Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Indignação com áudio divulgado na internet falsamente atribuído a S. Exa.

Preocupação com o apoio de parte da população brasileira a intervenção militar.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Indignação com áudio divulgado na internet falsamente atribuído a S. Exa.
ATIVIDADE POLITICA:
  • Preocupação com o apoio de parte da população brasileira a intervenção militar.
Aparteantes
Lasier Martins, Telmário Mota.
Publicação
Publicação no DSF de 03/10/2017 - Página 7
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • REGISTRO, DIVULGAÇÃO, GRAVAÇÃO, FALSIDADE, LOCAL, INTERNET, VITIMA, ORADOR, ASSUNTO, APOIO, INTERVENÇÃO, MILITAR.
  • COMENTARIO, ASSUNTO, REGISTRO, APOIO, POPULAÇÃO, INTERVENÇÃO, MILITAR, MOTIVO, AUSENCIA, APROVAÇÃO, POLITICO, SENADOR.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srª Presidente, eu quero também me somar a todos os que neste momento sentem a morte do professor e mostrar como as pessoas são sensíveis quando os seus nomes são envolvidos em simples suspeitas, nem ao menos comprovadas, porque tudo indica que ele ficou traumatizado com essa situação.

    Meus cumprimentos à família, à comunidade acadêmica da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Mas, Srª Presidente, eu vim aqui falar de algumas surpresas que eu vivi nesses últimos dias. A primeira é a surpresa de como se espalha rapidamente hoje, no País inteiro, notícias falsas. Alguém teve a iniciativa – não sei por que motivo – de fazer um áudio, como se fosse eu falando. E esse áudio se espalhou no que hoje se chama "viralização", como vírus, por todo o Brasil. Recebi dezenas de telefonemas. Esta é a primeira surpresa: o espalhamento das notícias pela internet hoje. E isso me faz pensar, Senadora, e venho dizendo isso há algum tempo, que a próxima eleição vai ser ganha não por quem trouxer melhores ideias, mas por quem conseguir responder melhor às falsas notícias, aos boatos que se espalharão.

    Mas não é essa a única surpresa. Vem também uma indignação com o que eu acho que a gente pode chamar de estupro moral ou intelectual de alguém tentar imitar a voz de uma pessoa – ainda bem que não conseguiu imitar bem a minha. Abriu mão de meu sotaque pernambucano e falou coisas absolutamente absurdas como se fosse eu. Por exemplo, como se eu estivesse defendendo intervenção militar no Brasil. Isso é um estupro moral que se comete com essas notícias falsas. E ninguém vai estar livre disso. Aí não é só surpresa, é uma indignação!

    Mas, Senadora Vanessa, o que mais me surpreendeu e me assustou é que recebi parabéns por conta desse discurso que eu não fiz e não faria. Pessoas que acreditaram que eu estava falando aqueles absurdos vieram dizer: "É isso mesmo, Senador." Essa foi a maior surpresa que eu tive e que me deixou mais preocupado do que indignado com a situação em que eu fui colocado, até porque a situação em que eu fui colocado se explica.

    Hoje, a revista Veja desmentiu, o G1 desmentiu, um site aqui de Brasília chamado 247 desmentiu, eu desmenti imediatamente, e as pessoas terminam corrigindo a notícia falsa e jogando-a no lixo. Mas nós precisamos despertar, Senadora Vanessa, para o fato de que um discurso falando em intervenção militar recebe apoio e recebe elogios. Isso exige uma reflexão nossa, porque isso não surge do nada. Isso vem – é preciso lembrar – de erros que nós, os civilistas, os democratas, os que querem encontrar saída para a crise pelas urnas e não pelas armas, os que sabem o risco de ingressarmos em aventuras militares – que a gente sabe como começa, mas não sabe quando termina e nem o que acontece no período–, os que sabem que a corrupção tem de ser enfrentada pelo Poder Judiciário, pela Polícia, pelo Ministério Público e que, se os militares vierem fazer essa correção, eles terminarão coniventes também com outras formas de corrupção e, com uma diferença: não permitindo que se fale, censurando a imprensa, ou até mesmo excluindo o Poder Judiciário.

    É muito grave que haja pessoas parabenizando alguém porque teria feito um discurso justificando isso. Mais grave é se nós não refletirmos e entendermos que nós somos os culpados; nós, os civis; nós, os políticos; nós, os líderes deste País; nós, os civilistas; nós, os democratas. Somos culpados porque estamos dando margem a esse sentimento nacional que está crescendo, sim, de que os civis não são capazes de resolver os problemas que eles – nós – criaram.

    Nós temos de entender que cometemos o erro, por exemplo, da corrupção. E isso irrita o povo, indigna o povo e inspira o povo a procurar soluções por outros meios.

    Nós temos de descobrir que há, sim, corrupção e punir essas corrupções.

    Nós temos de barrar também uma corrupção que muitos não percebem, que é a corrupção nas prioridades, que é diferente da corrupção no comportamento dos políticos. Fazer um estádio de futebol de R$2 bilhões no Distrito Federal, mesmo que ninguém tivesse pego propina, já era uma corrupção.

    Nós temos de entender que nós cometemos os erros do imediatismo no máximo olhando a próxima eleição, Senador Telmário, e não olhando a próxima geração; não olhando a história, não olhando o longo prazo. Tomamos decisões aqui no calor de uma noite com votos que nem são explicitados, e o povo percebe.

    A aprovação de um fundo partidário com dinheiro público, de um fundo eleitoral com dinheiro público, no momento em que falta dinheiro nos hospitais, nas universidades irrita e inspira o povo a parabenizar quem teria feito um discurso de defesa de intervenção.

    Nós cometemos o erro do eleitoralismo. Ficamos aqui pensando em que votar para ter uma eleição mais fácil daqui a um ano – ou que seja daqui a quatro anos, se estivéssemos no início –, em vez de pensarmos não na próxima eleição nossa, mas no futuro do Brasil. O povo percebe isso.

    Nós cometemos o erro da superficialidade quando tomamos decisões cheias de erros. Mas, por uma razão ou outra, porque um pede, outro pede, aqui vamos votando.

    Cometemos o erro de não trazer a verdade aqui para dentro. Reclamamos das falsas notícias ou notícias falsas que são espalhadas, mas quantas vezes aqui não acontece de alguns Senadores, para aprovarem um determinado projeto, dizerem que é de um jeito diferente do que ele é na verdade? E a gente termina votando.

    Nós cometemos o erro da falta de debates. Falamos mais para a televisão do que para nós próprios. Raramente debatemos com a veemência necessária.

    Nós cometemos o erro do desprezo à opinião pública.

    Há anos, e anos, e anos, Senador Lasier, alguns de nós falam aqui que o povo começa a se cansar de todos nós.

    Eu disse em uma reunião de Líderes, em um desses dias, que já fui xingado muitas vezes pelas posições que tomo aqui e eu sentava com a pessoa que xingava e me explicava. Agora, não estão me xingando pelo que eu voto, estão me xingando por ser Senador. Alguns de nós que votamos aqui pelo impeachment, que eram xingados de golpistas, agora são xingados de Senadores, porque virou nome feio político, Deputado, Parlamentar...

    E fazemos isso sem levar em conta o que a opinião pública pensa. Isso leva a esse absurdo de um discurso – que não foi feito –, em meu nome, ser parabenizado, defendendo uma posição absurda que eu jamais defenderia. Acreditam, e é natural que acreditem!

    Aí, os meus amigos mais próximos dizem: "Mas não é a sua voz." Sim, mas quem sabe qual é a minha voz? Outros dizem: "Não tem o seu sotaque pernambucano." Mas quem é que sabe que eu tenho sotaque pernambucano? E acreditaram.

    E aí, Senador Medeiros, estou dizendo que a minha maior surpresa foi ter recebido parabéns por isso – surpresa e constrangimento, porque, como Senador, eu me sinto culpado pelo fato de que o povo esteja hoje parabenizando quem fala em intervenção militar.

    E é isso que está levando – e vou passar a palavra aos apartes – a muitos terem me dito aqui que têm dúvidas em se candidatar à reeleição, porque eles dizem: "Um esforço imenso para se eleger e depois ser xingado por ser o que você brigou para ser." As pessoas se perguntam: "Que razões dar para ser candidato à reeleição."

    E outra coisa, vejam as pesquisas. Alguns de nós aqui se forem candidatos amanhã estão muito bem nas pesquisas. Considero-me um desses, por generosidade da população do Distrito Federal. Mas, quando olho, Medeiros, a comparação entre os votos que existem e os brancos e nulos, eu acho que perco.

    Que moral vai ter cada um de nós que chegar aqui sendo o mais votado e tendo menos votos do que os brancos e nulos? Que autoridade terá para falar aqui, tendo menos votos do que brancos e nulos, sem falar em quem não foi votar?

    Tudo isso, Senadora – e eu passo a palavra, em primeiro, lugar ao Senador Demóstenes –, me faz dizer: nesses dias eu aprendi muito. Primeiro, porque a próxima campanha será a campanha em que vencerá quem souber desmentir os boatos e não de quem souber defender ideias; segundo, que quem for candidato tem de estar disposto a estupros morais diante de notícias falsas; terceiro, que a população está indignada conosco, e, finalmente, que é nossa culpa que o povo hoje comece a falar em intervenção militar. Não é culpa do povo. A desesperança deles não vem porque eles escolheram; vem porque eles nos escolheram, e nós não estamos dando a resposta para que a esperança se mantenha acesa sob a democracia. Isso é muito perigoso! E, depois, a história vai escrever, e alguns vão dizer: "Puxa, não percebemos os sinais".

    Eu percebo, eu venho percebendo, eu tenho denunciado. E, desta vez, eu não só percebi e denunciei; eu vivi na pele, por conta desse áudio que foi feito por algum cara muito incompetente do ponto de vista de imitar a voz, mas certamente muito competente em falar sintonizado com a opinião pública e ter o áudio que ele fez "viralizado" de uma maneira brutal, imediata e generalizada em todo o País.

    Eu vim aqui, aproveitando para desmentir aquele áudio, falar dessas minhas preocupações e dizer que, apesar de tudo, ainda fica a esperança – porque não há outro jeito – de que nós despertemos para corrigir os erros que nós cometemos e que o povo não perdoa.

    Era isso, Srª Presidente, mas eu passo a palavra em primeiro lugar ao Senador, para que possa fazer o seu aparte.

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Moderador/PTB - RR) – Senador Cristovam, eu agradeço. Mas, só um pouquinho antes, V. Exª disse assim: "Eu passo a palavra ao Senador Demóstenes". Eu falei que não, que de cachoeira eu só entendo uma que passa no meu lago, lá de casa, um igarapezinho. Então, não conheço outra cachoeira. Então, é o Senador Telmário que vai falar. (Risos.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Não, eu não disse Demóstenes não. (Risos.)

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Moderador/PTB - RR) – Realmente, eu sou longe de cachoeira... Mas deixe eu lhe falar uma coisa: V. Exª vai à tribuna de uma forma muito oportuna. E agorinha, quando V. Exª estava subindo à tribuna, eu recebi aqui uma mensagem. A pessoa não colocou nome, mas chegou do Maranhão. Diz o seguinte: "Atenção! Senador Cristovam Buarque faz uma divulgação bombástica! Vamos ficar atentos. Se isso se confirmar, o nosso País tomará novo rumo".

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – É assim...

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Moderador/PTB - RR) – Olha lá: é uma mensagem... Naturalmente, está implícito o apoio a essa provável fala que V. Exª, neste momento, desmente, feita aí por uma pessoa que sabe criar factoides que realmente caem no agrado da população. E por que é que caem no agrado da população? Porque a fé, a esperança, o sonho da população brasileira acabou. Acabou tanto, que ela não tem nem ânimo para ir às ruas. A população brasileira, pela sua formação, sempre é motivada, e os jovens são, realmente, o primeiro carro a ir à rua, sempre nas grandes mudanças e transformações deste País. Assim foi nas Diretas, assim foi na queda da ditadura, na queda do Senador Presidente Collor de Mello, da própria Dilma, e assim tem sido. A população vai. Mas alguém tem que motivar. No momento, a população perdeu... Na minha terra, existem uns animais – e aqui o Zé Medeiros também deve conhecer, porque ele é do Mato Grosso – que se chamam porcos queixadas. Eles têm um líder, e os caçadores abatem o líder para o rebanho se dispersar. E o povo brasileiro está desse jeito. Ele está com os seus líderes abatidos. Vai para oposição, está maculada na corrupção. Vai para a direita, está até o pescoço – muitos deles até o bigode – envolvida na corrupção. Então, ela não sabe para onde vai e tem medo de quem a chama. E, aí, eles só têm um olhar para as instituições sérias deste País, que são o Exército Brasileiro, a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Justiça de qualquer sorte, acontecendo principalmente na primeira instância, que é onde os juízes estão realmente tentando trazer o rio para o seu leito, que uma hora dessas perdeu o seu norte. E V. Exª, na sua fala, toca em um ponto interessante. Eu anotei aqui: "falta de debate". Eu ouvi um pronunciamento do Senador Dário Berger, de Santa Catarina, logo após a votação da reforma que tira o dinheiro do povo e o coloca no bolso dos políticos, principalmente dos corruptos... Ele questiona isso, que alguns vêm aqui, se reúnem em nome da Liderança, decidem, colocam para votar, e aí atropelam todo o Regimento – rasgam o Regimento. O Regimento desta Casa, aqui... Prevalece o que é decido numa sala, entre as Lideranças, e os demais ficam aqui a bater palmas ou a gritar "epa!". Ou então, se gritarem muito, desligam o microfone e não podem nem falar. Então, realmente, as matérias precisam ser muito mais debatidas aqui. "Desprezo pela opinião pública". Senador Cristovam, eu desafio V. Exª. Saia pelo Brasil inteiro; ande pelo Brasil inteiro. Se o senhor achar uma placa pedindo a reforma política, uma plaquinha, eu renuncio ao meu mandato. Porque não há! E a reforma política que o povo quer está longe dessa que estão propondo. O que se está fazendo é um arranjo, para tirar do patrocínio da iniciativa privada, onde foi detectada uma avalanche de corrupção no caixa dois... Por que uma avalanche? Porque muitos daqueles recursos que vieram... O patrocínio da...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Moderador/PTB - RR) – ... iniciativa privada pode ser muito bem controlado. O problema é que muitos daqueles recursos não vieram do ganho natural da empresa; vieram da corrupção. Aqueles recursos vieram da corrupção. É por isso que virou caixa dois, por isso que maculou esse financiamento. Aí agora vai para o financiamento público. Ora, um País que grita "epa!" em todos os sentidos... Dinheiro faltando para a educação, dinheiro faltando para a saúde, dinheiro faltando para o transporte, nossas estradas destruídas, vicinais destruídas... Falta gerar emprego, gerar renda, falta financiar as empresas... E aí, no meu Estado – que é um Estado pequeno –, onde as emendas parlamentares, principalmente as de Bancada, têm uma incursão forte, uma representação forte – porque nós temos um PIB baixo –, esse recurso, agora...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Moderador/PTB - RR) – Essas emendas impositivas, de Bancada, no meu Estado iriam criar infraestrutura na cidade – que precisa muito – e construir uma estrada, uma BR que liga o Município onde eu nasci – que há 35 anos, sonha com essa estrada... Foi para o lixo. Por quê? Porque agora vão usar esse recurso, que iria beneficiar a população, para financiar... Sem limite! Você não sabe o limite. Se é de R$2 milhões, R$3 milhões, R$4 milhões... Para financiar muitos políticos que deveriam estar na cadeia, e não indo para a reeleição. Eu fui eleito em cima de um carro de som, sem grupo político, sem grupo financeiro, sem grupo empresarial. E quero, se for para minha reeleição ou para qualquer outro cargo, voltar ao meu Estado e dizer: "vocês me deram esse mandato, e eu fiz isso por vocês. Mereço ou não mereço voltar? Porque, senão, eu vou para as minhas terras, minha fazendinha que tenho, comprada quando fui bancário, e ali eu produzo, e ali eu vivo, e ali eu me mantenho". Agora, pegar dinheiro da merenda escolar, pegar dinheiro da farda, pegar dinheiro do transporte público, pegar dinheiro da saúde, da medicação? Eu tenho um sobrinho que amanhã vai fazer uma cirurgia de câncer pelo SUS. As filas são intermináveis; os prazos... Quando chega a hora da cirurgia, às vezes a pessoa já está até enterrada. Mas vão tirar esse dinheiro, que poderia estar atendendo a essa demanda. "Ah, não estamos tirando da saúde." Estão, sim! Estão, sim, porque era só colocar esse dinheiro na saúde. Digo isso porque eu coloquei, na emenda de Bancada de 2016-2017, para a saúde, R$70 milhões, que dariam um grande oxigênio à saúde de Roraima.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Moderador/PTB - RR) – Portanto, fui contra e sou contra esse arranjo para tirar dinheiro público para financiar candidatos.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – E um arranjo, Senador Telmário, que foi votado sem ninguém saber como se votou – escondido, aqui. É o chamado "voto do corpo", porque você não usa a voz para dizer. E dizer que não sai da saúde... Eu faço uma pergunta: não sai da saúde... Mas então por que não põe na saúde? Sair de uma estrada... Primeiro, estrada é importante, mas por que não põe na saúde, em vez de colocar numa campanha? Estou totalmente de acordo com o senhor.

    E sobre a reforma política, Senador Telmário, sabe o que é que está me parecendo? V. Exª sabe que os indicadores de desemprego só colocam os que buscam emprego. Eu acho que a população brasileira perdeu tanto a esperança de que nós seríamos capazes de fazer uma reforma política, que já nem fala nisso como aqueles desempregados que, depois de meses e meses, saem das estatísticas. A população perdeu a esperança. Aí, nem fala mais em reforma política.

    Senador Lasier.

    O Sr. Lasier Martins (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS) – Obrigado, Senador Cristovam. Em primeiro lugar, pedi a palavra para dizer que tinha certeza de que V. Exª iria à tribuna hoje de manhã, nesta segunda-feira, para contestar aquele áudio que "viralizou", que tive a oportunidade de acompanhar ontem pela manhã. Extenso, bem articulado, mas um conteúdo extremamente discutível e, na maioria, reprovável. E não tive dúvidas de que não era seu aquele texto, até a partir da sua voz. Sua voz é muito diferente. Agora, logo imaginei que esse pretendente...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Lasier Martins (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS) – ... a aparecer escolheu alguém que tem idoneidade, que é respeitado. E, aí, escolheu Cristovam, colocando uma chamada: haverá um pronunciamento, uma atitude bombástica do Senador Cristovam – o que não passou de uma falsidade. Então, minha solidariedade, e acho oportuno que isso seja bem divulgado. Não é o que pensa o Senador Cristovam que nós conhecemos muito bem. Agora, fiquei mais uma vez impressionado com a sua derivação para a análise do momento que nós estamos vivendo, sobretudo do descrédito que nós, políticos, estamos vivendo. E sobre isso, Senador Cristovam, eu tenho refletido muito. Seria isto que este jornalista de 50 anos queria, ao vir para o Senado? É evidente que não era isso. E até preparei algumas linhas, que pretendo pronunciar daqui a pouco, e...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Lasier Martins (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS) – ... ficaria muito honrado se V. Exª acompanhasse, em que o sentido é mais ou menos o seguinte: o Senado que nós queremos ou de que nós precisamos. Porque não é isso que está aí – e não estou me referindo à atual Direção do Senado, mas aos últimos anos do que tem sido o Senado Federal, porque realmente, hoje, em determinadas situações, nos envergonha dizer que somos políticos. Eu, às vezes, quando me perguntam "mas quem é o senhor?", vacilo em dizer o que eu sou, o que é que eu estou fazendo. Então, cumprimento-o por seu pronunciamento. E continue com essa sua conduta, que é um exemplo aqui nesta Casa. Obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Obrigado, Senador Lasier.

    De fato, aquele áudio irrita pela voz, irrita pelo sotaque, que não é o meu, irrita porque tem uma linguagem mal-educada, que eu não uso – inclusive com palavrões –, mas sobretudo pelo conteúdo, que não tem nada a ver com as minhas preocupações.

    Quanto à sua última colocação, de como é que nos sentimos hoje, com mandato, eu costumo dizer aqui que de noite e fim de semana eu tiro o chapéu de Senador, ponho o de vereador e vou para o Distrito Federal.

    Essa semana, Senador Medeiros, Senador Wellington, eu estava numa feira, aqui, e as pessoas vieram falar sobre candidatura, se eu seria candidato à reeleição. Eu digo: "posso ser; me dê cinco razões para isso. Dê-me cinco razões que justifiquem." Aliás, quem estiver me ouvindo, por favor, mande cinco razões que tenha, até porque, se for, posso usar como argumento. E as pessoas, na hora, ficam em dúvidas sobre quais são as razões que justificariam isso, a não ser uma que eu não aceito: "Virá um pior do que você". Aí não satisfaz, não é? Aí não dá para a gente ficar contente, se for por isso.

    Mas, Senador Medeiros...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... o senhor tinha pedido a palavra ou eu me enganei?

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT. Fora do microfone.) – Eu vou falar em seguida.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Ah, está bom.

    Então, Presidente, era isso que eu tinha para falar.

    E fica aqui o alerta: na próxima eleição, vai ganhar quem souber enfrentar melhor os boatos, e não quem souber defender melhor suas próprias ideias. É muito triste, mas é um risco que nós estamos vivendo. E vai ser muito triste ser eleito com mais votos que o adversário e com menos votos do que brancos e nulos. Mas é um risco que corremos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/10/2017 - Página 7