Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Satisfação pelos acontecimentos desencadeados pela Operação Anel de Giges, no estado de Roraima.

Autor
Telmário Mota (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Satisfação pelos acontecimentos desencadeados pela Operação Anel de Giges, no estado de Roraima.
Publicação
Publicação no DSF de 03/10/2017 - Página 15
Assunto
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Indexação
  • COMENTARIO, ATIVIDADE, DENUNCIA, JUIZ, JUSTIÇA, LOCAL, ESTADO DE RORAIMA (RR), MOTIVO, CRIME, CORRUPÇÃO.

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Moderador/PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srª Presidente, Senadora Vanessa, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, telespectadores e telespectadoras da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, eu venho a esta tribuna trazer uma mensagem do povo de Roraima para todo o Brasil.

    Anunciamos que os ventos que derrubam a corrupção chegaram ao nosso Estado. Esse vento, esse furacão poderíamos chamar de esperança, mas podemos chamá-lo de justiça, pelas mãos da Polícia Federal, da PGR e do próprio Tribunal de Justiça na pessoa da Juíza Ana Emília Rodrigues Aires.

    Srª Presidente, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, a primeira instância da Justiça Federal em todo o Brasil vem se transformando em objeto da ira de alguns políticos que se envolvem na prática criminosa de desvio de dinheiro público. Juízes e juízas que têm coragem de decidir contra os interesses dessas quadrilhas são acusados, achincalhados, ameaçados, denunciados, humilhados por parte da imprensa, sempre ou às vezes, conduzida por esses políticos, que chegam mesmo ao ponto de esses juízes serem representados junto ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), num claro recado de que não se mexa com eles, os corruptos, que se julgam sempre acima da lei.

    Eu digo, no meu Estado, e dizia sempre, que ninguém, mas ninguém, está acima da lei, mas, no meu Estado, há políticos que pensam que são donos do Estado. Humilham juízas, determinam ordens a desembargadores. Srª Presidente, há mais de 20 anos que o povo de Roraima tenta combater a corrupção, tenta derrubar os poderosos que tanto mal fazem ao nosso povo, mas não conseguem, porque o mal é astucioso, é hábil na arte de enganar e tem muito dinheiro da corrupção, como mostram as investigações.

    Inúmeras vezes vim a esta tribuna, Srª Presidente, denunciar a corrupção no meu Estado, dei nome e sobrenome ao responsável pelo atraso do Estado de Roraima; Roraima, que não tem uma energia consolidada; Roraima, que não tem a titulação das suas terras equacionada; Roraima, que não tem as suas estradas de escoamento na altura de uma grande produção. Roraima, que foi colocada no contracheque por aqueles que só sabem praticar a corrupção na coisa pública.

    Na última quinta-feira, Srª Presidente, a Juíza Ana Emília deu o endereço e a Polícia Federal levou, sob condução coercitiva, as seguintes pessoas: o ex-Deputado Rodrigo Jucá e sua irmã, Marina Jucá, além de Ana Paula e Luciana Surita, filhas da atual Prefeita, Teresa Surita, da capital de Boa Vista, cujo marido foi preso em flagrante por posse ilícita de um fuzil de caça 7,62.

    Ainda agora a Srª Presidente falava que armas de exclusividade das Forças Armadas são utilizadas para fazer massacre. Essa quadrilha está preparada usando fuzil 7,62, pistola .45, sem registro, mas muita, muita, muita munição, para guerrear, para intimidar uma população que não tem medido esforços para ser hospitaleira, para ser pacífica, mas que não aceita mais essa prática que destruiu a coisa pública e está levando o sonho do nosso povo.

    A operação foi batizada de Anel de Giges, inspirada em um dos livros da obra A República, de Platão, em que é discutido o tema da justiça. O anel de Giges, de acordo com a Polícia Federal, permite ao seu portador que fique invisível e cometa ilícitos sem consequências. Essa era a prática. E essa quadrilha foi levando R$32 milhões do Minha Casa, Minha Vida, da população mais pobre e mais carente do meu Estado.

    Essa quadrilha era invisível apenas para as autoridades policiais. Em Roraima, todos nós sabemos quem são, como enriqueceram sem trabalhar e como desviaram o dinheiro que nunca chegou para a educação das nossas crianças, para a saúde, para o transporte dos trabalhadores, que acordam cedo e vão ganhar o pão honestamente, e muito menos para a segurança. Não há como explicar um patrimônio imensurável, que vai desde postos de gasolina, shopping centers, canais de televisão, rádios, mineradoras, enfim, são tantas as denúncias de um patrimônio robusto formado em cima do dinheiro público, fruto da corrupção discreta que agora recebeu o nome certo pela Polícia Federal.

    Ora, o patriarca dessa quadrilha, afinal são quatro pessoas, se disse indignado e, com a cara mais lavada do mundo, publicou uma nota. Ele é diariamente denunciado pela mídia, pela televisão, pelas rádios, pelas revistas. Mas ora ele responde com ironia, ora ele responde com indignação e diz que é uma conspiração contra ele, o patriarca, ora ele responde até com pornografia, num total desrespeito ao Judiciário, em que ele mete suruba e outras coisas. Toda hora esse patriarca é alvo de denúncias sérias.

    O Boechat, um dia desses, contou uma historinha sobre um cavalo. O cavalo ganha a primeira vez. O cara diz: "É sorte." O cavalo ganha a segunda vez: "É coincidência." Aí o cavalo vai disputar a terceira vez...

(Soa a campainha.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Moderador/PTB - RR) – Dê-me mais tempo, Srª Presidente.

    Aposta nesse animal. E assim é esse patriarca. Toda corrida da corrupção ele larga na frente – larga na frente! São mais de 14 inquéritos de denúncia de todo tipo de crime, desde venda de medida provisória a tudo mais.

    E ele diz com a cara mais cínica: "Recebo essa agressão a mim e a minha família como uma retaliação de uma Juíza Federal..." Aí cita... "Recebo essa agressão a mim e a minha família como uma retaliação de uma Juíza Federal, que, por abuso de autoridade, já responde a processo no Conselho Nacional de Justiça." Ora, quem a denunciou ao conselho foi exatamente um dos filhos dele, corrupto, que está envolvido no roubo de R$32 milhões, fora o dinheiro que ele recebeu na Lava Jato, já publicado, na sua campanha para vice-governador. Só que ele se esqueceu de dizer que foi o próprio filho que fez essa denúncia contra essa juíza. Ou seja, o malfeitor inconformado com a Justiça, quer punir a própria Justiça.

    A Associação dos Juízes Federais do Brasil emitiu nota pública repudiando – diz a nota – "toda e qualquer forma de ataques pessoais aos magistrados" e manifestando irrestrita defesa à independência judicial. Vai mais longe a nota: "Por isso, são inadmissíveis os ataques à Juíza Federal [...] da 4ª Vara Federal de Roraima, unidade jurisdicional onde tramitam os autos da operação Anel de Giges, realizados gratuitamente..."

    E como interpretar esse tipo de conduta agressiva desse político? Será o sinal de desespero ao sentirem o cerco apertar-se à sua volta?

(Soa a campainha.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Moderador/PTB - RR) – Ou será uma manifestação de arrogância de quem se julga muito poderoso, acima da Justiça? Será a demonstração de quem tem absoluta crença de que a impunidade vai acabar? Pode ser uma dessas alternativas ou, quem sabe, todas elas juntas.

    Seja qual for a resposta ou as respostas, o certo é que alguns Juízes Federais, como Sergio Moro, de Curitiba, Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, e agora a Juíza Ana Emília, têm tomado decisões corajosas, que podem sinalizar uma mudança nesse quadro de impunidade a que se acostumaram esses políticos corruptos. Daí a irritação raivosa deles, com pitadas de ameaças.

(Interrupção do som.)

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Moderador/PTB - RR) – Mais um tempo. (Fora do microfone.)

    Este assunto é importante para o Brasil. Este assunto é importante para o meu Estado, porque aqueles que se achavam acima da lei já foram parar nas grades da cadeia. Já começa uma limpeza ética no nosso Estado.

    Caros ouvintes, esclareço que o patriarca da quadrilha até agora responde a 14 inquéritos no Supremo Tribunal Federal por corrupção de toda ordem na Operação Lava Jato, tais como venda de projetos de lei, de medidas provisórias, pareceres, oitivas em CPIs e propinas na intermediação de contratos.

    É muita falta de vergonha se mostrar indignado com a Justiça, agindo em prol do patrimônio público. Ele está tomando gosto.

    Na verdade, esse patriarca toma gosto, porque, em 2014, ele humilhou a Juíza Patrícia Oliveira dos Reis, juíza estadual, que estava fazendo cumprir a lei eleitoral. E ela foi humilhada perante uma grande massa da população.

    Mas esses tempos estão se acabando; esses tempos estão se reduzindo.

    E para ser mais rápido e andar na nossa discussão, na ação da polícia, ao chegar à casa de uma das filhas da prefeita, o genro dela estava com essas armas, aqui, olhem. Olhem o fuzil aqui, olhem! Olhem lá! Olhem aí: 762, exclusivo das Forças Armadas, e a pistola é 45; munição, quarto quase cheio.

    Então, o meu Estado viveu esses dias, e eu quero aqui concluir a minha fala dizendo à Drª Ana Emília que continue com a caneta à mão, pois ainda vai assinar muitas conduções coercitivas, mandados de busca e muitas prisões. Acreditamos nisso. Drª Ana Emília, assine sem dó nem piedade. Saiba que Deus e o povo de Roraima a protegerão. Não recue. Vá em frente. A Justiça precisava reagir em Roraima e só reagiu na mão de uma mulher corajosa como você.

    Parabéns à Paraíba e àquela escola, àquela universidade. Essa juíza nasceu naquele Estado e ali se formou. Dali ela se credenciou para ir para o Estado de Roraima para ajudar a fazer a limpeza ética do meu Estado, que não aguenta mais a mão da corrupção.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/10/2017 - Página 15