Pronunciamento de Ana Amélia em 13/09/2017
Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Reflexão a respeito da atual situação econômica, política e social do Brasil.
- Autor
- Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
- Nome completo: Ana Amélia de Lemos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ATIVIDADE POLITICA:
- Reflexão a respeito da atual situação econômica, política e social do Brasil.
- Aparteantes
- Cristovam Buarque.
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/09/2017 - Página 27
- Assunto
- Outros > ATIVIDADE POLITICA
- Indexação
-
- COMENTARIO, SITUAÇÃO, PAIS, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA SOCIAL, REGISTRO, DEPOIMENTO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LOCAL, CURITIBA (PR), REFERENCIA, INVESTIGAÇÃO, POLICIA FEDERAL, OBJETO, CORRUPÇÃO, CRITICA, INTERFERENCIA, POLITICA, FUNDO DE PREVIDENCIA, EMPRESA PUBLICA, ENFASE, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), AUSENCIA, CONCLUSÃO, OBRAS, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Presidente João Alberto, que preside esta sessão; caros colegas Senadoras e Senadores, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado.
Há trinta minutos começou, em Curitiba, a segunda audiência do ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, na primeira instância da Justiça. Nessa audiência, que já começou, além dele, o juiz Sergio Moro, que comanda a Operação Lava Jato, deve ouvir também outras testemunhas.
Essa é a segunda vez que o Presidente presta um depoimento na condição de réu em um processo da Lava Jato, conduzida pelo juiz Sérgio Moro. No primeiro caso, foi acusado de receber R$3,7 milhões em propina, de forma dissimulada, da empreiteira OAS. Em troca, ela seria beneficiada em contratos com a Petrobras.
Aliás, eu fico muito feliz, Senador João Alberto, quando a esquerda brasileira curva-se à racionalidade econômica, à racionalidade de um bom argumento, como foi há pouco, nesta tribuna, uma Senadora falar sobre o artigo de Delfim Neto e as posições dele.
Pois eu também me valho dessa figura brilhante, com cuja inteligência o Brasil pode contar. Hoje, ele escreveu o seguinte: "A Lava Jato é o único consenso da sociedade brasileira." Escreveu mais: "A Operação Lava Jato é um ponto de inflexão na história do Brasil. Depois dela, ele nunca mais será o mesmo."
Torçamos! Esperamos que assim seja, para que, de fato, não haja nenhum privilégio, nenhuma impunidade, e para que a corrupção seja varrida das páginas da história política do nosso País, numa relação promíscua, que todos condenamos, entre o setor público e o setor privado.
Eu queria mencionar isso para dizer que, hoje também, o Supremo Tribunal Federal examina a autoridade do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot: se deve ou não continuar comandando as operações que envolvem denúncias do Presidente Michel Temer. Isso é a prova mais clara e contundente de que o Brasil está vivendo literalmente um regime democrático em que as suas instituições estão funcionando e de que ninguém, Senadora Simone Tebet – ninguém! – está acima da lei; nem o ex-Presidente da República, nem o atual Presidente, nem o Procurador-Geral da República, nem o Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Esta é a parte mais sensível, mais relevante do processo que estamos vivendo em nosso País nos dias de hoje: as instituições estão funcionando regularmente, fortalecidas ainda mais.
Espero, como disse Delfim Netto, que, de fato, o Brasil não seja o mesmo depois disso, porque nós tivemos um impeachment de um Presidente; tivemos, logo em seguida, o mensalão, e agora o petrolão e o impeachment da ex-Presidente Dilma. Espero que essas turbulências políticas deixem o Brasil em paz para evitar a corrupção.
Lamento profundamente que as pessoas venham aqui falar do desemprego, falar de um governo desatento, "um governo que está retirando benefícios sociais".
É evidente, e eu já disse essa frase: o Governo Temer não é nenhuma Brastemp; é o que há para hoje. Quer dizer, é o que está comandando a economia.
E a economia, felizmente, parece descolada do aspecto político, da crise política; senão, os números não seriam tão favoráveis. Os juros podem ser os menores dos últimos anos no País; a inflação, controlada; um abastecimento garantido de alimentos e também uma produção absolutamente qualificada; aumento das exportações; um cenário que sinaliza para um crescimento econômico.
Quanto mais você tem inflação controlada, mais você está ajudando quem ganha menos, os menos favorecidos, Senador. Exatamente porque, com inflação baixa, o poder aquisitivo, com o pouco que você ganha, aumenta evidentemente; ao contrário de uma inflação alta, que corrói todo o poder aquisitivo dos trabalhadores assalariados.
E o aumento do número de carteiras assinadas? Nós não podemos tapar o sol com a peneira, deixando de reconhecer, apenas pelo desejo de fazer uma crítica persistente, contundente, contra a situação do País.
Ninguém está satisfeito evidentemente.
Mas eu quero lembrar – e me surpreender aqui – que, na gestão passada, as empresas estatais, defendidas com unhas e dentes aqui por todos, tiveram prejuízos gravíssimos em seus fundos de pensão. E o que são os fundos de pensão se não a garantia para os seus servidores de uma aposentadoria melhor? Aposentadoria que os servidores pagam e com que a empresa também contribui. Aliás, contribui mais do que o próprio funcionário.
No caso dos fundos de pensão das empresas estatais, defendidas aqui sempre – eu também sou defensora daquelas que funcionam, não daquelas que são cabides de emprego –, a Petrobras teve, no seu fundo de pensão, Petros, um rombo de R$14 bilhões. E ninguém fala sobre isso aqui.
E sabe quem é que vai pagar e arcar com esse prejuízo pelo aparelhamento político dos fundos de pensão, em que estão fazendo péssimas e irresponsáveis aplicações dos recursos dos trabalhadores? Sabe quem vai pagar? O funcionário da Petrobras, o funcionário que já está aposentado e aquele que vai se aposentar, R$14 bilhões!
E aqui, quando se discutiu muito a reforma trabalhista, trataram o setor empresarial brasileiro genericamente, como se todos fossem cidadãos empregadores escravagistas, Senador Cristovam, como se todos os brasileiros não estivessem sob o controle social das chamadas redes sociais. Esqueceram que, com o telefone celular, você mostra para a sociedade a lesão a direitos, o bullying, o tratamento de uma série de ofensas à dignidade humana e ao trabalhador; esqueceram isso!
E, veja só, uma empresa estatal – uma empresa estatal –, a Caixa Econômica Federal, que tem um papel social relevante por trabalhar no saneamento, na habitação e em outras áreas da economia... A Caixa Econômica Federal, uma empresa estatal, está com um passivo trabalhista de R$6,3 bilhões. Mas que patrão é esse? O patrão é o Estado. Será que as estatais não poderiam ter sido aqui também lembradas quando se votou a reforma trabalhista? É de R$6,3 bilhões o passivo trabalhista da Caixa Econômica Federal!
O que é isso? Uma estatal lesando o trabalhador? É isto?
Então, nós temos que fazer esse questionamento, Senador Cristovam, porque, se aqui o setor privado foi atacado, foi considerado um escravagista, um malfeitor dos trabalhadores, como se estivéssemos no século XIX, XVIII, quando votamos a reforma trabalhista, agora a gente vê esta informação: R$6 bilhões de passivo trabalhista na Caixa Econômica Federal.
Não é crível que a gente esteja vivendo neste País desta forma e com este tal descontrole.
Então, eu trago esses dados aqui, agora, exatamente para apenas uma reflexão: para que a gente tenha, pelo menos, coerência quando sobe à tribuna para atacar e esquece que o maior problema foi gerado pela irresponsabilidade administrativa.
Lá no Rio Grande do Sul, um polo naval erguido com bilhões e bilhões de reais da sociedade brasileira está transformado em uma sucata; sucata que sepultou também o sonho de milhares de gaúchos e brasileiros que lá foram trabalhar.
(Soa a campainha.)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – A duplicação da BR-116, Eldorado-Pelotas-Rio Grande, fundamental para o escoamento da produção e exportação: parada! E obra parada é a pior coisa que existe para o País.
A segunda ponte do Guaíba: obra parada! Foi feita em 2014 apenas com um objetivo único: garantir a reeleição da ex-Presidente Dilma Rousseff.
Eu penso que nós temos que ter responsabilidade com o que foi feito e com os erros cometidos. Que ninguém venha aqui à tribuna para fazer o reconhecimento e o mea-culpa do que o Brasil está pagando hoje por todos esses equívocos gravíssimos, pagos pela sociedade e pelos trabalhadores.
Meu caro Presidente João Alberto, se V. Exª permitir, pois eu já esgotei meu tempo: o Senador Cristovam está pedindo um aparte, mas dependo de V. Exª.
O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) – O tempo de V. Exª está esgotado, mas é um minuto apenas, não é, Senador Cristovam?
(Soa a campainha.)
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Muito obrigado, Presidente; muito obrigado, Senadora. Creio que um minuto é suficiente para chamar a atenção para uma sucata que não é visível, mas que é igualmente grave: a sucata moral de não reconhecer a responsabilidade e de jogar a culpa nos outros, inclusive num Governo que tem aí poucos meses, que não tem competência para fazer um desastre tão grande. Esse desastre vem, como a senhora disse, da irresponsabilidade de muitos anos e das falsas narrativas, criando ilusões para enganar o povo. Pior é que conseguiram enganar – com a Copa, com as Olimpíadas, com o pré-sal, com grandes empresários que seriam os maiores do mundo com o dinheiro do BNDES. Ilusões, ilusões e ilusões sucateadas. Esse sucateamento de ilusões e o sucateamento da verdade são tão graves quanto o sucateamento das obras hoje paradas, depois de terem gasto bilhões e bilhões de reais. Era só isso que eu queria dizer, Senadora.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Eu agradeço imensamente, Senador Cristovam. E peço ao Presidente que esse aparte seja a conclusão brilhante de um discurso médio que eu fiz nesta tarde; o Senador Cristovam deu o brilho, o valor e a relevância de que precisava um assunto desse.
Obrigada, Presidente.