Discurso durante a 135ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Transportes acerca do governo de Michel Temer e da crise política.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Comentários sobre pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Transportes acerca do governo de Michel Temer e da crise política.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2017 - Página 12
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, PESQUISA, AUTORIA, CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA, TRANSPORTE, OBJETIVO, AVALIAÇÃO, GOVERNO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, CORTE, RECURSOS FINANCEIROS, DESTINAÇÃO, EDUCAÇÃO, SAUDE, PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC), ELOGIO, GESTÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, APOIO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quem nos ouve pela Rádio Senado, quem nos assiste pela TV Senado e também pelas redes sociais, subo a esta tribuna hoje para comentar a pesquisa recente que foi divulgada no final da manhã, feita pela Confederação Nacional de Transportes, em relação ao quadro e à conjuntura política atual do Brasil, uma pesquisa que pergunta sobre o desempenho do Governo Temer, sobre a crise política e sobre os principais temas que estão afetando a vida do povo brasileiro.

    E o que quero comentar – acho importante esta Casa ter clareza disto, porque contribuiu para este resultado – é a aprovação do Governo de Michel Temer: 84,5% rejeitam Michel Temer. Ele tem apenas 3,4% de aprovação – eu diria que é a margem de erro. E isso é resultado da política que este Governo está fazendo.

    Eu acho importante esta Casa analisar esses dados, porque, quando nós discutimos aqui a retirada da Presidenta Dilma, diziam que o País estava um caos, que a economia estava um caos, que a política estava desordenada, que a corrupção estava descontrolada, que bastaria tirar a Dilma e que isso tudo iria melhorar. Era como se houvesse uma fada que viesse aqui e que, com a sua varinha de condão, batesse no próximo Presidente que estava assumindo, e as coisas, por si sós, melhorariam.

    O que vemos é que o Brasil está piorando, piorando a cada dia, piorando em relação ao emprego, piorando em relação à proteção às pessoas, piorando em relação ao combate à fome – voltou a haver fome no País, o que é uma vergonha para um País que produz alimentos –, piorando em relação à economia, piorando em tudo. Nada melhorou. Vai fazer dois anos quase que a Presidenta foi afastada e que este Presidente ilegítimo assumiu, e nada melhora.

    O que esta Casa responde ao Brasil? O que os Senadores que estão aqui, que deram esse voto para afastar respondem diante disto: 84,5% da população não quer este Presidente, não quer este Governo, não quer essas medidas que estão sendo tomadas. Não é possível um descolamento tão grande desta Casa, que é a representante do povo, claro, através dos seus Estados, dos Estados federados. O que vai responder à população? Eu queria saber.

    E por incrível que pareça essa mesma pesquisa traz uma avaliação para 2018, pergunta sobre o quadro eleitoral de 2018. Em todas as simulações – todas – de primeiro e segundo turno, quem é que está na frente? Luiz Inácio Lula da Silva. É o Presidente Lula, ele mesmo, aquele que tanto criticam aqui dentro deste plenário, que tantos ultrajes nós já ouvimos em relação a ele. Será que uma pessoa com tantos problemas, como muitos apontam, teria esse resultado numa pesquisa eleitoral? Será que é possível enganar tanta gente por tanto tempo? Não, não é possível.

    E sabem por que o Presidente Lula está em primeiro? Porque o povo brasileiro tem memória, sabe que no seu governo as coisas estavam melhores e sabem que o Presidente Lula é vítima de uma grande perseguição, de um grande ataque à sua imagem. Mas contra fatos, contra a realidade não há argumentos. Aí eu pergunto, se o PT foi tão nefasto para este País, se o PT foi tão ruim para o Brasil, se Lula foi tão ruim para o Brasil, por que ele continua sendo a preferência do povo brasileiro, e os arautos da moralidade, do golpe ficam lá atrás, na lanterna? E há outra coisa, o Lula tem a terceira menor rejeição. Era para ser diferente, não era? De tanto que batem nele, de tanto que desconstroem a sua imagem era para ele ser ultrarrejeitado e nem figurar nas pesquisas. Mas por que Lula figura nas pesquisas? Vou voltar a dizer, porque o povo tem memória.

    Nas simulações de primeiro turno, ele fica com 32%, 33%. No segundo turno, passa os 40%. Ganha de todos. Ganha dos candidatos do PSDB, que vieram aqui fazer discursos moralistas, apontar o dedo e agora estão sumidos daqui, eu não sei por onde eles andam; ganha dos candidatos do PMDB; ganha dos candidatos de pequenos partidos; ganha de candidatos da extrema direita; ganha de outros candidatos da esquerda. Por que será? Vou repetir, porque o povo tem memória, o povo sabe quem fez por ele. É por isso que o Presidente estão sendo tão perseguido, ou seja, porque só há um jeito de impedir Lula de governar este País novamente: é não deixá-lo concorrer nas eleições. Aí querem porque querem condenar o Presidente. Então, tudo em relação aos processos de Lula vai mais rápido. Tudo em relação aos processos de Lula anda diferente. E tudo que falam sobre Lula vale no Judiciário. É impressionante isso! Mas sai pesquisa, e o povo está com Lula.

    Vou repetir: por quê? Porque o povo tem memória, sabe o que significou o governo Lula. E a maioria dos Senadores aqui também sabe o que significou o governo Lula, sabe quantas universidades foram para seus Estados, quantas escolas técnicas, quantas unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, sabe quanto o PAC investiu em cada Estado, sabe tudo isso. Quantas creches foram feitas. Sabe o que foi de recursos para a agricultura. Os senhores sabem disso. Os senhores votaram os orçamentos do Presidente Lula aqui e iam muito ao governo. Eu fui Chefe da Casa Civil, eu via a movimentação de pedidos para abrir escolas, para abrir universidades. E a maioria foi contemplada.

    O Brasil cresceu, teve um período estrondoso de crescimento, de desenvolvimento, mas principalmente de cuidado com as pessoas. Nós conseguimos erradicar a fome do Brasil. Talvez esse tenha sido o maior legado do Presidente Lula, o maior legado. Agora nós estamos tendo fome de novo. Mas como as pessoas, para este Governo, são estatísticas, é uma estatística, são números, não importa, não é? Importa apenas se a fome bater na minha porta. Queria saber, se um Senador passasse fome aqui, se iria continuar atuando como atua.

    E sabe por que o Governo que vocês colocaram é tão ruim, está tão mal avaliado? Vou dizer para vocês: primeiro, porque cortou recursos de investimentos, cortou recursos da educação e da saúde e congelou o orçamento. Nós já estamos vendo o orçamento da República não dar conta dos serviços. Só para vocês terem uma ideia, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e também o Programa de Segurança Alimentar, que dá condições de combater a fome e a miséria no País, teve corte na ordem de 90%. Por isso é que eu pergunto: os senhores teriam coragem de cortar o salário dos senhores em 90%? Quem sabe se a gente passar um pouco de fome aqui, a gente aprenda a não dar sustentação a um Governo como este. Uma vergonha, uma vergonha, gente. A gente achar que isso daqui é certo e apoiar este Governo. Quem apoia este Governo está apoiando a fome e a morte do povo brasileiro.

    Este Governo cortou 95% do PAC, dos investimentos. Como é que um país vai se desenvolver economicamente se não há investimento? Como é que a economia vai melhorar se não há investimento? Isso é vergonhoso. Este Governo que os senhores colocaram aí, os senhores têm que responder para a população, por que é que ele está fazendo isso. É um Governo que está cortando a área de educação, uma redução, se pegar 2015, eram R$8 bilhões para a educação tecnológica; agora em 2018, R$2,8 bilhões. Como é que um país vai se desenvolver se se corta a educação? Não são os senhores que falam tanto aqui que a educação é o motor do desenvolvimento? O que é que os senhores dizem disso?

    Os que os senhores vão fazer, quem apoiou o Temer e quem apoia o Temer aqui? É uma vergonha, uma completa vergonha. Enquanto isso continuar, o Presidente Lula vai sempre crescer nas pesquisas, gostem os senhores ou não gostem, fiquem bravos ou não fiquem, critiquem ou não critiquem. A maioria do povo brasileiro sabe quem fez por eles.

    Aqui infelizmente nós temos uma representação expressiva da elite brasileira, da elite branca brasileira, de gente que tem dinheiro...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... que não passa necessidade. De gente que consegue viver, que não precisa da proteção do Estado.

    Aliás, há gente que sonega bastante para o Estado brasileiro, não paga os impostos. Então, esta Casa decide por esse viés, mas a maioria do povo brasileiro, quase 80% do povo brasileiro, não está na classe social que este Senado representa. Eu queria que os Senadores pusessem a mão na consciência para não deixar o nosso País cair no precipício.

    Retomar novamente o desenvolvimento da economia brasileira, retomar novamente programas que protejam as pessoas vai levar tempo. Destruir é fácil. Em um ano e meio, está aqui a destruição causada por este Governo do golpe – um ano e meio. Esta Casa tem responsabilidade. Por cada pessoa que passa fome hoje no Brasil, esta Casa tem responsabilidade. Por cada universidade que não pagar suas contas hoje, esta Casa tem responsabilidade. Por cada centavo que deixar de ser investido em qualquer programa, esta Casa tem responsabilidade. Foram os senhores que aprovaram colocar lá Michel Temer. Foram os senhores que aprovaram colocar lá quem atende à banca nacional e que acha que o sistema financeiro é a prioridade no desenvolvimento de um país.

    Sabe qual é a manchete de um dos jornais hoje? Que a receita do Brasil cresceu quase 8%. Eu até disse: nossa, que notícia alvissareira. Fui lá dar uma olhada. Qual a receita que tinha crescido? A contribuição sobre o lucro dos bancos. O que isso diz aos senhores? Quem está lucrando mais neste País? Os bancos. Os bancos. Foi a contribuição sobre o lucro dos bancos que subiu e aumentou a arrecadação. Aumenta 8% nesse item, mas não faz nem cócegas no total da receita.

    É sobre isso que nós estamos falando e sobre a responsabilidade que nós temos aqui. Se houve erro de colocar este Governo, vamos ter a decência de consertar esse erro. Vamos chamar a eleição direta neste País agora, vamos chamar eleições gerais, inclusive para os nossos cargos aqui, e vamos devolver ao povo a capacidade de retomar o destino do seu País antes que entremos em mais uma aventura, como entramos em 1964. Aliás, não faltam pessoas querendo entrar nessa aventura. Foi essa a fala de um general que está na ativa. Eu espero, sinceramente, que o Governo tome providência sobre isso, porque era só o que faltava ao Brasil: voltar no tempo e ter uma ditadura militar. Aí nós completamos a nossa fotografia para o mundo. Aí, realmente, a República de bananas está efetivada.

    Então, é sobre isso, Senadores e Senadoras, que nós estamos falando, é sobre que futuro nós queremos construir para a maioria do povo brasileiro, e não apenas para os 20% representados nesta Casa, porque eu vou voltar a dizer: todos nós tivemos votos de ricos e pobres para chegar aqui, mas a mentalidade que domina aqui é a mentalidade dos ricos, é a mentalidade da classe média alta para cima. O que a gente aprova aqui é para beneficiar esse setor. Vamos pegar os projetos de lei, os projetos de lei de desoneração tributária para empresas, para o setor financeiro. Por que nós não mexemos ainda com a tributação das grandes fortunas? Por que nós não mexemos ainda na tributação de lucros e dividendos? Quando o Governo se aperta, aumenta o imposto da gasolina. Quando o Governo se aperta, quer aumentar o imposto de consumo, de produção. O pobre paga a conta e, na hora de ter o dinheiro do Orçamento, não pode ter. Aí ele é um peso. Aí fazem isso. Cortam 90% do Sistema Único de Assistência Social.

    Que vergonha! Que vergonha! Tiram dos pobres! E o pobre paga mais imposto que o rico neste País, porque, quando entra em um supermercado, o que ele paga, em cima de um pacote de arroz, de um pacote de feijão, é o mesmo que o rico paga. E pobre...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... não tem aplicação financeira; rico tem. E aplicação financeira neste País é praticamente isenta; lucros e dividendos são praticamente isentos. Isso é vergonha!

     É essa a resposta que esta Casa tem que dar ao País. Que tenhamos consciência e possamos recuperar um pouco dos erros que foram cometidos nesse passado recente!

    Obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2017 - Página 12