Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o corredor bioceânico.

Autor
Waldemir Moka (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Waldemir Moka Miranda de Britto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL:
  • Comentários sobre o corredor bioceânico.
Aparteantes
Simone Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2017 - Página 63
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Indexação
  • COMENTARIO, CORREDOR DE EXPORTAÇÃO, LIGAÇÃO, OCEANO ATLANTICO, OCEANO PACIFICO, ORIGEM, BRASIL, DESTINO, PAIS ESTRANGEIRO, PARAGUAI, ARGENTINA, CHILE, NECESSIDADE, INVESTIMENTO PUBLICO, PONTE, OBJETIVO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

    O SR. WALDEMIR MOKA (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, eu venho a esta tribuna para fazer justiça a um grupo de empresários do meu Estado, Mato Grosso do Sul, mas que, na verdade, extrapola Mato Grosso do Sul, são de vários outros Estados.

    Há muito se fala do chamado corredor bioceânico, há muito tempo. Eu me lembro de ter tratado isso, e quero fazer justiça, pela primeira vez, com o então Prefeito de Porto Murtinho, Heitor Miranda dos Santos. Só que ele defendia uma rota fluvial, aproveitando o Rio Paraguai.

    Pois muito bem. Esses empresários fizeram a rota de Porto Murtinho até o Porto de Antofagasta, no Chile, mais de dois mil quilômetros para constatar a viabilidade de que esse corredor fosse por terra. E por onde eles passaram, no Paraguai, no norte da Argentina e nos portos do norte chileno, onde está a cidade de Iquique – aliás, fazendo justiça, já esteve aqui, e eu tive a oportunidade de conhecer, pessoalmente, o então prefeito de Iquique, hoje Senador da República do Chile, o Senador Soria... E eu estive nesse último final de semana em companhia da minha amiga, minha companheira de Senado, e não pôde estar conosco o Senador Pedro Chaves por estar cometido de um forte resfriado, de uma gripe mesmo, que o deixou acamado. Mas lá fomos recebidos pelo Chanceler paraguaio, por autoridades paraguaias, pelo Ministro de Obras Públicas do Paraguai, por Senadores do Paraguai e, principalmente, por mais de cem pessoas que integraram essa caravana, chamada do corredor – nós estamos querendo chamar de rota da integração entre o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico.

    Mas eu queria dizer da importância que isso representa, sobretudo, para o chamado Brasil central. E eu tive aqui a oportunidade de participar de um seminário promovido pela Embaixada chilena, em que o representante do governo goiano, aqui de Goiás, dizia que do que eles exportam hoje, entre proteína vermelha, carne, grãos, soja, milho, 70% são para a China. E essa rota, esse corredor, vai encurtar oito mil quilômetros. E encurtar oito mil quilômetros de frete significa baratear, segundo especialistas, em 12% o valor dos nossos produtos.

    V. Exª, que é, eu sei, da área tributária e entende muito de economia pode avaliar o que representa para a competitividade de preço de produto...

    O SR. PRESIDENTE (José Pimentel. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - CE) – Senador Moka, qualquer 2% já é uma margem significativa, quanto mais 12%.

    O SR. WALDEMIR MOKA (PMDB - MS) – É muita coisa. E qual seria o investimento do Governo brasileiro? Primeiro eu quero dizer que esses que foram disseram que estavam esperando alguma coisa, essa rota, muito difícil, e o relato deles é que a rota praticamente está pronta. O que falta é a pavimentação do chamado Chaco paraguaio, qualquer coisa de 268km, que o governo paraguaio já licitou, está licitado, estão abrindo a licitação. Quer dizer, brevemente...

    E eu estive aqui com o Presidente Cartes, e ele dizia que não pode chegar à margem do Rio Paraguai sem que a ponte do Brasil com o Paraguai esteja pronta. Sr. Presidente, o investimento brasileiro para que isso ocorra é metade dessa ponte, porque a outra metade o governo paraguaio se propõe a fazer.

    Os orçamentos, os primeiros números que aparecem, dariam conta de que o Brasil gastaria menos de R$150 milhões. Quer dizer, para o que representa de exportação... Não digo só exportação, digo integração regional entre o Paraguai, a Argentina, o Chile. Nove convênios nessa caravana foram assinados com faculdades entre os universitários que também participaram. Aliás, o reitor, a quem eu quero parabenizar, Prof. Fábio, esteve e integrou, foi de Campo Grande até o Chile. Vários empresários, empresários de peso, empresários que realmente acreditam que isso seja possível.

    Imaginem um sul-mato-grossense, um campo-grandense, com mil quilômetros, ele chega à Cordilheira dos Andes para conhecer neve; e o contrário também é verdadeiro: milhares de chilenos, argentinos, paraguaios virão, sobretudo ao Brasil central. Eu falo por Mato Grosso do Sul, mas isso não beneficia só Mato Grosso do Sul. Beneficia Mato Grosso do Sul; Mato Grosso, principalmente de Rondonópolis para baixo; Goiás, como eu já disse; e o próprio Distrito Federal, com o intercâmbio cultural, o intercâmbio turístico que isso representa. É muita coisa. O ganho é muito grande para um investimento pequeno.

    É claro que não se trata só da rota. Nós temos que cuidar dessa questão de aduanas, da legislação, porque, afinal de contas, você vai atravessar aí três países – se contar o Brasil, quatro – até o Porto de Antofagasta.

    Mas eu queria conceder um aparte à minha estimada companheira Simone Tebet.

    A Srª Simone Tebet (PMDB - MS) – Obrigada, Senador Moka. Presidente Pimentel, é com muita honra que eu vejo hoje um Senador sul-mato-grossense fazendo história nesta Casa. O Senador Waldemir Moka vai entrar para os Anais do Senado Federal como o Senador que abriu os olhos dos Senadores e Senadoras da República do Brasil para este tema tão relevante. Sem dúvida, Senador Moka – e foi uma honra estar junto com V. Exª em Assunção, no Paraguai, dia 1º de setembro –, sem dúvida nenhuma, 1º de setembro de 2017 foi o início, o marco de algo que vai, em breve, se tornar realidade. Estamos falando de uma integração da América do Sul como um todo, embora atenda especificamente o Brasil central, os países do Paraguai, Argentina e Chile. Estamos falando da possibilidade de diminuir em pelo menos 8 mil quilômetros marítimos – porque podemos estar, com isso, diminuindo também mil a 2 mil quilômetros terrestres – a distância que nos separa do maior centro consumidor de commodities do Brasil, do país asiático chamado China, que mais compra produtos brasileiros. Estamos falando, portanto, de uma rota que vai influenciar e alterar a balança comercial de forma decisiva. Estamos falando de uma rota que passa por regiões paupérrimas, de países ainda que buscam o seu desenvolvimento, especificamente o Paraguai, o norte do Paraguai, o norte da Argentina e também o norte do Chile. Estamos falando de uma integração comercial, que, como V. Exª bem lembrou, foi um sonho distante, de 30, 40 anos atrás, mas começou a se tornar realidade já no dia 1º de setembro, quando acordos foram firmados, quando a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul assinou com a Universidade Nacional de Assunção um compromisso de qualificar profissionais justamente para poder estender essa informação para todos os seus países. Começou ali, com esse pontapé, no dia 1º de setembro, o início dessa nova realidade, quando os nossos cem comerciantes e empresários dos mais diversos segmentos de Mato Grosso do Sul e região tiveram condições de conhecer in loco a realidade de outros países que têm a mesma identidade que a nossa. Podemos não falar a mesma língua, mas temos o mesmo ideal, os mesmos sonhos de ter os nossos Estados, os nossos países desenvolvidos – e, quando eu falo em desenvolvimento, estou falando em muito mais do que crescimento, estou falando de crescimento com qualidade de vida, crescimento com dignidade, crescimento que olhe com atenção para as nossas crianças, que dê um futuro digno para os nossos pais de família através do trabalho. Estamos falando de uma integração que, ao rasgar as fronteiras, ao pavimentar as rodovias, ao fazer ponte que vai unir países, decisivamente mais do que dinheiro, mais do que integração comercial, nós estamos falando de integração cultural, nós estamos falando de integração educacional, nós estamos falando de integração que vai gerar emprego – milhares, para não dizer centenas de milhares de empregos –, renda, qualidade de vida. Eu não vou me estender com relação ao assunto. V. Exª é um grande conhecedor e idealizador desse projeto, porque nasceu na fronteira, Bela Vista, que faz divisa exatamente com o Paraguai, e conhece como ninguém essa realidade.

    Eu, juntamente com o Senador Pedro Chaves, seremos conduzidos por V. Exª, porque V. Exª foi muito feliz quando disse: "O Paraguai vai ter de fazer a sua rodovia." São 270 km no início mais 130 km, num total de 400 km, Presidente. Já tem recurso garantido para isso. Só a primeira etapa, que está sendo licitada, vai consumir algo em torno de R$400 milhões, R$400 milhões e pouco. Mas se fala num projeto total de R$1,3 bilhão, o que custará para o Brasil meia ponte, que talvez gire em torno de R$ 100 milhões. É isso o que vai custar para o Brasil: R$100 milhões que vão significar tudo o que nós já falamos, ou seja, a redenção, o progresso, o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, de Mato Grosso, de Goiás, do centro-sul brasileiro, dos países da América do Sul. Serei liderada por V. Exª. Estaremos juntos não só no convencimento do Governo Federal da necessidade de recursos do Orçamento, mas também, quem sabe, do empréstimo junto ao Banco Mundial, ao BIRD, para que possamos, o mais rápido possível, dar início à construção dessa ponte que sai lá de Porto Murtinho, sua região e sua terra.

    O SR. WALDEMIR MOKA (PMDB - MS) – Eu quero, ao finalizar, Senador Pimentel, dizer que essa é uma questão que eu já venho perseguindo, que venho acompanhando. Conheço relativamente o que significa isso, mas confesso o seguinte: eu acho que nós nunca estivemos tão próximos de tornar realidade esse corredor, nunca estivemos tão próximos. Eu vou lutar com todas as minhas forças. Sei que vou contar com a Senadora Simone, com o Senador Pedro Chaves e vou contar com o Congresso Nacional. Isso não é bom só para o Brasil central, é bom para o País. Por que estou dizendo isso? Porque nós vamos, também, começar uma integração, e isso é fundamental. Nós vamos criar, tenho certeza, intercâmbios entre faculdades, melhorar a questão cultural, a questão turística e, claro, nós gerar... Fico imaginando o produtor rural, que poderá colocar o produto dele lá com um preço muito competitivo, economizando esses 8 mil km. Ora, isso não é pouco, isso vale o esforço do Governo brasileiro.

    Mas, para finalizar, estive com o Chanceler Aloysio Nunes Ferreira, que prometeu uma reunião entre o Ministro do Planejamento e o Ministro do Transporte no sentido de que a gente pudesse viabilizar. Mas eu também não tenho dúvidas de que o BIRD, de que o Fonplata serão capazes de querer financiar essa ponte porque se trata, não tenho dúvida, de uma coisa que vai mudar a realidade do Brasil e desses quatro países que haverão, num futuro muito próximo, de se tornar muito mais amigos, conhecendo uns aos outros. Tenho certeza de que isso é muito importante para a liderança do Brasil neste continente.

    Muitíssimo obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2017 - Página 63