Comunicação inadiável durante a 102ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas às sanções impostas ao Catar por Arábia Saudita, Egito, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, que acusam o país de apoiar o extremismo islâmico.

Autor
Hélio José (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
Nome completo: Hélio José da Silva Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Críticas às sanções impostas ao Catar por Arábia Saudita, Egito, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, que acusam o país de apoiar o extremismo islâmico.
Publicação
Publicação no DSF de 11/07/2017 - Página 17
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Indexação
  • CRITICA, SANÇÃO, BLOQUEIO, DESTINATARIO, PAIS ESTRANGEIRO, CATAR, ORIGEM, ARABIA SAUDITA, EGITO, EMIRADOS ARABES UNIDOS, MOTIVO, ACUSAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, ATIVIDADE, TERRORISMO, ESTADO ISLAMICO, PEDIDO, INTERVENÇÃO, DIPLOMACIA.

    O SR. HÉLIO JOSÉ  (PMDB - DF. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Queria agradecer ao nosso nobre Senador Lindbergh pela permuta; agradecer ao Sr. Presidente, Senador Eduardo Amorim; cumprimentar o Brasil; e cumprimentar a TV e a Rádio Senado.

    Pela Liderança do PMDB, quero colocar aqui o apoio ao Catar, que sofre bloqueio da Arábia Saudita, do Egito e de outros países, sob alegação de apoio ao terrorismo.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, quero, hoje, tratar de um assunto na área das relações internacionais que, embora não envolva um conflito militar, tem forte impacto na estabilidade política e econômica de uma região altamente estratégica do Planeta.

    Desde o dia 5 de junho deste ano – há mais de um mês, portanto –, o Estado do Catar enfrenta uma situação extremamente delicada. A Arábia Saudita, o Egito, o Bahrein e os Emirados Árabes Unidos impuseram ao Catar um bloqueio terrestre, marítimo e aéreo, com base na alegação de que o Catar abrigaria e apoiaria terroristas, entre outras acusações.

    Todo mundo conhece o Catar, já ouviu falar sobre Doha, já ouviu falar sobre esse país da Arábia que vai realizar a Copa do Mundo de 2022.

    O Catar, um dos países com a maior renda per capita do mundo e o maior fornecedor mundial de gás natural liquefeito, Sr. Presidente, ocupa uma península pequena, com uma área equivalente à metade do Estado de Sergipe, ou duas vezes a área do Distrito Federal. Tem apenas uma estreita fronteira terrestre, com a Arábia Saudita – a maior potência do Golfo Pérsico, um gigante com uma área equivalente a toda a nossa Região Nordeste mais o Estado de Minas Gerais.

    Entre as sanções sofridas um mês atrás pelo Catar estão:

– o fechamento, nobre Senador Lindbergh, do único acesso terrestre ao país, pela Arábia Saudita;

– o fechamento, nobre Senador Reguffe, do espaço aéreo da Arábia Saudita, do Egito, do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos aos voos da Qatar Airways;

– o fechamento dos portos dos Emirados Árabes Unidos aos navios do Catar que entram ou saem do Golfo Pérsico, nobre Senadora Ana Amélia;

– o rompimento das relações diplomáticas entre essas quatro nações e o Catar; e

– a expulsão dos cidadãos do Catar desses quatro países, além da convocação de todos os cidadãos desses quatro países, que, por qualquer razão, estivessem no Catar, nobre Presidente.

    Essa última sanção, Srªs e Srs. Senadores, é particularmente cruel. Em primeiro lugar, ela vai de encontro à milenar tradição de hospitalidade dos povos da península arábica, um dos traços definidores da cultura daquela região, nobre Presidente.

    É alto o número de casamentos entre cidadãos dos países envolvidos. Calcula-se, Sr. Presidente, que algo em torno de 12 mil pessoas tenham sido separadas dos seus entes queridos e forçadas a deixar para trás suas famílias, seus bens e seus empregos para atender à ordem de retornar aos seus países de origem. É uma situação caótica para o pequeno Catar.

    Já o bloqueio terrestre, aéreo e marítimo imposto ao Catar, embora não isole totalmente o país, dificulta imensamente a logística do país e traz impactos e prejuízos enormes ao turismo, ao comércio e ao bem-estar geral, não apenas do povo do Catar, nobre Presidente, mas de toda aquela região.

    A própria realização da Copa do Mundo de 2022, que acontecerá justamente no Catar daqui a cinco anos, pode ficar comprometida, a depender da duração desse bloqueio.

    O Catar refuta todas as acusações, e eu, como membro da Comissão de Relações Exteriores, não poderia deixar de vir aqui fazer este pronunciamento, argumentando que tem tomado medidas concretas na luta contra o terrorismo, como o corte de linhas de financiamento do terror em seu sistema bancário e a colaboração com outros países na área de inteligência e contraterrorismo.

    Além disso, o Catar abriga a base de Al-Udeid, a maior base aérea dos Estados Unidos no Oriente Médio, com dez mil soldados americanos estacionados.

(Interrupção do som.)

    O SR. HÉLIO JOSÉ  (PMDB - DF) – O Catar alega, perante a comunidade internacional, que as razões reais por trás do bloqueio seriam, entre outras, as seguintes:

    – as relações amigáveis entre o Catar e o Irã, rival histórico da Arábia Saudita;

    – seus laços com a Turquia, potência que também rivaliza com os sauditas no Oriente Médio; e

    – o jornalismo praticado pela agência de notícias Al Jazeera, do Catar, que, desde 1996, nobre Presidente, tem tido uma postura mais crítica, que desagrada aos sauditas, aos egípcios e à maioria dos governos daquela região.

    Tanto é assim que, entre as condições que os quatro países bloqueadores estabeleceram para levantar o bloqueio ao Catar, estão justamente – não sei por que motivo: o fechamento da Al Jazeera; o corte dos laços entre o Catar e o Irã; e o fechamento da base militar...

(Interrupção do som.)

    O SR. HÉLIO JOSÉ  (PMDB - DF) – ... turca em Doha, capital... (Fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Amorim. Bloco Social Democrata/PSDB - SE) – Senador Hélio, eu peço que encerre, porque já estamos prorrogando o tempo pela segunda vez.

    O SR. HÉLIO JOSÉ  (PMDB - DF) – Ah, é? Não, mas o tempo de Líder são vinte minutos, e eu não falei nem cinco.

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Amorim. Bloco Social Democrata/PSDB - SE) – Não... Senador Hélio José, a gente recebeu um comunicado aqui na Mesa, de que o senhor não pode falar como Líder, porque não tem representação de Líder.

    O SR. HÉLIO JOSÉ  (PMDB - DF) – Ah, tudo bem.

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Amorim. Bloco Social Democrata/PSDB - SE) – Portanto, o senhor está com o uso da palavra para uma comunicação inadiável por cinco minutos.

    O SR. HÉLIO JOSÉ  (PMDB - DF) – Ah, eu não estava sabendo. Para mim, eu estava falando pela Liderança.

    ... o fechamento da Al Jazeera; o corte dos laços entre o Catar e o Irã; e o fechamento da base militar turca em Doha, a capital do Catar.

    Estou concluindo.

    Apesar dos mais de 30 dias de bloqueio, o Catar tem conseguido, com a ajuda da comunidade internacional, suportar essas pesadas sanções, seja reforçando o comércio com outros países, seja buscando rotas alternativas para seus aviões e navios, seja realinhando sua própria infraestrutura para se adequar à nova situação imposta pelo bloqueio.

    É fundamental, neste momento, que se busque abrir linhas...

(Interrupção do som.)

    O SR. HÉLIO JOSÉ  (PMDB - DF) – ...de diálogo entre os países... (Fora do microfone.) Alô.

    É fundamental, neste momento, que se busque abrir linhas de diálogo entre os países em conflito, para que se restabeleça a estabilidade numa região tão importante e estratégica como é o Golfo Pérsico.

    Nesse ponto, o Brasil pode ser fundamental. Já nos oferecemos para intermediar o conflito entre o Catar e os países bloqueadores, mas as negociações são complicadas e progridem lentamente. Ainda assim, a vocação brasileira para a mediação, já demonstrada em várias ocasiões, tanto na América Latina, quanto em outros continentes, deveria se manifestar com mais ênfase neste momento.

    Temos relações amigáveis com todos os países envolvidos. Contamos com embaixadas em todas as nações envolvidas. Ao mesmo tempo, temos um distanciamento saudável e um posicionamento neutro na questão, pré-requisitos para uma mediação bem-sucedida. E, finalmente, graças a uma política iniciada em 2003 no governo Lula e na gestão de Celso Amorim no Itamaraty, nossa inserção na comunidade internacional vem se expandindo...

(Interrupção do som.)

    O SR. HÉLIO JOSÉ  (PMDB - DF) – ... e se diversificando na última década e meia. (Fora do microfone.)

    Deixamos de priorizar quase que exclusivamente a Europa e a América do Norte em nossas relações exteriores, como era o costume desde sempre; voltamos os olhos aos nossos vizinhos da América Latina, aos nossos parceiros da África, da Ásia e do Oriente Médio. Entre 2003 e 2010, abrimos 67 novas representações em todo o mundo, boa parte delas em países em desenvolvimento.

    É preciso, agora, que lancemos mão dessas prerrogativas para assumir uma postura mais ativa em questões como a do Catar.

    Faço um apelo, portanto, ao Palácio do Planalto e ao Itamaraty para que se posicionem mais firmemente em relação ao bloqueio do Catar.

    Não defendendo este ou aquele lado, mas trabalhando ativamente pela busca do diálogo entre aquelas nações e pelo fim do bloqueio, pois a instabilidade no Golfo Pérsico não traz benefícios nem aos países da região, nem ao resto do mundo.

    Muito obrigado, Sr. Presidente. Era isso que eu tinha a pronunciar sobre esse importante conflito.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/07/2017 - Página 17