Pronunciamento de Ângela Portela em 12/12/2017
Discurso durante a 192ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal
Críticass à Lei sancionada pelo Governo Federal, decorrente da Medida Provisória nº 785/2017, que reformula as regras do Fundo de Financiamento Estudantil - FIES.
- Autor
- Ângela Portela (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
- Nome completo: Ângela Maria Gomes Portela
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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EDUCAÇÃO:
- Críticass à Lei sancionada pelo Governo Federal, decorrente da Medida Provisória nº 785/2017, que reformula as regras do Fundo de Financiamento Estudantil - FIES.
- Publicação
- Publicação no DSF de 13/12/2017 - Página 110
- Assunto
- Outros > EDUCAÇÃO
- Indexação
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- CRITICA, PROMULGAÇÃO, LEGISLAÇÃO, REFORMULAÇÃO, CRITERIOS, FUNDO DE FINANCIAMENTO AO ESTUDANTE DE ENSINO SUPERIOR (FIES), REDUÇÃO, QUANTIDADE, BOLSA DE ESTUDO, ESTUDANTE CARENTE, FINANCIAMENTO, ENSINO.
SENADO
FEDERAL SF-
SECRETARIA-GERAL DA MESA SECRETARIA DE REGISTRO E REDAÇÃO PARLAMENTAR - SERERP COORDENAÇÃO DE REDAÇÃO E MONTAGEM - COREM 12/12/2017 |
DISCURSO ENCAMINHADO À PUBLICAÇÃO, NA FORMA DO DISPOSTO NO ART. 203 DO REGIMENTO INTERNO.
A SRª ÂNGELA PORTELA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, o governo de Michel Temer fez festa ao sancionar lei decorrente da Medida Provisória nº 785 que reformula o Fundo de Financiamento Estudantil, o Fies.
A proposta foi apresentada e agora promulgada com toda a pompa e circunstância, alardeando melhorias e expansão do programa.
Não há o que comemorar.
Na prática, é um retrocesso. Essa reforma reduz de forma significativa o número de bolsas ofertadas, entrega dois terços das vagas totais aos bancos, principalmente os privados, e limita a participação do Ministério da Educação, transferindo seu controle para o Ministério da Fazenda.
Não houve apenas uma redução no número de bolsas, mas uma mudança seletiva.
O governo Temer cortou dois terços das vagas destinadas aos estudantes mais pobres, aqueles que têm renda familiar até 3 salários mínimos, e entregou às instituições financeiras privadas a análise da concessão de crédito à camada que recebe até 5 salários mínimos.
Com isso, é possível que milhares de estudantes não consigam preencher os requisitos agora aplicados pelos bancos, provocando uma redução ainda maior na distribuição de bolsas.
Segundo reportagem da revista Época, a justificativa para essas mudanças é que o Fies precisa ficar mais "sustentável", pois houve antes uma "distribuição indiscriminada" de bolsas até 2015, o que teria provocado mais de 40% de inadimplência e um rombo nas contas.
O que realmente ocorrerá com a reformulação do Fies é favorecer os bancos privados. Eles passarão a ter maior acesso a recursos dos fundos constitucionais, de desenvolvimento e do BNDES como fontes de sustentação.
Muda, portanto, o eixo principal da proposta do Fies. O programa passa, na verdade, alavancar o mercado privado de financiamento estudantil.
Os estudantes passarão a enfrentar burocracias desconhecidas, pagamento de juros e encargos abusivos.
É previsível também que haja pressão sobre as mensalidades. Se isso poderá corrigir os ganhos astronômicos de instituições de ensino superior, também representará - e isso é muito grave - um impacto sobre os próprios estudantes.
Na prática, as alterações vão desestimular os estudantes a tentar o financiamento via Fies e, claro, retornarão aos velhos tempos de alto endividamento, o que comprometerá seu desenvolvimento pessoal e profissional.
De quebra, os novos termos do Fies afetam a carência no reembolso a ser feito pelos estudantes, justamente em um quadro de enorme desemprego e dificuldades de inserção profissional.
O que se faz, na prática, é dar um fim ao Fies original, solidário, e restringir as possibilidades de financiamento em 100%, como sempre foi imprescindível para os estudantes de menor renda.
Isso significa que se diminui a possibilidade de pactuação de condições especiais de amortização ou de alongamento de prazos.
Esses ataques ao Fies que culminaram com a sanção da lei em que se transformou a Medida Provisória nº 785, sob a alegação de problemas de gestão e alta inadimplência, ignoram o fato de que uma importante parcela dos financiamentos ainda não está em fase de amortização plena porque foram contratados entre 2012 e 2015, especialmente.
O Fies, em sua configuração original, beneficiou perto de 2,5 milhões de estudantes. Foram 378 mil contratos em 2012, 560 mil em 2013, 733 mil em 2014 e 287 mil em 2015. De lá para cá a média caiu para cerca de 100 mil ao ano, ou até menos.
Veja-se a gravidade da situação e, ao mesmo tempo, o retrocesso. O Fies foi a porta de entrada da universidade para esses milhões de jovens que, se não existisse o programa, permaneceriam à margem do ensino superior.
Isso representa, nada mais, nada menos do que o futuro de todos esses brasileiros. Abriu-se para eles a possibilidade de uma vida melhor, com desenvolvimento pessoal e profissional. Não mais.
Esses jovens não teriam condições de acessar o ensino superior não fosse por esta política de dimensão reparatória, pois é assim que precisa ser compreendida e tratada.
A iniciativa se integra a outra medida ainda mais estruturante que foi adotada: a expansão e interiorização de toda a rede federal de educação superior, o que inclui institutos e universidades federais
Estamos abandonando a democratização, a inclusão e a interiorização da educação superior, o que se fazia com real e sustentada ampliação do orçamento na área educacional.
Estamos apagando um passado recente de avanços para nossa juventude. Em vez disso, tenta-se empurrá-los para uma profissionalização precoce e precária.
No caso do Fies elimina-se toda uma política de inclusão, por meio da educação superior. Por isso insistimos: é um dos mais graves retrocessos em curso.