Pela Liderança durante a 121ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com a decisão do Tribunal de Contas do Distrito Federal que autorizou o repasse de auxílio-moradia retroativo aos conselheiros do órgão

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
PODER LEGISLATIVO:
  • Indignação com a decisão do Tribunal de Contas do Distrito Federal que autorizou o repasse de auxílio-moradia retroativo aos conselheiros do órgão
Publicação
Publicação no DSF de 24/08/2017 - Página 19
Assunto
Outros > PODER LEGISLATIVO
Indexação
  • REPUDIO, DECISÃO, TRIBUNAL DE CONTAS, DISTRITO FEDERAL (DF), MOTIVO, AUTORIZAÇÃO, RETROATIVIDADE, PAGAMENTO, AUXILIO-MORADIA.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, a cada dia, Senador Cássio, há surpresas que nos chocam – ao povo brasileiro e a cada um de nós políticos.

    Quando a gente pensa que já viu tudo, tem a surpresa, como hoje tive, ao ver o Tribunal de Contas do Distrito Federal, onde cada um dos conselheiros ganha muito perto do teto, terem recebido não apenas uma ajuda de aluguel, mas uma ajuda de aluguel retroativa, por anos seguidos.

    É inacreditável que isso aconteça em qualquer época, mas é um absurdo que aconteça neste momento, quase que no mesmo dia em que se discute reduzir R$10 do salário mínimo. É algo que extrapola todos os limites do que nós podemos considerar como decência.

    Primeiro, eles moram aqui, não há por que terem ajuda de aluguel, como os trabalhadores não têm. Os trabalhadores pagam o aluguel de suas casas com o salário. Pior, eles vivem aqui e são proprietários de casas. Não sei todos, porque não conheço, mas é muito possível.

    Eu creio, Senador Cássio, que isso extrapola todos os limites da decência, da oportunidade e, eu diria mais, da inteligência.

    E um desses conselheiros, Senador, está tentando me condenar a pagar R$500 mil para ele, porque, 20 anos atrás, deram tiros no meu escritório de Governador, dois tiros. Não tinham coragem de querer me matar, porque deram de madrugada. Deram dois tiros, quebraram as vidraças. E eu disse recentemente, numa entrevista, que falam que um desses do Tribunal de Contas fazia parte do grupo que fez aquele atentado. Falam. Ele abriu um processo, Senador Lasier, querendo que eu o indenize com R$500 mil pela honra dele, a honra que está recebendo ajuda de aluguel, morando nesta cidade, retroativa a não sei quantos anos.

    Isso daí é algo que deve nos chocar completamente. Com um salário mínimo desse tamanho, nós deveríamos estar dando exemplos, reduzindo os salários de quem ganha no teto como nós, reduzindo desperdícios que nós temos, como essa temperatura fria aqui nesta sala, reduzindo gastos que temos e que não seriam necessários.

    Nós precisamos, Senador Cássio – é isto que eu queria dizer –, dar exemplos, porque dizem R$10 por trabalhador tem que se tirar, porque são tantos, que isso vai poupar dinheiro. E conselheiros do tribunal são tão poucos que eles dizem que dá para pagar o teto, mais ajuda de aluguel retroativa.

    Do ponto de vista da aritmética, Senador Lasier, é verdade, você pode pagar muito a poucos e não pode pagar pouco a todos os pobres, mas existe uma coisa chamada exemplo, existe uma coisa chamada déficit moral. O déficit que nós atravessamos não é o déficit fiscal apenas. O déficit fiscal, de fato...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – ... pesa mais na população em geral, mas o déficit de exemplos, o déficit moral pesa em nós. Está na hora de darmos exemplos, e o que o Tribunal de Contas do Distrito Federal fez ontem é o contrário do bom exemplo, é um mau exemplo, irresponsável, egoísta, desproporcional a tudo, especialmente ao momento que nós atravessamos.

    Eu espero que eles revejam isso. Eu espero que os outros tribunais não caiam no corporativismo de dizerem que são ministros, são conselheiros, são parte da nossa tribo e mantenham uma decisão absurda como essa.

    Eu não posso me calar diante disso, não posso. Sou defensor, sim, da austeridade, sou defensor da aritmética. Reconheço que não dá para gastar mais neste País do que se gastou, do que se propôs, do que se prometeu. Eu defendo, sim, rigor fiscal, mas, para isso, é preciso dar exemplos. E o Presidente Temer deve ser o primeiro a dar exemplo. Eu não sei se ele está dando pessoalmente e não vejo a sua equipe dando exemplos.

    É preciso, Senador Cássio, e eu concluo, que ofereçamos exemplos, nós que estamos na vida pública, nós que pedimos sacrifício ao povo, e não a imoralidade de pedir sacrifício ao povo sem dar o bom exemplo. Pedir que o povo aperte o cinto e nós recebendo, essas pessoas, dinheiro para pagar o aluguel da casa, para pagar restaurantes finos onde podem frequentar e, de repente, até, com recursos de ajuda alimentação, vale ticket, ticket alimentação.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Era isto o que eu queria dizer: que nós precisamos dar exemplos. Precisamos olhar aqui para dentro, onde é que podemos apertar o cinto, para, então, pedir o aperto que eu sei que é necessário o Brasil fazer hoje, pelas irresponsabilidades do passado, pelos desperdícios dos últimos anos e que aparentemente continuam, como nós vimos hoje.

    Era isso, Sr. Presidente.

    Quero deixar aqui manifestada a minha insatisfação, o meu descontentamento com esse gesto absurdo dos conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/08/2017 - Página 19