Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Preocupação com a crise política existente no País.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Preocupação com a crise política existente no País.
Outros:
Aparteantes
Armando Monteiro, Cristovam Buarque, Elmano Férrer, Waldemir Moka.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2017 - Página 69
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros
Indexação
  • APREENSÃO, AGRAVAÇÃO, CRISE, POLITICA, PAIS, CRITICA, ILEGITIMIDADE, GOVERNO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, CRIME, CORRUPÇÃO, MOTIVO, QUEBRA, ECONOMIA NACIONAL, FALTA, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, ELOGIO, MANDATO, DILMA ROUSSEFF, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, RESPEITO, DEMOCRACIA, PEDIDO, EUNICIO OLIVEIRA, PRESIDENTE, SENADO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, OBJETIVO, DISCUSSÃO, SOLUÇÃO, ESTABILIDADE, ORGANIZAÇÃO POLITICA.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, colegas Senadores, eu estava ali presidindo esta sessão. Acompanhei a fala da Senadora Ana Amélia e também os apartes. E eu queria voltar ao tema que estávamos aqui debatendo.

    Eu tenho ido ao Acre todos os fins de semana e visitado o interior. Nesse próximo fim de semana, vou sair direto para Rio Branco. De Rio Branco, mais 800km até Cruzeiro do Sul. Passarei meu fim de semana lá. E uma pergunta, aonde eu chego, por conta de fazer parte do Parlamento, é: "Senador, para onde o Brasil está indo? Quando que essa crise passa? O que é que vai acontecer? O que é que está acontecendo?" Todos querem saber o que nós vamos fazer ou o que nós estamos fazendo para que o Brasil saia dessa. Nas conversas com os colegas é a mesma pergunta.

    A Senadora Ana Amélia, ainda há pouco, falou das derrotas. Ela falou que nós, do PT, o nosso Governo, tinha vindo das urnas e sofreu uma derrota. Houve um impeachment. Nós questionamos até hoje as motivações. Isso agora faz parte de uma história que não é boa.

    Sofremos, perdemos, saímos do governo, fomos tirados do governo. Entra um governo que criou uma expectativa e que se amparou em segmentos da sociedade brasileira. E, agora, quanto a este governo, que está ali, todos se perguntam quanto tempo dura. O que mais pode fazer? Qual é o custo que o Brasil tem para manter o Governo? É uma situação muito difícil!

    E eu pergunto: qual é o papel do Congresso nessa história? Congresso que sediou o impeachment e que agora recepcionou um outro conjunto de pedido de impeachment, só que de outro governo. Estamos vivendo uma crise institucional.

    Hoje à tarde, o Supremo está fazendo um julgamento para decidir se modifica ou não um acordo de delação da Procuradoria-Geral da República que foi homologado por um dos Ministros do Supremo. Veja o enfrentamento que nós estamos vivendo: o Presidente da República pede autorização da Justiça para processar um dos delatores, e a Justiça nega.

    Hoje, a jornalista Natuza, da GloboNews, conhecidíssima jornalista, respeitada, disse que o Governo está usando o Estado para tentar destruir seus opositores, dizendo que eles estão acionando a AGU para tentar bloquear os bens de Joesley. Então, veja em que mundo nós estamos vivendo.

    Senador e ex-Ministro Armando, V. Exª, nas conversas que temos tido, tem colocado uma preocupação sobre a situação econômica. V. Exª era Ministro quando a Presidente Dilma foi afastada e sabe que, naquele último ano terrível, que foi o ano de 2015, quando as eleições não acabaram com os seus resultados, com a proclamação da vitoriosa – no caso, a Presidente Dilma –, nós estávamos decidindo se assumíamos ou não um déficit de R$50 bilhões. Era um escândalo assumir que tínhamos um déficit, nas contas, de R$50 bilhões. Demorou, a situação piorou, e esse déficit passou para R$70 bilhões, depois chegou a R$90 bilhões, e o Governo, que assumiu depois do impeachment, numa canetada, passou para R$170 bilhões. Alguns falam que era para criar uma colcha grande, para haver ali uma folga, para atender aos seus apoiadores, mas também para pôr tudo na conta da Presidenta que estava indo embora.

    De tudo que nós estamos vivendo – e eu volto a repetir –, um dos legados que nós ainda temos, do governo passado, e que hoje é o único indicador positivo verdadeiro do Brasil é a nossa conta de exportação e importação, pela qual V. Exª foi um dos responsáveis, junto com o governo da Presidente Dilma, com as políticas que fizeram com que o que o Brasil tem hoje sejam os resultados positivos da sua balança comercial, que foi fruto de uma engenharia que V. Exª ajudou a montar, e é nisso que a gente está se escorando um pouco ainda. Mas a situação piora a cada dia.

    Mas eu queria trazer aqui – eu sou do PT – que nós temos uma tese. Tínhamos essa tese, quando a Presidente Dilma estava lá, quando estávamos na crise, de até encurtar o mandato dela e convocar novas eleições. Também defendemos essa tese, mas eu sei que as eleições já estão marcadas para o ano que vem. Eu sei que, para aprovarmos uma emenda dessas, teríamos que ter um consenso na Câmara e no Senado. Isso é quase impossível hoje. Basta que um ou dois partidos digam não. E eu não sei se não é isso que não leva a uma mobilização ainda maior, a bonitas manifestações.

    São bonitas as manifestações, mas as mobilizações ainda não são tão fortes que possam mudar agenda da Câmara e do Senado.

    O que mais me preocupa é o papel da Câmara e do Senado nessa crise. O que nós temos obrigação de fazer? Primeiro, fazer uma leitura correta de que realmente todos estamos perdendo.

    Nosso governo perdeu, a Presidenta Dilma foi vitimada, no meu ponto de vista, mas o Governo que chegou ao Palácio perdeu o diálogo com a sociedade, não tem mais o apoio da grande imprensa e a duras penas vai sobrevivendo dia após dia. Teve uma derrota ontem. E quanto custa aprovar algumas matérias na Câmara dos Deputados? Dizem que é uma fábula, que inviabiliza ainda mais o nosso País.

    E o Presidente da Câmara hoje é o Presidente da República, Rodrigo Maia. Nada pessoal contra ele, mas, sinceramente, ele virou um cúmplice. O Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, virou um cúmplice do Palácio. Deixou de lado a Presidência do Poder Legislativo, que é a Casa do povo, a Câmara Federal, e virou um cúmplice do Palácio. E nós estamos precisando de Presidente de poder nessa hora, já que estamos vivendo uma crise.

    Como eu não sou Deputado Federal, sou Senador, acho que está na hora – eu queria aqui dizer – de o Presidente Eunício, Presidente do Congresso, Presidente do Senado, a quem eu faço um apelo, chamar uma reunião de colegiado de líderes ampliada. Nós não podemos dar o calado como resposta ao povo brasileiro. Ninguém sabe o que calado quer.

    Nós somos perguntados todos os dias sobre o que fazer. O que vocês estão fazendo? Quando essa crise vai passar? Porque se todos perdemos na política, nós perdemos, mas quem paga a conta é o povo brasileiro, os 14 milhões de desempregados. Há desesperança.

    Volto a lembrar aquela frase que o Ministro Barroso tem repetido, mas é uma frase que vem de algum tempo, de longo tempo. As pessoas dizem: "Eu não quero mudar de país; eu quero que o meu País mude."

    Está passando uma minissérie tão bonita, eu até fiz uma postagem ainda há pouco: Os Dias Eram Assim. Em 1984, nós estávamos lutando contra a ditadura, mas estávamos sonhando com democracia, com o direito de votar, com o direito de ter um governo que representasse aqueles que o elegeram. É tão linda a minissérie. Passa tarde, está batendo recorde de audiência. É o encontro de um casal que foi dividido pela ditadura, foi dividido pela perseguição, que se reencontrou no comício das diretas. Era um tempo de sofrimento, mas era um tempo de sonho.

    O nosso é de sofrimento sem sonho, Senador Cristovam. O sonho foi embora, porque o modelo político faliu, e a política sem honestidade, sem ética, não tem utopia, não tem sonho. Isso vale para todos nós, para todos os partidos, para todos nós que ocupamos mandato.

    A eleição da França foi uma prova. Eu conversava com Sebastião Salgado, Senador Cristovam, que também é seu amigo, nesta semana, e perguntei: Sebastião, como está aí na França – Sebastião Salgado, um grande brasileiro que mora lá –, como está essa coisa do Macron?

    Primeiro, acho que estamos saindo da era dos extremos. Os extremos estão perdendo. Macron é algo novo. Agora, o que aconteceu nas eleições? A direita francesa está se questionando. Como ela teve 32% dos votos e só apareceram seis Parlamentares nas eleições parlamentares? Parece que até a direita se omitiu. Como é que a esquerda também desapareceu? E vejam, Macron elegeu a ampla maioria dos Parlamentares. Mais da metade dos eleitos nunca foi Parlamentar. E esse é um recado para nós. As coisas no mundo não acontecem de maneira isolada. Parece que o mundo vive na mesma frequência e energia. Quando você tem uma onda de neoliberalismo, ela vai atingindo todo canto; quando você tem uma onda no outro sentido, ela também atinge. Essa onda que nós estamos vivendo...

    Por outro viés, houve uma mudança nos Estados Unidos, como foi dito aqui, mas o Macron criou um partido que não existia, candidatou pessoas que nunca tinham sido candidatas e a maioria do Parlamento francês hoje é composta por gente que nunca atuou na política.

    O que será do Brasil a partir das eleições do ano que vem? Que Parlamento vamos ter? Se tivermos profundas mudanças, ótimo, mas e nós? O que vamos fazer até o ano que vem? Qual é a nossa obrigação hoje? Esperar que volte a inflação? Que esse Governo desapareça de vez, do pior jeito?

    Eu nunca pensei que ia ouvir no Senado, no Bom Dia Brasil, no Jornal Nacional, em qualquer veículo de comunicação, no rádio, ler algo dizendo assim: "O Presidente da República Michel Temer é chefe de uma quadrilha", dito pela Polícia Federal do Brasil numa investigação. Se isso não for grave, então nós temos que achar uma saída para que as coisas possam mudar. Mas o Senado tem que assumir algum papel. O Presidente do Senado, que é o Presidente do Congresso, precisa... Nós não podemos ficar numa espécie de zona de conforto, que no fundo é desconforto para todos, porque o conflito agora está entre o Palácio do Planalto e o Ministério Público Federal, o Palácio do Planalto e a Polícia Federal, o Palácio do Planalto e o Superior Tribunal de Justiça. Nós não podemos ficar. O Supremo Tribunal Federal, desculpe.

    Então, ouço o Senador Armando. E gostaria que V. Exª falasse o que pode acontecer com a nossa economia, Senador, ex-Ministro Armando, se nós continuarmos nessa marcha da insensatez, tendo um Governo com menos credibilidade a cada dia. E que papel o nosso Senado precisa ter.

    O Sr. Armando Monteiro (Bloco Moderador/PTB - PE) – Senador Jorge, quero me congratular com V. Exª e, mais do que isso, louvar e registrar a minha satisfação com este momento de debate aqui no Senado. É estranho constatar que em meio à escalada desta crise, em raros momentos talvez, tirando a expressão partidária que sempre comparece à tribuna, ou seja, a visão das pessoas que colocam neste momento a disputa político-partidária acima de qualquer questão de interesse do País. Em raros momentos se discute para além desses guetos, porque as pessoas se entrincheiraram nos partidos, numa lógica de antagonismo, de antagonismo permanente. E este País... E mais do que isso, o Parlamento, o exercício da boa política é exatamente poder construir aqui um mínimo de entendimento, para que nós não possamos ficar reproduzindo apenas a lógica da intolerância, do radicalismo exacerbado, que muitas vezes está presente no debate até das ruas. Precisamos valorizar a política exatamente exercitando essa capacidade de diálogo e de entendimento. E quero registrar, por um dever de justiça, que o Senador Jorge Viana, em vários momentos nesta Casa, tem dado uma contribuição, tem sido muito, diria, contributivo para que se criem e se possam ampliar os canais de diálogo e de entendimento nesta Casa. V. Exª sublinhava a preocupação com a questão da crise econômica também. Nós temos um problema fiscal que não foi resolvido, está longe de ser resolvido. O Governo encaminhou a ideia de que iria cuidar da trajetória das contas no futuro, seja com aquela medida do teto dos gastos, seja com a reforma da previdência, que asseguraria uma contenção do crescimento explosivo desses gastos que já se evidenciam no Brasil praticamente há duas décadas. No entanto, com essa crise política, a pergunta é: poderá este Governo garantir o encaminhamento dessas questões no futuro? Parece-me que não. O que há de grave nessa crise é que ao déficit de popularidade que este Governo tinha desde a origem soma-se agora algo muito grave, que é o comprometimento, a erosão da autoridade política institucional da Presidência da República. Neste momento, Senador Jorge, o Senado e o Congresso Nacional precisam exercer o seu papel, não podem se destituir do seu verdadeiro papel, que é o de poder operar nessa crise para além dos interesses e dos alinhamentos partidários. É hora de falarmos e de construirmos aqui um entendimento olhando o papel institucional do Senado. Veja V. Exª o tensionamento que existe hoje entre os Poderes. E não apenas entre os Poderes. Até nos órgãos que fazem hoje a estrutura do Judiciário assistimos a um tensionamento, o Supremo, o Ministério Público.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Polícia Federal.

    O Sr. Armando Monteiro (Bloco Moderador/PTB - PE) – Polícia Federal. Portanto, é hora de nós, aqui no Senado da República, podermos ampliar esse diálogo, que eu sei que é tão valorizado por alguns Senadores nesta Casa. E V. Exª disse muito bem: o Presidente do Congresso, o Presidente desta Casa precisa convocar uma reunião ampla para nós discutirmos essa crise, o encaminhamento dela, porque o País está acima dessas questões partidárias que, infelizmente, vêm marcando a postura de muitos companheiros que só conseguem fazer o cálculo político de perdas e ganhos imediatos em função da exploração da própria crise. Então, eu quero dizer a V. Exª que fico satisfeito em verificar que há uma convergência aqui. Quero destacar a minha satisfação com o pronunciamento da Senadora Ana Amélia, que V. Exª agora enriquece com a sua fala, e alguns apartes muito lúcidos que foram trazidos aqui, como o do Senador Roberto Muniz. Ou seja, nós todos precisamos encontrar nesta hora os caminhos necessários. E, mais do que isso, é hora em que a política precisa ser resgatada na melhor acepção da palavra: a política pela sua capacidade de poder, na sociedade, construir canais de interlocução, a política como a arte superior, a política como uma forma de assegurar a convivência de contrários e de estabelecer, portanto, um caminho. Quero dizer que estarei disposto, em todos os momentos, a trabalharmos juntos nessa agenda, uma agenda que se coloque acima desse debate estreito que muitas vezes tem, infelizmente, presidido o debate nesta Casa. Eu me congratulo com V. Exª.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Muito obrigado, Senador e ex-Ministro Armando Monteiro.

    Talvez uma reunião como esta, chamada pelo Presidente da Casa, Senador Eunício, ou por nós, não possa - lamentavelmente tenho de dizer isso, usando os argumentos de V. Exª - ser feita aqui, num debate, porque aqui é ao vivo. Entram de novo os interesses de atender aos posicionamentos particulares. Nós temos de nos concentrar aqui no Senado, chamar uma reunião ampliada para discutir o que fazer.

    Este País sempre teve – aqui é a Casa de Rui Barbosa, aqui é o Senado Federal, 190 anos – grupos de mandatários para discutir o momento de crise. Sempre ouvi isso dos mais velhos, dos mais experientes. Esta é uma Casa que tem ex-Ministros, ex-Governadores, ex-prefeitos, futuros governadores, pessoas que representam os Estados da Federação. Só que eu não sei o que nós estamos esperando.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Não podemos mais acreditar que o Governo que está lá no Palácio vá dar solução para o tamanho da crise que estamos vivendo. Não se trata de gostar ou não do Governo. É o mundo real. Agora, e o povo brasileiro? Aguenta mais ainda? O Brasil aguenta?

    Ouço o Senador Cristovam com muita satisfação.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Senador Jorge Viana, eu quero, logo de saída, dizer que subscrevo, abaixo do seu nome, essa sugestão para que o Presidente Eunício convoque uma reunião para discutirmos o momento que atravessamos. Tenho a impressão de que o povo pergunta onde está o Senado hoje. Nós somos os responsáveis pelo Brasil no lado do Parlamento. Estamos ativos, mas num ativismo que não encaminha soluções. Hoje já estive em duas comissões pelo menos de medidas provisórias, já estive em eventos. Mas e a crise? Só no almoço, aliás num lanche que nós tivemos com um grupo em que vocês estavam – por coincidência ou não, somos nós –, discutimos este assunto. O Presidente Eunício tem a obrigação de fazer isso. Tomo como sugestão sua, que eu assino embaixo. E tenho certeza de que todos nós assinamos. Estou de acordo com o senhor. Se ele não chama, chamemos nós. Daqui uma semana, vamos chamar um número mais ampliado para debater como é que nós decretamos: um, estamos no fundo do poço; dois, não aceitamos ficar rastejando na lama que existe no fundo de todo poço; três, como sair do fundo do poço. Se não fizermos isso, nós vamos cair, o Brasil, em tentações. E tem um pouco a ver com o discurso da Senadora Ana Amélia. Temos diante de nós a tentação do populismo, a tentação do autoritarismo e a tentação da inflação como formas de resolver sem resolver ou de uma maneira que não queremos. Temos de buscar uma saída. E nós somos obrigados. Ganhamos para isso. Fomos eleitos para isso. Em vez disso, estamos...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – E temos poder para isso.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – E temos poder para isso. Basta querer usar esse poder. Nenhum de nós sozinho, mas em conjunto temos. E não podemos cair, usando aqui as metáforas do Senador Muniz, na situação dos que estão ébrios pelo otimismo, também não podemos cair nos que estão envenenados pelo pessimismo. Essas duas eu tomei do senhor, e uma, da Ana Amélia, quando ela falou daqueles que querem o quanto pior, melhor. Esses eu chamo os corrompidos pelo quanto pior, melhor, porque é uma corrupção querer colocar o partido na frente do País e dizer quanto pior, melhor para nós que não estamos com esse Governo. Nem podemos aceitar os ébrios pelo otimismo, nem os envenenados pelo pessimismo, nem os corruptos pelo quanto pior, melhor. E há saída, este é um País grande. Agora, o que o povo quer, Senador Acir? O povo quer o novo. Não uma pessoa nova. Não. O novo para o País. Foi assim que nos enveredamos no desenvolvimentismo, foi assim que enveredamos na democracia. Era o novo comparado com o autoritarismo. Era o novo desenvolvimentismo comparado com o atraso da economia brasileira. O novo, hoje, eu reconheço que não é tão simples de desenhar. Não basta dizer é o socialismo, ou desenvolvimentismo, nem mesmo o capitalismo é o novo, mas vai ser uma combinação de tudo isso. Vai ser uma combinação. Não adianta querer dizer que o novo não é o capitalismo, porque vamos ter capitalismo ainda por muito tempo. Agora, não basta dizer que o novo é só o capitalismo sem dizer como é que a gente vai fazer para que haja justiça, porque não vem da economia. O novo é reconhecer que a gente precisa de uma economia eficiente. Ponto! Mas que, com essa economia, precisamos fazer uma sociedade justa e num processo político democrático. Isso é possível. Nós temos a obrigação de fazer. E, aí, Senador Jorge Viana, o senhor traz uma dimensão que eu reconheço que é nova aqui, desde a semana passada ou anterior, quando o senhor falou que todos nós precisamos pedir desculpas. Precisamos pedir desculpas. Nós erramos. E quando o senhor diz que nós erramos, as pessoas não querem reconhecer. Para mim está claro que quem não reconhece hoje que errou está errando mais uma vez ao não reconhecer que errou. Vamos reconhecer. Nós todos erramos de alguma maneira ou de outra. 

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Isso é grandeza quando a gente assume.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – É grandeza.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Ou por ação ou por omissão. Alguns erram por omissão, não têm culpa.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Ou por conivência, ou por ficarmos acomodados.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Ficarmos quietos, acomodados. Vamos reconhecer tudo isso. Mas esse reconhecimento não vale a pena ser só seu ou meu, como se estivéssemos no confessionário. A gente precisa reconhecer isso como instituição. E a instituição tem um Presidente. Esse Presidente não pode nem ficar ébrio pelo otimismo, nem ficar envenenado pelo pessimismo, nem corrompido pelo quanto pior, melhor. E eu diria uma coisa mais: nem assustado com as ameaças que podem estar aí ao redor de todos nós.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Muito bem.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Vamos tentar convencer o Presidente a nos reunir, um grupo. Não precisa serem todos, nem aqui pela televisão.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Isso.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Mas que seja um grupo que não seja só de dois, três, quatro ou cinco. Vamos tentar. Mas se ele não quiser, se ele não fizer, façamos nós. E, aí, sim, venhamos para cá para dizer à opinião pública que o Senado está vivo, que o Senado está preocupado e que o Senado está querendo encontrar um caminho, e esse caminho, parece-nos, é tal, tal e tal, porque o Brasil quer ouvir o que nós temos a sugerir.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Sr. Senador, querido colega Cristovam, eu estava passando a vista no julgamento que está ocorrendo no Supremo agora. O Sr. Joesley disse, nesse final de semana, na revista Época, que o Presidente da República é o verdadeiro chefe de uma quadrilha.

    Agora, o advogado do Presidente Michel Temer, no Supremo Tribunal Federal, disse que o chefe da maior quadrilha do Brasil é o Joesley. Nós estamos vivendo isso. Ele não é um qualquer, é o maior empresário do País no mundo inteiro. Eram dois: Marcelo Odebrecht e Eike. Olhe a situação que nós vivemos.

    Eu propus aqui, algum tempo atrás, e ninguém deu muito ouvido. Existe, na Constituição, o Conselho da República, que tem membros do Parlamento, tem membros da sociedade e tem membros da estrutura do Estado brasileiro. Será que, com uma crise desse tamanho, não era para ele ser convocado? Mas até hoje nunca indicamos os que compõem o Conselho da República. Veja como vivemos um certo descaso ou, de certa forma, também somos coniventes.

    Daí o propósito nosso de, primeiro, reconhecermos que alguma coisa nós fizemos errado, certamente, independentemente de uns mais, outros menos e de alguns não terem nem como justificar o que fizeram; vão ter de pagar por isso.

    Mas eu queria encerrar dizendo que, quando eu propus isso, era para ter algo...

    O Sr. Elmano Férrer (PMDB - PI) – Nobre Senador.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Com satisfação, Senador, eu ouço V. Exª.

    Temos que fazer algo. Eu só não posso crer que o melhor que temos a fazer é vivermos esse ambiente.

    O Senador Hélio José, do PMDB do Distrito Federal, ontem, deu um voto na Comissão de Assuntos Sociais, um voto de um Senador... O voto dele foi assim: "Olhe, a Comissão de Assuntos Sociais não pode apreciar reforma trabalhista". Particularmente, eu acho que, se essa agenda fosse mais bem trabalhada, mais bem discutida, é uma agenda do País: modernizar as relações de trabalho, ter uma revisão da previdência. Nós temos de fazer isso em algum momento ou fazer por etapas, com cada governo fazendo a sua parte. A tributária também, o Pacto Federativo também. Isso é uma agenda. Só não pode ser feita dessa maneira, no meu ponto de vista. Chegar e dizer: "O Senado não muda nada". Aí, a Comissão de Assuntos Sociais diz que quer, sim, modificar; é uma lei que mexe com a vida das pessoas, com as crianças, com o futuro, com o presente, com mulheres, com homens, com velhos, com jovens. O Hélio José votou – estava aqui o Senador Reguffe falando –, e demitiram pessoas que ele indicou para o Governo. Elas chegaram ao trabalho hoje e estavam todas demitidas, chefes de setores. Senador Cristovam, é um negócio, moeda de troca. Nós estamos discutindo o País, temas fundamentais para a vida do País, para a economia do País.

    Por isso, eu acho que... Às vezes, há gente do Governo que diz que o Governo tem que seguir em frente por conta da economia. Mas e os valores que estamos discutindo? Vamos, então, disfarçar o que estamos vivendo? Certamente podemos ter uma situação ainda pior. O Senador Armando falou ainda há pouco que nós podemos ter um agravamento da situação econômica, que este Governo já não reúne minimamente as condições de enfrentar.

    Então, está na hora de pensarmos uma saída – quem sabe até para o próprio Governo? Quem sabe? Não é contra A, B, C ou D; se fosse, estaríamos errados.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – É pensando o melhor para o País.

    Eu ouço o Senador Elmano e encerro definitivamente, agradecendo muito o aparte dos colegas.

    O Sr. Elmano Férrer (PMDB - PI) – Nobre Senador Jorge Viana, eu queria me expressar da mesma forma como fizeram aqui o nosso Senador Armando Monteiro e o Senador Cristovam Buarque com relação ao discurso de V. Exª, feito com muita moderação, com muito equilíbrio, que nos tem chamado atenção pela segurança com que V. Exª se expressa, mas, sobretudo, pela preocupação que tem neste exato momento, que sei que é a preocupação de todos nós. Numa reunião na qual eu estava presente, o nobre Senador Cristovam Buarque fez a seguinte pergunta: "O que nos une e o que nos separa nesta Casa?" O que nos une e o que nos separa, e que contribuição nós podemos dar com vistas à construção de uma saída honrosa, democrática, dentro dos nossos valores, em decorrência do que nós estamos atravessando. Creio que constituímos, nós todos aqui nesta Casa e na outra, nas duas, em um sistema bicameral, um Poder da República, um dos Poderes da República. E muito se fala numa desarmonia, num desentendimento dos Poderes, que pode nos levar, digamos, a uma escuridão de previsão talvez dramática para o País. Então, eu creio que nós... V. Exª, inclusive, teceu considerações sobre isso, secundado pelos demais Senadores, com vistas ao nosso papel, à contribuição que temos que dar neste exato momento. E a proposta do nobre Senador Cristovam Buarque é no sentido de que procuremos, um grupo de Senadores, a Presidência desta Casa, o nobre Senador Eunício Oliveira, no sentido de discutirmos essa questão, de construirmos uma saída para o País à luz da nossa Constituição e dentro do Estado democrático de direito, que conquistamos há mais de 30 anos. Creio que nós temos uma contribuição a dar no encaminhamento de solução e vejo uma boa iniciativa – comungo dela – do nosso Cristovam Buarque no sentido de mobilizarmos e buscarmos a Presidência do Senado com vista à construção de uma saída para esta grave crise que está preocupando toda a Nação brasileira. Então, cumprimento V. Exª e parabenizo-o pelo discurso que acaba de pronunciar.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Obrigado. Eu só quero, então, encerrar dizendo que, nesta hora, de fato, o Brasil precisa de cada um de nós, do que temos de melhor.

    Eu me lembro bem da ajuda que o Senador Moka me deu quando cheguei aqui e fui relator de uma matéria que não tinha acerto – não havia como viabilizá-la –, que era o Código Florestal, porque mexia na propriedade da terra, no uso da terra. Agora, nós estávamos com propriedades judicializadas, um conflito direto, e nós conseguimos fazer uma mediação.

    Setores mais extremos me criticaram, me cobraram, outros cobraram de V. Exª, mas nós achamos o meio-termo. Nós encontramos algo que não foi ótimo para ninguém, mas foi bom para todo mundo.

    Eu acho que o Brasil está precisando de algo parecido. Não é possível que não encontremos um caminho que dê o mínimo de estabilidade – eu estou falando de estabilidade – para o nosso País, para o nosso povo.

    Agora, talvez, seja o bom momento, porque todos perderam. Quem estava no governo saiu, os que entraram também perderam, mas quem está pagando a conta são os brasileiros.

    Eu acho que nós podemos, sinceramente, como Congressistas, como Senadores de diferentes partidos, pensar o que nós podemos fazer imediatamente, porque, no ano que vem, há eleição, mas, neste ano, não há ainda eleição. Neste ano, há uma crise, que se agravou ainda mais; está ficando insuportável.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – E nós podemos, com harmonia, com sabedoria, com compreensão, com tolerância uns com os outros, quem sabe, encontrar um caminho, não é, Senador Moka?

    O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) – Eu acredito que nós vamos encontrar o caminho, principalmente se as pessoas começarem exatamente a fazer esse discurso, não só o discurso, mas ter esse comportamento. Eu já, de algum tempo, não voto mais pensando em partido; eu voto pensando no meu País, no meu Estado.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Muito bem.

    O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) – E eu tenho certeza de que, assim como foi possível construir aquele acordo que aparentemente seria difícil, sobre o Código Florestal, mas, com a ajuda – aliás, com a grande ajuda – de V. Exª e do saudoso Luiz Henrique da Silveira, foi possível... Então, eu acho que são...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Exemplos.

    O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) – ... gestos como o que V. Exª acaba de fazer dessa tribuna é que haverão de contribuir para que este País possa trilhar um caminho e sair da crise em que se encontra. Quero parabenizar V. Exª pela postura e pelo discurso.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Obrigado.

    Eu só faço o registro de que estão no cafezinho – e eu vou já encontrar com eles – o Dr. Luís Camolez, Presidente da Associação dos Magistrados do Acre, também o Dr. Jayme, Presidente da AMB (Associação dos Magistrados do Brasil), e a Drª Rita, Juíza e Diretora da AMB.

    Sejam bem-vindos ao Senado. Eu vou cumprimentá-los.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2017 - Página 69