Discurso durante a 187ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário a caravana que o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou em Vitória, no Espírito Santo.

Críticas ao voto apresentado pelo Desembargador João Gebran Neto no julgamento do processo em que figura como reú o ex-Presidente Lula.

Críticas ao Governador Beto Richa, por autorizar e reintegração de posse de uma área ocupada por milhares de famílias há 25 anos.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Comentário a caravana que o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou em Vitória, no Espírito Santo.
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Críticas ao voto apresentado pelo Desembargador João Gebran Neto no julgamento do processo em que figura como reú o ex-Presidente Lula.
POLITICA FUNDIARIA:
  • Críticas ao Governador Beto Richa, por autorizar e reintegração de posse de uma área ocupada por milhares de famílias há 25 anos.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2017 - Página 36
Assuntos
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Outros > POLITICA FUNDIARIA
Indexação
  • COMENTARIO, VISITA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, MUNICIPIO, CARIACICA (ES), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), INSTITUTO, EDUCAÇÃO.
  • CRITICA, VOTO, SENTENÇA CONDENATORIA, AUTORIA, DESEMBARGADOR, TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL (TRF), PROCESSO, DENUNCIA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA.
  • CRITICA, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), REINTEGRAÇÃO, POSSE, TERRAS, EMPRESA, MADEIRA.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Srª Presidente.

    Srs. Senadores, Srªs Senadoras, os que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado e também pelas mídias sociais, os que nos visitam hoje no Senado da República – sejam muito bem-vindos a esta Casa –, quero começar aqui falando de mais uma caravana que o Presidente Lula iniciou ontem em Vitória, no Espírito Santo, que já mostra que será um sucesso, como a caravana iniciada no Nordeste e também a caravana de Minas Gerais.

    Hoje, o Presidente Lula visitou Cariacica, também no Espírito Santo. Ele foi visitar o Instituto Federal de Educação em Cariacica. Foi muito lindo, porque ele foi recebido pelos estudantes do IFE, pelos professores, pelos diretores, que fizeram uma festa para ele, inclusive para agradecer a instalação do Instituto Federal lá. Uma das grandes obras do Presidente Lula, na educação, foi a implantação dos institutos federais de educação. Só no Paraná, por exemplo, meu Estado, foram mais de 25. Então, isso beneficiou muito a juventude. E foi muito legal.

    Então, quero dizer aqui que nós estamos muito felizes com esta terceira fase da caravana do Presidente Lula. Hoje, à tarde, ele vai a Campos, no Rio de Janeiro, e depois segue uma agenda. Eu tenho a certeza de que vai ser uma agenda muito boa, como foram as agendas nos Estados do Nordeste e em Minas Gerais.

    Agora, infelizmente, junto com essa boa notícia, eu tenho de fazer um registro aqui que me preocupa muito, que foi a conclusão de voto da sentença referente ao Presidente Lula por parte do juiz do Tribunal Regional Federal da 4ª Região Dr. João Gebran Neto, Desembargador do Tribunal Regional. Esse Desembargador fez um voto sobre a sentença dada pelo Juiz Sérgio Moro ao Presidente Lula em cem dias. A média que ele usa para fazer sentença em relação a qualquer outro caso é de 300 dias. Nós não estamos aqui pedindo que isso seja feito de forma mais rápida ou mais lenta. Nós só queremos que isso seja feito como é feito para todos os outros casos. Não é porque é o Lula que se tem de fazer isso de maneira rápida.

    Aliás, a sentença que o Juiz Sérgio Moro deu ao Presidente Lula era uma sentença que o acusava de ser proprietário ou de ter comprado, com dinheiro de propina, um apartamento em Guarujá, decorrente de contrato entre a Petrobras. Aí a gente pergunta? O Ministério Público Federal apresentou provas disso? Não, não as apresentou. E isso está no processo. Inclusive, o Juiz Sérgio Moro diz no processo: "Este Juízo jamais afirmou na sentença ou em lugar algum que os valores obtidos pela construtora OAS, nos contratos com a Petrobras, foram usados para pagamento de vantagem indevida para o ex-Presidente." Então, Lula está sendo condenado por quê? Porque conhecia o Presidente, o Léo Pinheiro, dono da empreiteira? Todos no Senado o conhecem. Todos aqui, no Senado, têm relação com ele e com todos os outros empreiteiros.

    Nós não queremos nada diferente para o Presidente Lula. Nós só queremos justiça. Eu, de fato, tenho muito receio de que esse relatório da sentença apresentada pelo Desembargador João Gebran Neto venha a confirmar uma sentença que não tenha base jurídica, até porque o Presidente do TRF4 já disse em uma entrevista... Vejam que loucura: um presidente de tribunal dar entrevista. Presidente de tribunal e juiz tinham que se ater aos autos; entrevista não é para o Judiciário. Mas ele deu uma entrevista dizendo que, embora não tivesse lido a sentença do Juiz Sergio Moro, a considerava irretocável. Como pode um juiz não ler uma sentença e dar a sua opinião antecipada dizendo que ela é irretocável? O tribunal é que vai julgar o Presidente Lula. Então, quero deixar esse registro aqui.

    Eu queria só deixar claro que essa pressa toda para mim só tem um sentido: tentar tirar o Presidente Lula da disputa eleitoral de 2018. Se acontecer, isso vai ser mais um golpe na democracia, e essa vai ser uma eleição fraudada.

    Querem tirar o Lula da política? Não há problema; tirem! Coloquem um candidato competitivo e um programa. Ganhem nas ruas e no voto! Tenham coragem! Vocês estão com medo porque o Presidente Lula está crescendo nas pesquisas? Vocês estão com medo e querem tirá-lo no tapetão e na canetada? É isso que vocês querem fazer? Tenham coragem! Vocês não diziam que o Lula estava morto; que o PT não ia se reconstruir? Vocês não diziam isso? Não tiraram a Presidenta Dilma? Não diziam que agora, sim, o País ia prosperar? O que vocês estão fazendo com o País? E esse Judiciário está ajudando. Estão entregando as nossas riquezas, estão entregando a Petrobras, estão fazendo a reforma da previdência, estão tirando direitos de trabalhadores. Que espécie de gente vocês são? E agora querem proibir o Lula de competir, de disputar eleição. Vocês não têm coragem de disputar a eleição com o Lula e vão aprofundar a crise da democracia neste País.

    Portanto, TRF4, nós só pedimos que sejam isentos e que cumpram a lei e o devido processo legal, porque, se o forem, vocês têm que fazer de forma diferente do que estão fazendo e têm que inocentar o Presidente Lula, posto que não têm provas.

    E, mais uma vez, para os da política que estão sendo apoiados por esse Judiciário, tenham coragem, lancem um candidato e disputem com o Lula nas urnas. Vão lá e defendam esse programa que vocês estão implantando no Brasil. É isso que eu peço.

    Queria, Presidenta, aproveitar esta minha fala para falar sobre o meu Estado, o Paraná, governado também pelo PSDB, pelo Governador Beto Richa – aquele que bate em professores, como V. Exª tão bem sabe. Nós vivemos um momento insano no Paraná. Você sabe, Senadora Fátima, que o Governador Beto Richa autorizou a desapropriação de uma área... Na realidade, não é nem a desapropriação; a desapropriação era pedida pelos moradores dessa área, que estão lá há 25 anos – 3 mil famílias. Ele autorizou uma reintegração de posse e tirou uma comunidade de 25 anos. Uma tristeza ver o que eles fizeram! A polícia chegou lá sem assistente social. A polícia chegou lá sem advogados das partes; chegou apenas com os funcionários, empregados da madeireira Zattar, que se diz proprietária e dona da área, e com um mandado de reintegração da Justiça do Paraná. Aliás, esse mandado de reintegração já estava expedido há muito tempo, mas no governo Requião e no governo Lula nós não deixamos haver essa reintegração, porque nós estávamos negociando a área. Pois bem; agora eles deixaram. A tristeza é ver maquinários destruindo casas de alvenaria, destruindo igreja, destruindo a escola, as crianças chorando, e eles tirando tudo.

    Esse Governador, o mesmo que bateu em professores, lá fazendo isso. E, aí, teve o desplante do seu Chefe da Casa Civil, um tal de Valdir Rossoni, do PSDB, que é desqualificado, dizer que isso estava acontecendo por culpa do PT, por minha culpa, culpa do Lula, que não resolveu esse problema.

    Ora, esse é um litígio de 25 anos. Conte a verdade, Rossoni! Fale a verdade para essas pessoas. Por que não resolveu o problema? Porque o dono da madeireira Zattar não aceitou o preço que o Governo Federal estava propondo para a desapropriação do imóvel. Não aceitou. Lá é uma área ondulada, uma área de dificuldade, que tem uma floresta de baixo custo. Não aceitou o preço. Todos os outros preços ofertados no Paraná para desapropriação foram aceitos. Então, nós não desapropriamos porque eles não aceitaram e nós estávamos em negociação quando vocês tiraram a Dilma, vocês aí do Paraná: Beto Richa, Rossoni, que ajudam o Temer, que são do Temer. É por isso que vocês estão fazendo isso, porque essa é a cabeça desse Governo: colocar polícia em cima das pessoas, dos movimentos sociais e V. Sªs não enganam a ninguém, não. São os mesmos que bateram nos professores. Aliás, V. Sª é o mesmo que tentou também fazer uma reintegração de posse em Quedas do Iguaçu em nome da Araupel...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... e dois sem terras foram mortos.

    Sabe o que o senhor é, Sr. Rossoni? Capacho, capacho de empresa, capacho aí, sim, da madeireira Zattar, capacho da Araupel. O senhor está a serviço dos grandes, dos ricos, para tirar os pobres, para tirá-los das conquistas e vem com esse nhem-nhem-nhem dizendo que a culpa é do PT. O senhor não engana mais, não. Fizeram isso um certo tempo no Paraná e agora está caindo a máscara de vocês, a máscara de quem apoia o Temer, a máscara de quem apoia aqueles que têm dinheiro. É isso mesmo: o senhor é um capacho da Araupel, é um capacho da Zattar, vai levar para sua conta política essa barbaridade e os crimes cometidos, tanto em Quedas do Iguaçu como agora, no Pinhão.

     Eu quero aqui reiterar minha solidariedade às famílias do Pinhão, dizer que assisti um vídeo muito bonito do Dom Anuar Battisti, nosso Arcebispo de Maringá, dando solidariedade às famílias e mostrando as injustiças que estão acontecendo lá.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Essa madeireira é acusada de grilar essas terras, de enganar agricultores lá atrás para comprar as terras, quando dizia que estava comprando a madeira. Pode até ter título legal tirado à força, mas é vergonhoso tirar pessoas pobres, com comunidade edificada, com mais de 25 anos, para devolver a alguém que não precisa, que tem dinheiro.

    O senhor, Sr. Rossoni, e o senhor, Sr. Beto Richa, são capachos dessas empresas, fizeram o mesmo com a Araupel e estão fazendo o mesmo com a Madeireira Zattar. Vergonhoso! Trabalhar apenas para os ricos e quero dizer que nós vamos estar ao lado das pessoas mais pobres. E não temos medo dos senhores, não. Não temos medo das gravações que os senhores fazem, não temos medo nas ações de rede que os senhores fazem. Sabe por quê? Porque não sustenta mais o que os senhores dizem, os senhores são do mesmo partido do Aécio Neves, falaram contra a gente barbaridades, deram de dedo, disseram que o PT era um bando de corrupto, de ladrão, que o Lula era chefe de quadrilha, que eu era corrupta. Aí no Paraná os senhores falaram.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – O que aconteceu com o seu líder maior? Olha a situação em que está o Aécio e o que está acontecendo com vocês? Envolvidos até o último fio de cabelo na operação Quadro Negro, em contratação de funcionários fantasmas na Assembleia do Paraná.

    Tenham vergonha na cara! Tenham dignidade, defendam os que vocês são, defendam os ricos, mostrem isso e parem de "mimimi", porque vocês vão ser desmascarados, como cada um aqui está sendo. Sabe por quê? Porque a mentira não dura, não dura. E quem tem lado na história mostra o lado em que está. E os senhores não estão ao lado da população.

    Portanto quero deixar aqui registrado. Eu espero que eles não façam outra reintegração de posse, que é em Querência do Norte, na Fazenda Água do Bugre. Também há lá 25 famílias por oito anos e eles querem tirar à força.

    Cuidado, isso não leva a situação nenhuma. É uma injustiça social. Um governo tem que ser por aqueles que mais precisam.

    E essa história de dizer que o MST barbariza, que o MST é braço armado do PT, isso é mentira. Isso já foi tentado por vocês há muito tempo. O MST é um movimento que luta por justiça social num País onde a injustiça perdura em todo o seu território, onde havia muitos latifúndios e onde, graças à luta do MST, nós conseguimos assentar famílias.

    Hoje o Paraná tem os maiores assentamentos do Movimento Sem Terra, as maiores cooperativas, vendem arroz, erva-mate, feijão, sustentam famílias, movimentam a economia das regiões. É isso que nós temos. E, na época de eleição, o senhor, Sr. Rossoni, os Deputados do Governador Beto Richa, inclusive aqueles que atacam o MST, vão para dentro dos assentamentos do MST pedir voto. Aí serve o MST, aí os trabalhadores servem!

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Tomem vergonha na cara! Tomem tento! É isso que vocês têm que tomar, e deixem de ser capachos das madeireiras do Paraná.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2017 - Página 36