Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Revolta com a atual crise que vivem as universidades e faculdades do País.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Revolta com a atual crise que vivem as universidades e faculdades do País.
Aparteantes
Fátima Bezerra.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2017 - Página 48
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • REVOLTA, SITUAÇÃO, UNIVERSIDADE, FACULDADE, AMBITO NACIONAL, MOTIVO, PRECARIEDADE, FUNCIONAMENTO, RESULTADO, CRISE, ECONOMIA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, BUSCA, FONTE, ALTERNATIVA, FINANCIAMENTO, CRITICA, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO, DESAPROVAÇÃO, CRIAÇÃO, FUNDO PARTIDARIO, OBJETIVO, CAMPANHA ELEITORAL, UTILIZAÇÃO, RECURSOS PUBLICOS.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srª Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quem tem visto o noticiário, quem tem lido os jornais tem percebido um suicídio nacional sob a forma da paralisação de trabalhos nas universidades e nos centros de pesquisa.

    Não tem futuro um País que não é capaz de manter suas universidades funcionando e seus centros de pesquisa gerando conhecimento. Não tem futuro. É um suicídio. Nós estamos nos suicidando. Esse suicídio tem algumas causas. A primeira causa, obviamente, é o Governo atual, que encontrou um rombo muito grande, um déficit, que tem que controlar as contas, mas podia estar tirando dinheiro de um lugar para outro, colocando recursos naquilo que é prioritário.

    Faz uma semana, o Governo gastou centenas de milhões de reais – alguns falam em bilhões – para "convencer" – entre aspas – Parlamentares a votar contra o pedido do Ministério Público de encaminhar um processo de suspeitas de corrupção do Presidente da República ao Supremo Tribunal Federal. Ou seja, para barrar o julgamento – não era nem para condenar –, para barrar o julgamento, gastou-se muito dinheiro, e as universidades parando. A UERJ já parou. Digam: "É estadual." Não importa, é nacional, é do Brasil. Os meninos e meninas que estudam na UERJ são brasileiros. Obviamente, vivem no Rio de Janeiro a maior parte deles. 

    O Governo não está cumprindo, como deveria, com as prioridades mais importantes para o País. Não podemos, entretanto, deixar de dizer que isso tem a ver com déficits que vieram dos governos anteriores e muitos de nós alertamos aqui que isso iria acontecer – eu sou um desses, mas outros também. Nós dissemos, explicamos, mostramos que esta tragédia da falta de recursos, que este rombo que estamos atravessando era previsível, ele iria acontecer. Então, o governo anterior, que vem aqui criticar o atual, precisa fazer uma autocrítica também, descobrir-se como causa também.

    Então, essas são as duas razões fundamentais. A outra razão é a de que, neste momento, há uma escassez de recursos.

    Mas eu quero apelar à comunidade universitária para que se levante, mas levante-se de uma maneira diferente do passado. Primeira diferença é que agora não basta mais reivindicar mais recursos, é preciso dizer de onde ele vai sair. E isso vai ser bom, vai servir para a consciência da comunidade, que estava viciada, ao longo de décadas, de apenas reivindicar pedindo mais, porque os governos davam mais e enganava-se todo mundo com a inflação. Felizmente temos uma ideia do teto, agora é preciso tirar de algum lugar. E eu queria pedir à comunidade acadêmica que comece a se mobilizar, Senador Paulo, para barrar esse fundo que querem criar, com o dinheiro do Estado, para financiar campanha eleitoral. Fala-se em R$2 bilhões, R$3 bilhões, dinheiro que resolverá no próximo ano, não neste, a crise das universidades, que darão um salto na ciência e tecnologia. A comunidade precisa barrar isso, precisa lutar para que isso não aconteça.

    Não tem tradição disso. A gente sabe que a comunidade não tem tradição de lutar contra, e, sim, a favor de mais dinheiro para si. Por exemplo, a Justiça quer aumentar os salários. Está na hora de a comunidade acadêmica mobilizar-se contra esse aumento. Eu não acredito que os sindicatos dos funcionários e dos professores vão lutar contra aumento de salário na Justiça, por mais alto que sejam os salários. Sabe por quê? Porque existe aliança entre os sindicatos, existe um pacto entre os sindicatos, de esse pedir aumento, esse pedir aumento, e a inflação que resolva tudo. Acabou isso, agora a gente vai ter que escolher onde é que se justifica mais aumentar gastos.

    Eu quero aqui fazer este apelo: que a gente lute para que não passe esse fundo para financiar campanha. Quem tem que financiar campanha eleitoral são os simpatizantes dos candidatos, são os filiados aos partidos, e não o povo, não o País, tirando o dinheiro da educação, da saúde, da segurança e dos outros gastos que vão ser sacrificados para que os recursos financiem a campanha.

    Alguns dizem: “Mas está financiando a democracia.” A democracia pode-se fazer por outros meios mais baratos, nós temos uma das campanhas eleitorais mais caras de todo o mundo. Além disso, temos que modernizar a maneira de se comunicar cada um de nós com os nossos eleitores. Hoje em dia já se pode comunicar de maneira muito barata. Tem que acabar com o marketing na campanha eleitoral. Cada candidato que se exponha, que fale ao vivo, se possível. E pela internet, pelos telefones celulares, já podemos divulgar o que pensamos e que programa temos.

    Segundo item: eu convoco a comunidade a não apenas pedir mais recursos dizendo de onde sai, mas também fazendo uma análise de onde há – se é que há – vazamentos desses gastos. A palavra certa é eficiência.

    A Srª Fátima Bezerra (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RN) – Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Um momentinho só, com o maior prazer.

    Onde é que poderíamos buscar eficiência? Eu creio que não há muita margem de busca de redução de gastos nos setores universitários e científicos e tecnológicos. Há muito é aqui, no Congresso, onde reduzir gastos. Aqui temos. Há muito na Justiça – temos. Basta ver a comparação entre o Palácio da Justiça e os prédios das universidades no Brasil, e os prédios das escolas no Brasil. Mas, de qualquer maneira, é possível buscar, até como um gesto à população, como reduzir certos gastos.

    E o terceiro é buscar outras fontes de financiamento. Temos que perder o preconceito de que um grande empresário não pode doar dinheiro a uma universidade. Hoje temos este preconceito nas universidades: recusamos dinheiro que algum empresário queira colocar. O próprio Governo hoje, que está aí, está dificultando a obtenção de dinheiro de fora do Estado pelas universidades.

    A Universidade de Brasília, a minha Universidade de Brasília, tem captado recursos graças a serviços que presta, e o Governo criou um processo pelo qual o dinheiro que a universidade capta vai para o Tesouro, não vai para a universidade. Isso é uma estupidez! Não quer colocar dinheiro, porque não tem, mas não deixa a universidade captar dinheiro, porque quer se apropriar disso, Senador Cássio. Isso é uma estupidez e uma indecência também!

    Então, é preciso, a meu ver, três coisas: um, dizer de onde sai o dinheiro, a comunidade lutar, mas lutar dizendo de onde sai, não mais reivindicar, lutar; dois, começar a ver que há talvez margem de onde reduzir alguns gastos, buscar eficiência; e, três, captar recursos fora do Estado, como nós estamos acostumados.

    Esta é a reivindicação, não, a sugestão, a convocação que eu queria fazer hoje: que haja uma luta por mais recursos, dizendo de onde é que vamos captar, de onde vamos receber, de onde vamos tirar, onde é que a gente tem que acabar com o desperdício.

    Aqui mesmo, na minha Universidade de Brasília, durante três anos, Senador Cássio, eu briguei contra esse estádio de futebol. E a comunidade ficou calada, aceitou que se gastassem 2 bi em um estádio de futebol em uma cidade que quase não tem futebol. Um elefante branco total, absurdo, e que está custando um dinheirão todo mês. A comunidade acadêmica não se revoltou contra isso, e eu vim, falei, denunciei. Esses 2 bilhões desse estádio que nós temos aqui teria resolvido o problema da Universidade de Brasília por muitos anos. Ficaram calados. Acabou a hora de ficar calados.

    Agora, Senador Hélio, é preciso lutar para tirar dinheiro de algum setor para poder colocar em outro. E eu quero estar aqui junto à comunidade acadêmica, mas eu quero estar aqui não apenas para reivindicar, para lutar; não apenas para pedir mais dinheiro, mas para dizer de onde ele sai – e é fácil saber.

    Eu apresentei uma proposta na Comissão da LDO onde dizia de onde buscar dinheiro para aumentar 20% os gastos de educação no próximo ano, dizendo de onde sair. Não vi mobilização a favor disso. Resultado: não foi aprovada, mas, agora em setembro, vamos debater o orçamento. Existe margem de onde tirar dinheiro para recuperar a crise que nossas instituições acadêmicas vivem.

    Eu espero que nós estejamos dando um salto de maturidade. Uma luta, que é mais do que a simples reivindicação, como fazem os adolescentes quando querem pedir dinheiro em casa. Mas agora é uma luta forte, concreta, dizendo de onde vamos retirar os recursos.

    É isto, Sr. Presidente, que eu queria hoje trazer aqui: uma convocação à comunidade para lutar, o que é muito mais do que apenas reivindicar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2017 - Página 48