1961. A exposição no Sexto Salão do Automóvel de São Paulo (1968) sinalizou novos rumos da Marcopolo.

    Em 1981, a construção da unidade de Ana Rech, com a presença do Presidente João Figueiredo, enalteceu a importância da organização na economia industrial, bem como na ampliação de empregos.

    Desenvolvendo uma tecnologia própria, para produtos diferenciados, Paulo Bellini não descansou em resultados satisfatórios. Sempre atento, viajou para o exterior e implantou modernos processos de produção.

    Hoje, a posição marcante da Marcopolo é o resultado de uma convergência que envolve fornecedores, clientes, colaboradores em companhia de Paulo Bellini.

    Os ônibus são comercializados para mais de 100 países. Há plantas em sete países: Argentina, Austrália, África do Sul, Colômbia, Índia, México, Egito, Rússia e China.

    Nos restaurantes locais é possível constatar colaboradores brindando a venda de lotes para o mercado estrangeiros ou recepcionando missões empresariais.

    Os jovens caxienses encontraram na Marcopolo uma opção de trabalho promissora. Nas plantas e escritórios do exterior pulsa a marca e o potencial automotivo de Caxias do Sul.

    A história de uma liderança...

    Paulo Bellini evidencia-se pelo seu propósito agregador. Foi com este espírito que surgiu uma equipe comprometida para projetar e lançar com sucesso os luxuosos ônibus da Marcopolo que rodam pelo mundo.

    No livro Marcopolo Sua Viagem Começa Aqui, vislumbra-se uma narrativa fantástica da evolução do ônibus brasileiro, bem como de todos os personagens que acompanharam a saga de Bellini.

    No seu relato, Bellini revela as nuances dos primórdios e os desafios de fabricar um veículo cada vez melhor.

    Também reconhece a dedicação dos parceiros Valter Gomes Pinto, José Antonio Fernandes Martins e Raul Tessari na missão de comandar uma administração responsável.

    A obra publicada em 2012 salienta números expressivos: são 20 mil colaboradores que trabalhavam nas unidades do Brasil e exterior, cuja produção atingiu 350 mil ônibus.

    A riqueza de simplicidade...

    Paulo Bellini envolveu-se intensamente no desenvolvimento industrial em Caxias do Sul, Brasil e no mundo. Sintonizado com a exigente evolução tecnológica, não se afastou do convívio de sua comunidade. Sempre esteve disposto a colaborar com a Festa da Uva.

    Na sua agenda atribulada, não deixou de prestigiar atividades culturais como a inauguração do Instituto Galló (2012), bem como a rótula Valter Gomes Pinto (2016). Nos momentos recreativos, Bellini aprecia uma saudável pescaria e joga golf.

    Senhoras e Senhores, ele foi fundamental para o desenvolvimento do Brasil.

    Tenho orgulho de dizer que meu falecido pai trabalhou na Marcopolo e lá, tive alegria quando jovem, de conhecer Paulo Bellini.

    Ao longo da minha vida pública, sempre vi nele uma referência empresarial respeitada por todos.

    Paulo Bellini foi e continuará sendo um dos mais importantes empresários do nosso país, um empresário com responsabilidade social.

    Por isso, estou apresentando à Mesa do Senado, voto de pesar pelo falecimento do nobre empresário e cidadão brasileiro.

    Era o que tinha a dizer.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na quarta-feira à noite, dia 14, fomos surpreendidos pela prisão arbitrária do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputado estadual e meu companheiro de luta e de partido, Jefferson Fernandes. Outras oito pessoas também foram presas.

    O fato ocorreu no centro de Porto Alegre, durante reintegração de posse de um prédio público onde cerca de 70 famílias habitavam a Ocupação chamada de Lanceiros Negros há aproximadamente um ano e sete meses. Esse prédio estava abandonado há muitos anos.

    Destaco que a desocupação foi feita à noite, com temperaturas de 10 a 15 graus, muito frio mesmo, e o alvo eram na sua grande maioria mulheres, crianças, mulheres grávidas, idosos e trabalhadores ali do centro que não possuem moradia.

    Mas, vamos aprofundar o relato registrando inclusive pela imprensa, falo aqui do Portal Sul 21.

    O deputado coordenava uma audiência pública no início da noite de quarta-feira sobre a Lanceiros Negros na Assembleia Legislativa, que fica ali perto.

    No início do evento, não havia qualquer informação sobre quando a Brigada Militar iria realizar a operação de despejo.

    Pouco antes das 19h, porém, chega ao Plenarinho da Casa a informação de que a ação da polícia já estaria em andamento.

    Jeferson decide então transferir a audiência para a ocupação, localizada a menos de 300 metros da Assembleia, na esquina entre as ruas General Câmara e Andrade Neves.

    Diz o deputado Jefferson:

    “No meio do caminho, começaram a chegar vários policiais militares, acho que um grupo de mais ou menos 200 policiais. Eu estava descendo ao lado de crianças, de mulheres. Mas o que eu imaginei: ‘Os caras vão cercar a área, vão criar um clima de negociação, como é de se imaginar que num protocolo civilizado se faça e, buenas, amanhã, na luz do dia, se faz a desocupação, se necessário...

    Daí tudo bem, se não der a negociação, talvez usem da força. Mas como a própria ordem judicial dizia, protegendo as crianças através do conselho tutelar, lendo o mandado e assim por diante'”.

    Na prática, aconteceu justamente o contrário, prossegue Jeferson: “Eu estava descendo a lomba, quando de repente desce um batalhão com escudos. Tentei gritar, até estou com dificuldades na voz de tanto que eu clamava para aparecer o oficial de justiça, aparecer o comandante da tropa.

    Não apareceu. Como eu continuei ali, na frente da ocupação, me jogaram muito gás no rosto, tiros nos meus pés, nas minhas pernas, tentando de todas as formas que eu saísse da frente sem que eu soubesse, ninguém sabia ali, o que eles efetivamente iriam fazer”.

    Logo depois é que apareceram dois oficiais de justiça...

    “Mal e mal me mostraram o mandado, não admitindo, não fazendo nenhuma autocrítica da ação que eles tinham autorizado até o presente momento e dizendo que eu tinha que sair da frente.

    Como eu disse que não sairia enquanto todo um protocolo civilizado de respeito às mulheres e às crianças fosse apresentado, o oficial deu o ok para a Brigada. Aí me atropelaram, me arrastaram pelas pernas...

    Prossegue o deputado...

    Torceram o braço, me deram gravata, me algemaram, torceram minhas mãos, meus dedos, fui xingado, cassetete na cabeça e por aí a fora”.

    Jeferson foi então colocado dentro de um camburão junto com duas mulheres.

    “Transitaram comigo no Centro fazendo movimentos bruscos com o veículo, certamente para me intimidar, eu e mais duas mulheres dentro da gaiola da viatura.

    Ficou estacionado uns 20 minutos na frente do Palácio Piratini, pelo que eu via por uma frestinha que eu podia enxergar para fora.

    Acredito que, em virtude da repercussão que as mídias devem ter dado, as mídias sociais, eles resolveram então me levar até a frente do Theatro São Pedro e lá me soltaram. Simplesmente me soltaram.

    Um troço louco, porque, se eu estava preso, o procedimento adequado é levar o sujeito para a delegacia, como levaram os demais. E aí me soltaram na frente do Theatro São Pedro”.

    Senhoras e Senhores, uma vez liberado, o deputado foi para o Palácio da Polícia para registrar o ocorrido e fazer um exame de corpo de delito e solicitou que todas as pessoas presas durante a reintegração, ao menos oito, fossem encaminhadas para o local. As duas mulheres que estavam ao lado dele no camburão não haviam sido liberadas ainda.

    Aí termina o deputado:

    “Não há nenhuma vírgula fora do que eu estou falando. Tudo está comprovado, tudo gravado”, diz. A assessoria do deputado transmitiu ao vivo, via redes sociais, as ações.

    Vale lembrar que Jefferson Fernandes informou os policiais militares que era deputado e que estava ali representando a Assembleia Legislativa.

    “Eles ignoraram que eu era deputado. Mas como repercutiu o fato, e isso que me entristece, se fossem só pessoas pobres, lideranças de vila que ali estavam, certamente a prisão arbitrária teria outro desfecho e talvez muito mais agressões do que ocorreu comigo.

    Senhoras e Senhores, foi lamentável a atitude da polícia militar gaúcha, a conhecida Brigada Militar. O Brasil vive uma democracia e a situação foi ao estilo dos estados de exceção, ditatoriais e isso é inaceitável.

    A sociedade e o Brasil exigem uma resposta. O governo do estado tem que se responsabilizar pelo ocorrido.

    Fica a aqui a minha solidariedade a Assembleia Legislativa, que foi sim atacada, ao deputado e presidente da Comissão de Direitos Humanos, Jefferson Fernandes, aos outros que foram presos, e a todas as 70 famílias que viviam na ocupação Lanceiros Negros.

    Quero registrar também que tanto o PT Nacional como o PT do RS emitiram nota oficial sobre este triste e lamentável ocorrido.

    Democracia sempre; ditadura nunca mais.

    Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/06/2017 - Página 65