Discurso durante a 97ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Comemoração do dia nacional do pescador, comemorado em 29 de junho.

Comentários sobre a necessidade de ações do Congresso Nacional que visem à solução para a crise política e econômica do País.

Autor
Rose de Freitas (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Rosilda de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PESCA E AQUICULTURA:
  • Comemoração do dia nacional do pescador, comemorado em 29 de junho.
CONGRESSO NACIONAL:
  • Comentários sobre a necessidade de ações do Congresso Nacional que visem à solução para a crise política e econômica do País.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 30/06/2017 - Página 83
Assuntos
Outros > PESCA E AQUICULTURA
Outros > CONGRESSO NACIONAL
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, PESCADOR, CRITICA, PORTARIA, AUTORIA, MINISTERIO DA PESCA E AQUICULTURA (MPA), OBJETO, AUMENTO, PROIBIÇÃO, PESCA.
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, ATUAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, OBJETIVO, SOLUÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA, REFERENCIA, UNIÃO, POLITICA PARTIDARIA, COMBATE, DIVERGENCIA, INTERESSE, PARTIDO POLITICO.

    A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Obrigada.

    Sr. Presidente, Sr. Paim, que permanece como sempre no plenário, assíduo pensador dos problemas do nosso País, lutador pela causa dos trabalhadores e, enfim, desta Nação, hoje é o Dia dos Pescadores, como registrou o Senador Paulo. Eu também quero fazer este registro e dizer que nós já vivemos várias questões e agora vivemos outras que envolveram portarias. E o Ministério da Pesca, não vou dizer que equivocadamente, mas, com certeza, sem maior acuidade, baixa portarias proibindo a pesca de várias qualidades e espécies de peixes, o que mexeu com a economia do meu Estado e – acredito – tem mexido com outras economias também.

    Então, a homenagem aos pescadores, lutadores permanentes com as tempestades em alto-mar, com as intempéries do tempo, para trazerem para a sua casa e para o nosso País, principalmente no Estado do Espírito Santo, o peixe à mesa dos brasileiros.

    Sinceramente, ouvi atenta aqui o Senador Paulo Paim, ouvi o Senador Paulo. Eu quero dizer, Presidente Armando, que este momento é tão difícil que algumas palavras vêm ao nosso pensamento para encontrar um território comum nas nossas lutas, em vez de estarem totalmente opostas, o que é justo, o que é fácil de entender. Somos partidos que estavam unidos num governo. Nós nos desmanchamos nesta luta, cada um com sua posição, e construímos um outro momento, no País, com um Governo interino. Mas eu não posso deixar de reconhecer aqui que, quando nós falamos da dificuldade do País, nós estamos nos esquecendo de falar o que serve, para que serve ou deveria servir continuamente o Congresso Nacional.

    É um momento difícil, delicado. Acredito que é único até da nossa democracia, com tantos problemas projetados ao mesmo tempo em cima desta Nação e do povo brasileiro. É o momento em que a população, a sociedade está inteiramente perplexa. Mas é mais perplexo ainda que nós, nesta Casa, em campos opostos por proposta esta ou aquela para um texto de uma reforma trabalhista, não tenhamos capacidade de chegar ao todo que está posto diante de nossos olhos e que esta crise tem alcançado todos os dias.

    Há pouco tempo, foi evidenciado que a Presidente tinha que sair pela crise econômica gerada. E aí veio a crise política, que abalava a economia; e veio a economia, que abala a política em nível nacional. A sociedade não tem mais o que dizer, ferida como está, machucada, desrespeitada. Esta Pátria está vilipendiada, com todas essas acusações, todos esses escândalos. É a mais profunda crise política que eu já presenciei. Não vou dizer só ao longo dos outros mandatos. Eu vou me reportar à minha adolescência, à minha vida social, à minha vida de cidadã, à minha vida de mãe, à minha vida de militante, a tudo, tudo. Ela mexeu com a estrutura de uma política que eu pretendia fosse a grande responsável para construir saídas para momentos como este.

    É muito comum a gente dizer: "Olha, a reforma trabalhista... Mas se alguém está propondo que ela precisa ser mudada. Então, por que ela não é mudada?" E me parece que a única sintonia que se vê nesse Brasil é a crítica contundente lado a lado. O que critica diz que os senhores, da oposição, não querem fazer a reforma. Portanto, estão trabalhando contra o Brasil. Os que não querem fazer a reforma dizem: "Olha, este partido, este Governo vai acabar com o Brasil."

    Olha só: acaba com o Brasil mais não saber refletir sobre ele e tomar as iniciativas que deveriam ser devidas a este País. A classe política tem o dever de pensar conjuntamente, de não fazer da divergência o nosso ponto de divórcio, em que só o povo sofre as consequências, mas fazer das nossas divergências o ponto enriquecedor da construção de alguma coisa que ajude o País a sair desta crise.

    Não falo mais de crise moral, ética. Todo mundo está vendo. O quadro é esse que está posto aí. Eu falo da instabilidade política toda, que não nos ajuda a enfrentar a crise econômica, que não nos permite enfrentar a crise econômica. Se cada um ceder, de algum lugar, um ponto... Eu falo aqui com muita tranquilidade, perto do Senador Paim, porque nós temos anos de convivência, mas eu digo que o momento crucial neste País é este de agora.

    Não pensem que, no discurso... Eu ouvi alguém dizendo: "Olha, o PMDB está ressuscitando o PT". E ouvi o PT dizendo assim: "Nós acabamos com o PMDB." O que está acabando é o País, é a Nação brasileira.

    O que é que nós estamos apresentando? A proposta... Eu respeito todas. É no debate democrático; é isso mesmo. A síntese da Nação brasileira está aqui. Se a gente diz que este Congresso não presta, então digo assim: "Votem nos que prestam, porque ninguém vem para cá nomeado." É preciso que a gente tenha a capacidade de intervir nesse processo com atitudes mais firmes, mais destemidas e a favor do País.

    Eu não consigo pensar que exista outra solução que não seja construída por esta Casa. Que diálogo? Que debate? Qual é o cenário que esta Casa tem para debater a economia profundamente? É preciso mostrar que não há saída se não for pela via democrática. Ganhe quem ganhar, perca quem perder, é necessário contornar, estancar, e não ajeitar, fingir que não está acontecendo. Está acontecendo!

    Eu não encontro nenhum companheiro de qualquer partido que seja que não esteja, nesse corredor, combalido, abatido, perplexo, indignado e cheio de dúvidas.

    Pensam assim: "Vamos nos organizar para tirar o Presidente da República." Sim, tira. E depois? E depois? Eu não quero dizer que o único que pode fazer a reforma do Brasil é o Presidente Temer – não estou dizendo isso –, mas chego a pensar que é assim, porque a instabilidade política deste País é muito grande e é causadora também do agravamento da instabilidade econômica. Não dá para desconhecer esse fato.

    No momento, se alguém pensa que pode tirar proveito para a eleição de 2018 com o debate... Eu ouvi, com muita atenção e com muito carinho, o discurso do Senador Paulo, que fazia reflexões não só do desassossego, mas também da inquietação que lhe cabe neste momento para discutir um projeto de Nação. E onde estão aqueles que querem discutir um projeto de Nação? Por que esta Casa, as duas Casas não se reúnem? Vamos construir um projeto que esteja dentro das nossas lides no projeto congressual, alguma coisa que acrescente a esta Nação ferida, humilhada, maltratada, como ela está.

    Eu pensava lá atrás, Senador – V. Exª participou de reuniões, e acho que o Senador também –, quando nós ainda tínhamos o governo Dilma: não é possível o País se unir, já que fomos nós que construímos essa eleição? Poderíamos nos organizar numa coalizão nacional para apresentar uma proposta de recuperação do País – que todos estivessem se esforçando para isso.

    A retomada de investimentos só é possível com decisões para a retomada do investimento. "Ah, o Brasil precisa confiar." Confiar em quê? Qual proposta? Para onde nós vamos? O que nós estamos fazendo? A nossa pauta é frívola, a nossa pauta é frívola!

    Quando encerram a sessão – e olha que eu não sou faltante de quase nada, eu vivo essa angústia, essa incerteza, que todos vivem –, mas, quando a sessão acaba, e nós não adentramos nos assuntos que importam para o País, eu sinto um vazio, um vazio dentro de mim. Aí eu vou para o ministério, vou para uma reunião, mas parece que aquilo que era importante ser feito não foi feito, não será feito.

    Então, eu aqui não estou à procura de respostas nesta tribuna, nem de esclarecimentos, não estou procurando definir um rumo, mas estou dizendo que nós podemos fazer isso conjuntamente, com as contradições todas que tivermos. Quem está a favor da reforma entende que o tempo, que o trabalho intermitente, a precariedade, isso e aquilo, vamos discutir, vamos apresentar.

    O ponto a que nós chegamos é um ponto que incomoda: você ter uma proposta de uma reforma trabalhista, quer propor emendas, alteração de texto, e não pode fazer, porque eu disse tantas vezes aqui, por isso eu tenho que ser coerente com o que falei, que quem não tem pressa neste País é a classe política. O povo tem pressa. E o País está mostrando que a falta de pressa levou ao comprometimento de nossa economia, a falta de clarividência das nossas posições, a capacidade de nós argamassarmos uma gestão eficiente para a saída da crise econômica nos afasta da nossa responsabilidade política, nos afasta.

    Qual é o momento, Senador Armando, Presidente desta sessão, em que nós falamos assim, Senador Cristovam – por quem eu tenho o maior apreço e admiração, quando foi ministro eu tive a oportunidade de participar da sua gestão à frente da educação, que é uma das bandeiras mais importantes deste País –, qual é o momento que nós nos olhamos e falamos assim: precisamos ter uma sessão para debater o Brasil, para debater o Governo? Não quero debater esse tema, fico e o tema sai.

    O País é feito de brasileiros, com estrelas, sem estrelas, com a bandeira do PMDB, sem a bandeira do PMDB, com a bandeira do PP – não são as siglas que estão comandando a emoção do povo brasileiro. A emoção do povo brasileiro está presa a esta estagnação que nós estamos vivendo do debate político nacional.

    É sempre uma pauta assim: "A senhora é a favor da reforma ou contra a reforma? A senhora acha isso ou acha aquilo?" Eu acho tudo que tenho que achar, mas eu preciso agir. Nós temos que encontrar um campo de ação a favor deste País, e não é com essa nossa perplexidade. Eu não sei o que vai acontecer, mas vamos ver amanhã. Olha, se chegar lá a denúncia, lá dentro da Câmara, vai ter uma sessão, depois nós vamos ver. Olha, o Janot fatiou o processo em três partes, então, agora o País acabou. Ou não, o País vai durar mais, porque ele fatiou em três partes.

    O que permanece incólume nesta discussão que eu não sei? Nada. Parece que o povo brasileiro não está vendo? Está enxergando tudo – enxerga a inércia, a omissão, o descuido, o deboche e também enxerga que neste País querem nos colocar quem é a favor do Temer ou quem é contra o Temer, quem é a favor da reforma ou contra a reforma. Tem coisas maiores nesta Pátria que não conseguem pôr de pé um projeto de saúde para atender nem mulher, nem criança, nem índio, nada, nem idoso, e que sofre a duras penas. E eu ressalto aqui a administração até do Ministro da Saúde, que trabalha dia e noite, tenta construir a saída, vive com o pires na mão. Nós já o estamos ajudando, mas o País é um todo, é um todo.

    Não sei se pensam... Eu já ouvi também nesse momento de incerteza e dúvida, eu ouvi também dizer: "Olha, a luta será entre o PMDB e o PT." Esse arco de construção, que é fatídico, na minha opinião, que não acrescenta nada a esse cenário nacional, que em nenhum momento nos traz para um debate construtivo sobre esta Pátria, esse arco é facínora para o meu entendimento.

    Como é que se pode pensar, como é que nós podemos deixar acabar as sessões, dia após dia, sem aprofundar e discutir as angústias, as incertezas e a falta de decisões que nós precisamos ter? Ouvi algumas pessoas criticarem aqui essa questão: "Olha, quem estiver contra o Governo tira os cargos, põe os cargos..." É isso que restou? É essa que é a manchete da primeira página dos principais jornais? Líder diz que vai desfavorecer ou vai prejudicar alguém que esteja votando contra.

    O pensamento nacional não está funcionando... e deveria nascer nesta Casa. Estamos aqui presididos pelo ex-presidente da CNI, estamos sendo ouvidos aqui por um ex-ministro da Educação. Há pouco, estava ali o Paulo Paim, que é um militante da política brasileira, onde quer que ele esteja, com que pensamento estiver, com que proposta estiver. Legítimo, verdadeiro, lutador, real. E tenho certeza, porque muitas vezes conversei com ele, que as preocupações que fala aqui também fazem parte da dele, embora ele possa querer trucidar o texto da reforma trabalhista; mas ele faz com a responsabilidade de quem pensa neste País.

    Então, sem rumo, crises após crises, onde nós estivermos, Senador. Mas nesta sessão, que tem aqui três Senadores... Eu vou contar que tem quatro, porque o Senador Paim nunca está ausente. Acabei de falar, ele acaba de entrar novamente. Nós precisamos nos manifestar. Nós precisamos pensar em conjunto, derrubar as paredes partidárias, não em relação ao voto. O voto está na rua. Daqui a pouco vamos lá discutir as nossas propostas. Em relação ao Brasil. Derrubarmos as paredes, Senador Paim, para pensar este País como um todo, com a participação...

    Assim, coloco a sociedade arregimentando a sua insatisfação para se opor em determinado momento. Neste momento, reforma trabalhista. E depois? Qual o capítulo que nós vamos escrever? Uma nova manifestação? Legítima, verdadeira, importante... Mas é assim que nós vamos construir, falar da política nacional? Discutir, por exemplo... Já há tantas coisas sendo discutidas... Não, Sr. Presidente: cai eleição indireta, eleição direta, cada um pensando como é que vai funcionar o seu biombo político. Porque é um biombo, cujas intenções, ao discutir textos, também estão claras. É só puxar o biombo, que você vai enxergar.

    Eleições. Daqui a pouco. Vamos eleger o Lula, vamos eleger o Bolsonaro, vamos eleger a Marina, vamos eleger... Enquanto isso, o Brasil padece.

    Nós não somos do tamanho que nós queremos mostrar. Não é a minha proposta. Eu via, lá no meu Estado, muitas vezes, jornal dizendo assim: "Fulano teve tantos projetos apresentados." Não importava se o projeto fosse debatido, se era bom ou se era ruim; o importante era o número de projetos.

    Então, nós chegamos a esse formato da política nacional, em que estamos nos contentando com a participação da tribuna, quando dá. Aliás, quando o Paim deixa, não é? Porque ele é o meu aliado, mas é o maior orador desta Casa. Então, eu tenho questionamentos a fazer.

(Intervenção fora do microfone.)

    A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – Mas... Não, você pensa como deveriam pensar muitos. Pensa. Você cria um ambiente político para colocar as suas posições. Mas eu gostaria... Eu não sou uma mulher, uma pessoa de dizer "olha, estou triste, estou decepcionada." Eu tenho angústia do momento, que exige de mim mais do que eu estou podendo construir agora, porque estão faltando parceiros.

    Eu tenho certeza de que a cabeça do Senador Armando, do Cristovam, a sua, a do Paulo e de outras tantas estão preocupadas com o que é que nós estamos fazendo com essa representatividade. Não é uma representação e nem temos que fazer do mandato um artefato para que a gente possa, amanhã, se enfrentar. Nós teremos o momento dos nossos enfrentamentos políticos, mas o País não está vendo este Congresso enfrentar a crise que ele vive, nem na economia, nem na política. Nós estamos fazendo de conta. Esta pressão... Eu não quero discutir em que momento nós vamos escolher o ocupante, se esse vai até 2018... Há um papel que cabe à Justiça, há um papel que cabe à política, há um papel que cabe ao setor produtivo, há um papel que cabe aos trabalhadores. Todos nós devemos estar atentos a isso que está acontecendo no Brasil.

    No que a população pode acreditar?

(Soa a campainha.)

    A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – No que a população pode acreditar? Acreditar que, a cada momento em que nós nos confrontamos – do lado de lá ou a favor da reforma, do lado de cá, contra ou vice-versa –, nós estamos ajudando o País a prosseguir para onde... Nós estamos ajudando, para que ele enfrente um abismo da indecisão e, em vez de termos líderes à frente dessa batalha, teremos os rebotalhos da política nacional.

(Interrupção do som.)

    A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – ... haja vista se nós, mudamente, refletirmos sobre as propostas que estão postas aí, nós, sozinhos em casa, haveremos de ter a perplexidade da coisa inusitada, malfeita, contra o povo brasileiro, das escolhas que estão postas diante dele.

    E todo mundo está satisfeito! "Cumpri meu dever, eu fui lá, frequentei a sessão de segunda a sexta. Eu, no meu Estado, sou conhecido como quem vem e fica 15 dias direto, porque, no sábado e domingo, também quero trabalhar, e isso tem resultado em boas coisas no meu Estado...

(Interrupção do som.)

    A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – ... ou é a quadra, ou a escola, ou o hospital, sobretudo as escolas, sobretudo os hospitais...

    Mas eu quero dizer que é tempo de assumirmos o comando da questão política colocada diante dos nossos olhos, com a angústia que o brasileiro nos mostra, com a perplexidade, com essa falta de saída que nós estamos colocando para a Nação brasileira.

    Sabe, o calendário das nossas votações das nossas matérias está bem aquém daquilo que o País precisa. O nosso pensamento, o nosso compromisso com a vida nacional estão bem aquém do que o País está expondo diante das chagas, feridas, que nós estamos vendo no olhar do brasileiro que ainda para diante da gente e diz: "Gosto do seu trabalho." Mas tenho certeza de que ele não pode acrescentar: "Gostamos do que o Congresso está fazendo para ajudar o Brasil!"

    Desculpem-me. Já o tempo... Não é um desabafo. É uma proposta. Precisamos encontrar um lugar comum, em que nós possamos dizer ao Brasil que estamos pensando que, através desta Casa, que é um dos pilares da democracia – um dos –, poderemos sair dela com um papel importante, intransferível, do Congresso Nacional, do qual eu honradamente faço parte.

    Era o que eu queria dizer.

    Quero agradecer, Presidente... Ah, desculpe-me! Meu querido amigo, o Senador Cristovam.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Senadora, eu vou comunicar, salvo se a senhora disser que não. Não estou pedindo permissão, mas se a senhora disser que não, eu não faço. Eu vou tirar cópia do seu discurso e mandar para cada Senador. Cada um de nós merece, precisa, ouvir o que a senhora falou. Estamos há muito tempo aqui, Senador Armando. E olha que, na semana passada, conseguimos juntar aqui um grupo com o qual conversamos. Mas, mesmo assim, o seu discurso me tocou mais do que muitos que ouvi ultimamente. Eu vou pegar uma frase, no finalzinho, quando a senhora diz que nossa contribuição está aquém do que o Brasil precisa. Aí eu vou fazer uma reflexão. Será que nossa contribuição está aquém da nossa competência, dos nossos compromissos ou nós somos tão fraquinhos, tão irrelevantes, que estamos na altura do que nós fazemos? Se olharmos o passado, aqui, de cada um, o currículo, a biografia, a impressão que eu tenho é a de que nós temos potencial de dar muito mais do que estamos dando. Nossa contribuição está aquém do que o Brasil precisa e está aquém do que nós temos condições de oferecer. E uma das coisas fundamentais, para que nós possamos oferecer, Senador Armando, é começarmos a nos preocupar com o dia seguinte das soluções que encontramos para a crise deste instante. Nós não estamos pensando. Nós estamos pensando em tirar ou manter o Presidente Temer, e é uma preocupação que se tem de ter. Mas e o dia seguinte? O que nós estamos pensando sobre como blindar a moeda, para que, saindo o Presidente ou até o Presidente continuando, a gente possa blindar a estabilidade monetária de que este País precisa? Digo isso porque a inflação é o pior dos impostos, é uma corrupção em que se rouba dinheiro de todo o mundo e se dá ao Estado. No dia seguinte, como é que nós vamos garantir as instituições, na medida em que a gente tira dois Presidentes em um ano? Na medida em que há suspeitas, hoje, sobre todas as instituições? Na medida em que há, sim, uma promiscuidade muito grande? Como é que nós vamos garantir as instituições? Como é que nós vamos recuperar a nossa credibilidade? Numa ditadura não se precisa de credibilidade; basta um tanque de guerra. Basta ter um Dops, e você se mantém. Mas na política democrática é a credibilidade que mantém. A credibilidade é o nosso tanque de guerra, é o nosso fuzil. E não estamos tendo. Para que manter essas instituições democráticas, se nós não temos credibilidade? E como recuperar o ânimo da população? Pergunto, porque a senhora tocou nisso. Como buscar construir coesão social e rumo? Como recuperar as finanças, que não é o mesmo que manter a estabilidade. Há mais do que isso, embora se juntem. Como retomar o crescimento e o emprego? Nós precisamos ter um debate – a senhora disse – construtivo sobre a Pátria. O debate construtivo não pode ser pequeno; ele tem que ser grande. Grande passa pelo pequeno também. Não adianta querer aqui falar do grande, esquecendo o dia a dia, o pequeno; mas o grande não cabe no pequeno. É o pequeno que cabe no grande. Se nós ficamos só no pequeno, traímos o que nós temos obrigação de fazer aqui. A senhora diz que o País não está vendo o Congresso agir pelo Brasil, e é verdade: não está vendo. E nós também não. Por isso que a senhora falou que a gente anda pelos corredores cabisbaixos, preocupados, desanimados. Hoje, eu creio que, para você ser candidato aqui a uma reeleição, tem que ser ou muito cara de pau, ou muito patriota, para continuar nesta atividade. Ou um espírito público tão forte, que você diz: "Apesar de tudo, eu não vou abandonar esta luta." Ou dizer: "Está tudo ruim, eu vou me locupletar naquilo que se consegue aqui." Temos que superar a situação. E, sobretudo, eu olho para a juventude que vê em nós, hoje – eu sinto, quando eu ando por aí –, uma certa desconfiança. Alguns, eu acho, não conseguem andar mais. Mas os que conseguem andar não se iludam: as pessoas olham com desconfiança. De vez em quando chega um, pede para fazer foto, selfie, elogia, mas eu acho que, no espírito em geral, hoje, há uma desconfiança, um descontentamento para conosco. Não há democracia se o povo tem desconfiança em relação a seus Parlamentares. Não é democrático. Pode até não ser ditadura, mas não é democrático. E o País continuará sem coesão e sem rumo, se continuar assim. O seu discurso nos faz despertar. Por isso, eu acho que todos deveriam ler, todos deveriam estar aqui ouvindo, mas cada um de nós tem atividades. Outras. Não é só aqui no plenário que funciona o trabalho de um Senador. Eu vou tomar essa iniciativa. Não sei quantos vão ler. Ler não tem o mesmo gosto de assistir, mas é preciso agarrar o que a senhora falou e espalhar neste Congresso. Nós temos que despertar. Nós estamos sonâmbulos. E daqui a pouco vamos estar zumbis. O sonâmbulo ainda está vivo; o zumbi já está morto. Eu tenho essa passagem de sonâmbulo para zumbi. Não estou contente em ser sonâmbulo, sentir-me sonâmbulo aqui, mas o que me assusta é que o próximo passo pode ser sermos zumbis, que não têm mais esperança de acordar. Vamos despertar. É isso que eu acho que o seu discurso nos passou: vamos despertar. E eu quero continuar neste debate. Vamos estar mais juntos aqui também, vamos debater mais aqui. As coisas grandes, inclusive as pequenas, como eu disse. Não podemos fugir, porque temos duas reformas em andamento e com muitas discordâncias, com muitas razões dos dois lados. Os dois lados têm razão nessa discussão. Mas vamos pensar grande, porque eu creio – pode ser pretensiosidade, mas não é para mim, é para o conjunto – que, além de a nossa contribuição, como a senhora disse, estar aquém do que o Brasil precisa, eu creio que a nossa contribuição está aquém do que nós podemos dar. Basta querer, de verdade, refletir um pouco, em conjunto. Não estamos fazendo isso. Talvez essa seja a maior gravidade. Nós estamos pensando quando estamos no travesseiro, quando estamos escrevendo, quando estamos sozinhos, quando conversamos com uma pessoa, com outra, com familiar, mas aqui, em bloco, não estamos pensando. Eu não devia nem estar surpreso com o seu discurso. A gente já devia ter conversado isso há mais tempo, mas a senhora pelo menos veio aqui e falou. Outros de nós chegam aqui, nem falam. E vou lhe dizer: hoje sinto uma certa inibição de subir à tribuna para falar. Sinto. E olhe que eu falava muito aqui. Ultimamente não tenho falado. Falar o quê? Ficar no pequeno? Parece que não está à altura do que o momento exige. Falar do grande? Parece que está louco, está fora de sintonia. O povo está pensando realmente no dia a dia, porque está descontente e porque não vê rumo para o País. Não vou parabenizá-la, como aqui se costuma fazer. Eu vou lhe agradecer pelo seu discurso. Agradeço-lhe muito. Fico feliz de ter saído para um compromisso, ter voltado aqui e conseguido assistir ao seu discurso. Muito obrigado, Senadora Rose.

    A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – Senador, concluindo as palavras, nunca esperei de V. Exª que, se alguém desse um passo nesta Casa, fosse quem fosse, em que situação, V. Exª não estivesse com seu passo junto quando se trata do País. Portanto, eu só me sinto honrada por V. Exª estar aqui. Sinto-me honrada de experimentarmos as mesmas emoções. Tenho certeza de que nós, honradamente juntos, em nome deste País, V. Exª ex-Presidente da CI, Senador brilhante, podemos fazer esse esforço. Ainda que sejamos três, quatro, cinco, mas que possamos nos somar. V. Exª nunca me surpreendeu, porque V. Exª está à altura deste País. Quando eu falo "a quem", "ao que podemos dar", nunca vou me referir a V. Exª. V. Exª dá o seu melhor sempre.

    Agradeço, Sr. Presidente.

    Muito obrigada.

    O SR. PRESIDENTE (Armando Monteiro. Bloco Moderador/PTB - PE) – Permita-me, Senadora Rose, antes de V. Exª sair da tribuna, também quero cumprimentá-la pelo pronunciamento. (Fora do microfone.)

    V. Exª traz aqui uma inquietação e, por que não dizer, uma sensação de que nós, em grande medida, compartilhamos – o Senador Cristovam sempre nos inspirando com as suas colocações, mas outros Senadores, também –, no sentido de poder, neste momento, discutir qual é o papel institucional do Senado diante de uma crise dessa magnitude que o País hoje atravessa. E o sentimento que nós temos, às vezes, de uma certa alienação que o próprio processo de representação parlamentar termina por produzir, um certo descolamento, vamos dizer, do que representam hoje os desafios do mundo real que está aí colocado.

    V. Exª fez, e eu registrei, uma avaliação crítica do que é o tempo da política vis-à-vis o tempo da economia, o tempo social. Por que não dizer do tempo social? Parece que o tempo da política é um tempo que não consegue responder, de forma minimamente adequada, a essa dinâmica do processo econômico, do processo social.

    Então, quero dizer que V. Exª traz aqui uma reflexão muito lúcida, muito pertinente sobre esse clima de perplexidade, por que não dizer, que nós estamos vivendo nesta Casa, ou seja, a compreensão de que não estamos à altura deste momento e a perplexidade porque não sabemos exatamente como o Parlamento... E eu não sei se o Senador Cristovam compartilha. Há uma certa crise dos Parlamentos no mundo. Como o Parlamento responde verdadeiramente a um processo como este?

    Resta-nos o consolo do debate que tem que ser travado aqui, nesse nível. Quem sabe através do debate possamos, de alguma maneira, contribuir para essa conscientização e, mais do que isso, para encontrarmos caminhos para o País.

    Eu me congratulo com V. Exª.

    A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – Agradeço, Sr. Presidente.

    Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/06/2017 - Página 83