Discurso durante a 18ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão Solene para realizar homenagem póstuma a Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ex-Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Solene para realizar homenagem póstuma a Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ex-Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
Publicação
Publicação no DSF de 02/11/2017 - Página 34
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, REITOR, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC).

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. Deputados, convidadas e convidados. Faço um cumprimento especial à família do Professor Cancellier. Quero dizer que eu compartilho do sentimento de vocês.

    E quero dizer rapidamente, porque sei que o horário está avançado: eu fui, aqui no Senado, talvez a primeira Parlamentar a falar naquele dia fatídico. E eu começava dizendo: temos a primeira vítima do Estado policial que está se instalando neste País. Está lá no meu discurso daquele dia.

    E eu dizia que nós estamos nos acostumando a ver com certa indiferença esses acontecimentos, com o olhar indiferente desta Casa e dos outros Poderes. Então, precisava haver uma vítima. Temos. E eu dizia naquele dia também que era hora de começarmos a ter um outro olhar, um olhar mais rigoroso sobre essas questões, sobre os espetáculos que se produzem, sobre a seletividade que se faz. E aí nós, vemos, por essa seletividade, que se condena por convicção e se absolve com robustas provas. Estou falando de todos os Poderes.

    Uma vez eu falei aqui da fábula do lobo e do cordeiro. Quando o lobo decide comer o cordeiro, não adianta você arranjar argumento, porque ele tem o contra-argumento para justificar.

    Então, o Prof. Cancellier foi escolhido para ser culpado. Não importa que foram R$80 milhões, que houve desvio, suposto desvio que não houve; não importa se R$80 milhões vão virar R$8 mil; não importa que foi antes da gestão dele que esse dinheiro entrou e que foi usado. Importa que ele foi escolhido para ser culpado, e, infelizmente, o espetáculo foi feito, e ele não resistiu a tanta humilhação.

    Então, eu acho que, neste momento, o que urge para nós é retomar urgentemente, na Câmara, a questão do abuso de autoridade, sem se preocupar com a opinião pública, porque alguns ganharam a opinião pública contra essa questão, porque dizem que é para acabar a Lava Jato. E a Lei de Abuso de Autoridade é para toda autoridade, do vigia da esquina ao Presidente da República, mas nós temos que encarar, e a Câmara está com essa tarefa agora nas mãos. Mas não basta isso.

    Eu dizia também que a morte do Prof. Cancellier deveria servir para se "estartar" um processo de alguma apuração. Por isso, eu quero dizer que, como Presidente da Comissão de Direitos Humanos desta Casa, estou acolhendo o documento dos juristas, requerendo que ele seja encaminhado à Comissão de Direitos Humanos, que vai debatê-lo, examiná-lo e fazer os encaminhamentos devidos, porque, neste País, nós estamos nos acostumando com muita coisa ruim. Um caminho perigo que este País está trilhando.

    Ontem proibiram um show de Caetano Veloso em um assentamento de sem-teto. Onde já se viu!?

    Há duas semanas, invadiram a casa do filho do Presidente Lula, por uma denúncia anônima de existência de droga - aliás, denúncia anônima que resta provar -, e a polícia foi lá e, não achando droga, levou computadores, 16 sacos com computadores, com pen drives, com CDs, com DVDs. E fica por isso mesmo. Ninguém diz nada?

    Então, eu acho que está na hora de a gente dar um basta no que a gente está vendo acontecer. A matança da juventude negra... Negro é suspeito só pela cor da pele. Já é suspeito. Há uma matança da nossa juventude negra, e a gente está assistindo.

    Então, eu acho que a gente tem que agir, antes que seja tarde e antes que aconteça de novo.

    Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/11/2017 - Página 34