Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações sobre discurso proferido pelo Deputado Tiririca.

Críticas à cultura de doação de recursos que oneram a carga tributária e prejudicam a população.

Autor
José Medeiros (PODE - Podemos/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Considerações sobre discurso proferido pelo Deputado Tiririca.
ECONOMIA:
  • Críticas à cultura de doação de recursos que oneram a carga tributária e prejudicam a população.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2017 - Página 13
Assuntos
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • COMENTARIO, DISCURSO, AUTORIA, DEPUTADO FEDERAL, ARTISTA, CIRCO, REFERENCIA, DESISTENCIA, POLITICA, NECESSIDADE, ATENÇÃO, PESSOAS, POBREZA, CARENCIA, EMPREGO, ASSISTENCIA MEDICA, ORADOR, CONVOCAÇÃO, POPULAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, REGIME POLITICO, COMBATE, CORRUPÇÃO.
  • CRITICA, CULTURA, PAIS, DOAÇÃO, VERBA, ORIGEM, NATUREZA TRIBUTARIA, PREJUIZO, CONTRIBUINTE, POPULAÇÃO, ONUS, ESTADO, DEFESA, DISTRIBUIÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, DESTINAÇÃO, MUNICIPIOS.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Obrigado, Sr. Presidente.

    Cumprimento todos que nos assistem aqui nas galerias e pela TV Senado, todos que nos ouvem pela Rádio Senado e aqueles que nos acompanham também pelas redes sociais.

    Sr. Presidente, ontem ecoou pelas redes sociais, e também aqui pelo Congresso Nacional, comentários, com um certo rebuliço, sobre o discurso feito pelo artista e bem conhecido comediante Tiririca na Câmara dos Deputados.

    Eu vi, no discurso dele, duas vertentes. Em uma, ele chama à reflexão e, na outra, ele praticamente desiste, ele diz desistir da política, porque está decepcionado com ela, chamando todos para se preocuparem com aqueles menos favorecidos e com aqueles que estão nas filas dos hospitais, que estão precisando de emprego... É uma reflexão correta o chamamento dele. É bem verdade, Sr. Presidente, que nós, hoje, estamos num momento em que o Brasil está saindo de uma crise e em que os Municípios estão com muita dificuldade. Inclusive, ontem, votamos aqui um projeto do Fundo de Participação dos Municípios, para dar um refresco aos Municípios.

    A Câmara votou também, no caso dos Estados que recebem, o Fundo de Compensação de Exportação (FEX), que deve vir aqui para o Senado. Creio que, na próxima semana, já devemos aprová-lo. Uma luta de V. Exª e de todos os Parlamentares que compõem esses Estados.

    É certo que o Brasil não passa por um momento fácil, mas, do discurso do Tiririca, o que nos fica, o que nos inquieta, além do que ele passou para todos os brasileiros, é que temos mazelas, sim, na política. Temos pessoas que não deviam estar na política e, em todos os locais, existem pessoas que prestam e pessoas que não prestam.

    Lembro-me de uma entrevista do Nelson Carneiro em que, certa feita, quando um Deputado foi cassado por estar envolvido com tráfico, perguntaram para ele se ele achava normal aquilo no Parlamento. Ele falou: "Normal não deveria ser".

    Acontece que o Parlamento é a estratificação da sociedade. Aqui há o professor representado, o advogado, os profissionais representados, pastor, padre. Todos os segmentos da sociedade estão aqui representados. E é possível também que a bandidagem esteja representada.

    Essa é a nossa realidade, e a realidade é o que é! Não é o que desejaríamos que fosse! E, quando o Tiririca, um artista de renome, uma pessoa muito querida, após sete anos, diz que desiste, é uma pena! Um Parlamentar trabalhador. Segundo os números, nunca faltou a uma sessão.

    E estou aqui fazendo esse contraponto justamente para dizer que as pessoas de bem da política não devem desistir e que as pessoas de bem da sociedade deveriam vir para a política. Se você está indignado com as coisas como estão, venha para a política, porque não existe espaço vazio na política.

    A cada pessoa de bem, a cada pessoa bem-intencionada, que sai da política, com certeza, algum malandro vai entrar no seu lugar. É assim a vida.

    Se nós estamos num País que não está caminhando bem, alguma parcela de responsabilidade nós também temos. Ele é construído por todos nós. Temos nações que vão indo bem no cenário internacional e outras que não estão tão bem, mas a construção é feita por todos.

    Então, estava analisando esse discurso. Ouvi uma vez, escutei outra e fiquei pensando que tinha de dizer alguma coisa, porque não podemos, a partir desta tribuna, passar esse tipo de mensagem à população brasileira. Precisamos, acima de tudo, como agentes políticos que somos, apontar rumos. A política precisa apontar rumo.

    Fui professor por algum tempo da minha vida. E eu me lembrava de uma antiga diretora de um colégio que dizia: "Não importa como foi o seu dia na sua casa, mas, quando você chega na sala de aula, você é o professor, você é o farol, você precisa apontar o futuro. Se você já chega de semblante caído dizendo que o mundo não tem conserto, o que será do futuro do mundo? O futuro está ali, são seus alunos."

    Então, vale principalmente para a classe política. Nós precisamos... A partir do momento em que fomos eleitos como representantes, a população não quer saber se temos problemas, se o problema é difícil. Nós somos colocados aqui para essa tarefa.

    Se há um momento em que nós achamos que não conseguimos mais fazer isso, então eu digo que o Tiririca, talvez, tenha feito certo. Acima de tudo, a política precisa apontar rumos, apontar saídas, porque é só a partir dela. Não adianta nós confundirmos a safadeza, os desvios da Petrobras, da Nuclebrás, da Eletrobras e toda essa roubalheira com política. Não, política é outra coisa. Ladroagem é coisa de polícia. Se ela dá certo em alguns momentos, por que não dá certo em outros? E nós temos que fazê-la dar certo. Somos nós que temos que apontar o rumo.

    A eleição, sempre digo, termina domingo. O Pedreiro vai para a construção, o servente, o pintor, o professor vai para a sala de aula, o médico vai trabalhar. Ele vai cuidar do trabalho dele e deixa nas nossas mãos, nas mãos de quem ele elegeu: "Cuidem disso aí." Por que, de repente, às vezes, as pessoas se levantam contra um governo ou contra essa ou aquela política e vão para as urnas? As pessoas não entendem, ficam aqui desesperadas. Por que essas pessoas estão nas ruas? O que está acontecendo? Alguma coisa não tocou de acordo na orquestra. É justamente porque as pessoas foram cuidar das suas coisas, deixaram na mão dos políticos que, de repente, agora, falam: "Espere aí, vocês não estão fazendo o que vocês deviam fazer?"

    Esse discurso do Tiririca nos chama a essa reflexão. Nós estamos aqui para fazer dar certo, não para desistir. 

    O SR. PRESIDENTE (Cidinho Santos. Bloco Moderador/PR - MT) – Senador Medeiros, só um aparte.

    Quero registrar a presença dos alunos do Colégio Estadual Normal Professor César Augusto Ceva, de Ipameri, Goiás. Sejam bem-vindos ao Senado Federal. Obrigado pela visita.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Sejam bem-vindos.

    Continuando, Senador Cidinho. V. Exª, que já foi Prefeito, que é empresário, que já foi presidente de associação de prefeitos, sabe bem a dificuldade que é hoje, no Brasil, ser prefeito de uma cidade. Os recursos são bem concentrados em Brasília e as demandas são grandes.

    Em algum momento, nosso País foi criando uma cultura de doação, uma cultura de dar. Dar é uma coisa boa, desde que a pessoa se predisponha, Senador Cidinho, a dar o que é seu. Vejo muita gente subir nesta tribuna para dizer que o Estado tem de dar isso, que o Estado tem de dar aquilo. Mas é muito bacana eu dar bom dia com o chapéu alheio. Quando subo aqui e faço um projeto para doar para esse ou aquele segmento, não estou dando o meu salário, estou dando parte do salário de cada um. Então, essa carga tributária toda – que chega hoje a, dependendo do momento, quase 40% – vai para vários programas, e alguns deles são meritórios. Mas o Estado dá conta? As pessoas dão conta? Se, por um lado... Vem muita gente aqui dizer: "Olhe, tem que fazer isso, tem que fazer aquilo, tem que fazer programas". É muito bonito, mas de onde vem o dinheiro? Vem do bolso de cada um de vocês que estão nos assistindo agora. E isso me faz lembrar de um texto: um Deputado Federal norte-americano estava em campanha, e naquela época se fazia campanha a cavalo...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Já concluo, Sr. Presidente. Ele fazia campanha a cavalo e chegou perto de uma roça. O sujeito estava arando a terra, suado, sem camisa. Ele parou – era um eleitor sempre dele –, cumprimentou, já certo daquele voto, e o eleitor parou o arado e disse: "Eu não vou mais votar no senhor". Ele perguntou: "Por que não?" E o eleitor disse: "Porque, quando houve aquela tragédia [havia ocorrido um incêndio], vocês votaram pela recuperação da cidade e deram uma verba que está faltando, era a verba destinada para construção da ponte aqui do Município." Perguntou: "Você acha que não era meritório? Que não era preciso?" O eleitor respondeu: "Era preciso, mas por que vocês não deram do salário de vocês, por que deram o nosso, aqui do Município?"

    Essas reflexões são importantes. Precisamos saber que o dinheiro que mexemos aqui não é nosso. O dinheiro é das pessoas, e, cada vez que criamos coisas aqui, vamos deixando o Estado pesado.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – Depois as próprias pessoas ficam tendo que empurrar um arado muito pesado, Senador Cidinho, para fazer tocar, os empresários, as pessoas do dia a dia, os empregados. E aí começam a morrer empresas, começa o desemprego. Isso porque, de repente, seus representantes resolveram ser bondosos.

    Eu me lembro também de um pensador que dizia: "Tomem cuidado os pobres quando se ajuntar um monte de pessoas dizendo que estão querendo ajudar. Cada vez que dizem que se ajuntam para ajudar os pobres, fiquem alerta".

    Então, encerrando, Sr. Presidente, eu queria dizer aos prefeitos que, neste momento...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PODE - MT) – ... o nosso grande desafio para 2018 é justamente começar a fazer que esses recursos comecem a ir fundo a fundo, que essa repartição e recursos comece a chegar realmente nos Municípios.

    Há Municípios em meu Estado, Senador Cidinho, que estão, desde julho do ano passado, sem receber a sua parte da saúde. Então, ele está fazendo a parte que não lhe caberia. Está fazendo a sua parte e a de outros entes federativos.

    Então, nesse momento, talvez por isso, o Tiririca e outros desanimem da política. Mas não podemos desanimar, nós precisamos é redobrar a nossa capacidade de trabalho, a nossa vontade para mostrar rumo e apontar saídas.

    Muito obrigado, Senador Cidinho.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2017 - Página 13