Discurso durante a 153ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o exemplo da Islândia na redução e prevenção do uso de drogas entre jovens.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Comentários sobre o exemplo da Islândia na redução e prevenção do uso de drogas entre jovens.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2017 - Página 10
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • COMENTARIO, POLITICAS PUBLICAS, ISLANDIA, PAIS ESTRANGEIRO, REDUÇÃO, CONSUMO, DROGA, BEBIDA ALCOOLICA, JUVENTUDE, RESTRIÇÃO, ENTRADA, ESTABELECIMENTO, APREENSÃO, AUMENTO, VIOLENCIA, BRASIL, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, GOVERNO FEDERAL, ESPORTE, EDUCAÇÃO, CULTURA.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos os que nos acompanham pela Rádio e TV do Senado Federal, eu queria cumprimentar todos, especialmente população do meu Estado, o Acre, mas, daqui desta tribuna, a gente fala para o Brasil inteiro, e eu trago um tema que está muito presente na vida dos brasileiros, nas famílias de todos nós, que é a crescente violência, que é a crescente destruição de uma das fases mais bonitas que todos nós já vivemos, ou outros estão vivendo, ou outros vão viver, que é a juventude.

    A nossa juventude tem que perspectiva, meu Deus? As nossas crianças têm que perspectiva com este País que nós estamos vivendo?

    Vivemos, num passado recente, tempos de prosperidade, em vários aspectos. Agora vivemos um verdadeiro caos. Depois desse impeachment, tudo piora no nosso País. As instituições não se entendem; a sociedade perde a esperança; as pessoas perdem a fé e a esperança, e as consequências são terríveis: desemprego e violência como marca.

    E eu trago aqui à tribuna do Senado uma luz. O país da Europa que tinha as piores taxas de envolvimento de sua juventude com drogas, lícitas e ilícitas — estou me referindo aqui à bebida, ao cigarro e à maconha —, era a Islândia. Saiu uma matéria no jornal El País, que eu, com cuidado, li, reproduzi no meu Twitter e estou pondo na rede, na minha fanpage. A Islândia era, eu podia dizer assim, o pior lugar, o pior país para os jovens de 15 a 16 anos na Europa. Era ali, naquele país, que 23% dos jovens, entre 15 e 16 anos, que já fumavam; 17% tinham um grau de dependência já com maconha e 42% que consumiam constantemente álcool. Vejam, estou falando de garotos de 14, 15 e 16 anos num país. E, de lá para cá, 20 anos, a Islândia, o mesmo país, é, hoje, um dos países referência na Europa, porque, do consumo de 42% dos jovens de 14, 15 e 16 anos que faziam uso frequente de álcool, em vez de 42% dos jovens, agora, em 2016, são 5% – mostra a matéria e o estudo científico. O consumo constante de maconha saiu de 17% para 7%. E o vício do cigarro saiu, Senador Cidinho, de 23% para 3%.

    Eu estou falando de um país da Europa. Esses são desafios para os países do mundo. Como trabalhar com a juventude? Como cuidar dos nossos jovens? Como criar um ambiente para que eles possam nos suceder na vida, pelo trabalho, pela ética, pela integridade e pela preocupação com o próximo e com mundo melhor, com hábitos saudáveis? Esse é o desafio. A Islândia conseguiu. E eu fico refletindo: e o nosso País, Presidente? Qual é o futuro da nossa juventude? Como a juventude está vendo esse debate de corrupção, onde ninguém presta, onde nada funciona, onde as instituições todas estão caminhando para a desmoralização completa, numa verdadeira marcha da insensatez?

    No Brasil não é diferente. Nossos jovens têm energia sobrando, mas a perspectiva de vida é nenhuma. Os números são fortes. Eu peguei dados sobre a juventude brasileira de 13 a 15 anos. Uma pesquisa do IBGE divulgada traz dados alarmantes sobre os hábitos dos adolescentes brasileiros. Alarmantes!

    O trabalho se refere a 2015, mas foi divulgado depois. Foi realizado com estudantes do 9º ano de escolas públicas e privadas, de 13 a 15 anos. O resultado mostra que o percentual de jovens que já fazem uso de bebidas chega a 50% – estou falando de jovens de 13 a 15 anos. Isso, em 2012. E passou para 55% em 2015. Já a taxa dos que usaram drogas ilícitas, que declararam usar drogas ilícitas, saiu de 7% para 9% entre 2012 e 2015. Também subiu o número dos que relatam fazer uso do cigarro.

    Então, Sr. Presidente, nós devemos refletir: o que fazer para que para a nossa juventude não seja apenas aberta a porta do crime, do cemitério, da droga, do vício, da dependência? O que devemos fazer ou o que podemos fazer?

    Primeiro, tenho uma constatação: acho que tudo que nós fizemos até aqui está errado. Está errado. Deu errado, porque a nossa juventude não está tendo a acolhida que precisa ter. Eles não estão vendo a porta de um mundo com um melhor relacionamento e de hábitos saudáveis se abrir. Se forem mais pobres, pior ainda – os mais pobres –; se forem de cor, pior ainda. Mais de 40% dos crimes envolvem pessoas com menos de 30 anos. Chega a quase 50%, e normalmente são os mais pobres que estão padecendo.

    Eu queria, Sr. Presidente, colegas Senadores e Senadoras, refletir um pouco sobre o que a Islândia fez, um país que era o pior do ponto de vista dos hábitos para os jovens. Eles investiram em esporte, em educação mais ainda, mas especialmente em atividades extracurriculares – esporte e cultura –, para o jovem ter como gastar energia de maneira mais saudável; ter desafios; ter objetivos; romper com situações que, devido ao acúmulo de energia e à característica da juventude, precisa viver.

    Mas eu queria dizer aqui, da tribuna: sabe qual foi uma das medidas mais importantes que a Islândia adotou, que passou a ser uma referência de como lidar com jovens, de como reduzir o consumo de drogas lícitas e ilícitas, o consumo de álcool entre jovens de 14 e 15 anos? Eles aumentaram a maioridade. Nós estamos aqui discutindo criminalizar mais rapidamente os que têm menos idade.

    A Islândia conquistou, fazendo: era de 16 anos passou para 18 a maioridade penal. Mas eles adotaram medidas também restritivas para o funcionamento de alguns estabelecimentos. Em vez de só palestra contra a droga, sinceramente eles adotaram medidas restritivas para o funcionamento de alguns estabelecimentos.

    Eu, quando fui Prefeito e Governador, adotei isso. Tem sentido haver, 24 horas por dia, algumas casas aberta para aqueles que estão em momento de dificuldade – e aquela casa estar aberta? Não tem regra, o pessoal não consegue nem dormir, nem curar uma ressaca.

    Então, eles fizeram leis mais rígidas, diminuíram as palestras falando mal desses hábitos... Está falando mal, mas o jovem vai lá, experimenta e diz: "Mas não é tão ruim como falaram." Claro que não é. O ruim é quando cria dependência. Por isso que ele é levado a uma situação de dependência.

    O número de pessoas perambulando pelas cidades no Brasil está aumentando. O número de jovens perdidos nas famílias está aumentando. E a solução somos nós, a sociedade, os governos, o Estado brasileiro tomarmos medidas...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Não tenho dúvidas. Fiz isto quando eu era Prefeito e fiz também quando era Governador, que o esporte é um importante aliado. A atividade, preencher a vida da juventude, abrindo portas de uma vida saudável, de hábitos saudáveis...

    Por isso, fiquei impressionado com essa matéria, e vou pedir para constar nos Anais do Senado, que saiu no jornal El País de hoje, que trata do exemplo da Islândia, que reduziu drasticamente o consumo de drogas, de álcool e de tabaco entre seus jovens. Um sonho para a nossa sociedade. Eu sonho com isto para o meu Estado do Acre, para Rio Branco e para as outras 21 cidades: os jovens tendo uma vida mais saudável, com hábitos saudáveis, longe da violência, alegrando a família, dando esperança para a sucessão na família. É isso que todos nós buscamos, Sr. Presidente,...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ...e lamentavelmente, nós não temos isso.

    Volto a afirmar, concluindo: eu acho que tudo o que nós fizemos até aqui está errado, porque o problema só aumentou. Nós devemos, independente de concordarmos com todos os pontos ou não, ouvir uns aos outros e estabelecer políticas públicas, ações na sociedade, ações individuais que possam salvar essa geração de jovens que é vítima da insensatez que vivemos nesses tempos, no Brasil e no mundo, Sr. Presidente.

    Muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) – Eu que agradeço a V. Exª.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Mas é um exemplo que funciona muito bem na capital do meu Estado, Rio Branco. Minha cidade tem 300 mil habitantes e não consegue conviver com isso. Por isso que é muito importante os exemplos que dão certo serem seguidos. Começam na família, começam em casa, no bairro onde a gente vive as mudanças.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2017 - Página 10