Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Crítica ao pedido de expulsão do Senador Roberto Requião do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Registro de julgamento favorável do Supremo Tribunal Federal em processo de demarcação de terras indígenas.

Registro de reportagem da Folha de São Paulo sobre a necessidade de alteração das regras de direito autoral e patentes no Brasil a fim de gerar maior desenvolvimento ecônomico e tecnológico.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Crítica ao pedido de expulsão do Senador Roberto Requião do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Registro de julgamento favorável do Supremo Tribunal Federal em processo de demarcação de terras indígenas.
INDUSTRIA E COMERCIO:
  • Registro de reportagem da Folha de São Paulo sobre a necessidade de alteração das regras de direito autoral e patentes no Brasil a fim de gerar maior desenvolvimento ecônomico e tecnológico.
Publicação
Publicação no DSF de 17/08/2017 - Página 103
Assuntos
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Outros > INDUSTRIA E COMERCIO
Indexação
  • CRITICA, APRESENTAÇÃO, PEDIDO, EXPULSÃO, ROBERTO REQUIÃO, SENADOR, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • REGISTRO, DECISÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), OBJETO, JULGAMENTO, AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE, ASSUNTO, DEMARCAÇÃO, TERRITORIO, COMUNIDADE, QUILOMBOS, RESERVA INDIGENA, IMPORTANCIA, DEFESA, DIREITO, MINORIA.
  • REGISTRO, ARTIGO, IMPRENSA, FOLHA DE S.PAULO, ASSUNTO, DIREITO AUTORAL, MARCA, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, INDUSTRIA, TECNOLOGIA, NECESSIDADE, FLEXIBILIDADE, REGULAMENTAÇÃO, BRASIL, RESULTADO, CRESCIMENTO, ECONOMIA.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Senador Elmano Férrer, Senador Lindbergh, eu vou, na verdade, fazer três registros. Há um que eu não me seguro e tenho que fazer.

    Hoje eu assisti aqui a um relato do Senador Requião em que ele foi comunicado que foi aberto o processo para expulsão dele do PMDB. Vai ser expulso, segundo ouvi do relato dele, por ter sido sempre fiel e coerente ao velho MDB de Ulysses Guimarães e àqueles que lutaram pela democracia e pelos direitos do povo brasileiro.

    De fato, a avaliação que eu faço é de que no Brasil está havendo uma grande crise de identidade dos seus líderes com os partidos políticos. A pergunta que eu faço e, claro que eu não sou do PMDB, mas para reflexão somente: se os bons são expulsos, o que restará nos partidos políticos? Essa é uma reflexão que deixo nesse registro por ter acompanhado muito aqui o trabalho do Senador Requião. Eu acho que ele deveria receber uma medalha do velho MDB de guerra, que eu aprendi a conhecer aqui, desde o tempo de sindicalista, ainda no combate contra a ditadura e depois na Assembleia Nacional Constituinte, liderado ali – porque ele era ainda do PMDB – por Ulysses Guimarães, principalmente, e Mário Covas, que depois faleceu. Mas estava ali também Luiz Inácio Lula da Silva, Olívio Dutra e tantos outros. E foi uma grande parceria, naquela época, que construiu a Constituição cidadã, que, no meu entendimento, o Senador Roberto Requião representa até hoje com a mesma coerência.

    O segundo registro, Sr. Presidente: quero chamar a atenção deste Plenário, porque, na próxima segunda-feira, o Supremo Tribunal Federal vai retomar o julgamento sobre a terra dos quilombolas. Essa ação ainda é de 2004. A validade de um decreto da Presidência da República que define os critérios para demarcação dessas áreas vai estar em xeque. O decreto que regula o tema foi assinado em 2003, pelo então Presidente Lula, e mudou os trâmites da demarcação das áreas chamadas quilombolas, tornando-as uma competência do Incra. Até então, essa era uma atribuição da Fundação Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura.

    O julgamento iniciou em 2012, foi paralisado em 2015, está hoje empatado em 1 a 1. Os quilombolas, que fizeram uma vigília em frente ao Supremo de ontem para hoje, defendem que a titulação da terra é importante para garantir às comunidades segurança e acesso às políticas públicas.

    Como disse um quilombola: você tem liberdade de ir e vir, de construir, de ter desenvolvimento produtivo. Você tem acesso a um conjunto de elementos que ajudam a ser cada vez mais cidadãos do nosso País. Alguns quilombos já estão regularizados, outros ainda não. Mas muitos ainda enfrentam dificuldades até para construir poços artesianos ou escolas.

    Segundo o Incra, existem hoje 1.692 processos de regularização fundiária de territórios quilombolas. Desses, apenas 454 avançaram. Ainda segundo a autarquia, já foram expedidos 219 títulos de domínio em prol de 151 comunidades quilombolas, totalizando 752 mil hectares e beneficiando cerca de 16 mil famílias.

    Esperamos que o Supremo Tribunal Federal, na segunda-feira, mantenha a validade do decreto presidencial de 2014, assegurando assim a garantia dos quilombos já existentes com sustentação jurídica e possibilitando a regularização e a titulação de outros.

    Sr. Presidente, o terceiro registro que faço nesses meus 20 minutos é lembrando que o jornal O Estado de S.Paulo, na edição de hoje, em editorial, levanta um dos mais sérios problemas que empacam a possibilidade de o Brasil se desenvolver. Isso, sim, é algo que eu assino embaixo. E não é com a reforma trabalhista que o País vai desenvolver, retirando direitos do povo brasileiro; não é com a reforma da previdência, retirando direito dos trabalhadores e daqueles que sonham em se aposentar um dia.

    Falo da questão das marcas e patentes. O editorial "Caos no registro de patentes" vai ao encontro, Sr. Presidente, de um projeto de minha autoria, apresentado ainda no ano de 2013, o PLS 316, aprovado por unanimidade aqui no Senado e que, desde 2015, está engavetado na Câmara dos Deputados sob o nº 3.406.

    Sr. Presidente, antes de entrar na explicação desse importante projeto, que une empregado e empregadores... Esse, sim, é uma conciliação: tem o aval de todo o empresariado nacional e também dos trabalhadores, porque esse projeto gera emprego. Leio aqui um pequeno trecho do editorial do O Estado de S.Paulo, com que eu concordo:

Diante da burocracia do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), que demora em média cerca de 11 anos para registrar uma patente, muitas empresas brasileiras estão optando por registrá-las [em outros países, principalmente] nos Estados Unidos, onde o processo leva três [aninhos] [...]. [Três anos. No Brasil, onze anos.]

    Há mais de 230 mil pedidos na lista de espera – 230 mil, Senador – na lista de espera do Inpi, que só recentemente passou a aceitar a documentação por meios eletrônicos, agora em janeiro de 2017. Os pedidos de patentes, que envolvem centenas de páginas, tinham que ser reenviados em papel pelo correio. Vejam a que ponto chegamos.

    Por isso, Sr. Presidente, eu vou aqui destacar o projeto que apresentei, que resolve tudo isso. Um dos gargalos que empaca o desenvolvimento nacional é a cultura da inovação e tecnológica e deixa desiludidos aqueles que querem investir, gerar empregos e riquezas em nosso País. Refiro-me aqui à burocracia para a liberação de marcas e patentes.

    Um recente relatório de Thomson Reuters constatou que o Brasil é um canteiro fértil de inovação, mas lida com um problema crônico: a lentidão do Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Em 2012, Senador Elmano Férrer, havia 150 mil solicitações acumuladas, não sendo incomum que a aprovação de algumas tomasse oito, dez, onze, até doze anos. Isso, sim, contribui para o desemprego. Quem vai investir se não tem a liberação da sua marca?

    Essa situação vem, inclusive, constituindo entrave aos investimentos não só nacionais, como também estrangeiros, uma vez que tal lentidão prejudica o retorno financeiro dos projetos por perda de receitas e ainda contamina a segurança da propriedade industrial, garantida em última instância somente depois da concessão da patente.

    Você se amarra, você não garante a patente, um outro se adianta. Às vezes, ele rouba até a iniciativa justa e correta daquele que primeiro ventilou, em tese, essa nova propriedade.

    Mas vamos lá. Enquanto isso, nos países ricos ou em desenvolvimento a média de espera é de três a quatro anos, repito. Em Taiwan, por exemplo, o prazo é em geral de 36 meses para a concessão de patentes industriais, sendo da ordem de um ano apenas no caso das relativas ao design ou à marca.

    Os Estados Unidos, o Reino Unido e o Japão demandam cerca de três anos para a concessão do registro final da patente e marcas, havendo um sistema abreviado neste último país que pode ajudar a reduzir ainda mais – em alguns casos pré-definidos, o prazo de concessão, como dizia antes, passa a ser de um ano. No Brasil, chega a 12 anos.

    Tempo similar é praticado em nossa vizinhança, pelo Chile, enquanto o México registra, conforme informação colhida junto aos órgãos de informação, um prazo de três a quatro anos.

    Por isso, apresentamos o projeto sobre o qual aqui discorri na abertura dessa minha fala.

    De acordo com ela, o exame e a concessão do pedido de marcas e patentes devem ser concluídos, nos casos gerais, em um prazo máximo de 180 dias, pela proposta por nós apresentada.

    O projeto foi aprovado no Senado. Atualmente, tramita na Comissão de Desenvolvimento da Câmara dos Deputados, sob o n° 3.406/2015.

    A iniciativa é um claro sinal à sociedade, aos empresários, ao governo, aí sim, da necessidade de avanços na legislação vigente, nas políticas públicas e, é claro, na disponibilização de mais recursos ao bom desempenho dos órgãos críticos para a economia da inovação tecnológica – e aqui faço mais uma vez um destaque, fazendo um apelo ao Inpi para que agilize esses processos.

    E dizendo, por fim, Sr. Presidente: isso, sim, gera emprego. Geração de emprego não é retirando direito dos trabalhadores, outra vez repito, com a reforma trabalhista; não é querendo fazer na marra uma reforma da previdência.

    Hoje, aqui, ainda, Sr. Presidente, eu consegui aprovar com a assinatura de cerca de 50 Senadores a protelação por mais 2 meses, para que a gente conclua até início de novembro os trabalhos da CPI.

    Eram quatro meses. Eu concordei com o Senador Presidente da Casa, Senador Eunício, que poderia antecipar esse trabalho, até porque falam em retomar o debate da reforma em outubro.

    Se quiserem retomar o debate da reforma em outubro, podem ter certeza de que, durante o mês de outubro, cada Deputado, os 513 Deputados, como os 81 Senadores, receberão os documentos da CPI da Previdência demonstrando que a nossa previdência no Brasil não é deficitária; ela é superavitária.

    Os números são alarmantes: chegam a trilhões, Presidente. Tri! Só de dívida pronta para ser executada dá 700 bi. Mas, se você for somando tudo que é desviado ao longo de um ano da previdência – e eu fiz, claro, uma retrospectiva dos últimos 20 anos –, sem sombra de dúvida, a previdência deixou de arrecadar trilhões. É por isso que alguns insistem na tese de que ela pode ser deficitária.

    Se cumprisse o que manda a Constituição – contribuição sobre lucro, sobre faturamento, PIS/Pasep, os jogos lotéricos, contribuição de 8% a 12% do empregado e de até 22% do empregador, acabar com a história dos Refis, de dar anistia para lá e para cá, agilização das ações na Justiça, que, como disse um Procurador da Fazenda que veio aqui falar em nome dos procuradores da Fazenda, correspondem a um estádio de futebol lotado de processos, que não são executados, porque a máquina pública é emperrada, o que favorece aquele empreendedor que não cumpre sua obrigação de pagar corretamente à previdência.

    Há um dado assustador: 30 bi por ano a previdência deixa de arrecadar pela chamada apropriação indébita. Ou seja, descontam do trabalhador e não repassam para a previdência. Só esse dado seria suficiente para mostrar que há superávit. Bastaria que não se permitisse mais que isso acontecesse.

    Era isto, Sr. Presidente.

    Agradeço a V. Exª e peço que considere na íntegra os três registros que fiz.

DISCURSOS NA ÍNTEGRA ENCAMINHADOS PELO SR. SENADOR PAULO PAIM.

(Inseridos nos termos do art. 203 do Regimento Interno.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/08/2017 - Página 103