Discurso durante a 15ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão Solene destinada a comemorar os 45 anos de fundação da Rede Amazônica.

Autor
Randolfe Rodrigues (REDE - Rede Sustentabilidade/AP)
Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Solene destinada a comemorar os 45 anos de fundação da Rede Amazônica.
Publicação
Publicação no DCN de 20/09/2017 - Página 39
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, REGIÃO AMAZONICA.

      CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ  REDAÇÃO FINAL

      Número Sessão: 015.3.55.N  Tipo: Solene - CN

      Data: 19/09/2017  Montagem: 5199


      O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/REDE-AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente Omar Aziz.

     Cumprimento V.Exa. e o Deputado Pauderney Avelino, autores do requerimento desta sessão solene conjunta do Congresso Nacional. Cumprimento o senhor representante do Ministério das Comunicações e o meu querido Phelippe Daou Junior.

      Tenho bastante sentimento de saudade, Phelippe, nesta sessão. Alguns anos atrás eu tive a honra de ser proponente de uma sessão em que V.Sa. e seu pai estavam presentes. Por três vezes propus sessões solenes aqui no plenário do Senado com a presença do seu pai.

      Esta é a primeira vez que nós realizamos aqui no Congresso Nacional uma sessão solene em homenagem à Rede Amazônica sem a presença do Dr. Phelippe Daou. Quis o destino que os três fundadores se despedissem de nós quase ao mesmo tempo. Há um intervalo de cerca de 70 dias entre as despedidas de Dr. Phelippe Daou, de Milton Magalhães Cordeiro e de Joaquim Margarido, os três fundadores da Rádio Amazônica.

      Nós não podemos deixar de ressaltar mais uma vez neste plenário a proeza que representou fundar uma rede de comunicações na Amazônia nos anos 70. Nunca é demais ressaltar as dimensões amazônicas. A Amazônia virou superlativo, virou sinônimo de grandeza em todo lugar, porque as nossas dimensões, as dimensões da Região Amazônica, são concretamente o retrato disso.

      Nós estamos falando de uma região que corresponde a 45% -- quase 50%! -- da dimensão territorial deste País. E 50% da dimensão geográfica da Região Amazônica é ocupada por uma região que integra sete Estados, sendo que a chamada Amazônia Legal vai além disso.

      Apesar de integrar quase metade do território brasileiro, a nossa densidade demográfica é baixa. A nossa população é a segunda menor entre as Regiões do Brasil. Por conseguinte, o índice potencial de consumo da Região Amazônica é o menor do País.

     São esses números que demonstram a grandeza da proeza de, nos anos 70, ter-se ousado empreender e investir naquela região. Se ainda hoje, em 2017, as principais vias de integração de lá são os rios, imaginem como era a situação em 1972, 1973, 1974 e 1975, que foram os anos em que a Rede Amazônica se ampliou! Era muito mais difícil. Repito: foi uma proeza de dimensões amazônicas, primeiro, ousar empreender na região e, segundo, constituir nela uma rede de comunicações.

      O Dr. Phelippe Daou, os seus amigos e os seus sócios anteciparam em décadas o que talvez só poderia ser realizado 20 ou 30 anos depois. Phelippe Junior, a proeza do seu pai e dos sócios dele retrará perfeitamente a seguinte frase do francês Jean Cocteau: “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”.

      Nunca é demais destacar que a Rede Amazônica, que foi uma das primeiras emissoras fundadas no Estado do Amazonas, já tinha programação própria nos 2 primeiros anos de funcionamento -- dava-se um jeito, pegavam-se as fitas de outras emissoras. A Rede se constituía em uma emissora genuinamente regional, com a identidade cabocla da região, com a presença dos rios da região, com a cara misturada no povo da região.

      Como diz Darcy Ribeiro, no Brasil se fez o maior caldeirão étnico do planeta. E, em todo o Brasil, nenhum caldeirão étnico é tão completo quanto o da nossa região.

     É uma região que tem um dos Estados com a maior presença negra do Brasil, o meu Amapá. É uma região em que se construíram fortalezas. Uma delas fica no meu Estado e é a maior fortaleza de todo o império colonial português no mundo.

      É uma região que possui cantos que se fizeram Brasil porque queriam ser Brasil. Foi assim no Amapá, onde houve várias incursões nos séculos XVII, XVIII e XIX, baixando o pavilhão francês, erguendo o pavilhão nacional. Foi assim que se fez o Acre, que é Brasil porque lutou para isso, porque fez uma revolução. O Acre é Brasil pelas foices e machados de Plácido de Castro e de tantos outros desbravadores.

     É uma região que tem muito orgulho de ter enorme diversidade linguística. Nós não somos de uma região de um idioma só, nós temos orgulho de estar em uma região brasileira que tem mais de 190 nações diferentes: wayampis, tiriós, apalaís, povos do Xingu e tantos outros. Há mais de 190 nações distintas, que falam mais de 240 dialetos diferentes.

      Para estabelecer uma emissora de televisão numa região como essa, é preciso ter a cara e a identidade desse povo, um povo de diferentes nações, de diferentes dialetos, que se misturou com o branco europeu e, ao mesmo tempo, se miscigenou com a cultura negra. É um povo que tem como traço cultural o Marabaixo, o batuque no Pará e o carimbó.

      Empreender em uma região com essa diversidade 40 anos atrás era mais do que uma ousadia. Constituir uma emissora com a cara da diversidade dessa região, então, é uma proeza total.

      Então, meu querido Phelippe, esta sessão solene do Congresso Nacional é uma homenagem por uma proeza que eu considero ser uma das maiores do empreendedorismo brasileiro. Esta sessão é uma homenagem do Congresso brasileiro -- a Casa dos representantes do povo, a Casa da Federação brasileira -- a um dos maiores empreendimentos que existem no Brasil, se não for o maior deles.

      Fazer um empreendimento no mercado consumidor do Centro-Sul do Brasil -- São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais -- é simples e fácil, temos de convir. Fazer um empreendimento num dos menores mercados consumidores, com a vocação de empreender para integrar, compreendendo a necessidade histórica, é mais do que empreender, é ter percepção do seu dever histórico.

      Foi isso que seu pai teve, Phelippe: percepção de dever histórico. Não agiu como empresário no sentido de ter como dever simplesmente lucrar. Aliás, o que menos se tinha era lucro ao se buscar um empreendimento dessa natureza nos anos 70.

     O que ele mais teve foi a determinação de integrar. O Amapá só foi integrado definitivamente ao restante do País e passou a se identificar com este em virtude de proezas como essa. E aí está outro capítulo da proeza do seu pai e dos seus sócios, que juntos caminharam para fundar a Rede Amazônica: eles integraram aquela região, que passou a ter sentido de nação.

      Algumas coisas nos dão sentido de nação. Uma delas é a língua; as outras são a cultura e a história. A cultura de um povo é a identidade dele diante de um espelho. E essa cultura só pode ser constituída se o povo se reconhece na história dela, se ele se identifica com ela. Só foi possível constituir essa identidade porque nós tivemos na Amazônia mecanismos e instrumentos como a Rede Amazônica.

      Phelippe, os Estados do Amapá, de Roraima, de Rondônia, do Acre e do Amazonas têm um pleito de gratidão com seu pai e os sócios dele, que fundaram a Rede Amazônica. Eles conseguiram nos integrar, nos aproximar, dando-nos uma contribuição indescritível, formidável e definitiva, de modo que pudéssemos ter um sentido de identidade regional, como amazônicos, e nacional, como brasileiros.

      Portanto, na ausência do seu pai, receba V.Sa., nesta sessão do Congresso Nacional, em nome do povo do Amapá, o nosso profundo agradecimento pelo que seu pai fez pela Amazônia e pela identidade que nós construímos. (Palmas.)




Este texto não substitui o publicado no DCN de 20/09/2017 - Página 39