Pela Liderança durante a 106ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à possibilidade de rejeição pela Câmara dos Deputados da denúncia apresentada contra o Presidente da República, Michel Temer.

Críticas à redução dos investimentos destinados às Universidades Federais.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas à possibilidade de rejeição pela Câmara dos Deputados da denúncia apresentada contra o Presidente da República, Michel Temer.
EDUCAÇÃO:
  • Críticas à redução dos investimentos destinados às Universidades Federais.
Publicação
Publicação no DSF de 03/08/2017 - Página 38
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • COMENTARIO, PROCESSO, DENUNCIA, CRIME, AUTOR, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REPUDIO, POSSIBILIDADE, REJEIÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • CRITICA, REDUÇÃO, INVESTIMENTO, DESTINATARIO, EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL, ENSINO SUPERIOR, REPUDIO, GOVERNO FEDERAL, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC).

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Como Líder. Sem revisão da oradora.) – Srª Presidenta, Senadora Vanessa Grazziotin, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quem nos acompanha pela TV Senado, Rádio Senado, redes sociais.

    Eu estive agora na Câmara dos Deputados, Senadora Vanessa, acompanhando um pouco os debates e as discussões acerca da denúncia de Michel Temer, para saber se a Câmara vai aceitar ou não a denúncia para que o Presidente Michel Temer seja processado e julgado.

    Então, desde cedo, lá, a Base governista tem dado quórum suficiente para isso, uma mobilização muito grande, e eu acredito que vão votar, vão fazer um esforço, pelo menos, para votar ainda hoje. O grande esforço que eles estavam fazendo, Senador Jorge Viana, é para votar agora à tarde. Eles não querem que a votação se estenda para a noite, por conta dos canais de televisão, dos jornais que vão dar, ao vivo, a votação na Câmara.

    Então, eles querem salvar o Temer, mas, de preferência, que não sejam muito expostos, se escondendo. Quem não tem causa, quem não tem coragem, quem não tem convicção do que está fazendo age assim mesmo: dá o tapa e esconde a mão. É exatamente o que esses Deputados vão fazer.

    Alguns poucos, lá, não. Alguns poucos lá defendem abertamente, mas a maioria tem essa postura. É lamentável. É uma postura de falta de coragem absoluta.

    Então, alguém que representa o povo que não tem coragem é alguém que não consegue representar bem o povo. Aí, com certeza, se trai quem é o Presidente que está lhe dando benefícios, vai trair o povo também. Então, o que nós temos lá na Câmara dos Deputados são muitos traidores, são muitos traidores.

    E esse pessoal que vai votar no Temer se escondendo, hoje, procurando não ser visto, alguns que vão lá só para dar presença, para haver quórum, para poder fazer a votação – não vão votar exatamente para não se mostrar –, são os mesmos, Senador Paim, que na votação para autorização do impeachment da Presidenta Dilma fizeram discursos duros, firmes, irados, falaram em nome de Deus, falaram em nome da moral, falaram em nome da família, dos filhos, para autorizar o processo de retirada da Presidenta Dilma. São os mesmos, absolutamente os mesmos que autorizaram o processo para que a Dilma fosse impichada. Vão votar agora para que o Temer não seja processado, julgado.

    Lá não se fala em condenação, é apenas abertura do processo. São exatamente os mesmos que vão votar situações mais ou menos semelhantes, não em termos de conteúdo, mas em termos de processo, e vão votar com argumentos diferentes.

    Só que, no caso do Temer, é escandaloso o que está acontecendo. A Presidenta Dilma não tinha cometido crime. Inventaram pedalada fiscal, inventaram decreto, fizeram o tal crime de responsabilidade. Nunca conseguiram comprovar, de fato, isso. O Michel Temer não. Há uma gravação dele no Palácio do Jaburu com alguém que fez delação, e ele falando com essa pessoa abertamente, sobre crimes cometidos por ele, pela administração dele, e o assessor pego com uma mala de dinheiro. Mas este é o país em que nós estamos vivendo hoje, o país de que as elites tomaram conta absolutamente, onde o povo não conta e onde o conceito de moralidade é extremamente amplo e flexível. Depende de quem está no poder e depende se o seu interesse está sendo satisfeito ou não. É isso que nós estamos vendo na Câmara dos Deputados hoje.

    Eu estava lá, e havia chegado o Ministro da Educação, que se licenciou para reassumir o seu papel de Deputado na Câmara, para votar pelo chefe, em favor do chefe, mas que estava lá também para articular liberação de recursos para a educação. Perguntei para ele: Ministro, o senhor está aqui? O senhor sabe que as universidades não vão conseguir funcionar depois de setembro? "Não é verdade. Nós aumentamos os recursos para a educação. Nós estamos investindo mais do que vocês." Disse: Isso é mentira! É mentira! O senhor está vendo as divulgações que nós estamos tendo pela imprensa. E não são matérias de ouvir dizer. São matérias in loco, que estão indo às universidades para exatamente fazer um diagnóstico do que está acontecendo.

    E o que está acontecendo é isso, Senador Paim. As universidades estão sem dinheiro para o básico. A partir de setembro, as universidades não pagam conta de água nem de luz. Como é que vai haver aula? Não há material mínimo para as aulas. Não há papel higiênico nos banheiros. E pensar que o Presidente Lula deixou essas universidades equipadas, equipadas. Fez instituto federal lá no Acre, não é, Senador Jorge Viana? Institutos federais maravilhosos, para incluir as pessoas, para formar, e com estrutura ótima. Fez concurso de professor e de professora. Ou seja, incluiu no ensino superior milhões de brasileiros. Pois bem: de 2016 a 2017, Senador Jorge Viana, 1 milhão de estudantes universitários deixaram os bancos escolares, entre público e privado.

    E, na questão do privado, é o desmonte do Prouni, é o desmonte do Fies, porque a cabeça dessa gente é a cabeça de que o povo não precisa estudar, fazer universidade. Filho de pobre não precisa. Se o filho dele, que é rico, que está bem de vida, estudar, é o que conta. Isso ainda é a cabeça do império, onde os filhos da nobreza, dos senhores que trabalhavam a agricultura brasileira iam estudar fora e, quando voltavam para o Brasil, eram empregados no Estado. Por isso que nós temos uma aristocrata estatal tão empoderada hoje, Senador Paim, gente que ganha muito dinheiro do Estado e não se preocupa com os outros.

    Esse pessoal, juízes, Ministério Público, que agora está pedindo aumento salarial. É uma vergonha isso! Os juízes estão pedindo, através do CNJ, 42% de aumento salarial. Eles ganham o teto – muitos, acima do teto – e estão pedindo isso! O Ministério Público pediu 16%. Eu quero ver a coragem desses conselhos de encaminhar esses aumentos aqui para o Congresso Nacional. Têm que ter muita coragem. Aliás, têm que ter muita cara de pau de ver o povo brasileiro passando fome, o povo brasileiro passando dificuldade, e eles mandarem para cá um pedido de aumento desse. Que justificativa têm? Pois é. É esse pessoal que vem lá de trás, daquelas famílias nobres que empregavam os seus filhos no Estado brasileiro, paupérrimo. Iam estudar na França, iam estudar na Inglaterra e, aí, não queriam trabalhar na lavoura. Queriam trabalhar no Império e iam para dentro do establishment estatal. É isso que nós temos hoje.

    Pois bem. Além disso, há essa visão do Estado brasileiro, que está sendo agora gerido por essa turma que só olha para a elite, essa mesma, Senador Paim, que veio aqui, defendeu e aprovou, com os Senadores desta Casa – que devem muita explicação, muita explicação ao povo brasileiro –, a reforma trabalhista, uma vergonha, uma excrecência. É não ter sequer solidariedade com o trabalhador e com o povo mais pobre. Eles aprovaram isso, sob protestos de V. Exª, com sua luta e seu enfrentamento. Então, são esses mesmos que colocaram o Temer.

    Eu ontem subi à tribuna e perguntei: por que vocês colocaram o Temer, gente? Por que vocês tiraram a Dilma? Por que vocês votaram no impeachment? Venham aqui explicar o que estão fazendo com as universidades, o aumento da gasolina, o desmonte da ciência e tecnologia e as 500 mil famílias que estão na fila, Senador Paim, pedindo Bolsa Família, que estão passando fome, que queriam um complemento de renda de R$180. Eles não fazem o cadastro, não permitem que se entre no programa. Agora, para dar R$2 bilhões ontem para pagar emenda de Parlamentar para votar a favor do Temer, eles têm! É um desastre isso! Um desastre.

    E a questão externa? Nós estamos virando chacota no mundo. Hoje, eu estava conversando no meu gabinete com um menino que morou no exterior. Ele disse que, à época em que morava lá fora, estudando, o Brasil era case em várias universidades. Estudava-se o Brasil, discutia-se o Brasil. O Brasil fazia parte da pauta dos pensadores externos, inclusive dos americanos que estudam outros países por interesse de estratégia. Hoje, nem isso. Ninguém quer discutir o Brasil. Não há interesse.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Viramos um País de quinta categoria.

    E é este País de quinta categoria que vai ver o seu Congresso Nacional – não é o seu povo, é o seu status quo –, na Câmara dos Deputados, fazer hoje a absolvição de Temer, porque é isso que está montado lá. Onze Ministros estão no plenário da Câmara! Onze ministros estão no plenário da Câmara fazendo negociações para salvar Michel Temer. É uma vergonha, é um escândalo!

    E, quando nós defendemos a Dilma aqui, nós dizíamos isto: o golpe é exatamente para desmontar o Estado brasileiro e tirar os direitos do povo. Agora, nós estamos vendo exatamente isto: aquilo que falávamos infelizmente está-se realizando. Eu sinto muito pelo Brasil e pelo nosso povo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/08/2017 - Página 38