Pronunciamento de Rose de Freitas em 14/12/2017
Discurso durante a 194ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal
Pesar pelo falecimento da Srª Rosa Helena Schorling Albuquerque, primeira mulher paraquedista brasileira.
Registro da importância da votação, pelo Senado, do projeto de lei do Funrural.
- Autor
- Rose de Freitas (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
- Nome completo: Rosilda de Freitas
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM:
- Pesar pelo falecimento da Srª Rosa Helena Schorling Albuquerque, primeira mulher paraquedista brasileira.
-
AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO:
- Registro da importância da votação, pelo Senado, do projeto de lei do Funrural.
- Publicação
- Publicação no DSF de 15/12/2017 - Página 79
- Assuntos
- Outros > HOMENAGEM
- Outros > AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO
- Indexação
-
- HOMENAGEM POSTUMA, MULHER, MUNICIPIO, DOMINGOS MARTINS (ES), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), PIONEIRO, SALTO (SP), AERONAVE.
- REGISTRO, IMPORTANCIA, VOTAÇÃO, SENADO, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, FUNDO DE ASSISTENCIA AO TRABALHADOR RURAL (FUNRURAL), COMENTARIO, HISTORIA, CAFE, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES).
A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores funcionários desta Casa, na qual, sem dúvida alguma, orgulho-me de representar o povo do meu Estado, do Espírito Santo, representar as mulheres, representar as famílias, representar a luta que nós todos estamos travando para que esse País possa superar a sua crise e, sobretudo, superá-la de uma maneira definitiva para que o brasileiro possa não viver de solavancos, de sustos, de equívocos, de gestões malfadadas, que nos levaram a um grande impasse econômico, social e político.
Ninguém tem orgulho de lembrar – e eu não tenho – de que presenciei impeachments de Presidentes da República eleitos pelo povo brasileiro na desorganização suprema da política, que ao invés de se consolidar rumo e com o sentido voltado ao nosso País, atendia a interesses particulares que acabaram por destruir o conceito de que política deveria ser feita no Brasil a favor do povo brasileiro.
Eu tenho duas colocações a fazer aqui. Uma consiste em registrar o falecimento de uma pessoa. Eu tenho um enorme sentimento ao mostrar com notoriedade os feitos da nossa querida Rosa Helena Schorling Albuquerque, a primeira mulher brasileira que despertou em todas nós um sentimento de orgulho, pioneira, que foi Rosa Schorling, a primeira mulher paraquedista do Brasil.
Parece um fato de somenos importância registrar a alegria com que ela viveu a vida, cheia de emoções, com bravura, sem nenhum receio. Viveu 98 anos com liberdade, na vanguarda dos seus sentimentos, inaugurou diante da sociedade novos tempos para as mulheres. Esses feitos, ao longo da sua vida, quase 100 anos de vida, destacaram Rosa Schorling como uma mulher que se mostrou à frente do seu tempo.
Como ela nós devemos ter, espalhadas pelo Brasil inteiro, várias Rosas, várias Marias, várias Elviras, mas uma mulher enfrentar, dentro de um cenário essencialmente masculino, ser protagonista do primeiro salto de paraquedas de uma mulher brasileira... Isso foi em 8 de novembro de 1940.
Olhem em que época ela inaugurou e realizou essa façanha nas alturas, onde só o homem costumava chegar, numa época em que os homens dominavam o espaço aéreo, as máquinas do espaço aéreo e as máquinas terrestres.
A sua tendência de ser pioneira, o seu jeito de encarar a vida – eu a conheci, lá da nossa querida Domingo Martins –, tornou um fato tão audacioso, tão incomum que reuniu naquela época milhares de pessoas na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Eram 11h45 da manhã, quando essa maravilhosa mulher capixaba saltou de uma altura de mil metros. E a narrativa sobre esse episódio demonstra o tamanho da ousadia dela. Essa mulher saltou dessa altura, às 11h45, mil metros, chegou ao mar em 123 segundos. E foi um feito estampado em todos os jornais do País. Ela tinha apenas 21 anos de idade.
Quem me ouve deve se perguntar: como foi a preparação de tudo isso? Como ela se organizou para fazer esse salto? Com quem ela contou? Qual foi a sua escola de instrução?
Acreditem, é surpreendente, não havia escola de paraquedismo por lá. Portanto, não havia instrutor. Ela se vestiu com a vestimenta e o paraquedas que guardou até o último dia de sua vida. Ela era chamada de Rosita, até o final de sua vida foi chamada carinhosamente de Rosita. Ela ouviu breves instruções. Ela foi orientada a fechar os olhos – imagina isso! –, a fechar os olhos, a contar até dez e a puxar a alça do paraquedas. E foi isso que essa mulher fez, mais nada do que isso. E até porque ela contava nas rodas em que se sentava, e todos a ouviam, que o instrutor, que seria chamado de instrutor e não era instrutor, apenas a orientou nesse primeiro momento a tomar essa decisão, nunca havia saltado de paraquedas. Ele não era instrutor. Olha o tamanho da coragem dessa mulher. Ela saltou, se apaixonou pelo salto e só parou em 1996, ao saltar em Vila Velha, Espírito Santo, totalizando 136 saltos de paraquedas. E ela tinha naquela época, Presidente, 77 anos.
Não há como descrever a coragem, a bravura, a ousadia. Não se tratava de uma peripécia, tratava-se de uma vontade, de uma determinação: ficar no ar, conhecer a natureza do seu corpo na atmosfera.
Houve outros episódios com ela: ficou pendurada numa árvore, quebrou a perna em Sorocaba. Mas a motivação de sua proeza era o prazer de voar, de saltar.
Eu acho que todos nós, seres humanos, temos essa vontade. Quem é que não tem vontade de voar? Eu sonho muitas vezes que estou voando.
Ela ia nessas suas jornadas, divertia-se com elas e aventurava-se nelas.
E ela teve esse pioneirismo capixaba. Somente dez após o feito histórico, ao completar um curso de salto – pois aí então o Exército lhe deu –, em 1950, ficou sabendo que as instruções que recebera naquela época, em 1940, estavam totalmente erradas.
O SR. PRESIDENTE (Elber Batalha. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Senadora, eu estou ouvindo atentamente V. Exª e estou lembrando. Eu tenho uma filha que é delegada. Ela, para fazer os primeiros saltos, fez todos os cursos. Eu fui, a família toda. Realmente, naquele tempo, conseguir fazer isso, é uma proeza muito grande, digna de qualquer reconhecimento de quem está aqui na terra. Não é verdade?
A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – É verdade, é verdade! Temos que registrar a passagem dessa mulher entre nós, no nosso País, na serra capixaba.
E foi tal o grau da excelência do feito dela, que ela se tornou – entre aspas – "sonda": o paraquedista que salta na frente para orientar os demais. E ela, quando foi, nem orientação tinha. Era filha de pai alemão, como é característico da região Domingos Martins, a mãe austríaca. Ela nasceu em 1919, em São Paulo de Biriricas, que é uma região lindíssima em Domingo Martins, na região serrana. Depois de um longo período morando no Rio de Janeiro, com a morte de seu pai, que a trouxe de volta a um centenário casarão, que eu até convidaria os senhores que tiverem vontade de conhecer o Espírito Santo, que conheçam Domingos Martins. É impossível conhecer Vitória, Vila Velha, Serra, sem conhecer Domingos Martins. É uma cidade que fica a 40 minutos de Vitória. Ela vivia lá no Sítio Rosenhausen, que todos passavam para olhar: "aqui mora a primeira paraquedista do Brasil". Ela viveu até o final da sua vida lembrando, carregando consigo todos os objetos da sua existência, mas sem abandonar suas paixões. Juntou lembranças e eu tenho vontade de voltar para visitar – estive com ela no sítio umas três vezes – e ver o primeiro paraquedas do salto dela, para ver como os tempos evoluíram, como esse artefato evoluiu e o quão revestido de coragem tem aquele paraquedas que lá está.
Olhando os recortes de jornais, o acervo que registra a história dessa mulher fantástica, você vai ver que aquele espaço em que ela viveu vai se transformar, sem sombra de dúvida, em um museu capixaba da "Endiabrada", como chamava o Presidente Getúlio Vargas, de quem se tornou amiga e de quem ganhou um avião de presente.
Paraquedista sim, mas ela foi muito mais do que isso. Com cinco anos de idade, ela aprendeu a dirigir um carro. Cinco anos! Talvez não estivesse vendo mais do que o para-brisa ali de longe. Era um Opel fabricado no século XIX, com direção do lado direito e câmbio e freio do lado de fora. Em 1932, conquistou uma carteira de motorista profissional. Conta-se que ela guardou isso até a sua morte. Ela tinha doze anos de idade quando ela teve essa carteira.
No ano seguinte, conquistou a carteira de motociclista. Pilotou motos pesadas, de 500 cilindradas, como a Harley Davidson, em uma época que as mulheres tinham poucos direitos e eram educadas para se transformarem em mulheres do lar, chefiarem suas famílias ao lado do marido. Então, Rosa Schorling nunca se intimidou.
Imagina o que era ela olhar o céu. Ela devia olhar o céu de maneira diferente da gente, avistar no céu um Zeppelin, dirigível de fábrica alemã. Ela decidiu naquela hora que ela queria estar dentro dele ou queria estar perto dele, ou voar do lado dele.
E teve autorização e apoio do seu pai em todas as atitudes arrebatadoras. Ela conquistou o brevê de piloto e aviadora em 1939, concedido pela Federação Aeronáutica Internacional. Aqui está a foto de Rosita. Entre outras aeronaves, ela pilotou Cessnas, Paulistas e até ultraleves. Foi a primeira mulher capixaba a conquista o brevê e uma das oito brasileiras desbravadoras do ar. Tinha 20 anos.
Essa mulher, com tanta galhardia, à frente do seu tempo, precursora dos costumes, na condução dos seus pensamentos e à frente da sociedade, fez uma coisa que muitas mulheres, que pensam como ela, vão entender: ela despachou um noivo quando ele pediu que optasse entre os aviões e o casamento. Ela pensou: "Eu posso ter um avião aqui dentro de casa também, mas aquele que está lá fora é o melhor avião". Ficou com os aviões. Mais tarde, em 1960, aos 40 anos, já de volta a Domingos Martins, ela casou com um tenente reformado do Exército – com certeza, com a compreensão da alma de Rosita.
Foi eleita sereia de Copacabana, vestiu biquíni de duas peças quando só se usava maiô inteiro, quando as mulheres mal ousavam exibir o corpo a não ser com vestimentas muito recatadas, daquelas consideradas pudicas na opinião pública. A parte de cima do biquíni dela, que era outra inovação, era sem alça, tomara que caia. O tomara que caia também não era uma vestimenta que as mulheres chamadas decentes podiam usar. Ela escreveu: "Eu lancei a moda do biquíni duas peças. Se as pessoas se espantavam, não sei, porque eu não dava confiança" aos pensamentos comedidos, ultrapassados, que cerceavam a liberdade de uma mulher se vestir como queria.
Numa outra entrevista, no Programa do Jô, ela passou ideias muito valentes da sua vida. E o Jô perguntou para ela se ela era namoradeira. E ela, como sempre, no alto da sua sinceridade, disse: "Não, os outros é que namoravam comigo".
Assim era a Rosita. Ela expressava a vida com o ardor da sua concepção.
Ela, além de piloto, motorista, motociclista, paraquedista, foi também enfermeira da Cruz Vermelha. E, além de tudo isso, aprendeu a pintar. Eu vi seus quadros. Ela também é membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico.
Essa mulher nunca se aquietou ao longo de sua vida, quase centenária, que eu pretendo aqui contar para todos os brasileiros, deixando essa narrativa histórica para o meu Estado e para o meu País, deixando esse exemplo. Ela não foi um meteoro que passou, ela permaneceu na vida, trazendo a sua concepção de que não se deve ter medo para viver. Ela ousou. Ela se divertiu. Ela viveu. E, nas suas últimas entrevistas, mostrava a vivacidade das suas memórias de que se orgulhava de falar.
Um acidente doméstico nos levou Rosita.
Que a sua vida tão longa e profícua sirva de exemplo para todos nós, inclusive dentro desta Casa.
Rosita deveu muito ao seu pai, João Ricardo, que nunca tolheu seus desejos, seu sentido de aventura, que ele apoiou, mas ela deveu principalmente a ela mesma, ao ânimo de viver, sem ter medo de enfrentar desafios e de romper barreiras na vida, que era muito difícil naquela época para uma mulher. Imagine se você nasce mulher e quer fazer todas as coisas como você entende que devam ser, sem diferenciações de gênero? Ao falar dela, eu quero homenagear todas as mulheres do Brasil que tiveram esse sentimento por algum momento, por alguma quadra da sua história de vida, brasileiras que não se intimidam hoje, que não se intimidaram antes, diante dos obstáculos que, todos os dias, nós enfrentamos na nossa vida, quer seja ela pública, quer seja domiciliar. Profissionalmente falando, eu digo que quem nasce no sexo feminino conhece bem o espírito e dá valor à ousadia de que Rosita teve ao ser e praticar o pioneirismo nas suas ações.
Eu queria dizer que temos um sentimento que devemos dizer a ela, em nossas orações, que ela descanse em paz, porque, sobretudo, ela é fonte de inspiração para todas nós mulheres brasileiras.
Eu também gostaria de registrar – se o senhor me permitir e tiver um pouquinho de paciência – que o dia de hoje foi extremamente importante pela votação que nós tivemos aqui do Funrural, que concede que os nossos cafeicultores, os nossos produtores rurais, os nossos agricultores familiares ou agricultores de modo geral possam ter a oportunidade de fazer a renegociação das suas dívidas e ter acesso a um projeto que lhe dê a consistência necessária para continuar plantando e produzindo agricultura no Brasil.
Eu tenho orgulho de dizer que eu represento, aqui, nesta Casa, o Estado do Espírito Santo, e nós a Bancada do Espírito Santo aqui, no Senado, e na Câmara estamos unidos pela importância do café, da cafeicultura no nosso Estado. A cafeicultura é uma das grandes riquezas deste País. Imaginem no nosso Estado, onde é desenvolvida em todos os Municípios capixabas, com exceção de Vitória. É um setor que gera em torno de 400 mil empregos diretos e indiretos e que está presente em 60 mil das 90 mil propriedades agrícolas do Estado. Ao todo, 73% – para o senhor ver como temos que ter orgulho disso – dos produtores capixabas são de base familiar, com o tamanho médio das propriedades em torno de oito hectares. Atualmente, existem cerca de 131 mil famílias capixabas produtoras de café, o que vale dizer aqui que o Espírito Santo é o segundo maior produtor brasileiro de café, com expressiva produção – e o senhor deve conhecer, pois sua terra deve tomar o nosso cafezinho lá – das variedades arábica e conilon.
Se fosse um país, o Espírito Santo seria o terceiro maior produtor do mundo de café, perdendo apenas para o próprio Brasil e para o Vietnã. Nosso Estado, com apenas 0,5% do Território nacional, é o responsável por 22% da produção brasileira de café, sendo que, atualmente, existem 435 mil hectares em produção em todo o nosso Estado. Por isso, a atividade cafeeira, Presidente, é responsável por 35% do Produto Interno Bruto agrícola capixaba.
É tão importante falar sobre isso, porque hoje nós estamos vendo na televisão...
(Soa a campainha.)
A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – ... propagandas – um pouquinho de tolerância de V. Exª – de vários cafés que não registram de onde eles vêm. Em nosso Estado, são cultivadas...
O SR. PRESIDENTE (Elber Batalha. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Senadora, eu gostaria de fazer um parêntese em seu pronunciamento para dizer que tenho família no Espírito Santo. Adoro o Espírito Santo. A Rosita é uma delegada que pratica esporte e que foi lá no Espírito Santo. A gente convive muito bem com o Espírito Santo. Tenho um irmão que mora lá.
A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – Vamos levar o senhor para lá de novo. (Risos.)
O senhor e toda família, inclusive para visitar algumas das nossas plantações de café. Fico feliz em saber que o senhor tem família lá. Em que região?
O SR. PRESIDENTE (Elber Batalha. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Em Vila Velha. Ele mora em Vila Velha. Frequento muito lá.
A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – É uma cidade linda, hoje administrada pelo ex-Deputado Federal Max Filho – muito bem administrada, aliás. Por favor, não se esqueça de voltar sempre, de comer a moqueca e de tomar o nosso cafezinho.
Volto à questão do arábica, que é o coffea arabica, e do coffea canephora, que é o conilon. O arábica, Presidente, é o mais cultivado em regiões de temperaturas mais baixas, como Domingos Martins, e altitudes acima dos 500m. Já o conilon, que é plantado mais ao norte do Estado, é de regiões mais quentes. Antes, o conilon era mais um produto industrial; hoje, o conilon dá um belíssimo café, vendido no mundo inteiro, sendo plantado sempre abaixo de 500m de altitude.
Por sua importância para o Estado, eu gostaria aqui de dizer algumas informações importantes a respeito do cultivo do café conilon no Espírito Santo. Esse cultivo começou como alternativa de renovação das lavouras promovida pelo Governo brasileiro a partir de 1969. Hoje, o nosso Estado, Presidente, é o maior produtor dessa variedade de café no Brasil, respondendo por cerca de 78% da produção nacional. É ainda o responsável por até 20% da produção do café robusta do mundo. Café conilon é a principal fonte de renda em 80% das propriedades rurais capixabas localizadas nas terras que nós chamamos quentes. Sendo assim, ele é também responsável por parcela significativa do nosso PIB agrícola.
Existem atualmente – as pessoas podem ter muita curiosidade de saber isto – 283 mil hectares de conilon plantados no Espírito Santo. São 40 mil propriedades rurais em 63 Municípios mais para o norte do Estado, com 78 mil famílias produtoras. O café conilon gera 250 mil empregos diretos e indiretos.
O nosso Estado – e falo isto com muito orgulho – é referência brasileira e mundial no desenvolvimento da cafeicultura do conilon, com uma produtividade média que já alcançou 35 sacas por hectare. Muitos produtores que investem maciçamente em tecnologia chegaram a colher mais de 100 sacas por hectare. Vimos outro dia – acho que na semana retrasada – um destaque em que uma saca de café em nosso Estado, dessas famílias que se dedicam a aprimorar mais a plantação, o cultivo e a colheita, chegou a custar R$3,9 mil.
A vocação, o empreendedorismo dos cafeicultores e a base tecnológica, que está sendo construída pelo Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural) em parceria com outras instituições, compensam o esforço e trabalho dedicado de nosso Estado. Essa rede institucional montada no Espírito Santo oferece soluções aos problemas tecnológicos do setor produtivo e é uma referência de aporte tecnológico para os cafeicultores capixabas. A base tecnológica acumulada ao longo de anos, o acesso ao conhecimento, a presença marcante das empresas do setor explicam essa evolução rápida dos índices de produtividade do conilon nos últimos 25 anos.
Eu estou dando esses exemplos aqui, Sr. Presidente, tomando como referência dados que são muito importantes. Em 2013, por exemplo, a área colhida cresceu apenas 7,5% enquanto a produção subiu 305%, saltando de 2,4 milhões de sacas para 9,7 milhões de sacas. É ou não é um feito extraordinário?
(Soa a campainha.)
A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – No período em que nós vamos de 1994 a 2012 – vamos dizer em 16 anos –, olhem a progressão do que foi o imenso esforço feito pelos técnicos e pelos agricultores. A produtividade média do conilon de 9,2 sacas beneficiadas por hectare já chegou a 34,7 de sacas por hectare, um incremento de 277%.
É uma revolução, Sr. Presidente, que muitos que veem o nosso Estado produzir não sabem como foi feito. É uma revolução sem precedentes na agricultura deste País. Nós precisamos divulgar para que o Brasil e o mundo saibam o que está sendo feito no Espírito Santo em matéria de desenvolvimento voltado para a cafeicultura.
Eu citaria muitos desafios, eu teria vontade de mostrar a qualidade do trabalho do agricultor, a colheita mecânica, tudo isso que aconteceu suprindo aquela mão de obra carente que os agricultores brasileiros sempre tiveram. Eles fincaram pé, eles procuraram desenvolver novas variedades e cultivares para atender a demanda da indústria, do consumidor. Divulgaram Estado e mostraram que é fundamental desenvolver novos estudos para o uso mais eficiente da água, sobretudo, uma vez que 50% da área plantada do café conilon, cerca de 150 mil hectares, são irrigados. Imagine o senhor o que é fazer isso num período de seca, de águas escassas, de pouca chuva.
E, nesse período – eu quero até trazer uma notícia importante –, o nosso Incaper está lançando a tecnologia do jardim clonaI superadensado de café conilon, que é uma nova técnica, que está sendo implantada de maneira pioneira e rápida no Espírito Santo, de cultivares clonais melhorados. Essa tecnologia foi obtida do programa de pesquisa com café do Incaper, com a colaboração da Embrapa e o apoio do Consórcio Pesquisa Café.
Vejam bem. Se o País – e eu acho que o senhor entende muito o que vou dizer aqui – ou o Governo em si se intrometesse menos nas coisas e tivesse mais um mecanismo para trabalhar nos estudos, na pesquisa, no aprimoramento das nossas produções, eu tenho certeza de que o Brasil andava melhor. Houve uma época em que o Brasil se metia tanto na política do café que nós tínhamos uma alta e uma baixa, mas o suco de laranja, sozinho, andando, caminhando, virou o grande fenômeno da nossa comercialização no exterior.
Mais de 200 jardins clonais estão implantados nos 53 Municípios de Estado e têm o potencial para produção de mais de 50 milhões de mudas por ano. Isso partiu de quê? Dos técnicos, que, com suas dificuldades, vão aprimorando suas concepções, fazendo seus estudos e produzindo alternativas de pesquisa com o objetivo de aprimorar essa técnica de implantação e manejo de jardins clonais, de que o produtor sempre precisa.
Encerrando, há muito a dizer sobre essa questão do café, há muito para se falar sobre a forma de reduzir danos que são causados pela falta de água, e eles estão trabalhando, desenvolvendo plantas tolerantes à seca, a esse estresse hídrico que o País vive, ou tornando mais eficiente o uso da água. Isso não tem que acontecer só em relação à agricultura, mas tem que acontecer na cidade.
Então, eu digo que o Espírito Santo está de parabéns: os técnicos do Incaper, os produtores, os sindicatos, as associações, as cooperativas, eles estão direcionando os seus esforços mais expressivos em diferentes linhas de pesquisa para que esse café se desenvolva mais, já que somos o maior produtor do Brasil.
Esse resultado da tolerância... Aliás, tenho que registrar que o resultado desse trabalho todo para cultivar o clonal do café conilon tolerante à seca foi lançado lá em Marilândia; tem o nome de Marilândia ES8143, obtido a partir do programa de melhoramento genético. Olha a que ponto chegamos! Imagina se pudéssemos soltar essa corda e ter menos burocracia, menos emperramentos em cima desses institutos, desses trabalhadores, desses técnicos fantásticos que o Brasil tem. Há 32 anos a Embrapa Café e o apoio do consórcio de pesquisa FAP/CNPq, todos trabalham na mesma direção. Deixem o povo trabalhar. Dá tudo certo no final.
Então, o cultivar Marilândia que eu citei aqui terá alta produtividade, estabilidade na produção, qualidade de bebida superior e tolerância à seca. É tão fantástico, eu me orgulho tanto de falar essas coisas que eu afirmo que esses resultados... Como quem admira – também tenho uma pequena plantação de café –,eu digo que o melhoramento genético de café com vistas a sustentar a cafeicultura do conilon está implementado e dá sustentação econômica para o Estado do Espírito Santo.
Antes de concluir, Sr. Presidente, eu quero destacar aqui que as primeiras variedades do café conilon para o Estado foram lançadas ainda em 1993: a Emcapa 8111; a Emcapa 8121 e a Emcapa 8131. Então, a utilização dessas variedades otimizou a nossa coleta, a nossa mão de obra na lavoura, bem como também trouxe um bem comum a todos, as estruturas para secar os produtos e beneficiar os grãos.
Portanto, eu quero dizer a todos que aqui estão e àqueles que nos ouvem sobre a importância que tem um setor que dedicadamente produz; impacta o Brasil também de uma forma expressiva, como o Espírito Santo está fazendo como maior produtor de café do nosso País.
Tenho certeza de que os ganhos de tudo isso são para todos os brasileiros. As novas tecnologias impulsionadas pelo conhecimento, pela dedicação dos nossos técnicos se farão sentir em todo o Território nacional, com inegável benefício para a economia brasileira. Neste momento de crise pelo qual passamos, não há como não registrar que essa é uma situação absolutamente merecedora de aplausos para o Estado do Espírito Santo.
Eu, então, peço que olhem com carinho para o Estado do Espírito Santo. Muitas pessoas falam: "Rose, nós te vemos tão pouco", mas eu não consigo largar aqui as nossas frentes de trabalho, a nossa luta para conseguir que esses incansáveis esforços e desempenho de todos aqueles que militam na agricultura sejam reconhecidos pelo Governo brasileiro e, sobretudo, sejam conhecidos pela população brasileira. Isso envolve muita gente, Presidente, muita dedicação, muito trabalho, muito empenho.
Portanto, digo a todos que ouvirem falar do nome Espírito Santo e do café do Espírito Santo – que eu tinha vontade de sair distribuindo para todos aqui –: reconheçam que ali está concentrada a dedicação, o esforço de muitos para essa conquista.
O SR. PRESIDENTE (Elber Batalha. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Senadora, as riquezas do Espírito são imensuráveis. Tudo isso a senhora falou, mas não falou sobre Pedra Azul, sobre o turismo. Aquelas serras capixabas são todas elas lindas.
Quero parabenizar V. Exª por seu Estado, porque faço também parte daquele Estado. Tenho família que mora lá e frequento muito o Espírito Santo, inclusive me hospedando na Serra Capixaba, Pedra Azul e companhia limitada. Muito lindo.
A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – Eu vou dizer lá no Espírito Santo que nós temos quatro Senadores: três do Espírito Santo e V. Exª.
O SR. PRESIDENTE (Elber Batalha. Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Muito obrigado.
A SRª ROSE DE FREITAS (PMDB - ES) – Que se somem seus elogios à nossa terra. Eu agradeço muito o carinho.
Volte sempre, esteja conosco. E, sempre que puder, em qualquer lugar, fale do Espírito Santo; aquele povo merece.
Muito obrigada a V. Exª.