Pronunciamento de Paulo Rocha em 28/11/2017
Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Pesar pelo falecimento do frei dominicano Henri Roziers.
- Autor
- Paulo Rocha (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
- Nome completo: Paulo Roberto Galvão da Rocha
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM:
- Pesar pelo falecimento do frei dominicano Henri Roziers.
- Publicação
- Publicação no DSF de 29/11/2017 - Página 30
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, AUTORIDADE, RELIGIÃO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, HOMEM, CAMPO, REGIÃO AMAZONICA.
O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Presidente, Senadores e Senadoras... Eu queria saudar também a nossa plateia, para entender que agora nós estamos num momento de debates. Só a partir das 17h entra a Ordem do Dia, que é o momento de votação, etc. Então, este é o momento de os Senadores colocarem os seus temas em debate.
E eu queria falar exatamente com uma dose de tristeza, Sr. Presidente, e registrar, aqui desta tribuna, a morte de um grande humanista que dedicou uma parte de sua vida defendendo os camponeses da minha região, da Região Amazônica, em particular do meu Estado, o Estado do Pará.
Faleceu, no último domingo, em Paris, o Frei Dominicano Henri Roziers, de 87 anos. Ele era advogado e atuou fortemente por várias décadas na região do chamado Bico do Papagaio e em defesa das vítimas da violência, do latifúndio, e contra o trabalho escravo.
Apesar de ter nascido numa família aristocrática na França, Henri sempre se pautou pelo respeito aos excluídos.
Formado em Letras, em Paris, e em Direito, em Londres, ele percebeu, desde cedo, o poder do imperialismo e do racismo francês, quando serviu no Exército de seu país em Marrocos. Passou, então, a se interessar e acompanhar a luta pela descolonização dos territórios africanos pelas potências europeias e também, a partir de 1950, pelas lutas populares na América Latina.
Aos 28 anos, Henri decidiu cursar Teologia e ingressou na Ordem dos Dominicanos. Ordenado padre, entre 1964 e 1969, na condição de capelão de jovens universitários, acompanhou de perto as jornadas de lutas dos estudantes de 1968, na França, como também, aqui no Brasil, esse grande movimento estudantil que rompia contra as ditaduras, contra as políticas de opressão em todo o mundo.
Esses acontecimentos só reforçaram ainda mais o seu compromisso cristão de lutar por fraternidade.
No Sul do Pará conheceu um outro padre, chamado Ricardo Rezende, que começou a atuar na Comissão Pastoral da Terra, em Conceição do Araguaia, e depois em Xinguara. Acompanhou a luta e o assassinato do Padre Josimo Moraes, em Imperatriz, e dos líderes dos trabalhadores rurais de Rio Maria, João Canuto e Expedito de Souza. Por defender os trabalhadores e denunciar a violência no campo e o trabalho escravo, Henri também entrou na lista dos indesejáveis e passou a receber ameaças de morte. Três pistoleiros foram contratados, por R$50 mil, para matá-lo.
Como advogado, conseguiu a condenação do mandante do assassinato de Expedito Ribeiro de Souza, o fazendeiro Jerônimo Alves Amorim. Desde 2005, ele passou a receber proteção policial e se tornou uma referência na luta pelos direitos humanos na Amazônia, denunciando a prática do trabalho escravo e os crimes do latifúndio.
Foi o Henri que me assessorou e assegurou que eu me transformasse aqui, na época, em um Deputado que foi autor da Lei de Combate ao Trabalho Escravo no Brasil e da PEC – que ao final conseguimos aprovar – que confisca as terras onde for pego trabalho escravo no nosso País.
O Henri já estava doente – morreu de complicações vasculares –, mas deixou um legado de coragem, de dignidade e de defesa dos despossuídos deste País, que enfrentam gravíssimos problemas de conflitos no campo, por conta de uma estrutura perversa de concentração da terra.
Dados da CPT apontam 103 mortes no campo, no Estado do Pará, nos últimos dez anos. E, no Brasil, só neste ano de 2017, já foram assassinadas 26 pessoas, em conflitos fundiários. O Pará lidera o número de mortes no campo, seguido de Rondônia, com 66, e Maranhão, com 44. No ano passado, foram identificados 1.079 conflitos em todo o País, o mais alto dos últimos 32 anos em que este levantamento é realizado.
Por isso, Sr. Presidente, em memória do Frei Henri, o nosso papel é de denunciar e lutar contra esse quadro que ainda envergonha o nosso País. Por isso, eu requeiro esse voto de pesar pelo falecimento deste grande humanista, que ajudou a defender, no nosso País, aqueles mais oprimidos.