Discurso durante a 164ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante, liderada pelo Monge Martinho Lutero.

Reflexão sobre o impacto positivo da educação na segurança pública e na economia do país.

Preocupação com estados como Mato Grosso e Pará, que dependem basicamente das exportações.

Autor
José Medeiros (PODE - Podemos/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO:
  • Comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante, liderada pelo Monge Martinho Lutero.
EDUCAÇÃO:
  • Reflexão sobre o impacto positivo da educação na segurança pública e na economia do país.
ECONOMIA:
  • Preocupação com estados como Mato Grosso e Pará, que dependem basicamente das exportações.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2017 - Página 46
Assuntos
Outros > RELIGIÃO
Outros > EDUCAÇÃO
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, REFORMA, IGREJA EVANGELICA, CRISTÃO, LIDERANÇA, MARTINHO LUTERO, DESVINCULAÇÃO, IGREJA CATOLICA.
  • ELOGIO, INFLUENCIA, EDUCAÇÃO, RESULTADO, VIOLENCIA, ECONOMIA, PAIS, COMENTARIO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO INFANTIL, DESENVOLVIMENTO, CRIANÇA, VINCULAÇÃO, AUSENCIA, ESTUDO, DESIGUALDADE SOCIAL.
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, ESTADOS, DEPENDENCIA, EXPORTAÇÃO, ENFASE, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESTADO DO PARA (PA), IMPOSSIBILIDADE, ARRECADAÇÃO, MOTIVO, LEI KANDIR, CRITICA, DEBATE, GRUPO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, AUSENCIA, DISCUSSÃO, PROBLEMA, IMPORTANCIA, PAIS.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senador Paulo Rocha, Presidente desta sessão, muito obrigado por esta oportunidade.

    E aproveito para cumprimentar todos os Senadores, todos os que nos assistem pela Rádio e TV Senado. Aproveito para cumprimentar também a D. Eunice, que está lá no Mato Grosso, neste momento, na cidade de Rondonópolis, nos assistindo. Dona Eunice, que é a mãe deste Senador aqui, Senador Paulo Rocha, não perde uma sessão do Senado Federal e diz que fica muito irritada quando esse pessoal do PT fica brigando com o filho dela. (Risos.)

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – É aniversário dela?

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Não. Hoje não é não.

    Mas, Senador Paulo Rocha, hoje tivemos uma audiência aqui de comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante, em que o Monge Martinho Lutero fez uma verdadeira transformação no cristianismo, que foi um marco na vida da Igreja Católica e na vida dos cristãos.

    Daí por diante, passou a haver como se fosse duas igrejas católicas, mas uma que era alinhada com o clero e com o poder da época, e outra formada por um grupo de padres que passaram a ter um outro entendimento. Foi daí que surgiu essa divisão do cristianismo em protestantes e antigos católicos.

    Mas o fato é que, hoje, o que existe é o povo cristão, mas coube se lembrar dessa data tão importante, até para ressaltar a coragem de Martinho Lutero de se contrapor ao que ele achava que não estava correto. E, diante do mantra de que o justo viverá pela fé, ele se contrapôs à ordem vigente – ele e tantos outros companheiros; alguns até, inclusive, pagando com a morte. Mas isso nos deixa o exemplo da sua pujança, da sua coragem e da sua atitude.

    Eu creio que isso serve de exemplo para todos nós, principalmente para o Brasil, onde passamos um momento de crise, em que precisamos de homens públicos, enfim, de homens de todos os segmentos, que tenham atitude, que tenham a coragem de enfrentar as coisas que entendem errado.

    E, nesse momento, comemoramos a data de 500 anos da reforma feita pelo alemão Martinho Lutero.

    Aproveito para cumprimentar os estudantes que nos visitam aqui nas galerias. Não sei qual a escola, mas sejam todos muito bem-vindos.

    Sr. Presidente, agora há pouco, V. Exª falava justamente sobre um assunto que nos incomoda muito, em todos os cantos do País, que é a violência que tem grassado no meio da população, seja no interior, seja nas capitais. E também V. Exª citava a importância da educação, para que possamos mudar esse cenário.

    E aí, de repente, o senhor me pergunta o que tem a ver primeira infância com a segurança pública. E tem tudo a ver. Tem tudo a ver, porque está provado pelas melhores universidades do mundo – Oxford, Harvard, universidades do Canadá, da França – e por estudos robustos que é na primeira infância, desde a gestação até os seis anos de idade, que o nosso cérebro se desenvolve, com as ligações das sinapses, os axônios... E, se essa formação não for feita de forma tranquila, sem obstáculos, aquele ser humano em formação vai ter sérias dificuldades na idade adulta.

    Existem estudos que comprovam isso, como os de duplo cego, que certa vez relatei aqui, feitos pelas universidades a que me referi, em que, numa comunidade de alta vulnerabilidade, foram estudados dois grupos. Um foi acompanhado desde a gestação até os seis anos de idade, acompanhando-se para que a criança não tivesse nenhum obstáculo ao desenvolvimento cerebral. No outro grupo, foi simplesmente observado como seria o desenvolvimento deles. Isso, na mesma comunidade.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Senador, o pessoal que está aí... Sejam bem-vindos. Eles são da Fundação Bradesco. Pessoal de ensino médio, lá de Ceilândia.

    Sejam bem-vindos.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Quem está falando na tribuna é o Senador José Medeiros, do Mato Grosso.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – E o nosso Presidente, Senador Paulo Rocha, do Acre.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Do Pará.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Do Pará.

    Ele tem essa cara de inocente, mas é do PT. (Risos.)

    É brincadeira. É um grande amigo meu. Gosto de provocá-lo.

    Mas, como eu dizia, o desenvolvimento cerebral, do zero aos seis anos, tem tudo a ver com o modo como o futuro adulto, o futuro adolescente vai aprender, vai ter o seu desenvolvimento de aprendizado.

    E, naquele estudo que eu relatava, após os seis anos, foi feita a aferição, e aquele grupo de crianças que teve o desenvolvimento cerebral acompanhado teve os melhores indicadores de aprendizagem, com relativo sucesso em sua idade adulta. E aquele grupo que não tinha sido monitorado, em que não houve cuidados quanto ao seu desenvolvimento cerebral, aos 18 anos, boa parte deles estavam presos, alguns já tinham morrido, com alto índice de drogadição, alto índice de alcoolismo, e boa parte deles tinha saído da escola por não ter conseguido índices de aprendizagem para acompanhar suas turmas.

    Portanto, quando falamos de desigualdade, quando se fala que fulano não consegue aprender, muitas vezes o problema está lá na primeira infância, porque as ligações... O cérebro dele é como se fosse um canteiro que não estava fértil para receber a semente.

    E a grande preocupação que os governos precisam ter é justamente preparar a futura geração, para que possam ter igualdade: igualdade de aprendizagem, igualdade de desenvolvimento. Porque de nada adianta, depois, o Estado gastar muito dinheiro, sem que aquelas crianças possam obter o conhecimento, sem que elas possam ter uma continuidade dos seus estudos. Isso tudo deságua na questão da segurança pública, na questão da saúde e num baixo aprendizado.

    Talvez isso explique um pouco porque o Brasil gasta tanto na educação e tem índices de educação tão baixos. Os indicadores dos nossos estudantes todos os anos, quando são medidos... Nós ficamos muito atrás entre os outros países do mundo. Então essa preocupação é muito importante.

    Quando o Senador Paulo Rocha trouxe aqui: "Com sete casos por dia, latrocínios aumentam 58% no País em sete anos." Nós temos essa mortandade aqui em relação a armas de fogo, aos diversos homicídios e tal, mas temos uma outra mortandade que é até maior do que isso no trânsito, Senador Paulo Rocha. O nosso trânsito mata mais do que todas as guerras juntas. E tudo isso passa também pelo que falamos aqui: tudo passa pela educação.

    Nós temos aqui o Senador Cristovam Buarque, que talvez seja a maior autoridade na defesa da educação brasileira e que tem insistido, há anos, na esteira já do pensamento de Darcy Ribeiro, que, se não construirmos escolas, se não investirmos em educação, não teremos dinheiro para construir tantos presídios.

    Isso é uma realidade que já estamos vivenciando. Quando a gente nota o Rio de Janeiro, onde existe um verdadeiro exército paralelo, um exército de pessoas fora da lei, com fuzis, onde já passam armados pela frente da polícia e a polícia não tem nem como reagir, até porque foi criado por uma certa ideologia, aqui no Brasil, de que, se você desarmar as pessoas de bem e desarmar a polícia, parece que vai haver paz e acabar a violência. Mas o que nós temos visto é que o Brasil tem ido pela contramão. Até nos nossos filmes as pessoas torcem pelos bandidos.

    Em alguns países, os policiais são tidos como os heróis: as pessoas torcem pela polícia, para que peque o bandido. Aqui é bem o contrário. Aqui, um policial morre e ganha duas ou três linhas nos jornais. Quando um bandido famoso... Aliás, a imprensa costuma torná-los heróis, e, quando um bandido desses morre, sai em todos os jornais, como se fosse um grande acontecimento.

    A grande verdade é que nós precisamos começar a refletir que tipo de País nós queremos, porque ultimamente, no Brasil, falar de valores ficou uma questão bastante cafona. A pessoa que fala em valores logo ganha a pecha de reacionário e de conservador. A pessoa que defende que haja uma família estruturada e que as pessoas possam ter respeito, os mais novos pelos mais velhos, pelos professores e tudo o mais, é tida como uma pessoa careta, cafona.

    O resultado disso é que as instituições já estão sendo desmoralizadas aos poucos. E, aí, eu pergunto: a quem interessa os poderes desmoralizados, a família destrambelhada? A quem interessa isso?

    Os resultados vêm aqui nas capas dos jornais, onde a gente vê, todos os dias, que se filmam aí, na Praça da Sé, nos grandes centros, crianças de 11 anos com revólver na cintura, tomando correntes, assaltando quem passa.

    Esse é o resultado dessa desagregação total. Agora, como é que vamos enfrentar esse tipo de coisa? Eu penso que só se reinventarmos tudo o que está aí, se começamos a ter um outro olhar para a primeira infância, se começarmos a ter um outro olhar em relação à educação brasileira.

    Criamos um conceito, algum tempo atrás: "Olha, você não precisa mais saber português; o importante é você se comunicar". Então, o sujeito chega à escola e fala "nóis vai", "nóis vê", "nóis fomo", "nóis veio"... "Tudo bem, beleza, você não precisa saber a norma culta, o importante é que você se comunique." E aí nós vamos criando uma horda de analfabetos funcionais, pessoas que chegam à universidade sem conseguir interpretar um texto. Nós vamos criando um País pequeno, um País frágil, diante de uma concorrência internacional, a cada dia, mais forte.

    E passamos a viver... Ultimamente, em que pese eu estar num Estado que é primordialmente agrícola, não me alegra nem um pouco que o Brasil seja um país famoso por simplesmente exportar commodities. Eu queria que nós estivéssemos, neste momento, agregando conhecimento, produzindo conhecimento, e que estivéssemos na ponta, produzindo tecnologia e também produzindo muitos alimentos. Mas é um perigo muito grande dependermos só dessa matriz econômica, porque, daqui a pouco tempo, a África vai deter esse conhecimento de produção. Ela tem um clima muito parecido com o nosso e fica na metade do caminho entre nós e o nosso principal mercado consumidor. E aí eu fico preocupado: de quem será que a China vai comprar commodities, do Brasil ou da África?

    Fico muito preocupado com Estados como Mato Grosso, Pará e tantos outros, que dependem basicamente de exportações – no caso do Pará, do minério, de Mato Grosso, das commodities –, mas que nada ganham com aquilo, porque existe uma lei chamada Lei Kandir, que impede que o Estado arrecade sobre isso.

    E não sou contra o incentivo às exportações, mas sou contra que esses Estados nada levem dessa riqueza. E mais ainda: que não seja incentivada a ciência, a produção de conhecimento nesses Estados. Isso porque, daqui a uns dias, nós vamos, de repente, estar na situação em que já estiveram a Bahia, com o cacau, São Paulo, com o café, Olinda, com a cana-de-açúcar, que hoje já não são os grandes centros econômicos que eram antigamente.

    Hoje Mato Grosso é um grande centro econômico em relação ao agronegócio. Vai ser daqui a dez anos, a 15, a 20? Por isso, a minha preocupação de que precisamos investir principalmente na produção de conhecimento.

    Sempre cito o exemplo de Detroit e do Vale do Silício.

    Detroit era um grande centro de produção de automóveis. Parecia que aquilo não quebraria nunca. Quebraram. Já o Vale do Silício produziu conhecimento. Hoje cada um de nós carrega um celular, onde há, às vezes – num aparelho desses –, 200 patentes. E eles continuam produzindo conhecimento.

    Há algumas universidades, por exemplo, em Boston, que têm 17 professores que ganharam o Prêmio Nobel. Aqui, no Brasil, infelizmente não produzimos nenhum. Infelizmente, nossa academia tem estado distante, muitas vezes discutindo a estrutura celular das bromélias. Não que eu seja contra que haja um estudo desses, mas nós precisamos produzir mais do que laudas e laudas de estudos estéreis, que nada influem na produção econômica.

    Nós precisamos estar mais conectados com a academia e com comunidade. E eu me preocupo, porque, como eu disse, estou num Estado em que, apesar de rico, essa riqueza reflete pouco para a sua sociedade. Nós precisamos de, acima de tudo, produzir mais e mais conhecimento, porque a violência, a falta de segurança estão na raiz disso tudo.

    Nós, nesse momento, temos mais de 15 milhões de desempregados, e aqui não cabe acusar, não adianta ficar falando que foi Dilma, foi Lula, ou os outros dizerem que a culpa é do Temer. Não; as pessoas estão desempregadas e não querem saber quem é o culpado; elas querem empregos. E, muitas vezes, existem os empregos, mas não existe mão de obra capacitada, não existem pessoas com capacidade para enfrentar aquele tipo de trabalho.

    Então, nós temos um desafio muito forte e eu fico muito preocupado, porque nós temos um debate presidencial se avizinhando, e, até agora, eu tenho visto que os pré-debates estão muito pobres. Eu não estou vendo, até agora, os verdadeiros desafios serem enfrentados; estou vendo questões menores. E tomara que essa campanha não se repita, como foram as outras, porque nós tivemos uma campanha em que o grande debate era se se iria privatizar a Petrobras ou não. No outro, ficou a situação se fulano era a favor ou não do aborto.

    Não é que não sejam questões importantes, mas eu pergunto: é a principal discussão de uma campanha política a Presidente da República? Estes problemas todos por que nós estamos passando será que não seriam passíveis de serem discutidos? Como nós vamos enfrentar a questão da violência pública, da segurança pública? Como nós vamos ter melhores índices dos indicadores mundiais em termos de educação?

    Então, é uma preocupação muito grande, porque eu não vejo que, durante o passar do tempo, nós tenhamos melhorado. Pelo contrário, nós chegamos a ver as nossas gerações mais antigas falarem: "Ah, na minha época é que a escola era boa." Deveria ser o contrário, e, de fato, eu tenho visto alguns estudiosos dizerem que nós temos um sistema de ensino do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI.

    Nós precisamos criar um artifício para que essas coisas se igualem, para que possamos, de fato, deixar de ser o País do futuro e passar a ser um país, realmente, que faça as coisas acontecerem.

    Encaminhando para o final, Sr. Presidente, externo também essa minha preocupação, porque a violência também é um fator preponderante no Estado de Mato Grosso, visto que tem 700km de fronteira seca, aberta a países notadamente produtores de narcóticos e, principalmente, de armamentos.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – E, já finalizando, também digo que nós temos mais 200km da chamada fronteira molhada e precisamos de aporte para essa segurança.

    Tenho defendido isso. Inclusive destinei uma das minhas emendas de Bancada – espero que sejam liberados –, R$100 milhões para que sejam investidos na segurança da fronteira, porque hoje o Estado está à mercê disso tudo.

    E finalizo, Senador, externando os meus agradecimentos pela tolerância e também externando o meu pesar pelo passamento do ex-Secretário de Turismo do Estado de Mato Grosso e também empresário da minha cidade, o Jairo Pradela, que deixa a esposa Paula, deixa seus amigos, todos muito entristecidos com a morte prematura de um jovem empresário da minha cidade.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2017 - Página 46