Pela Liderança durante a 188ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado pelo ingresso na Academia de Belas Artes da França.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem ao fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado pelo ingresso na Academia de Belas Artes da França.
Aparteantes
Antonio Anastasia, Sérgio de Castro.
Publicação
Publicação no DSF de 07/12/2017 - Página 45
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, SEBASTIÃO SALGADO, FOTOGRAFO, ORIGEM, BRASIL, MOTIVO, INGRESSO, ACADEMIA, BELAS ARTES, FRANÇA.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Senador Sérgio, eu me dirijo ao senhor, porque vou falar de um capixaba mineiro – ou mineiro capixaba, depende da ótica em que se vê.

    Vou falar sobre o que está neste momento, mais ou menos, acontecendo na França, em que Sebastião Salgado, grande fotógrafo brasileiro, nascido em Minas, criado no Espírito Santo e radicado no Espírito Santo e na França, neste momento é instaurado, assim que se diz, instalado na Academia de Belas Artes da França.

    Se o Brasil estivesse neste momento, Senador Cidinho, ganhando a Copa do Mundo, estaríamos todos nós colados na televisão, assistindo a alguns dos nossos jogadores receberem a taça. Não estamos fazendo isso, mas deveríamos. Pela primeira vez na história, nós temos um brasileiro ingressando na honrosíssima Academia de Belas Artes da França. Esse nome se chama Sebastião Salgado, um fotógrafo que eu conheci quando jovem – eu e ele morando na França, estudantes de Economia os dois – e que eu acompanho ao longo de toda a história dele nesses 47 anos, desde 1970, Senador Paim.

    Sebastião Salgado, de repente, disse que ia ser fotógrafo e não mais economista. Poucos deram a importância que se dá quando uma coisa começa a acontecer e, de fato, ao longo do processo, ele não só se transformou em fotógrafo, mas no mais reputado, conhecido e vendido em livros fotógrafo do mundo inteiro. Pode haver algum ou outro que se considere no nível de conhecimento dele, de prestígio dele e com a obra do tamanho da que ele tem, mas não são muitos que se igualam nesse sentido. E eu, pessoalmente, com talvez a suspeição de quem o conhece ao longo desses quase 50 anos, de quem já publicou um livro com ele – com as fotos dele, obviamente, e com texto meu –, posso dizer que deve ser o mais importante de todos os fotógrafos do mundo e, sem dúvida alguma, uma das três, quatro ou cinco personalidades do Brasil da minha geração. Talvez raríssimos outros ficarão na história como ficará ele entre aqueles da minha geração.

    Eu tive o privilégio não só de ser amigo dele no início, quando jovem, mas de acompanhar a história dele: a história de quem foi trabalhar na Organização Internacional do Café, em Londres, e aí teve a sorte de ser enviado diversas vezes à África, onde fez fotografia, e daí se destacou com fotografias do povo; depois foi trabalhar em uma grande agência de fotos do mundo inteiro; teve a sorte, o privilégio e a oportunidade de ser o fotógrafo que fez as fotos da tentativa de assassinato do Presidente Reagan, nos anos 70 – foram dele as fotos que fizeram todas as capas de revista daquela semana.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Eu acompanhei não só essa obra, que ele foi criando, como a obra Gênesis, que é – eu diria – a maior obra de arte fotográfica de toda a história que já se fez. Quando ele disse: "Eu vou fazer, ao longo dos próximos dez anos – e já tinha quase 60 anos –, a fotografia do que não mais existirá no final do século XX", eu confesso que, quando ele falou isso, eu não acreditei. E o fez, e virou um livro chamado Gênesis, que é um best-seller mundial, vendido de todas as partes do mundo. Vê-se em todas as bancas e livrarias do mundo inteiro: Gênesis, onde ele fotografa animais em extinção, geleiras em extinção, cidades que estão em fase de desaparecimento, etnias, muitas do Brasil, que se sabe que não vão sobreviver à marcha do progresso naquilo que o progresso também traz de negação,

    mas acompanhei também – fui visitar e vi – a obra maior dele, que não é fotográfica. É a recuperação, em Aimorés, da Floresta Atlântica, da Mata Atlântica como era antes de quando aqui chegassem os portugueses.

    Sebastião Salgado recebeu do pai uma propriedade, creio que de 900 hectares – fiz questão de não preparar nada do que estou falando. É tudo pela memória, tudo pelo sentimento –, que estava já transformada toda em pasto de gado e disse: "Vou recuperar isso como era antes de os portugueses chegarem aqui." E fez um exercício fenomenal de arqueologia florestal, identificando quais as árvores – claro, com a assessoria de especialistas – deveriam ser plantadas.

    E hoje a Mata Atlântica ressuscitou naquela região. Não só a mata, no sentido da botânica, mas voltaram os animais. Ele recuperou a flora, e a fauna veio espontaneamente. E hoje se tem, naquela região, um pedaço da Mata Atlântica, graças a ele e à sua esposa também, a Lélia, sem a qual dificilmente ele teria conseguido fazer tudo isso. Tudo isso está muito bem representado em um filme feito pelo seu filho, o Juliano, que você assiste com muita facilidade por aí e que passa no mundo inteiro.

    De tal maneira que hoje eu decidi prestar essa homenagem a ele, porque ele está prestando uma homenagem ao Brasil por existir, por ter feito essa obra e por ela ser reconhecida – e ele próprio – nessa prestigiosa Academia de Belas Artes da França.

    É uma honra, Senador Paim, que o Brasil tenha uma figura como o nosso Tião Salgado e é uma honra saber que é um nome respeitado, reconhecido, em todo o mundo hoje, graças ao seu trabalho ao longo de décadas sistemáticas de cuidado na fotografia da realidade do mundo. Mas não só isso, da proteção da realidade do mundo – como a gente vê, pelo que citei, da floresta –, mas o amor dele aos povos nativos, especialmente do Brasil, embora não só do Brasil.

    É dele o trabalho de acompanhamento de grupos indígenas primitivos no Brasil. E ele faz com um carinho, com uma competência que raramente se vê.

    Eu tenho mais uma referência a fazer sobre Sebastião, mas passo a palavra ao Senador Sérgio.

    O Sr. Sérgio de Castro (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - ES) – Senador Cristovam Buarque, Presidente, quero me juntar...

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Nesse espaço, só para lembrar...

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... que não poderia ter aparte, mas, pela importância do tema e pela justa homenagem, V. Exª está com a palavra.

    O Sr. Sérgio de Castro (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - ES) – E pela minha iniciação também. Obrigado. Obrigado.

    Mas eu quero me juntar a essa justa homenagem, a essa devida homenagem ao Sebastião Salgado por várias razões. Primeiro, porque sou também mineiro–capixaba. Nasci no Espírito Santo e sou vizinho do Sebastião Salgado, em Vitória. Tenho uma grande admiração e reconhecimento pela sua obra. Eu só adicionaria que a propriedade dele foi resgatada pelo trabalho do Instituto Terra e que ele é um dos grandes elementos de esperança na recuperação do Vale do Rio Doce, porque o Instituto Terra está envolvido com essa recuperação. Nós temos certeza de que, como tudo que ele fez na vida – e fez bem feito –, teremos também esse seu trabalho ecológico tão bem-sucedido quanto seu trabalho na arte e na fotografia. É um orgulho, para todos nós brasileiros, esse reconhecimento da França. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Obrigado, Senador Sérgio.

    Eu quero concluir, Senador Paim, com duas coisas.

    Primeiro, eu vou propor que façamos aqui alguma solenidade, mas isso eu quero fazer junto com o Jorge Viana, porque o Jorge Viana, eu diria... Eu posso até ser um amigo mais antigo dele, mas o Jorge Viana talvez seja mais profundamente amigo do que eu pela vivência que tiveram juntos na Amazônia, junto com grupos indígenas – eles viveram juntos ali.

    Segundo, quero dizer que ele é um ecologista tão radical – é positiva a radicalidade – que eu recebi dele uma crítica a um trabalho meu que todos elogiam, mas ele fez uma crítica dura, conversando comigo.

    Anos atrás, no ano 2000, num evento em que eu estava em Nova York, se perguntou sobre a internacionalização da Amazônia, e me disseram que não queriam que eu falasse como brasileiro, mas como um cidadão do mundo, como um humanista. Eu fiz uma declaração ali que se espalhou por aí: a ideia de que eu sou a favor da internacionalização da Amazônia só depois que forem internacionalizados todos os poços de petróleo, todos os museus, todas as grandes cidades especiais do mundo – fui citando, citando, citando – e todas as crianças do mundo. E eu concluí dizendo: enquanto isso não acontecer, a Amazônia é nossa, e só nossa. As pessoas me elogiam muito por isso, Senador, menos Tião. Sebastião Salgado, um dia, disse para mim: "O final está errado: se o Brasil não é capaz de cuidar bem da Amazônia, a Amazônia deve ser colocada à disposição da humanidade para cuidar dela." Foi a pessoa que me fez uma crítica, que eu reconheço que tem seu sentido: a Amazônia é nossa, mas ela pertence à humanidade inteira.

    Eu fico feliz por estar presente o Capiberibe, porque ele é um da região que está aqui. Aquela crítica que o Tião me fez me despertou para algo em que nós precisamos pensar. Temos que ser, sim, nacionalistas, brasileiros, mas o sentimento de pertencimento que nós temos cabe à humanidade inteira, ao Planeta Terra. Tião é quem me fez despertar para isso, em uma crítica a um trabalho meu. Eu considerei que fosse uma grande coisa ter dito "enquanto não se internacionalizar tudo, a Amazônia é nossa, e só nossa." E ele disse: "Sim, é nossa, e só nossa, se soubermos cuidar bem dela." Esse é o sentimento de um ser humano que está acima mesmo de todas as nossas pobrezas nacionais.

    Eu concluo – e passo a palavra ao Senador Anastasia, que me pediu um aparte – dizendo: talvez esse seja o meu maior reconhecimento ao Tião, quando me fez essa crítica, por um ser humano que está acima das paixões que nós temos, muitas vezes, em função da nossa origem nacional.

    Senador Anastasia, fico feliz por lhe passar a palavra, como mineiro que o senhor é.

    O Sr. Antonio Anastasia (Bloco Social Democrata/PSDB - MG) – Muito obrigado a V. Exª. Eu estava em meu gabinete, em audiência, mas, acompanhando o discurso de V. Exª, vim aqui em desabalada carreira, como se diz no meu Estado, a tempo, felizmente, de fazer aqui um breve aparte para saudá-lo exatamente pela iniciativa desse discurso em homenagem a um grande mineiro, um grande brasileiro.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Antonio Anastasia (Bloco Social Democrata/PSDB - MG) – E mais do que tudo: a um homem da humanidade, como V. Exª muito bem definiu agora o fotógrafo, o homem do bem que é Sebastião Salgado. Eu também tive oportunidade de visitar a sua obra em Aimorés. É algo primoroso, que nos renova de fato a esperança na recuperação ambiental da bacia do Rio Doce. E eu quero, aqui, aplaudir V. Exª pelo discurso e reiterar que o trabalho que ele faz, lá em Aimorés, é maravilhoso e atinge não só jovens que estão ali aprendendo, mas, de fato, todo o ecossistema daquela importante região de Minas e do Espírito Santo. É uma pessoa especial, que merece o reconhecimento de todos nós brasileiros pelo nome que ele leva do Brasil e de Minas Gerais ao mundo pelo seu trabalho extremamente social e muito bem feito. Parabéns, Senador Cristovam, pela bela palavra. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Obrigado, Senador Anastasia.

     Eu concluo, Senador Paim, dizendo que, Senador Sérgio, ele tem razão quando diz que a Amazônia é nossa para cuidarmos dela.

    Mas vou dizer aqui algo que está acima de qualquer outra contestação: Tião, você é nosso e vai ser sempre nosso, mesmo sendo membro da Academia Francesa de Belas Artes, mesmo sendo um cidadão do mundo. Você, Tião, você é nosso!

    Era isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/12/2017 - Página 45