Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao governo federal em função da crise econômica e do aumento do déficit público.

Crítica à proposta de uso de recursos públicos para financiamento de campanhas eleitorais.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao governo federal em função da crise econômica e do aumento do déficit público.
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Crítica à proposta de uso de recursos públicos para financiamento de campanhas eleitorais.
Aparteantes
Gleisi Hoffmann, Valdir Raupp.
Publicação
Publicação no DSF de 17/08/2017 - Página 28
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENFASE, CRISE, ECONOMIA, AUMENTO, DEFICIT, PODER PUBLICO, MOTIVO, ILEGITIMIDADE, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, EX PRESIDENTE.
  • CRITICA, CONGRESSO, ASSUNTO, PROPOSTA, REFORMULAÇÃO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL, ELEIÇÃO, MOTIVO, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, FUNDO DE APOIO, RECURSOS, PODER PUBLICO, AUMENTO, DESPESA, CRISE, ECONOMIA.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – É um prazer, Presidente, colegas Senadores e Senadoras, todos os que nos acompanham pela Rádio e TV Senado.

    Antes de entrar no meu pronunciamento, quero, mais uma vez, pedir ao DNIT, pedir ao Ministério dos Transportes atenção com a BR-364 e com a BR-317, no Acre. Com as primeiras chuvas que nós tivemos – já estive lá, fiz audiência, fiz um relatório, entreguei ao Diretor do DNIT –, tivemos atoleiros e dificuldades no ir e vir na nossa região.

    É o apelo que faço.

    Sr. Presidente, colegas Senadores e Senadoras, eu queria usar este espaço de hoje para trazer uma situação que a cada dia fica mais grave, que é a situação econômica do nosso País.

    Ontem, depois de idas e vindas, o Senador Líder Romero Jucá anunciou o tamanho do rombo, do déficit das contas públicas, o saldo do Governo que aquele golpe, aquele impeachment falseado colocou no Palácio do Planalto. Os números são alarmantes. O horizonte para o País, para os brasileiros e brasileiras é terrível.

    Eu queria tranquilamente, com calma, fazer uma referência. E faço isso porque, no Brasil, nós estamos agora sem ouvir uns aos outros, numa intolerância, numa relação odiosa que é terrível. Vi esses dias, nos Estados Unidos, isso ganhando as ruas. E o resultado é terrível. Estamos andando 200 anos para traz, 100 anos para traz, Senador Paulo Paim. E, aqui no Brasil, temos de cuidar, sermos mais tolerantes uns com os outros para não cairmos nessa armadilha que os tempos de uma sociedade embrutecida nos impõe.

    No governo do Presidente Lula, oito anos, e especialmente nos primeiros quatro anos da Presidente Dilma, os resultados das contas públicas tiveram superávit. O que é isso? Durante o governo do Presidente Lula e os quatro anos da Presidente Dilma, o governo gastava menos do que recebia, Senador Paulo Paim, do que arrecadava, e havia saldo na balança comercial. Era criticado. Era acusado de tudo. Mas o governo que era acusado de tudo deixou um saldo na balança comercial – eu tenho o número – de R$968 bilhões.

    Senadora Gleisi, eu fiz essa conta. Isso é a soma do superávit dos oito anos do governo do Presidente Lula e dos quatro anos da Presidente Dilma. O superávit saiu de R$55 bilhões, no ano de 2003, para R$91 bilhões, em 2013. Dez anos.

    É hora de fazermos essa conta, porque de tudo acusaram nossos governos.

    E olhem que, quando nós assumimos o governo, o PIB brasileiro, no último ano do Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002, era de R$1,480 trilhão. Quando chegou 2013, já perto do último ano do mandato da Presidente Dilma, o PIB brasileiro estava em R$4,8 trilhões, Senador Paim. Dez anos de administração do Partido dos Trabalhadores.

    Eu não estou aqui jogando para debaixo do tapete, não estou aqui querendo esconder os problemas que tivemos, mas esses números são reais. Durante os dez anos de governo, o Brasil teve de economia, nas contas do governo, quase R$1 trilhão. E o Brasil nunca teve um período de tanta prosperidade como aquele: 22 milhões de empregos com carteira assinada, investimentos no Norte e no Nordeste, Luz para Todos, melhorias nas universidades... O Brasil estava dando certo, com os seus problemas, com as suas chagas: a desigualdade diminuindo, a pobreza e a miséria saindo do Mapa da Fome, fomos elogiados pela ONU, pagamos a conta do FMI.

    E aí nós tivemos uma gravíssima situação – gravíssima! –, que foi o ano de 2014. Vamos rememorar rapidamente. Em 2014, no governo da Presidente Dilma, nós tivemos aquela desastrosa proposta de desoneração. Foram 114 bilhões que fizeram de desoneração para – dizem – estimular a economia. O Congresso, omisso, fez uma ação perversa: modificou as propostas que vinham do governo e agravou, e chegou-se a 114 bilhões de desoneração, o que não gerou emprego, mas criou, abriu a porta para o desemprego e fez, inclusive, a modificação na nota que o Brasil tinha nas agências de risco. O resultado foi que nós tivemos, pela primeira vez, um déficit – em 2014, ano da eleição –, de 32 bilhões; 0,63% do PIB.

    Em 2015, já com o golpe em curso, com o impeachment sendo o grande assunto do Congresso – um desastre! –, a Presidente Dilma não conseguiu governar. Nós erramos também na política, mas sucumbimos a partir de um plano bem executado, comandado pelo Sr. Eduardo Cunha e pelos apoiadores dele aqui no Senado e na Câmara Federal, que chegaram ao golpe, ao impeachment sem crime de responsabilidade. Mas, naquele ano de 2015, o déficit público, já em uma situação terrível de confronto no Brasil, era de R$96 bilhões.

    Entra a equipe, comandada pelo Sr. Meirelles, pelo Governo Temer, que iria resolver tudo, que tinha solução para tudo, porque o culpado de tudo era o governo que saía. Eles, imediatamente, pegaram um déficit que tínhamos, que beirava os R$90 bilhões, e o elevaram para R$170 bilhões, para poderem gastar, pagar o preço do golpe, do impeachment, e as consequências foram terríveis. A Presidente Dilma, inclusive, chama de irresponsáveis, todos os dias, as oposições e os jornais. Ela sabe que caiu para que eles pudessem – porque a acusação era de que ela tinha gerado um déficit absurdo – vender essas facilidades e colocar nas costas do seu governo um rombo, um déficit de R$120 bilhões.

    O Governo Temer assumiu. Prometeram, então, resolver tudo. E mudaram, ampliaram o déficit, colocaram uma folga para a gastança e elevaram o déficit para 170 bilhões em 2016.

    Em 2017, neste ano, eles venderam a ideia de que o déficit seria de R$139 bilhões. A realidade se impôs e, em 2016, o déficit fiscal, ou seja, quanto à diferença entre o que eles gastaram no Governo e o que arrecadaram, eles gastaram mais do que arrecadam R$154 bilhões. E agora, ontem foi anunciado, um déficit de R$159 bilhões para este ano.

    Isso significa a morte – a morte! – desse ano orçamentário, desse ano fiscal. O dinheiro acabou, serviços essenciais vão ficar sem ter os recursos mínimos necessários, e o Governo segue fazendo a pior das políticas: tirar dos que têm menos, para garantir dinheiro e gastança dos que têm mais.

    E aí, Sr. Presidente, eu queria dizer que o saldo do golpe, o saldo do desastre deste Governo, que não passou nas urnas, chega a...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ... R$660 bilhões, Sr. Presidente. É o custo que nós temos hoje, quando eles colocam a previsão de um déficit de R$360 bilhões entre 2018 e 2020. Enquanto Lula e Dilma geraram um superávit de 968 bilhões, este Governo, em um ano e pouco, já põe um rombo para o Brasil que chega a 660 bilhões, deixando para o próximo governo já uma herança, um buraco de R$200 bilhões.

    Essa é a situação, Sr. Presidente, que eu trago. Mas eu queria, com a compreensão de V. Exª e de todos, fazer uma breve observação: tudo o que nós estamos vivendo, o caos político, a economia que perdeu o rumo e saiu dos trilhos, sinceramente, é em decorrência dessa ação política desastrosa que foi o golpe, o impeachment. E aí, Sr. Presidente, a solução que estão oferecendo para o País, o caminho que estão oferecendo: em vez de fazermos uma reforma política séria, que respeite a opinião pública – que está indignada. E não é sem razão: a opinião pública tem o direito, tem razão de estar indignada –, em vez de moralizarmos, acabarmos com o abuso do poder econômico nas eleições, criarmos mecanismo para fortalecer os partidos, fortalecer a democracia, qual é a proposta que está sendo discutida hoje? Pôr 3,6 bilhões num fundo, para financiar a gastança das eleições no ano que vem. Eu não posso me calar diante disso. Isso não é uma reforma política; isso é uma afronta à opinião pública, isso é uma provocação ao cidadão.

    A Câmara está discutindo, hoje, pegar dinheiro público –...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ... que está faltando para ciência e tecnologia, que está faltando para gerar emprego através de investimentos, que está faltando para as universidades, que está faltando para a saúde, que está faltando para a segurança, porque estamos vivendo uma guerra neste País –, e vão pegar 3,6 bilhões, para pôr num fundo, para a gastança de político em ano de eleição.

    Sou contra – sou contra –, porque acho que a boa política não precisa de uma conta bancária bilionária. Nós precisamos de seriedade, gastar menos.

    Nós, do PT, fizemos campanha com pouquíssimo dinheiro, mesmo sendo um país continental como o nosso. Mas esse financiamento de 3,6 bilhões é para garantir os que estão aqui, aqueles que deram o golpe, dos partidos que nós tivemos que ceder a eles, buscar neles os aliados para governar. Eles vão se perpetuar aqui e vão fazer do Brasil refém, vão fazer qualquer governo refém deles, que é a política fisiológica.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Nós temos que tirar a venda dos olhos, nós do PT, nós da esquerda. Ficar financiando, com dinheiro público, esses políticos corruptos, esses políticos fisiológicos?

    Srª Senadora Gleisi, V. Exª é a Presidente do meu partido. Está ali, divergindo de mim. Ótimo! Eu tenho uma divergência profunda com isso. O PT foi vítima do fisiologismo, da corrupção na política, e está insistindo no mesmo erro, aliando-se com os corruptos na Câmara, para poder colocar dinheiro, três bilhões do dinheiro público, para financiar campanha do ano que vem.

    Eu, se as regras forem essas, farei as minhas. Eu as tornarei públicas, se for candidato aqui. E vou fazer uma campanha com o mínimo de dinheiro, para não afrontar a população, porque nós podemos fazer isso. Nós já fizemos no passado. Nós éramos uma referência. Porque nós estamos vivendo uma... Somos vítimas! Só se prende tesoureiro do PT. Só se persegue o PT. Nós somos vítimas! Não há nenhum tesoureiro desses partidos que deram o golpe, que...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ... roubam dinheiro público comprovadamente... Eles estão sendo inocentados, com provas contra eles, enquanto o Lula é condenado sem que tenham prova contra ele. Agora nós estamos vivendo essa insensatez.

    Se eu puder, eu queria ouvir minha Presidente, que eu respeito muito, mas é normal que tenhamos divergência, e eu tenho uma divergência profunda. Vou ser contra, sou contra e vou lutar contra fazer do dinheiro público um alimentador dessa política perversa que está destruindo o Brasil. Eu quero uma nova política no meu País, feita sem dinheiro, com gente honrada, com gente honesta e séria. É isso que eu espero que aconteça como resultado dessa reforma.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Senador Jorge, agradeço o aparte, com todo o carinho e respeito que lhe tenho, companheiro de Senado e também de Partido. A questão do financiamento de campanha é um problema. Sempre foi um problema. Ao lado do que V. Exª coloca, sobre os financiamentos que levaram à situação da Lava Jato, nós estamos falando de financiamento do setor privado, o setor empresarial. Esses financiamentos do setor privado e setor empresarial estão sendo foco, hoje, da Operação Lava Jato e das denúncias que nós temos: as empresas financiando a política. Aí, o interesse da empresa entra para a política. E, aí, o interesse da empresa entra para dentro do serviço público. E, aí, há as contraprestações dos políticos. É isso a essência da Operação Lava Jato. Nós, do Partido dos Trabalhadores, sempre defendemos o financiamento público de campanha, sempre defendemos, porque o financiamento público de campanha é transparente, vai estar no orçamento quanto vai ser. E, na minha opinião, aquilo tem que ser o teto do gasto de campanha por partido. Pode ser até proporcional, mas tem que ser o teto do gasto de campanha, porque... Qual é o problema, hoje, das campanhas? Extremamente caras, campanhas custosas... Para você competir no sistema político, você tem que gastar. Qual foi o grande erro do PT? Foi ter aceitado as regras do financiamento privado de campanha empresarial. Só que, se não aceitasse, o PT iria continuar com um número pequeno de Deputados ou o PT iria continuar também administrando poucos Estados. Tinha que se fazer campanha grande. Aí, lá foi o PT pedir dinheiro para a empresa. E aconteceu o que aconteceu. É melhor ter um dinheiro público que você vê, está lá, transparente, e ninguém vai pedir favor, ninguém vai praticar corrupção. O Estado brasileiro está dizendo: "Eu financio a política porque a política é essencial para a democracia. É a política que faz com que a democracia viva". Então, há um reconhecimento e impede que o setor privado e principalmente o empresarial entrem nesse processo. Aí entra a pessoa física, para complementar. E também tem que ser baixo. O que está errado no fundo que propuseram não é o fundo em si, é o valor para ele. É um valor muito alto. Não precisa ser um valor alto desse. Tem que ser um valor compatível, mais baixo. Que a gente possa ter campanhas módicas, baratas ou mais simples. O problema é o valor. Além disso, agora, ainda estão autorizando – além desse valor alto – que a pessoa física possa dar, de doação, até 10% de sua renda do ano anterior por candidatura.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – E clandestinamente.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Olha que loucura! E outra coisa: ainda é doação oculta. Isso é uma loucura. Com isso a gente não concorda. Agora, o fundo público é fundamental para que a gente tenha clareza, para que a gente possa prestar contas e para que o cidadão possa saber quanto custa a política. Caso contrário, cada um vai atrás do seu recurso, e a gente não vai ter clareza de como isso se dá.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Eu agradeço. E é bom esclarecermos aqui que temos convergência em tudo o que V. Exª colocou, Senadora Gleisi. Eu tenho convergência.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Eu concordo com o que V. Exª, minha querida Presidente e colega, apresentou.

    Eu sou autor da proposta que põe fim ao financiamento empresarial. Fiz com o Senador Suplicy o limite da doação individual, porque, se não for, também é inconstitucional. Não pode haver um cidadão que dá um milhão e outro que dá R$500 mil.

    Agora, o que eu estou falando é dessa proposta que está vindo, porque eu sou favorável... Nós já temos dinheiro público, já há o fundo partidário. Nós já temos muitos gastos do orçamento público com as campanhas, com os partidos. Nós temos que rediscutir isso. Nós temos que ver como pegamos o que já temos, melhor distribuímos, vendo como podemos fazer uma campanha mais barata.

    Eu fui autor da proposta, junto, na Comissão, reduzindo os gastos de campanha. Nós já temos programa de televisão, temos programa de rádio. Agora, a Câmara dos Deputados está querendo uma proposta de colocar, no pior momento que o Brasil está vivendo, quando os brasileiros estão sendo afrontados todo dia com noticiário, dizendo: "Olha, vocês estão passando dificuldade, mas nós vamos pegar mais R$3,6 bilhões e colocar para os políticos gastarem na eleição do ano que vem". Aí vai desmoralizar o resto que ainda existe de respeito com a nossa atividade, que está sendo hoje julgada e previamente condenada por quem é inimigo da democracia, que está sendo hoje satanizada, porque não há saída para um país que quer democracia se não for através da política, do fortalecimento dos partidos, da boa política.

    Isso eu defendo. Nós defendemos juntos – a senhora acabou de defender. Nós estamos buscando isso.

    Agora, eu acho que nós, do PT, temos que ser um exemplo. Nós não podemos aceitar campanhas para Presidente no valor de R$0,5 bilhão de reais, com jatinho cruzando este País de lá para cá. Eu fui governador, Senadora Gleisi, durante oito anos no Acre. Sou Senador. Eu nunca paguei meia hora de jatinho. Nunca paguei. Nem nos bons tempos, com dinheiro público para eu andar. É avião de carreira. Qual é o problema? Quando houver uma necessidade, que se pague.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Agora, você chega à campanha, um candidato a Presidente tem dez jatinhos à disposição, o outro, dez, contrata marqueteiro por 200 milhões... E o povo paga a conta?

    Agora, eu acho que o comentário da senhora foi importante. Os empresários não estavam financiando não. Está aí a prova. Eles estavam ficando donos dos mandatos, comprando, mesmo sem avisar, porque vamos lá pedir uma ajuda, e o cidadão lá não só dá ajuda, mas impõe uma contabilidade em que ele passa a ser dono, sem o ser. Está havendo muita injustiça hoje no País. Existe gente decente e honesta que está tendo que se defender, e há um monte de bandidos, comprovados, que estão no bem-bom, soltos por aí. A essa injustiça, a sociedade está fechando os olhos, a grande imprensa fecha os olhos. Está errado! Eles fizeram isto: tentaram se apropriar.

    A reforma que eu defendo é uma reforma para gastar menos ano que vem, para recuperar o respeito da sociedade pela nossa atividade, que é tão nobre. Eu tenho orgulho de estar aqui!

(Soa a campainha.)

(Interrupção do som.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ... em toda parte? Tenho! Agora, neste momento, nós podemos estar provocando sabem o quê? Se quiserem esse negócio, quem sabe esse silêncio que está havendo na sociedade hoje – alguns, arrependidos, porque apoiaram o impeachment; outros, decepcionados com um mundo de coisa, como o Governo que está aí – pode virar um grito no meio da rua. Aquele movimento de 2013 começou por conta de R$0,25 numa passagem de ônibus e – claro – depois foi apropriado contra o nosso Governo, pois estava andando bem o Brasil. Mas e agora? A sociedade vai cruzar os braços com R$3,6 bilhões?

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador Jorge Viana, o Senador Valdir Raupp ainda quer um aparte...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – O Senador Valdir Raupp e a Senadora Fátima Bezerra, que está ali.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – E os três Senadores estão me dando um olhar aqui mais severo.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Eu ouço com satisfação o Senador Raupp.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – A minha tolerância é indefinida...

    O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) – Como esse debate é muito interessante, o Presidente vai estender um pouco mais o tempo do Senador Jorge Viana.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Mas eu peço desculpas por estar me alongando.

    O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) – Parabenizo V. Exª por puxar este debate aqui no Senado Federal, sendo que o projeto está votado lá na Câmara. Eu concordo plenamente com V. Exª. Acho que o momento é muito ruim para se votar um fundo partidário de R$3,6 bilhões, enquanto, na semana passada, me ligou o reitor do instituto federal do meu Estado dizendo que se vai precisar, para o Brasil inteiro, de R$200 milhões a mais para poder fechar o ano dos institutos. São R$200 milhões, e nós estamos falando de R$3,6 bilhões. Se faltam R$200 milhões para gerir, para tocar 400 – acho que é o que há hoje – antigas escolas técnicas federais, hoje os institutos federais de educação... E eu sempre tenho falado que justiça seja feita, pois o governo do Presidente Lula foi o que mais construiu institutos federais em todo o Brasil. Isso eu falo lá no meu Estado!

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – E ampliou as universidades.

    O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) – Existia um; e, hoje, devem ser 12, com polos no Estado inteiro. Então, isso cresceu muito. E está faltando dinheiro!

(Soa a campainha.)

    O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) – Agora, nós estamos falando em aprovar R$3,6 bilhões para fundo partidário...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Para financiar campanha.

    O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) – ... para financiamento de campanha de candidatos no ano que vem? Tudo bem que não há mais financiamento público, mas temos de encontrar uma forma mais barata de se fazer campanha, até porque o nosso modelo é muito caro e, agora, parece até que não vai passar. Pelo que ouvi hoje de alguns Deputados, nem vai passar o que está sendo proposto lá que é o distritão, mas eu acho que o distritão não resolve o problema. Talvez o distrital puro ou o distrital misto, em que cada candidato vai fazer campanha na sua região, em que um candidato para deputado estadual não tem que pedir voto no Estado inteiro – nem mesmo o candidato a Deputado Federal. Ele pode pedir voto numa região, numa meia dúzia de Municípios, onde pode eleger um ou dois Deputados Federais e deputados estaduais. Este talvez fosse o modelo: fim das coligações proporcionais, para enxugar o número de partidos, que defendo e já relatei projetos aqui nesse sentido – e existe mais um agora do Senador Antonio Carlos Valadares, que estou relatando na CCJ...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) – Então, nós temos que mudar o modelo de se fazer campanha. A quantidade de partidos – eu sempre fui um crítico e continuo a ser, pois não vou mudar o meu pensamento. Quanto mais partidos há no Brasil, mais problemas, mais dificuldades de aprovar uma reforma profunda eleitoral, sobretudo na Câmara dos Deputados – aqui no Senado, não, mas na Câmara dos Deputados. Então, parabéns a V. Exª. Eu posso dizer também, como Vice-Líder aqui da Bancada do PMDB no Senado, como ex-Presidente do PMDB Nacional e hoje ainda membro da Executiva Nacional, que eu votarei contra e vou convencer os meus pares a votar contra. Se esse fundo vier para cá da forma que está, eu votarei contra, Senador Paim, assim como votarei contra a reforma da previdência, que sempre tenho falado que não vou votar.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Já falamos e comungamos.

    O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) – A minha cota de sacrifícios de reformas para este Governo, em que pese seja do meu Partido, já está no fim. Então, eu não votarei nem o fundo partidário nem a reforma da previdência. Obrigado, Senador Jorge.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Eu agradeço o aparte.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – A Senadora Fátima tem trabalhado com os reitores de instituto atrás R$200 milhões, para que não sejam fechados, assim como as universidades.

    Todos nós temos responsabilidades. Hoje, o Josias de Souza, da Folha de S.Paulo, diz que 4 milhões de brasileiros estão voltando para a miséria, para a pobreza, resultado deste Governo. Há o déficit de R$600 bilhões que nós estamos tendo. Nós não podemos afrontar a sociedade. Então, eu espero sinceramente que possamos, com bom senso, dar uma satisfação à opinião pública e não permitir que possamos jogar este País e a política numa desmoralização final. Seria o grand finale, pois aí é liquidar de vez com a atividade política e partidária, que é tão importante. Vamos fortalecer os partidos, diminuir custo de campanha, resgatar o respeito da sociedade à democracia, para que este País possa tomar jeito. Esse é o único caminho, Senador Paim.

    Eu peço desculpas à Senadora Fátima.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador Jorge, é só para dizer que eu comungo com V. Exª: acho que campanha não pode ser na base do dinheiro. Eu falo com muita tranquilidade, pois pode ter campanha barata neste País, mas a minha, com certeza, foi uma das mais baratas.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Disputo com V. Exª.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – E eu não senti falta de dinheiro. Devo ter gastado uns R$400 mil, R500 mil. Com muito esforço, foi feito.

    Agora, não dá – eu acho que a Senadora Gleisi foi feliz também, assim como o Senador Valdir Raupp –, pois não podemos exagerar. Estão querendo R$4 bilhões, pois vai dar mais ou menos R$4 bilhões. E ainda há esse fundo secreto! Vai haver um fundo secreto, em que cada um vai depositar, e fica por isso mesmo: 10%, não é? Aí é brincadeira!

    Por isso, eu confesso de público que me somo à posição de V. Exª e dos Senadores que se manifestaram. Dessa forma, com certeza, votarei contra.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Fora do microfone.) – Eu agradeço. Eu agradeço à Presidente do meu Partido, a Senadora Gleisi...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Concordando com ela, com V. Exª e com o Senador Raupp, nós vamos ver se colaboramos para melhorar a política e não para piorar de vez, como estão querendo com essa proposta de reforma.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/08/2017 - Página 28