DISCURSOS ENCAMINHADOS À PUBLICAÇÃO, NA FORMA DO DISPOSTO NO ART. 203 DO REGIMENTO INTERNO.

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Social Democrata/PSDB - PA. Sem apanhamento taquigráfica.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, ouvintes da Rádio Senado e telespectadores da TV Senado,

    Há 225 anos, a família paraense encontra no mês de outubro o esplendor da renovação de sua fé. Agora, no próximo domingo, acontece mais um Círio de Nazaré, momento de grande devoção à Virgem de Nazaré, a padroeira do Pará.

    O Círio de Nazaré é a maior festa religiosa do Brasil. São esperados mais de dois milhões de pessoas na procissão do Círio. Pelas ruas da capital paraense, a romaria sairá da Catedral de Belém e seguirá até a Praça Santuário de Nazaré, em um percurso de 3,6 quilômetros.

    Como disse, o momento apoteótico da fé do povo paraense se dá agora, neste que é o segundo domingo de outubro, porém, a devoção a Nossa Senhora se inicia bem antes. Este ano, as romarias e eventos começaram em maio, com a visita da Imagem de Nossa Senhora de Nazaré aos lares paraenses e a instituições de todos os segmentos, como escolas, presídios, empresas, faculdades, universidades e organizações das esferas públicas e privadas em Belém, demais municípios paraenses e até mesmo outros Estados, como é o caso do Rio de Janeiro, com a realização todos os anos do Círio de Nazaré na capital fluminense.

    São vários os símbolos desta que é uma das maiores manifestações de fé. Obviamente que o mais importante deles é a imagem de Nossa Senhora. Esculpida em estilo barroco e confeccionada em madeira, a imagem original foi encontrada pelo caboclo Plácido José de Souza, no ano de 1700. A imagem, sem dúvida, é o mais significativo de todos os ícones. Mas não poderia deixar de citar também a corda. Esse é o símbolo que, para muitos, dá uma dimensão grandiosa e única à procissão do Círio de Nazaré.

    A corda se tornou um significativo elemento da fé do povo paraense. Ela passou a fazer parte do Círio no ano de 1885, quando uma enchente da Baía do Guajará alagou a orla do Mercado do Ver-o-Peso. Para dar fluência a procissão e conduzir a imagem ao longo do percurso, um comerciante local emprestou uma corda de cisal torcido para que os fiéis puxassem a berlinda com a imagem da Santa. A partir daquele momento, a corda passou a fazer parte da procissão, sendo carregada pelos promesseiros e devotos de Nossa Senhora de Nazaré.

    Dada sua importância, em 2004, essa manifestação tão genuína e tão pura da fé cristã ganhou o selo de Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial por parte do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A quem diga que o Círio é o Natal dos paraenses, isto porque neste momento as famílias se reúnem em louvor a Virgem de Nazaré. É um momento de congregação, de confraternização.

    O poeta paraense João de Jesus Paes Loureiro, em um de seus muitos textos sobre a procissão, apresenta bem o cenário para aquele que nunca teve a oportunidade de ver e sentir esta manifestação de fé: "O Círio vai passando como um rio. Rio de anjos e brinquedos de miriti. Como um rio e sua multidão de ondas caminhantes. Como um rio. O Círio vai passando como um rio".

    Numa das mais belas figuras literárias a respeito do Círio, o poeta compara a multidão a caminhar em devoção nas ruas de Belém a uma correnteza de um rio com alma e devoção. "O Círio vai passando como um rio. A correnteza de um rio com alma e devoção. Rio de sílabas velozes. Sonoro rio e seus cardumes de canções. Um rio de ondas submarinas, pleno de naves aves velas e velames. Um rio devoto navegando pela fé, peixe a navegar por entre a correnteza".

    Neste verdadeiro rio de gente em que se transforma o centro de Belém, as intenções podem ser distintas, uns vão apenas para conhecer, outros para acompanhar e tem, é claro, aqueles que seguem em adoração e como forma de agradecimento as graças alcançadas. Apesar de objetivos vários, existe uma conexão que une a todos. Paira na cidade um sentimento de respeito, de fraternidade.

    Especialmente neste momento tão conturbado de guerras, discórdia, de intensa falta de respeito, devemos buscar na religião seu objetivo maior. Religião vem do latim "religare", que nada mais é que ligar o que estava separado e uni-lo numa convivência harmoniosa.

    O Círio é uma procissão cristã. Entendo e tenho um profundo respeito para com aqueles que não comungam dos ensinamentos cristãos. O importante aqui é que este sentimento, que tem origem nesta grandiosa festa religiosa do povo do meu Estado, de construir um mundo unido, em paz, se espalhe e que seja uma constante em nossas vidas.

    Esta que é a mensagem que gostaria de deixar a todos. A paz é mais que um conceito, é mais que uma palavra. Ela está em nós e é maior do que qualquer força que venha para nos desestabilizar.

    Oportunamente, o Círio de 2017 carrega como lema "Maria Estrela da Evangelização". O ato de evangelizar é mais do que converter alguém a religião, é ensinar a ter fé. Fé num mundo melhor. Fé que esta crise vai passar. Que os brasileiros hão de superar a violência desmedida e que retornaremos ao caminho da estabilização.

    Gostaria de encerrar este discurso com a mensagem escolhida pela Diretoria da Festa de Nazaré, Basílica Santuário e Arquidiocese de Belém, que integram a organização desta ducentésima vigésima quinta edição do Círio de Nazaré. "Estrela da nova evangelização ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até o^ confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz".

    Que a Virgem de Nazaré, mãe de bondade, conforto e amparo, acolha a prece de todos aqueles que a ela recorrem. Desejo a todos um Círio de paz, luz e harmonia, em especial as famílias paraenses. Fazendo votos que a renovação na fé cristã continue nos dando forças para seguirmos esta dura e intensa caminhada.

    É isso que eu tinha a dizer.

    Obrigado.