Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Críticas ao Presidente Michel Temer pelo seu suposto envolvimento com organizações criminosas.

Autor
Ângela Portela (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Ângela Maria Gomes Portela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao Presidente Michel Temer pelo seu suposto envolvimento com organizações criminosas.
Outros:
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2017 - Página 123
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, DENUNCIA, EMPRESARIO, AGRONEGOCIO, OPERAÇÃO LAVA JATO, ACUSAÇÃO, CRIME, CORRUPÇÃO, IMPORTANCIA, INVESTIGAÇÃO, DEFESA, AFASTAMENTO, PRESIDENTE.

  SENADO FEDERAL SF -

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21/06/2017


DISCURSO ENCAMINHADO À PUBLICAÇÃO, NA FORMA DO DISPOSTO NO ART. 203 DO REGIMENTO INTERNO.

    A SRª ÂNGELA PORTELA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, na sucessão de escândalos em que se transformou o governo Temer, uma nova sequência de denúncias acaba, uma vez mais, de estremecer o País. O presidente da República, Michel Temer, foi chamado de nada menos do que “chefe da maior e mais perigosa organização criminosa" do Brasil em entrevista publicada nas edições de final de semana das principais revistas do País, o que foi fartamente reproduzido nos jornais, nos noticiários de rádio e de televisão e, claro, na internet.

    Evidenciou-se a virtual impossibilidade de que o governo venha a resistir a essa tempestade de denúncias e acusações, fartamente documentadas.

    A sequência de denúncias não atinge apenas o presidente Michel Temer. Como chefe de quadrilha, segundo os acusadores, ele teve citados os integrantes dessa quadrilha.

    Foram mencionados de forma expressa, com todas as letras, os ainda ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique

    Eduardo Alves, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro.

    O Palácio do Planalto divulgou nota na qual tenta desqualificar os acusadores, mas não explica pontos fundamentais do escândalo.

    O empresário autor das denúncias, delator da Operação Lava Jato, afirmou que hoje o Estado brasileiro está dominado por organizações criminosas abrigadas em partidos políticos.

    Foi nesse sentido que o empresário passou a detalhar sua relação com o presidente Michel Temer, iniciada entre 2009 e 2010, quando o então deputado presidia o PMDB e, em seguida, quando ainda era vice-presidente.

    Ele disse que, no segundo encontro que tiveram, Temer deu o número de seu celular e que os dois passaram a trocar mensagens.

    Afirmou ainda que frequentou o escritório e a casa do presidente em São Paulo e o Palácio do Jaburu, residência oficial do vice em Brasília. O empresário contou até que Temer já esteve em sua casa e que foi ao seu casamento.

    Toda essa relação se estendeu durante anos. Nada disso é explicado na nota emitida pelo Planalto, que qualifica o empresário de “bandido”. Como seria possível que um político tarimbado como o atual presidente não percebesse, em uma relação tão longa e tão próxima, que seu interlocutor era um “bandido”?

    É evidente que muito se precisa ainda investigar e descobrir nessa relação, que pode ser tudo, menos republicana.

    O empresário narrou que precisava resolver problemas e que via em Temer a condição de resolver problemas. Acrescentou achar que o presidente via nele um empresário que poderia financiar as campanhas - e fazer esquemas que renderiam propina.

    Mais importante, revelou que, desde que se conheceram, teve “total acesso” a Temer. Por isso mesmo reúne condições para afirmar que o atual presidente da República não tem muita “cerimônia” para tratar desse assunto e que “não é um cara cerimonioso com dinheiro”.

    Houve ainda, a comprovar a proximidade entre ambos, o empréstimo do jatinho da JBS ao então vice-presidente. O pedido foi feito dentro desse contexto: “Eu preciso viajar, você tem um avião, me empresta aí”, disse o empresário.

    Ele disse ainda que Temer acha que o cargo que então ocupava “já o habilita” a fazer tais pedidos. “Sempre pedindo dinheiro. Pediu para o Chalita em 2012, pediu para o grupo dele em 2014”, relata. Se isso acontecia quando era vice, imagine-se agora.

    O empresário afirmou na entrevista que a pessoa a quem Eduardo Cunha se referia como superior hierárquico era o próprio Michel Temer. “Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer”, relatou.

    Isso corrobora o que sempre dissemos aqui, a proximidade suspeita e complexa entre o notório Eduardo Cunha e o atual presidente.

    Veio daí a afirmação bombástica do empresário: "O Temer é o chefe da Orcrim, da organização criminosa. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles".

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, esse novo escândalo, minuciosamente narrado, mostra que muito ainda há por explicar. A nota do presidente nada esclarece a respeito dessa relação com empresários, como nada revela a respeito do encontro que mantiveram no Palácio do Jaburu, quando Temer já estava investido da Presidência.

    Foi essa conversa que, gravada, deu origem a essa nova sequência de denúncias que emparedou o atual governo, inviabilizou sua permanência e, agora, ganha contornos ainda mais precisos.

    O Palácio do Planalto precisa dar respostas. Entretanto, devemos reconhecer que, mesmo surgindo essas explicações, a permanência do atual governo e de seus integrantes já se tornou inviável.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2017 - Página 123